Dos encontros, desencontros e reencontros - Tempo VI (Cleto de Assis)

E eis-me a abraçar a grande curva do universo
que gera encontros e desencontros e novos encontros
todos em seu momento exato, porque escritos na vontade.
 

Não a vontade da esperança
mas a decisão de ver e estar dinamicamente atento
a tudo que nos rodeia, sem juízos premonitórios.
E eis-me aqui disposto a entender a teia do tempo
que nos torna diferentes a todo momento
e preserva a memória que constrói todos os novos momentos.
 

Eis-me aqui porque talvez ainda haja mãos estendidas.
Eis-me aqui porque minhas mãos ainda podem operar milagres.
Eis-me aqui porque nego a fuga à retaguarda ou à vanguarda
e sou soldado de meu momento,
de meus momentos encadeados,
perfeitos elos de minha história sagrada e única.
 

Recolho nos ainda intatos escaninhos da memória
as horas consagradas
e trago-as ao presente, pois presentes estão
e têm o poder de fazer ressurgir o agora
e fazem o milagre da multiplicação de todos os agoras.

Subitamente, sem marcar encontro com o fado,
a voz sussurrou palavras meigas
capazes de cicatrizar feridas ainda abertas.
 

Uma suave carícia sobre os cabelos já a encanecer
completou a fórmula balsâmica
ontem e nesta nova hora.
 

E foram mais alguns anos solares à frente
a anunciar o quase esquecimento.
 

Novas curvas, novas retas
a insinuar-me geômetra para domá-las.
E eu, apenas um mero compositor de linhas toscas
em perigo iminente de fazer enorme maçaroca
de memória e tempo em helicoidais tropeços,
devo tentar recompô-las em devida trajetória
porque não há finais, só recomeços
e cada recomeço uma nova história.

Cleto de Assis, poeta, escrito em junho de 2010.
 

Submited by

Tuesday, April 19, 2011 - 10:53

Poesia :

No votes yet

AjAraujo

AjAraujo's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 6 years 33 weeks ago
Joined: 10/29/2009
Posts:
Points: 15584

Add comment

Login to post comments

other contents of AjAraujo

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Meditation A pátria de chuteiras 0 3.592 11/18/2010 - 15:21 Portuguese
Poesia/Dedicated Madre, mama, mãe... 0 2.806 11/18/2010 - 15:02 Portuguese
Poesia/Intervention Um forte desejo 1 2.141 07/18/2010 - 11:25 Portuguese
Poesia/Haiku Feed-back 1 862 05/17/2010 - 01:44 Portuguese
Poesia/Dedicated Treze de Maio: Dia da Libertação? Nada a comemorar! 2 1.330 05/07/2010 - 21:40 Portuguese
Poesia/Aphorism O sinal 1 942 04/25/2010 - 16:36 Portuguese
Poesia/Meditation Morro do Bumba: atol da morte 1 4.221 04/12/2010 - 15:47 Portuguese
Poesia/Aphorism Rio: cidade sitiada (retrato do descaso) 3 2.526 04/12/2010 - 14:14 Portuguese
Poesia/Meditation Versos escorrem como a seiva vital 1 4.948 04/09/2010 - 16:58 Portuguese
Poesia/Dedicated Vida de Camelô 3 3.465 03/14/2010 - 23:07 Portuguese
Poesia/Acrostic Espírito das Mulheres (Tributo ao Dia Internac. Mulheres) 2 4.056 03/11/2010 - 04:56 Portuguese
Poesia/Love Versos Eternos 2 2.972 03/09/2010 - 15:15 Portuguese
Poesia/Meditation Pobreza 1 3.328 03/07/2010 - 15:07 Portuguese
Poesia/Meditation Espelho d´água 2 3.521 03/04/2010 - 00:17 Portuguese
Poesia/Meditation Entes 2 3.517 03/04/2010 - 00:11 Portuguese
Poesia/Intervention Porquê? 1 3.741 02/17/2010 - 20:21 Portuguese
Poesia/Love Fica... 1 2.219 02/15/2010 - 02:28 Portuguese
Poesia/Aphorism Sombras 3 2.998 02/12/2010 - 03:53 Portuguese
Poesia/Dedicated Violeiro: vida breve... 1 4.263 02/08/2010 - 00:48 Portuguese
Poesia/Meditation Uno 1 2.560 02/04/2010 - 16:20 Portuguese
Poesia/Meditation A vida foge... 1 4.161 02/01/2010 - 02:02 Portuguese
Poesia/Aphorism Fases 1 3.690 01/29/2010 - 15:47 Portuguese
Poesia/Meditation A mulher e o atleta 2 2.798 01/29/2010 - 03:04 Portuguese
Poesia/Dedicated Telas e cenas de vida (tributo aos pintores) 2 2.640 01/25/2010 - 01:53 Portuguese
Poesia/Dedicated Mensagem de Natal-Ano Novo aos Poetas (2009) 3 4.215 12/25/2009 - 11:44 Portuguese