Cavalo de Fogo

 

  

   

 

 

                                                  

 

 Autor : jOSÉ CUSTÓDIO ESTÊVÃO                                                   

 

 

                                                 

 

 

 

 

 2 de Abril ano 2 000

 

 

Este é o meu, primeiro livro de ficção que dedico inteiramente à minha mulher e aos meus filhos, como prova que os adoro embora não mostre, mas que os tenho dentro do meu coração como se fosse o maior tesouro do mundo.

 

 

 

                                                CAVALO DE FOGO

 

                                                     CAPÍTULO  I

 

 

 

                                       VIAGEM SEM RUMO

 

 

 

A terra é árida sem arvoredo, que parece quase um deserto. O vento é quente e sopra de mansinho. Olha- se em redor e só se vê terra e céu, parecendo nunca mais ter fim. O Sol é quente e as nuvens que passam na sua frente parecem brancas de neve, correndo suavemente empurradas pelo pouco vento que se faz sentir. Sinto - me um pouco assustado porque não se vê um ser vivo no horizonte que a minha vista alcança. Francamente não sei como vim parar a um lugar tão inóspito. As                                                                                                                                                                                                                                       

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                                                                                                                                                                                                                 forças não me faltam e caminho devagar para que as minhas energias se mantenham por muito tempo. Tenho água no cantil que levo pendurado no ombro e de vez em quando sorvo um gole deste precioso líquido que me tempera a alma. Não levo rumo certo porque não sei onde estou. Caminho à deriva como um barco sem rumo mas, sinto algo em mim que me diz caminha e alcançarás o que procuras. Eu não sei bem o que procuro mas, tenho vontade de procurar algo que não sei o que é. Sinto - me dono e senhor desta terra e deste céu que me envolve e ao mesmo tempo um ser insignificante no meio da imensidão deste lugar. Já ando há algumas horas. O Sol caminha, vermelho e quente para iluminar outras paragens, deixando - me a pouco e pouco cada vez com menos luz, até que desaparece no infinito, deixando antes de esconder uns raios vermelhos no céu como que a despedir - se por mais um dia. O tempo arrefece e sinto frio. Paro para descansar e dormir, aconchegando - me na pouca roupa que trago comigo, nesta terra dura e triste mas que não me desanima. Como a fadiga é muita durmo a noite toda, acordando já de manhã pelos raios ainda temerosos do sol como que a acariciar - me e me dar forças para um novo dia.

Levanto - me, espreguiço - me e bocejo.

Como um naco de pão quase seco e duro que trago na minha mochila.

Estou pronto para uma nova caminhada e encontrar o que ainda desconheço mas parece - me sentir de muito perto. Estou pronto para mais uma jornada e faço - me ao caminho incerto.

Ao fim de poucas horas  de caminhada parece - me ver algo parecido com um rio e árvores, julgando talvez tratar - se de uma miragem. Caminho mais depressa na ânsia de verificar se é realidade o que estou a ver.

A pouco e pouco vou chegando mais perto daquilo que julgo ser uma ilusão. O meu coração bate forte com a alegria de ver que a ilusão não é ilusão, é uma forte realidade. Corro para a paisagem de alegria  e vejo um pequeno rio a correr devagar fazendo um barulho suave e encantador.

Nas suas margens debruçam - se sobre ele árvores majestosas cuja folhas são sacudidas pelo pouco vento que corre. Este lugar parece - me um paraíso mas, estranho por não ver ninguém num lugar tão calmo e aprazível. Ao mesmo tempo penso que este paraíso é só meu. Será que o mereço ? Penso eu.

Quero lembrar - me do meu nome mas não consigo. Só me lembro do presente e que tenho de caminhar para o futuro. Enquanto não o faço vou estar um tempo aqui no meu paraíso, descansar e tentar lembrar - me qual é o meu nome e como é que eu apareci neste lugar e qual é o meu papel. Decidi não partir daqui enquanto não me lembrar do meu nome.

As árvores têm frutos bastante doces  e deliciosos  que como e me fornecem energia sem precisar de mais nada. A calma é tão grande que até parece não ser deste mundo. Chega a noite e deito - me sob as árvores frondosas. Durante o sono, sonho que não tenho nome e fico muito triste.

Durante o sonho penso que uma vez que não tenho nome ou melhor não me lembro dele, insisto em recordar mas, por mais que tente não consigo. No mesmo sonho desejo ter um cavalo especial para correr todo o universo em velocidade supersónica para levar a cabo as minhas aventuras.

Acordo ainda de manhã cedo, sento - me, abro os olhos,  e fico surpreso porque tenho junto a mim um cavalo lindo da cor do Fogo, com um resplendor tão grande que até parece o Sol.

Vou para junto dele, acaricio-o e relincha como que a dizer que gosta de mim. Penso logo em dar - lhe um nome. Comecei a pensar e decidi que, pelo seu aspecto  vou começar a  chamar - lhe "Cavalo de Fogo".                                                         

Estou no meu paraíso, agora acompanhado do meu lindo cavalo que de vez em quando relincha, abana a cabeça e levanta as patas como se me estivesse a convidar para partir.

Falo com ele e digo -lhe: tem calma meu amigo, deixa - me descansar mais uns dias e depois pensarei qual vai ser o nosso destino que, de momento é incógnito. Mas o meu cavalo continua impaciente e sua cor confunde -se com o brilho do Sol que quase me ofusca. Penso que este cavalo tem qualquer coisa de misterioso que me deixa apreensivo e ao mesmo tempo maravilhado pela sua imponência.

Eu e o meu cavalo vamos desfrutando deste lugar encantado mas, o meu amigo está sempre a relinchar de impaciência porque suponho que a vontade dele é de partir para outras paragens o mais depressa possível. Acalmo-o constantemente com carícias e ele corresponde sempre com um olhar penetrante e um abanar de cabeça, sacudindo a sua linda crina que parecem raios de fogo que se confundem com o Sol.

Continuo a querer lembrar- me do meu nome mas, por mais esforço que faça com o meu cérebro, não consigo.

Lembro- me apenas do presente e consigo pensar no futuro.  O meu amigo cavalo de fogo interrompe os meus pensamentos com um relinchar e empurra - me com a cabeça, como que a dizer, já estamos aqui há muito tempo e são horas de partir. Como ele está muito impaciente, quando decidir partir vou deixar guiar - me pelos seus instintos porque também não sei onde estou. Apenas sei que o lugar é calmo e convidativo a ficar. Eu e o meu cavalo de fogo bebemos a água límpida do rio até ficarmos satisfeitos.

A água parece milagrosa porque nos fornece uma energia tão grande que até apetece voar como uma ave. Decido  que depois de passar a noite no meu paraíso, vou partir antes do Sol nascer com o meu relinchante impaciente.

Deitei - me  sobre a folhagem caída das árvores e o meu cavalinho faz o mesmo. O sono apodera - se de mim  e deixo - me dormir serenamente, acordando antes do sol nascer com um relinchar do meu cavalo como se fosse o meu despertador. Levanto - me, refresco a cara com a água límpida do rio e fico bem desperto e pronto para uma viagem desconhecida.

 

Uma pessoa que viaja sem rumo, sente - se perdida e desorientada mas, não é o meu caso, porque eu não me sinto assim  mas, com a convicção de sair deste planeta turbulento que está insuportável e onde as pessoas já não se entendem,  o dinheiro é quem manda e a desumanização é cada vez maior.

Isto são divagações mas, o que eu quero é sair daqui e conhecer o universo.

Vamos ver para onde é que este meu cavalo misterioso me vai conduzir. Eu quero que ele me transporte para o infinito, para o silêncio e para a paz absoluta, onde não há inveja, lutas tribais, fratricidas, pelo dinheiro e poder.

Eu não me entendo a mim próprio, ao querer isolar - me destes medos em lugar de os enfrentar mas, eu não tenho poder, sou uma voz no deserto, o que posso fazer ? Talvez pudesse fazer muito, não sozinho mas, com muitos semelhantes que quisessem lutar pela mesma causa. As minorias fazem barulho mas os poderosos não lhes dão importância. São cães pequeninos a ladrar no rabo dos grandes.

Bem, assim eu não me entendo, estou metido numa grande confusão mental. O melhor é seguir com o meu cavalo de fogo para as estrelas longínquas, talvez elas me percebam e me aconselhem para que a minha mente se refresque e se limpe das impurezas da Terra.

Por muito que o homem penetre no espaço, nunca conseguirá saber o que os astros longínquos sabem. Aqui, têm o saber limitado porque o infinito muito infinito jamais lhe transmitirá o saber suficiente para conseguir desvendar os seus segredos.

Enquanto faço estas divagações mentais que é uma pré - preparação para a longa viagem que me espera, a bordo do meu lindo cavalo de fogo que, continua impaciente e a relinchar, talvez a chamar - me já para as memórias do saber que fica não sei onde  mas, que só ele saberá porque apenas ele sabe os caminhos do conhecimento e do mistério que não tardam a chegar e que eu também estou ansioso por saber.

