Filosofia Sem Mistérios - Dicionário Sintético
DARWINISMO e DARWINISMO SOCIAL – nome dado ao conjunto dos Pensamentos do naturalista inglês CHARLES DARWIN (1809/1882). Para DARWIN, a “Luta pela Sobrevivência (que para SCHOPENHAUER é motivada pela Vontade, ou Instinto de Sobrevivência)” e a “Seleção Natural” são os “mecanismos imprescindíveis” para que exista a evolução dos Seres Vivos. Mas o que é a “Evolução”?
Para DARWIN é um aprimoramento da capacidade dos Seres Vivos que, dessa forma, tem a vida mais facilitada. Note-se que para ele, a “Evolução” ou o “Aprimoramento” resume-se em melhorar as condições físicas, concretas; e o fato de passar longe de qualquer especulação mais profunda, abstrata, indica que ele não foi (e nem pretendeu) um filósofo. Ser o brilhante naturalista lhe era o suficiente. Mas quando se olha que foi o seu Sistema, o primeiro com rigor cientifico, que desfez dogmas e superstições que o Criacionismo* religioso impunha aos Homens, pode-se observar a importância que seus Estudos tiveram não apenas para as Ciências naturais. Mesmo que involuntariamente, foi capaz de alterar os modos que o Homem utilizava para especular a respeito de si mesmo e dos outros Seres, em um nível mais elevado. Em um nível filosófico.
A idéia da “Seleção Natural” é o eixo central da doutrina Darwiniana e pode ser resumida da seguinte maneira:
1. Os indivíduos semelhantes formam populações que são chamadas de “ESPÉCIES”.
2. Dentro das “Espécies”, alguns Indivíduos apresentam “VARIAÇÕES” que ocorrem ao acaso, ou melhor, a partir de causas incognoscíveis (ou seja, impossíveis de serem conhecidas).
3. Os Indivíduos afetados por essas “VARIAÇOES” tornam-se “MELHORES ADAPTADOS” ao meio ambiente.
4. Estando mais bem adaptado o Indivíduo passa a ter uma vida mais produtiva e confortável. Sua descendência herda-lhe as características favoráveis e, por sua vez, a repasse à sua prole.
5. Nessa “cadeia de transmissão” o que se vê, então, é a melhor adaptabilidade de toda a Espécie em algum tempo futuro, com a extinção daqueles que não se adaptaram.
6. Assim, a “Luta pela Vida” mais a “Seleção Natural” são os mecanismos que a Natureza utiliza para fazer a triagem dos “melhores indivíduos”. Embora tal aperfeiçoamento ocorra de forma muito lenta, em alguns casos quase que imperceptivelmente, é perpétuo. E, ao cabo e por alguma licença literária, pode até ser comparado ao DEVIR (ou perpétuo movimento) que o filósofo pré-socrático HERÁCLITO colocou como a Essência de tudo.
Sugerimos que o tópico “Evolucionismo” também seja consultado.
Na seqüência abordaremos outro Sistema Filosófico que adotou o nome de DARWINISMO SOCIAL, mas que é eivado de pensamentos relacionados a Thomas Malthus, ao MALTHUSIANISMO*.
Nele se vê que o Pensamento de DARWIN foi usado, ainda que de forma oblíqua, para dar nome à essa tendência que pretende explicar a concorrência (às vezes selvagens) entre os indivíduos de uma mesma comunidade, entre as comunidades e entre as nações, traçando-lhe certa analogia com o que se observa na Natureza quando os Seres competem pelo direito à vida. Por essa ótica, alguns pensadores, tentam inclusive justificar a exploração de uma Classe pela outra, alegando que a “Lei do Mais Forte” atua na civilização como atua na Natureza, variando apenas sua abrangência, seus resultados e seus modos (sic). Também argumentam que tal “Lei” é benéfica para a Sociedade na medida em que a depura dos elementos mais frágeis deixando-lhe apenas os “Vencedores” (sic); os quais, através de suas descendências farão da população uma “Espécie Melhorada”. Por esse raciocínio, até a instituição da Herança é aceitável, porque se alega que os “filhos dos vitoriosos” possuem genes melhores (sic) e que, portanto devem viver em boas condições para que possam florescer e dar prosseguimento à melhoria da população.
São proposições inaceitáveis para a maioria que não deixam de execrar esse Sistema por reduzir o Homem ao mesmo nível dos outros animais e por ser uma apologia do Eugenismo*, que já foi buscado em várias ocasiões por diversos tiranos, como HITLER, por exemplo.
