GLOSAS XII

12

Terno amor, doce amisade.

(Ao mesmo assumpto)

Desde que o mundo é composto,
Os seus refrigerios são
Dous bens, que no peito estão,
E que apparecem no rosto:
São dous principios de gosto,
Precisos á humanidade,
Ambos attráem a vontade
Com seus mimos feiticeiros;
Ah! Sede meus companheiros,
«Terno amor, doce amisade.»

Jove, immenso creador,
Para os mortaes se sorriu,
Eis que das mãos lhe caíu
No mundo amisade, e amor:
Soltando o alto clamor
De que treme a eternidade,
Disse á triste humanidade:
«Attento a vossos queixumes,
Ahi vos mando dous numes,
«Terno amor, doce amisade.»

Amei o sexo mimoso,
Amei o sexo constante,
Fui amigo, e fui amante,
E nunca fui venturoso:
Nunca vi peito extremoso
Ornaldo de lealdade;
Achei sempre a falsidade
N'elle, e n'ellas; e assim
Não nascestes para mim,
«Terno amor, doce amisade.»

O bom Myrtilo morreu,
Morreu com elle áureo estylo,
E Lilia a par de Myrtilo
A fria terra desceu:
O mundo nos dous perdeu
Bens de summa qualidade,
Ficou pobre a humanidade
Esvaíram-se os affectos,
E já não tendes objectos,
«Terno amor, doce amisade.»

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Monday, October 5, 2009 - 16:46

Poesia Consagrada :

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