 

     Isto é uma aventura e ao mesmo tempo, estou com muita curiosidade e        inquietação!para conhecer o enigmático  infinito e os mistérios que porventura existam no seu seio e que tanto perturba os homens.

     Pronto, meu companheiro, agora já está na hora de iniciarmos a nossa viagem misteriosa.

 

 

 

                                              CAPÍTULO II

 

 

 

                                               O PARAÍSO

                                                 

O meu cavalo de fogo espera por mim impacientemente. Pego na minha mochila, penduro- a nos ombros e monto no meu amigo que há tanto tempo espera por mim.

Voemos então para o além, companheiro de jornada.

 

 O Sol começa a despontar todo vermelho, cor de fogo e o meu cavalo segue na sua  direcção, Penso, para onde será que ele me vai conduzir ? Começa por trotear devagar e repentinamente corre numa velocidade estonteante sempre em direcção ao Astro-Rei. Agarro- me com toda a força ao seu pescoço, fecho os olhos, e dá - me a sensação que estou a voar.

Continuo de olhos fechados, sentindo a deslocação forte do vento. A dado momento abro-os lentamente e fico maravilhado porque efectivamente estou a voar no meu Cavalo de Fogo, já por cima do Sol. Bem me parecia que este meu cavalo era misterioso. Nas alturas ele corre entre o azul do Céu, lindo como nunca tinha visto. Não sei para onde ele me leva mas estou ansioso por saber. Quero ter uma surpresa e por isso fecho os olhos de novo, continuo agarrado ao seu pescoço e decido que só os vou abrir quando ele chegar a um lugar firme.

  Ao fim de muito tempo de viagem, sinto que ele abranda a velocidade  até tocar com   as patas no solo e trotear de novo, lentamente até parar.

  Decido abrir os olhos e vejo que estou num lugar onde o Céu parece algodão azul e está mesmo quase em cima da minha cabeça, tocando - lhe com as mãos.  Em redor há um mar imenso, com uma praia linda e infinita e mais acima árvores verdejantes carregadas de frutos dourados e cintilantes.

  Desço do meu cavalo e caminhamos por aquela praia de areia fina dourada tão fofa que os pés se enterram nela mas que ficam a cintilar também com os milhares grãos de areia fina colados a eles. O meu cavalo de fogo, todo ele cintila, está lindo.

 

  De momento parece não haver ninguém mas, ao mesmo tempo, penso que num lugar  destes, tão calmo e celestial, tem de haver algum ser vivo. A certa altura o meu cavalo relincha e sinto em meu redor pessoas, ou seja adultos e crianças, cobertas de um manto branco, como se fossem anjos que caminham atrás de nós sem dizer nada. Parecem autênticos anjos da guarda.

  A certa altura paro e eles param  e eles olham para mim como se fosse um ser estranho e que na realidade sou, assim como o meu cavalo.

  Sinto curiosidade em tocar - lhes e tentar falar com eles.

  Pergunto –lhes: quem são vocês ? O que estão aqui a fazer ? De momento não me dizem nada e sorriem, apenas sorriem. Tento tocar - lhes  e assim que o faço, do manto que os cobrem saltam estrelinhas brilhantes como se fosse pó de prata.  Fico intrigado e ao mesmo tempo, maravilhado pela calma que transmitem. Esta calma contagia - me e sinto - me leve como nunca. O meu cavalo de fogo relincha e abana a cabeça, como que a dizer insiste em falar com eles.

  Aqueles seres que parecem iguais a mim continuam em meu redor e do meu cavalo,      sempre a sorrir mas, nada dizem. Insisto em falar com eles até que um decide falar e pergunta - me : Como te chamas ? Respondo que tenho nome mas não me recordo. A voz deste ser parece melodia que transmite uma serenidade  como nunca senti. Vejo no rosto deles admiração por eu não saber o meu nome mas, sempre a sorrir com toda a naturalidade. Com alguma curiosidade pergunto - lhes:  E os meus amigos como se chamam : Respondem - me com clareza : o nosso nome não interessa mas somos a família, Estrelinhas do Paraíso. Pergunto novamente :  que fazem aqui,  neste lugar de paz ?  Respondem - me : representamos a paz e o bem estar de espírito que vocês os mortais tanto necessitam.

  Vocês vivem uma vida atribulada, de ganância desmedida que apenas vivem em função dos bens materiais que provocam a guerra e o mal estar entre todos. Aqui nós temos a paz e não há bens materiais, somos alimentados e conduzidos por um ser divino que nos comanda na sua plenitude com harmonia. Esse cavalo de fogo que tu tens aí a teu lado, foi o nosso ser divino que to enviou para que percorresses os vários mundos, para que aprendas a construir a paz e harmonia  e divulgues  no vosso planeta para evitar uma catástrofe total a fim de salvarem se tiverem inteligência para isso. Como consigo eu fazer isso apenas como meu cavalo ? 

  Confia no teu cavalo e conseguirás.

  A fé move montanhas e tu e o teu cavalo foram escolhidos para revolucionar o vosso mundo para que vivam em paz. É uma tarefa difícil mas, tu e o teu cavalo de fogo vão conseguir.

Então esta comunidade convidou - me para ficar uns tempos no seu paraíso para ganhar coragem e sabedoria suficientes para levar a cabo o meu papel de que fui incumbido, ao que eu acedi prontamente.

Esta comunidade vive numa calma e numa convivência muito especial, em que todos se respeitam e todos se ajudam. Alimentam - se de frutos  extraídos de árvores majestosas que até estas transmitem bem  estar. Nunca entram em conflitos, todos se amam, todos conversam a sorrir e o céu está tão baixo que até o tocam com as mãos e retiram dele um néctar que parece algodão e comem e que lhes fornecem a calma, a serenidade e a paz de espírito. É como se fosse comida divina. Dizem - me para provar  e eu com receio o faço e levo à boca. Tem efectivamente um sabor indiscritível e pude comprovar que fornece todas aquelas qualidades que esta pequena comunidade diz. Até o meu cavalo prova e relincha como que a dar a sua aprovação.

 

Estou aqui neste paraíso com estes meus amigos já algum tempo. Sinto um prazer enorme de estar com eles que até não me importava de ficar para sempre. Mas não pode ser, eu e o meu cavalo de fogo tempos um papel importantíssimo a desempenhar no meu planeta de origem.

Antes de irmos para o nosso planeta quero visitar todas as galáxias por mais longínquas que sejam. Com o meu cavalo de fogo não tenho qualquer problema em viajar pelo tempo e é essa a minha intenção.

Monto no meu cavalo misterioso e vou passear a passo junto à praia, cujo mar é imenso, manso e brilha como a prata. O meu cavalo galopa pela água junta à praia e os salpicos de água provocado pelo saltar das suas patas cintilavam como estrelas a agarravam - se à sua pele e à minha roupa como se fossem pequeninas luzes prateadas.

Continuamos no nosso passeio sempre pela praia até que decidi entrar pela pequena floresta  dentro. A sua cor verde é brilhante e de vez em quando saltam animais pequenos que nos acompanham na nossa vagarosa corrida. Alguns até saltam para cima de mim e do dorso do cavalo, como se já nos conhecessem há muito tempo. Estes animaizinhos guinchavam e pulam de contentes como que a fazer uma festa à nossa volta. Estou maravilhado com o ambiente que me rodeia. Nunca tinha visto algo semelhante. Tudo aqui neste lugar é alegre e transmite calma, serenidade e paz.

Continuamos a nossa exploração neste paraíso.

A certa altura deparo com um grande lago com muitos cisnes e outras aves que não conheço que nadam alegremente no seu habitat, fazendo uma chilreada maravilhosa que me agrada aos ouvidos. Desço do meu cavalo e sento - me à beira do lago a apreciar a linda paisagem.

De repente todas as aves que estavam no lago rodeia - nos sem qualquer receio, a chilrear como que a convidar- nos para entrarmos no lago fazer a festa com eles. Despi - me completamente e atirei- me a água tépida e todas as aves me acompanharam neste ritual. Deliciei - me em tomar banho no lago e as aves mergulhavam cada vez que eu o fazia e depois sacudiam a plumagem de cores vivas e cintilantes que reflectiam na água fazendo dela uma aguarela viva. Vim novamente para a margem onde me esperava impaciente o meu cavalo de fogo que relinchava já fazia tempo, como que a dizer já chega de divertimento que ainda temos muito que caminhar. Vesti- me, montei novamente o meu belo misterioso e prosseguimos o nosso caminho. Os pássaros cantam  cada um a sua melodia ao longo do nosso percurso até encontrarmos novamente os nossos amigos que nos rodeiam. Desço do meu cavalo e disse - lhes que o seu paraíso é raro e apetecível.

  Pergunto-lhes como vieram aqui parar mas eles nada dizem e sorriem sempre, como se fosse um enigma ou um segredo.

  Não há dúvida que eu ando envolvido em mistérios mas é bom viver aqui junto destes amigos em que a vida vale a pena ser vivida. Isto é tão bom que até parece um sonho. Se não visse não acreditava que existisse efectivamente um paraíso em que impera o amor, a alegria, a paz e o bem estar. Devo estar a sonhar !

