Filosofia Contemporânea - Círculo de Viena
No final do século XIX e inicio do século XX a chamada “Filosofia Idealista” sofreu vários golpes, dentre os quais o da Corrente de Pensadores que advogavam o chamado “Empirismo Lógico”. Em Viena, Áustria, o grupo de filósofos que contava em suas fileiras com nomes como o de HANS HAHN, PHILIPP FRANK, OTTO NEURATH, MORITZ SCHLICK. RUDOLF CARNAP adotou e pregou tal movimento filosófico, com raízes no velho Empirismo Inglês, que propunha um Sistema de Pensamento baseado, principalmente, na negação da Metafísica e na conseqüente afirmação (quase endeusamento) da Lógica Cientifica (ou materialista, ou física).
O Empirismo ou Positivismo Lógico nasceu a partir dos questionamentos impostos à “velha” Filosofia, oriundos das descobertas e dos avanços científicos da época. Tome-se como exemplo a Filosofia Transcendental de Kant (até então considerada a teoria mais importante sobre os fundamentos [ou bases, ou princípios] da Ciência), e o duro revés que sofreu com a Teoria da Relatividade de Einstein, haja vista que os exemplos que citava para embasar ou explicar os seus argumentos eram advindos da Geometria de Euclides, solenemente enterrada pelo “Pai da Relatividade”.
Ademais, a Filosofia Tradicional trazia em si outro sério inconveniente: a excessiva disseminação dos vários Sistemas que, conflitantes, mais contribuíam para torná-la uma matéria de dúvida insolúvel, que um sistema de estudo que gerasse algumas das certezas que sempre se buscou.
O Positivismo Lógico exigiria do Filósofo, para corrigir a antiga e errada senda (sic), uma postura diferente da que se usara até então. Doravante ele deveria ter o mesmo rigor observado nos estudos científicos e, consequentemente, deveria justificar racional e friamente as suas teses. E que tal fizesse com absoluta clareza de Conceitos (a descrição de alguma coisa, fato, movimento etc.) usando de Metodologia precisa. Conseguintemente, ao Filósofo seria proibido qualquer uso da Metafísica (ou seja, do que se supõe estar ‘por trás’, ou além do concreto, do material, físico) já que a mesma passou a ser considerada pelos integrantes do Círculo – representantes dos demais Materialistas – como um “mero sentimento, ou reles sensação, ou pobre intuição” perante os fatos da vida e que estaria mais bem colocada como objeto de estudo das Artes, e não da Filosofia Cientifica ou da própria Ciência. Diziam que a Metafísica, por ser abstrata, não poderia ser estudada como se estuda um objeto sólido, ou um “ser de carne e osso”. E que a Realidade é composta apenas por este tipo de elemento. Que sentimentos, emoções, ou espíritos, fantasmas, proto-matérias etc. seriam meras superstições a serem exterminadas pela evolução da Ciência.
Nessa linha, o Círculo de Viena publicou um Manifesto chamado de “A Concepção Cientifica do Mundo”, em 1929, em que expunha sua visão antimetafisica e materialista e reforçava seu ponto-de-vista de negar peremptoriamente o Trabalho Filosófico que quisesse (ou pudesse) construir uma Teoria que fosse mais abrangente, profunda e elevada, se comparada com a teoria correspondente produzida pelas Ciências. Para seus integrantes, a Filosofia deveria limitar-se a estudar e esclarecer, segundo a Lógica somente aquilo que já tivesse passado pelo crivo e pelo julgamento cientifico. Para os Empiristas do Círculo, o Discurso Metafísico (ou seja, a defesa da existência e da validade da metafísica), não resistia à menor das análises lógicas, pois não passava de um amontoado de suposições (falsas, na maioria) que não descreviam coisa, ou Ser, algum. Seus erros, ilações, erradas formulações não produziam nenhum Saber efetivo sobre a “essência das Coisas”. Não produzia nenhum Conhecimento que estivesse além ou acima daquele já produzido pelo método cientifico, pela Ciência.
Lembremos que para os Empiristas, todo conhecimento só chega ao cérebro através do que fora captado pelos Sentidos (olfato, paladar, visão, audição, tato); e como esses só conseguem captar o que é material, tentar formular uma tese, ou uma teoria sobre o pós-vida, por exemplo, seria uma mera especulação sobre o que poderia haver após o fim do corpo físico. Idem sobre o quê precede a Matéria. Ou sobre o que pré-existe e que permitiu que a matéria se formasse.
Assim, o Materialismo que imperava no Círculo de Viena, a exemplo do Empirismo antigo, negava a própria existência de tudo que não pudesse ser captado pelos Sentidos e analisados pelo cérebro, pela Razão. Mas se antes a negação se baseava exclusivamente na insuficiência dos Sentidos e no confronto com a Filosofia Idealista (como a de Platão, por exemplo, que pregava existirem “projetos” ou Idéias que orientavam a construção e a existência de tudo que é material. Haveria, por exemplo, uma “Idéia Cavalo” a partir da qual todos os cavalos são feitos, diferindo os indivíduos apenas em detalhes), agora o Pensamento Empírico se baseava nos avanços científicos, como já se disse, e na crença de que tais progressos explicariam todos os segredos do Mundo, do Cosmo, da Vida etc.
O apego ao rigor científico, numa época que endeusava a Ciência, tornou o Círculo mundialmente famoso, mas o grupo que o compunha teve que se dissolver com a ascensão do Nazismo ao Poder. A partir de então seus integrantes aderiram às várias correntes materialistas, ou mudaram seu pensamento e se engajaram em outros movimentos filosóficos de tendências diversas, pois obedecendo ao contraditório, que é o cerne da Filosofia, outras correntes se insurgiam contra a frieza do Positivismo que limitava o Homem a um mero títere das condições físicas do Mundo e da Vida. Na seqüência dessa obra veremos alguns dos mais importantes filósofos dessas outras correntes, tais como Bérgson, Husserl, Croce e outros.
São Paulo, 10 de Fevereiro de 2012
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