SantAna Vitae Maestra

Chegou o momento!
Mais um. Inesperado, como sempre. Mas como sempre, também, oportuno. Despes rapidamente a túnica que te cinge o rosto civil, o burel que te define o corpo do mundo pessoal. Ficam ali, espreguiçados no cabide repousante do camarim do Ser.
Aquece o palco, acendem-se as luzes, cerras os olhos, deixas-te levar pelas efusões que captas pelos sentidos, pelo palato reflexivo. Preparas-te para a metamorfose.
Sem licença, invades a experiência, a emoção daquele que te pousou na mão. Assumes o risco, a dor, a alegria e toda a comoção de um olhar estranho, em ousadia.
Aceitas a condição, vives a condição, como um anjo assexuado, como um psicólogo em espelho analítico, como um deus em auto-contrição.
O desafio é doce. Melhor, é agridoce, a gosto de um sonho vívido, esmurrado, esfaqueado… beijado, acariciado… quiçá demasiadamente sentido.
É a tua profissão. O que te possam ensinar – por mais absoluto que seja – não chega: para conheceres como queres conhecer tudo o que no Homem há a conhecer, tens de o dizer (sentir) para ti mesmo(a), em vocábulos com rosto de BI, com burel encorpado de muitos mundos, tantos como as vidas que vais desconstruindo até ao saber mais esmiuçado, mais bruto, nu e cru.
As carnes que agora moldas em invólucro, os espíritos que agora sacodes do anonimato e lhes dás luz, crescem pelos caminhos esquecidos dos lugarejos sociais. Saltam para a boca da cena! Gritam, soltos da mordaça! Mexem-se, após tão longa inércia em caixões de segredo, pelos cemitérios marginais!
Dás-lhes vida, a vida que neles existe, a vida que neles é – finalmente – desassombrada. Estão abertas as obscuridades…
Mais uma realidade de profícuo deambular pelos bosques de entes mais ou menos humanos, e por toda a panóplia de diversidade colorida do arco-íris do indivíduo.
E o teu? Aguarda nos bastidores, espreguiçado em cabide de renovo, expectante pelos novos conhecimentos que lhe reforçarão as costuras e os remendos sobre os rasgões coleccionados na gesta, na lida.
Regressas. Regressas mais rica e sábia. E tanto à tua espera. A insustentável leveza da paixão, os prazeres do gosto, o universo de coisas a fazer… até que outro Ser te venha poisar na mão.
Dança em pontas, AnimadA na serenidade da Santa, para todos, a quantos ganhaste admiração, a quantos cativaste dedicação.
Liberta os cavalos, na sua beleza pura de unicórnio!
Lux et Concórdia

Andarilhus “(º0º)”
XXXI : III : MMVIII

Submited by

Monday, March 31, 2008 - 21:23

Prosas :

No votes yet

Andarilhus

Andarilhus's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 13 years 31 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 868

Comments

SantAna's picture

Re: SantAna Vitae Maestra

Perto, tão perto Senhor.
Quase a rasgar o corpo de tão cerca me fizeste.

Pois que me dobro e nos braços abertos recebei a minha vénia.
Mão sobre o coração.
Um beijo.

Add comment

Login to post comments

other contents of Andarilhus

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Aphorism Despertar 1 695 05/23/2008 - 21:46 Portuguese
Prosas/Others As Mutações da Máscara 3 869 05/19/2008 - 17:58 Portuguese
Prosas/Ficção Cientifica Yoanna 4 1.122 05/16/2008 - 21:39 Portuguese
Prosas/Contos Desfazer o Mundo 4 892 05/13/2008 - 00:28 Portuguese
Poesia/Disillusion Das certezas II 5 768 05/10/2008 - 20:20 Portuguese
Poesia/Meditation Das Certezas 4 564 05/09/2008 - 22:43 Portuguese
Prosas/Others Rosa-dos-ventos 2 815 05/06/2008 - 23:50 Portuguese
Poesia/Passion Ao Vento 1 908 04/23/2008 - 22:27 Portuguese
Prosas/Contos A Carta 3 907 04/22/2008 - 21:01 Portuguese
Prosas/Contos In mea limia 1 883 04/19/2008 - 11:01 Portuguese
Poesia/Meditation Sina... 2 1.012 04/18/2008 - 21:49 Portuguese
Prosas/Contos Iniciação 2 1.116 04/14/2008 - 17:03 Portuguese
Prosas/Contos Mare Nostrum 2 744 04/12/2008 - 22:26 Portuguese
Prosas/Contos SantAna Vitae Maestra 1 684 03/31/2008 - 21:30 Portuguese
Prosas/Contos O Circo da Vaidades Perdidas 2 950 03/30/2008 - 23:05 Portuguese
Prosas/Contos Santos e Mártires 2 641 03/29/2008 - 14:46 Portuguese
Prosas/Fábula Epifania 2 1.428 03/28/2008 - 22:30 Portuguese
Poesia/Sadness Desfiar o Castigo 1 892 03/28/2008 - 21:37 Portuguese
Prosas/Others Saudade 2 1.061 03/28/2008 - 00:16 Portuguese
Prosas/Contos Os Lugares do Nunca 2 866 03/26/2008 - 21:39 Portuguese
Poesia/Love Predilecta 1 625 03/26/2008 - 00:53 Portuguese
Prosas/Contos Afortunados os pobres de espírito 2 1.386 03/22/2008 - 15:03 Portuguese
Poesia/Intervention Aquele que... 1 1.020 03/21/2008 - 14:45 Portuguese
Prosas/Contos O Meu Jardim Presépio 1 912 03/19/2008 - 19:56 Portuguese
Poesia/Disillusion Transvaze para a fonte do ser 2 1.358 03/19/2008 - 19:12 Portuguese