O meu cavalo relincha, é sinal que quer partir mas eu sinto pouca vontade de o fazer. Ele continua a relinchar e bater as suas patas no chão, sinal de impaciência e que efectivamente são horas de partir para outras paragens desconhecidas.  Não tenho outra solução senão fazer a vontade  ao meu cavalo de fogo. Dirijo - me aos meus amigos  e digo - lhes que vou partir, embora com saudades.

Todos sorriem e fazem adeus.

  O meu cavalo espera- me com muita impaciência. Digo para o meu cavalo: tu é que sabes  onde é a próxima paragem, e ele abana a cabeça como que a dizer que sim. Monto - o e cá vamos nós para outra aventura galáctica.

 

 

 

                                               CAPÍTULO  III

 

 

 

                                           PLANETA DE OURO

 

 

Estou em cima do meu cavalo de fogo. Começa a andar a trote e aprecio pela última vez este lugar maravilhoso. Sinto que ele vai arrancar a toda a velocidade e assim agarro - me com toda a força ao seu pescoço, de crina ao vento que parecem raios de luz. Ele voa entre o espaço, e o céu de azul passa a negro, mas a cor do meu cavalo brilha como o Sol no meio da escuridão que até parece uma estrela que se confunde com milhões de outras que vejo no espaço. Ele continua  na sua velocidade em direcção a uma estrelinha que tem um brilho mais intenso do que as outras. Sinto a sua respiração ofegante mas em direcção aquela estrelinha. Eu tenho tanto sono que me deixo dormir no seu dorso e agarrado ao seu pescoço deixo - me embalar na sua velocidade até ao destino que ele entender. A certa altura da viagem acordo e o céu continua escuro mas a tal estrelinha está cada vez mais perto. O meu cavalo parece o Sol no meio de tão grande escuridão. Digo para o meu cavalo: voa meu cavalinho, voa que estou desejoso de chegar à tua estrela. Ele parece que compreende e cada vez dá mais velocidade. Deixo - me dormir novamente mas desta vez acordo em sobressalto, quando já o sinto a galopar em chão firme.

 

Caminhamos lentamente e observo com estranheza que aqui o Céu é da cor do ouro que cintila em toda a sua imensidão. O meu cavalo relincha e ao mesmo tempo vejo milhares de seres vivos muito diferentes de mim, de olhos e orelhas grandes e de boca comprida. Estes seres são pequenos mas têm braços e pernas como eu. Rodeiam o meu cavalo e eu tenho receio em descer mas, ao mesmo tempo encho -me de coragem e salto do cavalo e junto - me a eles. Todos estes habitantes se agarram a mim com que a desejarem as boas vindas. Falo muito uns com os outros mas eu não os entendo, foi então que o meu cavalo relincha e olha para mim com o seu olhar penetrante e como que por magia, começo a entender o que este povo fala.

Agarro na mão de um deles e pergunto: como se chama a vossa Terra ? 

Dizem  - me em coro, isto não é Terra  mas sim o Planeta de Ouro.

Pergunta - me um deles  como se chama o lugar donde vieste ?

Respondi que vim de um planeta azul que se chama Terra mas é um lugar muito complicado onde há várias classes sociais entre raças diferentes e que não se compreendem uns aos outros. Estão sempre em conflito permanente, ao ponto de se matarem uns aos outros. 

Dizem - me em coro estes nativos : mas o teu lugar é muito mau, podes ficar aqui connosco o tempo que quiseres.

Respondo, obrigado pela vossa hospitalidade mas só posso estar aqui por pouco tempo, ou talvez o tempo suficiente para aprender com vocês a viver em paz e conseguir transmiti- la aos do meu lugar de origem que bem precisam.

Vocês estão na disposição de me ensinar para que eu possa transmitir a vossa paz aos meus semelhantes?

Todos respondem em coro que sim.

 Então, está bem aceito a vossa hospitalidade e os vossos ensinamentos para tentar melhorar o meu mundo.

Agora eu e o meu cavalo queremos descansar.

Prontamente todos nos guiaram para uma gruta toda brilhante de ouro e ali nos deixam a descansar.

Eu e o meu cavalo ficamos sós e todos os outros indígenas desapareceram para as suas grutas. O meu cavalo extenuado deitou-se e eu encostei - me junto a uma pedra dourada da gruta e adormeci calmamente e sem preocupações. Acordei a um relinchar do meu cavalo, e já estou recuperado das minhas energias. Estou abismado com tamanha maravilha ostentada por estas grutas que brotam luz da cor do ouro por todos os lados e a temperatura é muito agradável. Sinto curiosidade em explorar esta gruta. Levanto - me e levo o meu cavalo pelo vários canais que a gruta tem que mais parecem um labirinto mas sempre ostentando o mesmo brilho de ouro. Cada a vez a curiosidade é maior e por isso sinto mais vontade de continuar a minha exploração. A certa altura  vejo uma escadaria e eu e o meu cavalo vamos subir para ver até onde aquilo vai ter. Subimos, subimos até que vemos o céu escuro deste planeta. Chegamos ao fim da escadaria e na abertura estão dois indígenas, uma de cada lado da gruta, como que  a fazer sentinela. Começamos a falar com eles  e perguntamos o que faziam ali. Respondem que esta é a gruta sagrada e estão a fazer guarda de honra ao seu Deus. Pedi que me encaminhasse para junto dos outros habitantes. Assim o fazem delicadamente, e lá estão efectivamente todos os indígenas de orelhas grandes e de estatura baixa, em volta de uma pedra dourada  que para eles representa a fonte de energia do seu organismo, porque neste planeta não ingerem alimentos mas sim assimilam força cósmica para continuarem vivos.

Juntamo- nos a eles em volta da pedra dourada para também nos fornecermos de energia. Todos eles se tratam como irmãos, sempre muito amigos,  falam baixo e trabalham todos para o mesmo fim, que é a sua sobrevivência e a do planeta.

Todos eles têm um andar esquisito e uns olhos redondos, grandes e poucos cabelos grisalhos. Aqui não há água, é a pedra sagrada que lhes fornece tudo o que precisam para viver. Faz -me confusão não haver luz natural, pois todo o planeta é brilhante, cor de ouro e é o suficiente para todos viverem  no seu habitat natural.

Este planeta não tem luas, nem sol. É o próprio planeta que é a grande fonte de todas as energias naturais que lhes fornece o que têm de mais precioso - a vida.

Aqui não há guerras, não há dinheiro e todos vivem felizes porque não conhecem outra civilização que os contamine. Vivem assim muito felizes e em comunidade, onde não há prepotências nem poder absoluto. Enfim, um autêntico paraíso.

Eles dizem - me que se eu quiser ter paz, harmonia, na minha civilização tem de acabar com o dinheiro porque é ele que faz as armas, a ambição a guerra e mais tarde ou mais cedo nos auto destruimos. Não há dúvida que eles têm razão mas meter isto na cabeça dos homens já viciados é difícil. Tem de acabar tudo e começar de novo.

Este planeta está minado de grutas que servem de esconderijo aos seus habitantes quando aparecem as chuvas de meteoritos ou de poeiras cósmicas.

Gosto muito deste planeta mas, vou pedir ao meu cavalo de fogo que leve a outras paragens, a outros planetas porque a curiosidade é muita em conhecê - los. Será que são todos repletos de paz ?

Despedi - me de todos os habitantes deste planeta dourado, monto no meu cavalo de fogo e com certeza vai levar - me a conhecer outras paragens do Universo onde impera o desconhecido que nos enche a mente de curiosidade e nos provoca a argúcia e nos lança  na aventura.

O meu cavalo relincha e partimos a toda a velocidade não sei para onde mas que, só ele sabe e conhece. É um viajante especial, conhecedor profundo do Universo, senhor das estrelas e um grande companheiro em quem se pode confiar sem qualquer espécie de limitações. É fixe.                                                  

 

 

 

                                                        CAPÍTULO IV

 

 

                                                            NIRAY

 

 

Já em pleno infinito, existe muita turbulência, causada pelos meteoros que encontramos pela frente e o meu cavalo misterioso lá se vai desviando de todos eles e eu cheio de medo, agarrado ao seu pescoço, porque alguns são tão grandes que parecem montanhas que se movem no espaço e deslocam - se a uma velocidade estonteante. Só tenho medo que alguns deles esbarre contra nós mas, tenho confiança absoluta no meu cavalo de fogo que tem bons reflexos e instintos, pois não é um cavalo qualquer, não é assim meu cavalo amigo, pergunto eu ?

Ele relincha e parece compreender tudo o que lhe digo e o que quero. A dado momento o meu super cavalo relincha muito e ao mesmo tempo olho  e vejo que se aproxima perigo, pois vêm direito a nós uma serie de cordilheiras  de meteoros a faiscar e a provocar uma grande tempestade. Agarro- me mais uma vez ao pescoço do meu grande amigo, ganha ainda mais velocidade  e consegue a muito custo desviar- se em vários zigue- zagues.