Contudo, se olhada sem passionalidade, tampouco sem a hipocrisia que a Moral vigente impõe, ver-se-á que em regra a Sociedade Humana comporta-se de maneira aproximada ao que propõe o DARWINISMO SOCIAL. Embora relute em admitir tal comportamento, um exame de consciência imparcial apontará para essa incômoda verdade. Também se verá, é certo, vigorosas e bem intencionadas tentativas de não deixar que a “Lei da Selva” impere de maneira absoluta e que existam correções efetivas contra os desmandos vindos do emprego da força bruta. O fato de sermos uma espécie com mais de Seis Bilhões de indivíduos e dominadora das demais, indica que tais esforços foram bem sucedidos, diga-se. Alguns Pensadores, inclusive, dão ao “Estado” a honra de ser a maior conquista da Humanidade, pois se a Natureza protege apenas ao mais Forte ou Ardiloso enquanto predispõe ao fim os “menos qualificados”; a instituição “Estado” defende estes últimos e dessa proteção é que se valem as capacitações que por serem mais elaboradas, mais abstratas, não encontram eco na vida selvagem, onde tudo que se quer é a mera sobrevivência. São, por exemplo, surdos como BEETHOVEN que compôs músicas geniais, ou escultores como o “Aleijadinho” que criou vida nas pedras, que seriam extintos se o DARWINISMO SOCIAL fosse integralmente seguido.
Todavia, se é certo que tais esforços existem, deve-se reconhecer que divergem da natureza humana. O Homem, quase que de forma automática, inveja, glorifica e bajula os “Mais bem Capacitados”, ou aqueles que parecem ser. Malgrado todo esforço civilizatório, a Natureza animal do Ser Humano não desapareceu e é esta parte que aceita (e até aspira) a “Lei da Natureza”. E quando se mostram contrários, é apenas por uma questão de conveniência ou medo de rejeição social.
SPENCER (1820/1903), inglês, é tido como um dos principais formuladores do DARWINISMO SOCIAL e, de fato, antes mesmo que seu patrício CHARLES, ele já tinha elaborado considerações sobre a Evolução; mas, em seus escritos a proposta de divisão natural entre os Indivíduos é colocada de passagem e não há uma clara apologia à discriminação. Também em CHARLES DARWIN nada se vê que possa sugerir que o pensador estivesse de alguma forma tencionando dividir os Homens segundo suas capacidades. Quando ele se refere à “Concorrência Vital” quer dizer apenas que o “mais apto” é aquele que descobriu, por mero acaso (ou por razões que não se conhece) a melhor maneira para sobreviver. A “Concorrência Vital” é só a maneira de como a Natureza opera a seleção: a luta de cada Indivíduo é contra o meio ambiente e não necessariamente contra o seu semelhante.
Submited by
Prosas :
- Login to post comments
- 1994 reads
other contents of fabiovillela
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/General | Vagos | 0 | 1.459 | 08/21/2014 - 21:37 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte XI - A Ética baseada na Sabedoria | 0 | 2.784 | 08/20/2014 - 15:07 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte XI - A Ética baseada no Saber | 0 | 2.826 | 08/19/2014 - 15:33 | Portuguese | |
Poesia/Love | Habitas | 0 | 3.829 | 08/18/2014 - 13:41 | Portuguese | |
Prosas/Others | Pobres velhos... Tristes tempos... | 0 | 3.925 | 08/16/2014 - 21:32 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | A dor de Cesária | 0 | 1.022 | 08/16/2014 - 00:38 | Portuguese | |
Poesia/Love | As Histórias | 0 | 4.568 | 08/14/2014 - 15:54 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte X - Matéria e Mente | 0 | 2.432 | 08/14/2014 - 15:46 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Ana e Flávia | 0 | 1.290 | 08/13/2014 - 14:50 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte IX - Deus e a Natureza | 0 | 3.246 | 08/12/2014 - 22:51 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Os Pais | 0 | 1.941 | 08/10/2014 - 13:53 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VIII - A Ética - Livro III, IV e V - A Moral Geométrica | 0 | 3.159 | 08/10/2014 - 02:06 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VIII - Livro II (Da Mente) o Homem | 0 | 994 | 08/08/2014 - 14:41 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VI - A Ética - Preâmbulo e Livro I | 0 | 2.364 | 08/07/2014 - 14:13 | Portuguese | |
Poesia/General | Saguão | 0 | 2.010 | 08/05/2014 - 15:35 | Portuguese | |
Prosas/Others | Jorge Luis Borges - O OUTRO - Resenha | 0 | 4.199 | 08/05/2014 - 14:40 | Portuguese | |
Poesia/Love | Demiurgo | 0 | 2.155 | 08/03/2014 - 15:43 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte VI - O Progresso do Intelecto | 0 | 2.175 | 08/02/2014 - 21:06 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte V - Tratado sobre a Religião e o Estado | 0 | 2.680 | 08/01/2014 - 15:42 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte IV - após a expulsão | 0 | 2.942 | 07/30/2014 - 13:42 | Portuguese | |
Poesia/Love | Cristais | 0 | 1.356 | 07/29/2014 - 00:44 | Portuguese | |
Poesia/General | Temporal | 0 | 2.708 | 07/26/2014 - 20:24 | Portuguese | |
Poesia/General | Livres | 0 | 2.072 | 07/26/2014 - 00:05 | Portuguese | |
Poesia/Love | Habitastes | 1 | 2.179 | 07/25/2014 - 22:49 | Portuguese | |
Prosas/Others | Spinoza e o Panteísmo - Parte II - A formação do jovem Baruch | 0 | 2.193 | 07/24/2014 - 15:08 | Portuguese |
Add comment