FIZ DO MEU CORPO DESTROÇOS

Corro para não fugir
aos cardápios que o tempo sequestra.

De sorriso em riste
ludibriei a aresta da estrada
como alvo em demora na ponta de uma lança.

Andante pela aurora
ao dorso da hora do destino.
Morada de diapasões que cantei.

Falei quanto escrevi os fragmentos
da minha busca pela orla dos olhos da distância.

Nasci, fui raposa no berço da vida.
Cresci, o momento de criança foi um ápice.
Um ninho de porquês como apêndice de tudo.

Pássaro dos ares,
espaços que voei ausente.
Passo assente em relentos loucos.

Solidão como roupa
que me veste o peito de frios.
Nudez de sempre como falésia injusta.

Foi nos traços das palavras
que desfiz os labirintos da existência.
Fui João Ratão no caldeirão das ribaltas.

Cinderela esmurrada pela noite.
Onde os sonhos em açoite foram nuncas.
Juncos como medula óssea do meu acontecer.

Como quem quer saber
do que é feito o filamento da eternidade,
fiz do meu corpo destroços pelo leito do céu.