O corpo dele treme muito e sinto que está muito nervoso. Estou admirado porque nada lhe mete medo e enfrenta todas as situações com a maior naturalidade, sem quaisquer dificuldades.

    Os meteoros são negros e cheios de cavernas que se deslocam a uma grande velocidade, deixando atrás de si raios luminosos bastante incandescentes e atrás destes um rabo muito grande de poeira cósmica. Apesar de assustadores é lindo de se ver.

    O meu forte cavalinho evitou todos os obstáculos com uma sabedoria  e uma inteligência fora do normal. Por isso é que ele é um cavalo especial e com poderes misteriosos que eu não compreendo.

Voamos em pleno universo e a fase dos meteoros já ficou para trás, assim como alguns sustos.  Agora vem em direcção a nós uma bola de fogo com uma cauda luminosa de poeiras, parece mesmo um cometa. Passamos muito de perto e o espectáculo oferecido por este astro é deslumbrante. Penso que tem vários quilómetros de comprido, incluindo a sua cauda como é evidente.

O céu negro está cheio de obstáculos naturais. Tudo indica que são meteoros, meteoritos, núvens cósmicas, que oferecem um espectáculo invulgar, deslumbrante pelas suas cores mas, muito perigoso para quem viaja neste espaço celestial.

Fora da minha galáxia é tudo tão diferente e assustador que só um cavalo como o meu consegue voar nesta imensidão cósmica, onde tudo é enigmático e perturbador para uma mente como a minha. Eu tenho coragem e em cima deste cavalo nada mete medo. Sinto - me também invulgar e valente que, possivelmente será contágio seu e ainda bem.

É um privilégio voar num cavalo assim, tão misterioso. Sinto - me muito bem e um cavaleiro do espaço está sempre pronto para a aventura. Viva a cavalaria  celestial.

 

   

No céu vêem - se  milhões e milhões de pontos luminosos, a que chamamos estrelas, que mais parecem núvens enormes de estrelas que, possivelmente serão imensas galáxias que parecem estar para lá do além. Umas são mais brilhantes e intermitentes do que outras que mais parecem luzes de biliões de pirilampos .

Digo para o meu cavalo de fogo que gostaria de pousar numa delas, ao que ele relincha, o que quer dizer que me vai levar até lá.  Agarro - me ao seu pescoço de crinas de fogo à solta e vamos em direcção a uma estrela muito brilhante que se destaca das outras.

Voamos há muito tempo e a estrela pretendida cada vez está mais perto de nós. Repentinamente, o meu cavalo dá várias voltas em círculo  junto à estrela que é enorme e pouco e pouco vamo - nos aproximando dela. O meu lindo cavalo abranda a velocidade e lentamente vai descendo até que põe as patas no seu solo.

Estamos juntos a  uma pequena elevação.

Observo que esta estrela está cheia de elevações e crateras, algumas de quilómetros de diâmetro.  O solo é árido, com muitas pedras miúdas e não se vê um ser vivo.  Só se vêem planícies , montanhas e crateras, com um aspecto desolador. Caminhamos com toda a cautela para ver se encontramos algum ser vivo.

Já cansados de caminhar vejo no ar um animal comprido com focinho de urso que vem em direcção a nós.

O animal é deslumbrante e pousa junto a nós.  Daí a pouco pergunto - lhe : ó urso majestoso  que fazes por estas paragens inóspitas ? E ele devolve - me a pergunta. Eu respondo, eu venho de um lugar turbulento, à procura de paz. Por sua vez o urso respondeu: eu venho do nada e procuro o nada. Não entendi a sua resposta. O meu cavalo relincha, ao que penso parece compreendê -lo. O urso tem uma voz grossa que entoa pelo espaço fora que faz arrepiar a minha pele. Pergunto - lhe mais uma , então em todas as tuas viagens não encontraste nenhum ser vivo ? 

Não, não encontrei vivalma .

Eu tinha os meus familiares e amigos e morreram todos por causa do nada. Pousamos numa região pantanosa e todos os meus familiares enterraram - se pela lama a dentro como que engolidos pelo nada. Ainda tentei salvá- los mas o meu esforço foi em vão, ouvindo os seus gritos agonizantes. 

Então é por isso que procuras o nada  para ajustares contas com ele ?

É isso mesmo, mas não o encontrei ainda. Então nunca conseguirás por que o nada não existe.

Existe sim, se o procurarmos  de forma muito convicta, acabamos por o encontrar. Hei- de resgatar toda a minha família  e reduzir o nada a nada.

Bem, vou levantar voo e tive muito prazer em conhecê - los.

Ei- lo a levantar voo o urso de olhos grandes e lindos, com uma cauda enorme, rasgando o espaço à procura do nada, até desaparecer no horizonte.

Mas eu e o meu cavalo de fogo vamos continuar a explorar  esta estrela até podermos encontrar algo de relevante que possamos afirmar que aqui há vida.

 

 

Continuamos a caminhar lentamente, de olhos bem abertos para ver se descobrimos sinais de vida nesta estrela. Caminhamos já há muito tempo e nada de novo. Agora vemos um monte que esconde uma caverna muito penetrante e nada sabemos o que ela oculta. Mistério, mistério !

Paramos junto dela e resolvemos entrar para tentar descobrir os seus segredos Entramos lentamente, passo a passo, com todo o cuidado, sem fazer muito barulho, como se fossemos uns assaltantes. Pressinto que aqui devo haver sinais de seres vivos.

Continuamos a caminhar para dentro da garganta da caverna, observando, observando, olhando para todos os cantos e buracos e nada vislumbramos mas, o meu pressentimento continua a ser válido.

Pesquisamos, pesquisamos e nada de novo.

Muito ao longe dentro das profundezas da caverna, parece - me ouvir um soluçar contínuo que me faz arrepiar. Não pode ser o que estou a pensar. Aqui nestas profundezas não pode haver ninguém. Será alucinação ?

Estarei bom da minha cabeça ? Aqui neste fim do mundo tudo se pode esperar. Estou a ficar arrepiado com os soluços que ouço, cada vez mais frequentes e mais perto. A curiosidade é mais que muita para tentar descobrir o que emite estes soluços. Será gente ? Não pode ser ?

Continuo a avançar em direcção ao som dos soluços, ate que pareço vislumbrar uma criatura, mas não lhe vejo a forma ainda. Que coisa esta, não é possível que esteja aqui uma pessoa ? Não devo estar a ver bem. Aproximo - me muito lentamente, até que, para meu espanto descubro que pela luz brilhante do meu cavalo de fogo que se trata efectivamente de um ser como eu,  uma linda menina de cabelos loiros e de olhos muito azuis, toda encolhida, muito escondida e a tremer como varas verdes. Nunca vi uma pessoa tão assustada. Será que estou a ver bem ? Toco - lhe para ver se é de verdade. Assim que  nota a nossa presença grita, grita muito, com uma aflição que parece que a estão a matar. O medo dela é enorme.

Falo com ela baixinho, com muita meiguice e digo - lhe que não estou ali para lhe fazer mal mas para a escutar e tentar resolver o que a entristece. Continua com receio e a recuar à medida que me aproximo mas, não desisto em falar com ela com todo o cuidado e amor.

A pouco e pouco vai dando sinais de colaborar e pára de chorar, o que já é bom sinal. Dou - lhe a minha mão para lhe transmitir a minha paz. Consigo que ela agarre a minha e pouco e pouco, tiro- a do seu esconderijo.

A minha preocupação agora é fazê -la sair da caverna, tendo o meu cavalo sempre por perto que é o meu guia e guarda - costas.

Finalmente saímos da caverna.

A menina é tão linda que até parece uma estrela caída do céu.

Então conta lá minha querida como vieste aqui parar ?

Hesitou mas vai falar: Eu fazia parte de uma tripulação de uma nave de outro planeta, aterramos aqui e  como sou muito curiosa comecei a descobrir todas as cavernas desta estrela e numa mais me lembrei que a minha tripulação tinha de partir. Eles procuraram - me por todo o lado até que desistiram  e partiram sem mim.

Agora que vai ser mim, não me dizes ?

Não chores minha querida porque tens aqui dois amigos eu e o meu cavalo voador e se quiseres podes viajar connosco. Podes ficar descansada que  não te deixamos aqui, abandonada e prisioneira desta caverna.

 

A certa altura, curiosa, diz - me,  já sei que o teu amigo se chama cavalo de fogo e tu como te chamas ?

Como é que sabes que ele se chama cavalo de fogo ?

Intuição feminina.

Quanto ao meu nome, olha minha querida, desde que parti do meu lugar distante e turbulento que não me lembro do meu nome, mas não importa, podes chamar - me Sem Nome até que um dia me lembro dele.

E tu como te chamas ? Donde vieste ? 

Olha Sem Nome, eu chamo - me Niray e vim do Planeta Niranium que fica muito distante desta estrela.

Como é o teu Planeta ? O meu Planeta é enorme, com um Sol que nos dá muita luz como o da tua Terra e é muito verdejante, com mares rios lagos e tecnicamente muito avançado.

Olha Niray, estou completamente abismado com o que dizes porque eu julgava que só o meu Planeta Terra tinha essas condições, que era único no espaço.  Pergunto mais uma vez a Niray : No teu Planeta também há guerras ?

