A morte de Sofia 1. ª parte
Eu sempre pensei que eu acabaria me suicidando, nunca pensei que morreria em decorrência de um acidente de carro. Mas a vida e a morte sempre nos surpreendem e as coisas nunca são como esperamos. As coisas são como são. Várias vezes, estive à beira do suicídio, mas ou acontecia algo ou eu desistia. Será que existe livre-arbítrio ou haverá um destino à nossa espera? Por que tentei me matar tantas vezes? Por um motivo simples e seco: por não aguentar mais minha vida. Se eu dissesse a alguém minha intenção, diriam: mas você é jovem, tem toda a vida pela frente. Justamente por isto eu queria me matar. Eu não queria toda uma vida pela frente se isto significasse uma vida sem graça, vazia e sem emoções.
Agora, estou flutuando no vazio. Tudo que vejo é a escuridão. Há pouco tempo, eu podia ver as pessoas se amontoando em torno do carro que eu dirigia e meu corpo gravemente ferido. Não demorei a compreender que morrera. E foi tudo muito rápido. Eu somente vi o carro vindo na contramão e, logo depois, vi-me ao volante, com um grande corte na testa, o rosto caído sobre o volante, os olhos fechados. Não me assustei ao ver que finalmente acontecera o que eu tanto procurara para mim: a morte, a libertação absoluta, para sempre longe da minha família. Não haveria mais amarras nem teria mais que acordar e ver logo a cara do meu pai nem aguentar suas conversas monótonas e suas críticas cruéis.
Talvez eu deva me apresentar. Meu nome é Sofia. Meu pai me deu este nome. Não sei por que ele me deu um nome que significa "sabedoria" se as palavras preferidas dele para me definir sempre foram "burra", "idiota" e "pateta". Agora que morri, estou livre dele. E não pretendo voltar como espírito para assombrar nem a a ele nem a ninguém da minha família. Quero apenas não vê-los nunca mais.
Se sofrerão com minha morte? Não sei e nem quero saber. Pouco me importa que sofram com minha partida se ninguém sofreu com o fato de eu ter vivido uma vida infeliz que agora deixo para trás. O que verei agora? Uma caveira com uma foice ou um anjo? Haverá céu, inferno? Deus existe? Não sei. Morte não traz paz, nem conhecimento. Morri e continuo tão ignorante como sempre fui em vida.
Para que me entendam um pouco, vou contar a história da minha vida até o momento da minha morte. Assim, entenderão porque eu queria mesmo morrer.
Neste momento, eu lembro do meu corpo morto. Exceto pelo corte na testa, eu parecia adormecida e em paz.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 2045 reads
other contents of Atenéia
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Gothic | Não quero mais ser eu | 0 | 1.212 | 05/01/2016 - 10:13 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Who will be strong | 0 | 4.390 | 04/22/2016 - 21:07 | English | |
Poesia/Love | Show me the love | 0 | 4.707 | 04/22/2016 - 20:59 | English | |
Poesia/Meditation | Let me be myself | 0 | 4.168 | 04/22/2016 - 20:56 | English | |
Poesia/Joy | Além do medo | 0 | 2.210 | 04/13/2016 - 13:43 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Úteis | 0 | 889 | 04/13/2016 - 13:39 | Portuguese | |
Prosas/Thoughts | Tolerância | 0 | 1.152 | 04/10/2016 - 00:13 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Eu preciso de paz | 0 | 1.058 | 04/10/2016 - 00:10 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | I can see a girl | 0 | 2.904 | 03/30/2016 - 14:33 | English | |
Poesia/Gothic | Ilusões enterradas | 0 | 1.537 | 03/30/2016 - 14:27 | Portuguese | |
Poesia/Gothic | Nobody will see me crying | 0 | 3.399 | 03/28/2016 - 19:42 | English | |
Prosas/Contos | O dragão azul | 0 | 2.085 | 03/24/2016 - 16:20 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Dispersa | 0 | 1.399 | 03/21/2016 - 20:03 | Portuguese | |
Poesia/General | Queremos voltar | 0 | 1.144 | 03/21/2016 - 20:00 | Portuguese | |
Poesia/Joy | Minha missão | 0 | 1.330 | 03/21/2016 - 19:57 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Uma saída | 0 | 656 | 03/20/2016 - 14:00 | Portuguese | |
Poesia/General | Os guerreiros da destruição | 0 | 1.094 | 03/18/2016 - 11:25 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Andando na multidão | 0 | 1.051 | 03/18/2016 - 11:22 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Um lugar distante | 0 | 1.637 | 03/18/2016 - 11:19 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Só queria viver | 0 | 992 | 03/16/2016 - 19:47 | Portuguese | |
Poesia/General | Ajude-me | 2 | 1.910 | 03/16/2016 - 19:43 | Portuguese | |
Poesia/Fantasy | Luz azul | 0 | 1.021 | 03/09/2016 - 18:17 | Portuguese | |
Poesia/General | Nada será como antes | 1 | 1.242 | 03/09/2016 - 02:53 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Por tua causa | 0 | 1.176 | 03/08/2016 - 20:14 | Portuguese | |
Críticas/Movies | Um clássico eterno do terror | 0 | 4.678 | 01/03/2016 - 18:02 | Portuguese |
Add comment