UM INFERNO DE OLHAR NEGRO

Conheço o Inferno por dentro. É uma casa habitada por dois corpos, unidos no infortunio de um sim. Tem um jardim onde os espinhos brotam do chão e corpos sem roupa fazém de árvores sem folhas. Conheço o Demónio. Tem olhos escuros como corvos, num olhar disfarçado de meiguice. Decorou as emoções e até aprendeu a chorar. Tem boca carnuda, que beija um sopro directo ao coração e sorri com ar de traição. Dos dedos nascem-lhe unhas que rasgam a carne como mentiras e acaricia com a força de um punho fechado. Embrulha a alma cor de fel num corpo de mulher que trespassa o ser como uma lança. É este demónio que me tatua o passado na pele, que me entrega ao destino dos sem rumo.
E este demónio, por quem mataria, mostrou-me a morte que me pertencia. Abriste-me as portas do céu, líder caído em desgraça, entrei num mundo so teu, onde o fogo se alimenta da minha carcaça.
Conheço o Inferno por dentro, numa visita guiada pela tua companhia.