Não propriamente no meu Planeta mas estamos constantemente em guerra com outro Planetas que se querem apoderar do nosso pelas boas condições climatéricas que  tem.

Olha Niray, na minha Terra que também lhe chamam o Planeta Azul, não estamos em guerra com outros Planetas mas fazemos guerras com outros países e raças que existem dentro dele. Foi por isso que fugi dele com o meu cavalo de fogo que já não suporto mais tanta violência e ódios entre as pessoas.

Diz a Niray, não sabia que existia esse teu Planeta e que as pessoas eram assim tão más umas para as outras ?

Por curiosidade, sabes responder - me como se chama esta estrela onde estamos agora e onde tu vieste parar ?  Esta estrela chama-se Carente e fica muito longe do meu planeta. Tem este nome porque aqui não há nada, falta tudo.

 

Agora que já sabemos muita coisa um do outro estás na disposição de viajar comigo no meu cavalo de fogo para descobrirmos outros astros  onde haja paz, amor e liberdade  ?

Aceito a tua proposta  para esta aventura.

Batemos com as palmas das mãos um no outro, a confirmar o acordo. O meu cavalo de fogo relincha três vezes como a confirmar  os nossos desejos e este pacto que fica selado para sempre.

Ficamos a conversar como velhos amigos, durante muito tempo. Eu estou radiante por ter outra companhia para além do meu cavalo, que apesar de tudo é ele o grande impulsionador destas aventuras, com os seus poderes misteriosos.

Montamos no meu cavalo de fogo e continuamos o nosso passeio por esta estrela de céu negro e solo brilhante como o ouro. Passamos, montes e vales e nunca mais encontramos ninguém, apenas se avista uma paisagem dourada  com relevos num horizonte sem fim.  O cavalo relincha como que a dizer basta de passeio que são horas de partir à descoberta de outros astros. Compreendo o meu cavalo muito bem  e assim disse à Niray, estás preparada para partir para mais uma aventura cósmica ?  Claro que sim Sem Nome.

Eu vou à garupa do meu cavalo  e a Niray atrás de mim agarrada à minha cintura, prontos para a largada mas, sem rumo certo, à procura do desconhecido, agora muito mais satisfeito porque encontrei a minha amiga Niray que também é uma companhia excelente.

Voeeeeeeeeeemos, dizemos em coro.

 

 

 

                                               CAPÍTULO V

 

 

                                            PLANETA PÓRIUM

 

 

Vamos no nosso imponente cavalo, voa para o firmamento e procura outro astro. O meu amigo eleva-se e arranca a toda a velocidade  deixando para trás a estrela dourada até perdê- la de vista.

A Niray agarrada a mim observa:  o cavalo é tão veloz como as naves do meu Planeta Niranium.

Ainda tu não viste nada. Ele é tão veloz como a luz. Vais ter ocasião de ver.

Que bom andar de cavalo no espaço ! É fantástico meu amigo.

Gosto de ter ver satisfeita Niray. Estou feliz como nunca.

Encontrei os meus amigos ideais.

Estou a gostar de ouvir esses piropos Niray.

Ena, o céu está cheio de milhões e milhões de estrelas.

Que lindo.

É verdade Niray, é um espectáculo fantástico. Todas elas parecem estar envolvidas em núvens coloridas de gases ou poeiras de formas estranhas e bizarras que até parecem animais.

Já viste Sem Nome, algumas deslocam - se como se fosse atiradas para longe e se desfazem no infinito.

É verdade, tens toda a razão, ainda não tinha reparado ? Aqui mesmo perto de nós estão a passar a grande velocidade, grandes camadas de grãos de areia dourados que cintilam intensamente. Devem ser areias cósmicas, não achas Niray ?

Assim parece, mas devem ser núvens de poeiras errantes, libertadas por alguma explosão de uma estrela a uma distância muito longe de nós que nem dá para vermos donde partiram.

Não há dúvida, Sem Nome, que o nosso cavalo de fogo é muito veloz. É como tu dizes, é tão ou mais veloz que a luz. Às vezes, até chego a pensar que ele tão veloz como o pensamento.

Também não exageres.

Às vezes dizemos expressões apenas para fazer - nos entender a importância que tem a coisa de que estamos a falar.

Eu compreendo Sem Nome, e sei o que queres dizer.

A alegria que sentimos é imensa e como é a primeira viagem que faço com a Niray, quero fazê- la sentir que já tenho alguma experiência destas andanças espaciais, sobressaindo um pouco a minha vaidade mas, sem exagerar. Vaidade masculina.

Fazemos carícias ao nosso cavalo de fogo, que relincha de contentamento e assim, mostra ainda mais as suas qualidades de vôo, fazendo guinões ora para a esquerda, ora para a direita, ora para cima, ora para baixo, sempre muito seguro de si.

Já viste Sem Nome, o nosso cavalo, além de misterioso, também é malabarista. Vaidade masculina. 

Sempre ouvi dizer que as femininas são muito mais vaidosas.

Concordo contigo, mas isso não impede de nós mostrarmos também a nossa e além disso, penso que não nos fica mal.

Estamos para aqui a discutir o tema das vaidades quando, temos pela frente tanta coisa para descobrir  neste espaço imenso.

A nossa viagem, não é só trabalho, Niray, e além disso todos os temas são bem vindos para a discussão.

Acertaste em cheio Sem Nome. É como se costuma dizer, da discussão nasce a luz. Nem sempre.

 

 

 

Ao fim de tanto tempo de voo avistamos um astro esbranquiçado cor de pó de prata que fica ainda muito distante. Pergunto para a Niray, conheces aquele astro para onde nos dirigimos ?

Ela observa e diz : aquele Planeta não tem solo apenas tem pó, não podemos pousar, senão afundamo- -nos nele mas, podemos passar por perto para observarmos a sua constituição. Senão me engano, diz a Niray, é o Planeta Pórium, composto apenas de pó e gases.

Muitos navegantes têm lá sucumbido por julgarem - no sólido segundo dizem os mais velhos do meu Planeta. 

Já que nos alertaste vamos apenas passar de perto e voarmos à sua volta para o analisarmos melhor. Estás a ouvir meu cavalinho de fogo, o que temos de fazer ? Ele relincha várias vezes, é sinal que compreende o que tem de fazer. Nem é preciso dizer porque ele lê os nossos pensamentos e se acha bem e lógico, executa a tarefa.

Então ele voa ainda com mais força pelos céus acima  e a certa altura alinha - se em direcção ao Pórium. Lá vamos nós para o nosso alvo distante.

 Bem Niray Niray, agora és tu o nosso guia.

Está descansado que estou atenta e muito alerta.

Sei  que não podemos pousar nele e por isso temos de ter o máximo cuidado. O nosso cavalo sabe o que fazer porque ele conhece o espaço como ninguém. Eu sei que ele é um especialista nesta área. Nesta e em todas Niray. Para ele não existem dificuldades.

Continuamos em voo picado para o Pórium mas ainda fica distante. Estou ansioso por o conhecer de perto. Agarra-te bem a mim Niray, que a velocidade agora é alucinante. Ela assim o faz, e sinto-a tremer de medo por estar já perto do Pórium.  Cada vez que nos aproximamos mais  e o Pórium parece cada vez maior e lindo e majestoso.

Este Planeta engana qualquer navegante se não souber da sua composição, pois parece mesmo sólido, digo para a Niray.

Tens razão, é lindo mas é falso para quem não o conhece.

Já estamos demasiado perto e iniciamos a volta  em seu redor. Não tenho palavras para o descrever. Parece feito de prata. É lindo feito de círculos em volta uns dos outros, até chegar ao centro. Sentimo - nos um pouco atraídos pela sua gravidade mas alerto o meu cavalo de fogo para fazer os círculos  mais distantes. Ele relincha e assim o faz, passando o perigo de sermos engolidos pela sua gravidade e pelas suas poeiras.

Depois de observarmos bem o Pórium,  pergunto à Niray: conheces algum planeta próximo onde possamos  descansar  e que seja seguro?

Claro que conheço mas nunca lá fui quando andava na minha nave com a minha tripulação.

Uma vez que não estás muito segura do que dizes, pode ser que o  meu cavalo misterioso nos guie para outras paragens espaciais. Então digo para o meu misterioso: Cavalinho de fogo estamos cansados e queremos que nos leves para outro astro entre muitos milhões que avistamos. Relinchou várias vezes e pôs as suas energias a funcionar e voamos para o desconhecido.

Ó Sem Nome, pergunta a Niray,  estou preocupada por que desconheço o rumo que o teu cavalo de fogo leva.

Fica descansada e confiemos na nossa nave viva que nos vai levar a bom porto. Ele nunca me desiludiu. Ele é mágico e misterioso e sabe o que está a fazer. Continuo agarrado ao pescoço do meu cavalo e a Niray à minha cintura e continuamos a voar para o infinito. Olha Niray, vamos fechar os  olhos e deixemos que o meu cavalo nos guie. Assim o fizemos. Ao fim de muito tempo de voo, sentimos o cavalo abrandar a força e relinchar ao mesmo tempo. Abrimos os olhos e vemos que não muito longe de nós está um astro de cor alaranjada e voamos na sua direcção.  Estamos ansiosos por lá chegar mas ainda falta muito tempo. À medida que nos aproximamos maior ele é  e mais bonita é a sua cor alaranjada. O nosso cavalinho mágico voa, voa , e já estamos muito perto da sua superfície. Niray, conheces este planeta ? 

Não sei bem mas parece ser o planeta Espirálium mas não sei se é habitado.

Voamos sobre a sua superfície muito perto do solo e o nosso cavalo começa a descida lentamente até que começa a trotear em terra firme e por fim andamos a passo.

Obervamos que tem muitas elevações e crateras. Continuamos a andar a fim de verificar de existe aqui alguma civilização. Ao fim de andarmos muitos quilómetros, diz a Niray, olha Sem Nome parece que vejo ao longe uma plataforma cheias de naves espaciais. Observei bem e realmente a mim parece - me a mesma coisa.

Vamos ver o que se passa Niray.

Tudo leva a crer que aqui existe civilização.

Resta saber se são hostis ou não, digo para a Niray, com os seus longos cabelos loiros a esvoaçar ao vento que até parece uma deusa. Chegamos à plataforma  em forma de um grande circulo e de momento não vemos ninguém. O nosso cavalo não andou mais. De repente abre- se electronicamente a porta de uma das naves. Ficamos assustados para ver o que vai suceder. Esperamos para ver. Momentos depois saem  da nave dois guardas armados e com capacetes enfiados na cabeça que não se vê olhos nem boca. Dirigem - se para nós como se fossem autómatos. A Niray treme dos pés à cabeça. Os guardas chegam ao pé de nós, observam em nosso redor e perguntam com uma voz profunda : Quem são vocês, o que querem daqui ? Respondi eu, nós apenas queremos conhecer  o vosso planeta e como vocês vivem, simplesmente por curiosidade. Descemos do cavalo . Um deles pergunta apontando para o cavalo, esta é a vossa nave ? 

Antecipou-se a Niray e disse : ele é apenas um cavalo de fogo com poderes misteriosos que nos conduz por todo o infinito.

Curioso diz o guarda, nunca tinha visto nada assim. Ao fim de algum tempo de perguntas e respostas, dizem os guardas, entrem nesta nave. Entramos, a nave fechou- se como se abriu electronicamente. Entramos num elevador e descemos à base principal onde deambulam todos os guardas cada um com os seus afazeres.  Fomos à presença do chefe -mor. Pergunta este para os guardas : que fazem estes seres aqui ?  Diz um dos guardas, são apenas aventureiros que andam a conhecer o espaço.  Está bem diz o chefe.

Diz o Chefe: guardas podem retirar- se  e assim o fazem. Estamos apreensivos com o que nos possa suceder. O nosso Planeta é Espirálium e nós não fazemos mal a ninguém, apenas nos defendemos de piratas. Respiramos de alívio. Criámos esta plataforma e todas estas naves para ripostarmos a possíveis agressores. Vejo que vocês são seres pacíficos e por isso têm toda a nossa hospitalidade.

O Chefe - mor, chama os guardas e diz - lhes, mostrem tudo e expliquem como nós vivemos.  Os guardas assim o fazem  e começam por nos explicar que se alimentam de produtos que criam em estufas, já que à superfície a terra não cria nada.

Aqui temos todas as oficinas de fabricação e manutenção das naves e estas são feitas com materiais que extraímos do subsolo. Aqui temos o hospital todo equipado para todas as emergências. Infelizmente vivemos no subsolo porque as circunstâncias assim o exigem. De vez em quando fazemos voos de reconhecimento à superfície para verificarmos se aparecem alguns intrusos armados.

Passamos algum tempo com eles, descansamos, enriquecemos os nossos conhecimentos e estamos prontos para outra aventura.

A Niray nunca disse que era de outro planeta civilizado, assim como eu. Manifestamos desejo de partir e  despedimo - nos do comandante . Fomos introduzidos na nave elevatória e viemos para a superfície. A nave abriu-se, despedimo- nos e montamos no nosso cavalo de fogo prontos para outra investigação espacial.

Já viste Niray, aqui vivem como as toupeiras que existem na Terra.

O que são toupeiras ? Que nome tão esquisito !

Eu explico: Toupeira é um animal mamífero insectívoro que vive debaixo da terra, em galerias.

Que engraçado, no meu Planeta não existe esse animal ? 

Então já ficas a saber mais uma coisa. Na minha Terra costuma  dizer- se que, o saber não ocupa lugar.

E é verdade Sem Nome, nada é mais certo que isso.

O nascer e o morrer também é, não achas Niray ?

Também é verdade, não há dúvida.

Aproxima - se outra aventura.

 

 

 

                                          CAPÍTULO VI

 

                                               

                                     PLANETA MORENIUM

 

 

Então Niray, para onde é que vamos agora ?

Não sei Sem Nome, o espaço é tão grande  e tão vasto  que mais vale deixar que o nosso cavalo de fogo nos conduza para o infinito e para o incógnito que, dá mais significado à aventura e à descoberta.

Tens razão Niray, vou dizer ao nosso misterioso cavalo que nos leve para o desconhecido, para ver o que é que encontramos  neste espaço sideral.

Digo directamente nas orelhas do meu cavalo : leva-nos à descoberta de outros astros que nunca tenham sido vistos. Ele relincha várias vezes de contente e lança-se imediatamente a trote ganhando velocidade  até que deu um impulso e ergue - se no espaço, comigo e com a Niray  em cima do seu dorso, todo esticado, a caminho do desconhecido.

Nós gritámos em uníssono, lá vamos nós à descoberta do firmamento, com o braço esticado e o dedo indicador apontado para o além.

Niray, já viste como o céu é negro?

Pois é Sem Nome, e sabes porquê ?

Sei, sim Niray, é porque não existe atmosfera.

Mas, olha lá Sem Nome, se não existe atmosfera como é que nós percorremos o espaço sem ela?

Tens razão Niray, naturalmente nós nunca poderíamos  andar neste vácuo sem respirar. Mas, aí é que está o busílis da questão.  Nós através dos poderes do nosso cavalo de fogo adaptamos  o nosso aparelho respiratório a todos os meios por onde passamos.

É inacreditável !

 

 Senão fosse o nosso cavalo misterioso, nós nunca poderíamos navegar neste espaço imenso, estás a perceber Niray ?

Agora já entendo Sem Nome. É estranho  como nós andamos no espaço montados num cavalo que voa, não é Niray? Até parece um sonho.

Pois é, mas não vale a pena pensarmos mais nisso e continuemos na nossa pesquisa espacial. 

Vamos lá ver para onde nos leva o nosso cavalo de fogo, Sem Nome.

 Enquanto trocamos impressões o nosso cavalo vai voando a uma velocidade incrível, e a pouco e pouco avisto uma espécie de nebulosa e digo para a Niray: já reparaste naquilo que estou a ver ao longe ? Ela observa  e vê o mesmo do que eu, um astro que parece uma nebulosa.

Aquilo não conheço Sem Nome, mas parece-me uma nebulosa como tu dizes. Aproximamo- nos cada vez mais e o astro que avistamos parece uma espiral, esbranquiçado por fora e negro ao meio. À medida que chegamos mais perto, aquela espécie de nebulosa é redonda como uma planeta mas parece feita de círculos de pó cósmico igual ao Porium, não te parece Niray ?

Efectivamente tens razão Sem Nome, parece como tu dizes.  O nosso cavalo conduz - nos para lá a toda a velocidade e o astro além de enorme é deslumbrante mas com aquela negritude ao meio. 

Aproximamo- nos a toda a pressa  e de repente  grita - me a Niray, Sem Nome prepara-te que vamos ter uma grande surpresa.

Então o que é Niray, grito eu também. O astro é efectivamente composto de círculos de de gases, pó cósmico e aquela parte escura é um túnel de sucussão, por onde nós vamos ser engolidos, continua a gritar - me a Niray.

Isto é horrível Sem Nome.

Tem calma Niray, não percas a coragem e agarra- te bem a mim, que tudo há - de ter um final feliz.

Ela continua a tremer como varas verdes e com gritinhos agudos que ferem os ouvidos. Até parece que oiço os dentes dela a baterem como matracas.

Continuo a tentar acalmá - la  mas está a ser difícil.

O nosso cavalo de fogo faz todos os esforços para se desviar do centro de sucussão do túnel mas, mas já é tarde, porque neste preciso momento começamos a ser engolidos pelo túnel do astro que tem uma força devoradora.

Entramos num ápice pelo túnel e eu grito para a Niray, agarra- te a mim  com toda a tua força, ao mesmo tempo que grito também para o cavalo, aguenta- te meu misterioso e protege - nos que não somos nada sem ti.

Estamos a ser engolidos por este buraco escuro que, parece não ter fim sem se ver  absolutamente nada, e por isso, estamos com muito medo porque não sabemos a onde o túnel nos leva.

É tão comprido como negro que,  até parece uma eternidade. Também estou assustado mas, não me dá para gritar. Sofro para dentro que ainda é pior do que exteriorizar.

A Niray só grita, apesar de corajosa, agarrada a mim  e eu agarrado com unhas e dentes ao pescoço do meu cavalo de fogo, de olhos fechados, porque não vale a pena abri-los porque não se vê completamente nada. Estamos a ser sugados com uma força incrível  e eu grito para o meu misterioso, aguenta- te meu valente que tudo há- de acabar bem porque confiamos inteiramente em ti.

Ele relincha, como que a dizer que está tudo sob controle.

 

 

Este maldito túnel nunca mais chega ao fim, e eu sinto o tremor da Niray, no meu corpo porque ele está muito colada a mim. Os nossos corações batem desalmadamente por que não sabemos como vai e onde vai terminar esta viagem no escuro deste astro que tem um cheiro intenso a enxofre .

Esta sucussão é tão longa que já nos deixamos ser engolidos à vontade mas, com o sentido da surpresa como vai ser o final. 

De repente, somos cuspidos que nem uma bala para o espaço, chegando finalmente ao fim este pesadelo. Já em plena liberdade  abrimos os olhos.

Olha Sem Nome, não vês o que tens na tua frente ?  Olho e vejo ainda longe um    planeta com uma auréola cor de fogo. Que lindo planeta Niray. Aquela auréola será constituída de que?

A mim parece -me ser formada por gases.

Não achas que devemos tentar pousar nele  para saber se tem vida ou não, acrescento eu .

Diz a Niray, nós andamos pelo espaço é precisamente para tentar desvendar o máximo possível  este incógnito firmamento.

Tens razão, Niray e  em coro gritamos para o nosso valente cavalo de fogo, leva - nos para o planeta que avistamos ao longe, porque é nosso desejo tentar saber o que ele guarda consigo. Ele relincha com força e voa com todas as suas energias inesgotáveis em direcção ao astro que lhe indiquei. Depois que passámos o túnel, parece que entramos noutra época, porque o céu aqui não parece tão escuro e  a máquina do tempo parece que anda mais rápida. Temos uma sensação estranha, parece que corremos rapidamente para o destino, sem darmos por isso. Aqui, parece que nos sentimos muitíssimo mais leves. Até parece que subimos sem esforço.

 

O planeta aproxima -se  com a sua enorme auréola de gases da cor do fogo mas misturada com outras manchas semelhante a núvens brancas. A beleza é tão grande que, nos atrai para si.

Que iremos descobrir neste astro,  Niray?

Não sei Sem Nome mas, talvez tenhamos uma boa surpresa.

Para uma boa surpresa, só se tiver vida, observo eu.

Quem sabe interroga  a Niray?  A pouco e pouco o nosso cavalo nos conduz para a travessia da auréola do planeta.  Neste preciso momento entramos na auréola que também cheira a enxofre mas, não se sente nada de especial.

Voamos dentro da auréola já algum tempo mas já se começa a ver o solo do planeta e lentamente descemos para a sua superfície. Afinal, por detrás da auréola fica o planeta. E nós a pensarmos que eram apenas gases e poeiras cósmicas. Aqui está a prova que, nem tudo o que parece é.

Pousamos finalmente. O solo também é da cor de fogo. Descemos do cavalo e sua cor confunde -se com a terra do planeta. Este astro não tem muitas elevações nem crateras, o que quer dizer que talvez seja pouco bombardeado com os meteoros. Caminhamos a pé e o solo tem grande camada de pó que nos enterra quase os sapatos que, nos dá a sensação de uma almofada muito fofa. Niray, já que conheces muito mais do espaço do que eu, sabes o nome deste planeta ? 

Olha Sem Nome, realmente conheço muito do espaço mas francamente desconheço completamente este planeta.

Então fica onde o diabo perdeu as botas, não é ?

A Niray ri às gargalhadas. O que é que isso quer dizer Sem Nome ?

Esta é uma frase que dizemos lá na minha Terra, quando qualquer coisa fica muito longe.

Que engraçado, nunca tinha ouvido semelhante expressão !

Uma vez que nada conhecemos sobre ele como lhe havemos de chamar, continua a Niray. Vamos pensando ao mesmo tempo que andamos. Por enquanto ainda não encontramos sinal de vida. Já sei, digo para a Niray.

Sabes o quê, pergunta - me ela?   Encontrei o nome para este planeta. Então diz Sem Nome que estou cheia de curiosidade.

Ainda não te digo para ficares ainda mais curiosa.

Diz lá Sem Nome, não me faças morrer de curiosidade.

Espera só mais um bocadinho, porque gosto de te ver aflita porque ficas mais bonita. Diz lá Sem Nome, não sejas  assim.

Bem, vou matar - te a curiosidade mas se não concordares és tu que vais arranjar um nome.  Planeta Morenium. Que achas ?

É lindo Sem Nome, não podias ter encontrado outro mais bonito. Gosto imenso. Fico satisfeito.

Bem, agora vamos lá continuar a nossa investigação do Planeta Morenium .

Para ser mais rápido e menos cansativo, montamos novamente no nosso cavalo de fogo e andamos a passo em direcção incerta uma vez que não conhecemos nada do Morenium.

Neste Planeta parecia - me que não existiam elevações nem crateras mas, afinal existem mesmo as que vemos são muito altas e as poucas crateras são tão profundas que, até parece que não têm fim. É preciso muito cuidado para não cair numa delas. Nas elevações também se notam algumas cavernas, com entradas muito grandes. Será que são as portas do Céu ? Continuamos na nossa pesquisa mas a espessura de pó vermelho no solo é grande  que dificulta um pouco o andar do cavalo  mas lá vamos andando e investigando ao mesmo tempo na tentativa de vermos alguma forma de vida que é o que nos desperta mais curiosidade em saber e qual a sua forma, seu comportamento e o seu modo de vida.

Estamos a andar há já muito tempo.

Diz -me a Niray: estás a ver aquela caverna na base daquela elevação que fica a norte de nós ? Não vejo. Não vês nada? Não vejo nada, não. Olha bem com atenção, Sem Nome. Parece - me ver qualquer coisa a mexer - se . Eu continuo sem vislumbrar nada mas, continuemos a andar na sua direcção para ver se consigo atingir o que tu estás a ver. Agora estamos mais próximos da tal caverna. E agora, já vês ? Agora sim, vejo coisas a mexer - se  mas não distingo bem porque ainda estamos longe.

Apressamos o passo ao cavalo na direcção da caverna até que conseguimos ver bem o que está a sair da caverna. A curiosidade é imensa em distinguir bem os seres que se movem para fora daquela caverna. Finalmente observo bem  e digo para a Niray: a mim parecem - me uma espécie de medusas que se movem sem tocar o chão. Olha como são enormes ? Diz  a Niray, conheço muitos Planetas mas nunca vi seres vivos desta natureza,  tão grandes e que se locomovam a flutuar rente ao solo. Chegamos finalmente junto à caverna e estes seres são quase do nosso tamanho. Parece não terem olhos nem cabeça. Parecem mesmo medusas com tentáculos estendidos para o chão.

Estes seres sentem a nossa presença e ficam inquietos e começam a rodear - nos às centenas. É assustador o seu aspecto. Digo para a Niray : tenta lá comunicar com eles  para sabermos alguma coisa sobre a sua vida.  Eles continuam a rodearmo - nos, parecendo também querer saber algo sobre nós. O interesse deve ser mútuo.  De repente lembro de socorrer - me  do nosso cavalo misterioso  e digo -lhe aos ouvidos : faz com que dialoguemos com eles, meu bom amigo. Relincha várias vezes, o que quer dizer que o podemos fazer.

A Niray finalmente, por obra mágica do nosso cavalo de fogo, entra em comunicação, com estes seres. Primeiro toca- lhes  e eles transformam - se  em figuras erectas mas muito feias que até assustam o cavalo que relincha e bate com as patas no solo várias vezes. Com este gesto eles recuam um pouco e nós ficamos mais à vontade. A Niray pergunta - lhes : Porque é que vocês têm essa forma de medusa ? Responde um deles que deve ser o comandante: é para nos protegermos dos nossos agressores. Então porque é vocês se transformam em figuras erectas quando lhes tocamos ? É para podermos comunicar com outros seres estranhos ao nosso ambiente e podermos conhecê - los bem, se são agressores ou não. Continua a Niray, então porque é que vocês quando têm a primeira forma, de medusas flutuam rente ao solo? É porque é a nossa forma natural de nos locomovermos e porque o solo tem uma espessura de pó muito alta e o nosso organismo está preparado para as fugas rápidas em caso de agressão de outros seres. Quer dizer que a vossa fuga é para as cavernas quando isso acontece, diz a Niray? É isso mesmo,  responde o comandante e depois fechamos a caverna com um escudo invisível de protecção. Então como é que vocês sabem que nós não somos agressores, continua a Niray ? Pelo olfacto, conhecemos os agressores. O vosso odor diz - nos que são seres de paz. Digo para a Niray: pergunta - lhe lá se o planeta está completamente habitado de seres como eles?  A esta pergunta eles respondem que o planeta tem muitos habitantes mas cada comunidade tem a sua forma de viver e de agir.

Diz o comandante, não podemos continuar mais tempo cá fora, são horas de nos recolhermos na nossa caverna. E assim, de repente se transformam novamente em medusas e recolhem à caverna, despedindo - se de nós rapidamente. Que seres tão curiosos vivem neste planeta, não é Niray ?  Pois é, são formas de vida  adaptadas ao ambiente deste planeta, tal qual  nós no nosso meio.

Resolvemos escalar a elevação onde está a caverna para podermos observar o planeta lá de cima. 

Aproximamo - nos e depois digo para o nosso cavalo de fogo: queremos alcançar o cimo desta elevação, podes fazê - lo ? O nosso misterioso num impulso voa até ao cimo da montanha e pousamos lentamente no seu cumo como uma ave.

Mas que paisagem, Niray ! Que coisa tão linda !

Ó  Sem Nome, já reparaste na imensidão deste planeta que praticamente é quase plano ? É verdade, a paisagem é linda e o solo avermelhado. Parece mesmo fogo como se fosse uma miragem. É bastante árido e seco, por isso aqueles seres que nós vimos  têm formas tão  estranhas.

 

Aquela auréola de gases que envolve o planeta deve ser a sua protecção, para manter a temperatura  e a sua gravidade. Quão estranho é todo este firmamento ! Sabe - se lá o que mais contem no seu infinito.

Nós estamos cá Niray, é para desvendar os segredos do infinito.

Olha Sem Nome, nem que estivéssemos aqui uma eternidade conseguíamos ver os segredos do espaço.

Tens razão, Niray. Se não fosse o nosso cavalo de fogo, também não tínhamos quaisquer hipóteses de viajar nos segredos do Cosmos e  andaríamos perdidos no espaço e nunca mais poderíamos voltar ao nosso ponto de partida.

Uma coisa é certa Sem Nome, eu ando contigo nesta exploração espacial, porque me encontraste perdida e eu já não sei onde fica o meu planeta de origem. 

Já agora que estamos a descansar no cimo duma montanha deste planeta Morenium, podes dizer - me então, onde fica o teu planeta ? 

O Meu planeta, o Niranium,fica algures neste firmamento, e em termos de clima é muito parecido com o teu, embora fique a milhares de anos terrestres de luz.

Isso quer dizer que pertence a outro Sistema Solar diferente do meu.

É isso mesmo Sem Nome. Se nunca encontrarmos o teu planeta  e se puder regressar ao meu , queres vir comigo ?

Eu acompanhar - te ei para sempre mas, antes gostaria de tentar ir de novo ao meu Niranium, para tu também poderes conhecê - lo.

O destino nos uniu e portanto, continuaremos juntos, isto é, em qualquer parte do universo, somos mestres do nosso destino e capitães da nossas almas, como diz um poeta que já li e não me recordo seu nome.

Fico perplexo com a decisão peremptória da Niray, em querer acompanhar - me pelos caminhos do nosso destino que, são uma incógnita, tal qual este espaço imenso  de que fazemos parte.

 

Estamos a conhecer o Morenium e depois dele o que iremos encontrar, Niray ?  Independentemente de fazermos investigação, isto também é uma autêntica aventura pelo desconhecido. Niray, estás de acordo em levantarmos vôo, darmos a volta ao Morenium e partir novamente para outra descoberta ?  Eu estou de acordo e o resto pertence ao nosso cavalo de fogo. Então, meu querido e mestre cavalo, viajante do Cosmos, vamos partir meu amigo, tu és o nosso guia e a nossa esperança. Ele relincha várias vezes, o quer dizer que está pronto para nos conduzir para mais uma descoberta.

Montamos o nosso glorioso e imponente cavalo e ele imediatamente arranca para o espaço. Atingimos uma considerável altura e começamos a rodear o Morenium, antes de sairmos da sua auréola de gás. O seu aspecto é sempre o mesmo, poucas elevações, poucas crateras e o solo completamente avermelhado, da cor do nosso cavalo. Desta altura já não se consegue ver qualquer forma de vida mas, sim só a sua cor.

Continuamos a nossa viagem em torno deste planeta, até que decidimos sair da sua auréola de gás à procura de outro astro ou outras formas físicas que porventura haja nesta cobertura infinita que tem sempre o além como limite e as incógnitas perturbantes do desconhecido e que nos enche a imaginação.

 

 

 

 

                                              CAPÍTULO VII

 

                                              TURBULÊNCIAS

                                              

 Não sei há quanto tempo andamos no espaço, acho que perdemos mesmo a noção do tempo, e há um pormenor que tenho de frisar é que o nosso aspecto físico mantem - se inalterável, nomeadamente desde que fomos sugados pelo tal túnel do buraco negro. Teríamos ultrapassado a máquina do tempo ?

Digo isto porque olho para a Niray e noto que, fisicamente, ela mantém-se na mesma.

Ó Niray, diz - me lá, desde que me conheceste e atendendo ao tempo que andamos no firmamento, notas  que eu fisicamente estou na mesma ?

É verdade Sem Nome, não envelheceste nada. Será que  entrámos através do tempo numa outra época ? 

Talvez tenhamos entrado no futuro. Quem sabe, algum fenómeno se passou e que nós por enquanto não sabemos explicar. Entrando no futuro como tu dizes, a tendência é para envelhecer, porque damos um salto para à frente, e se entrássemos no passado, passávamos a reencontrar a juventude até às raízes do nosso nascimento. A máquina do tempo é muito complexa e misteriosa, não achas Niray ? Sem dúvida que sim Sem Nome,  e não dá para qualquer cérebro.

 

Continuamos a voar  no infinito, no nosso cavalo de fogo  e vê-se no espaço triliões de astros, completamente desconhecidos para nós. O nosso cavalo relincha  e quando ele o faz algo vai aparecer no espaço que ainda não vislumbramos mas, já estamos atentos. Este cavalo parece um autêntico radar vivo.

Continuamos de olho vivo para ver o que vai surgir.  Nota - se agora no nosso horizonte uma enorme bola que nos parece  de fogo, parecido com o Sol que, se desloca lentamente. Voamos agora na sua direcção mas ainda está muito distante. Pela aparência parece- - nos um grande meteoro que deambula ao acaso como que desintegrado dalgum astro, causado por algum fenómeno sísmico ou vulcânico.

São as primeiras impressões mas só quando chegarmos realmente junto dele é que vamos tirar todas as dúvidas.  Voamos em círculos cada vez mais curtos, em volta do pretenso meteoro até podermos chegar até lá. Temos alguma apreensão, porque não sabemos exactamente do que se trata.

Ao fim de algum tempo de vôo,  já estamos muito próximos e agora já dá para distinguir que, é efectivamente um  meteoro que mais parece uma montanha tão grande que dá perfeitamente para pousarmos e investigarmos a sua massa.

Damos mais três voltas em círculo  e pronto estamos por cima da montanha voadora.  Na sua frente leva um clarão enorme que parece uma cabeça de fogo.  Cá de cima do meteoro, vê - se que a sua superfície é muito irregular e rochosa. O nosso cavalo de fogo desce lentamente e pousamos finalmente na sua superfície.  Descemos do nosso fogoso cavalo e pisamos o solo deste grande relevo que anda à deriva mas,  que pela sua grandeza não sentimos qualquer sensação de instabilidade.  Temos que andar com cuidado por que o solo desta montanha rochosa está minado de crateras profundas e algumas deitam vapôr de gases, dando a sensação que está a arder por dentro. Estará prestes a explodir ?

Vamos caminhando com todo o cuidado mas de repente que a Niray desequilibra-se junto da berma de um buraco enorme e grita, agarra - me Sem Nome que eu vou cair. Os meus reflexos são rápidos e ainda consigo agarrá- la pelo braço e puxá - la para o meu lado, livrando- a de cair naquele abismo.

Mas que susto tão grande que apanhámos Niray !

Ai Sem Nome, tive mesmo a sensação que ia morrer.

O meu coração bate aceleradamente e leva tempo a recuperar, porque tive medo de a perder para sempre.  Continuamos a caminhar, ela, eu e o nosso cavalo mas, agora mais alerta e com muito mais cuidado, não vá o diabo tecê -las.

Este rochedo parece de natureza vulcânica, em virtude das grande quantidade de crateras que tem e o que mais impressiona é que algumas delas deitam jactos de gases.

Parece que não estamos muito seguros aqui, Niray,  isto parece querer rebentar de um momento para o outro.

Quanto mais andamos para a frente  mais jactos de gases deita que atingem uma altura quase a perder de vista, tal é a potência destes vapores. De vez enquanto toda esta montanha estremece com estrondos que vêm do seu interior como se fossem rugidos de trovões.

Começamos a ter receio de caminhar mais nesta superfície tão irregular e perigosa.

Ó Niray, não achas que devemos montar no cavalo e tentar desaparecer daqui, antes que seja tarde de mais ?

Acho que sim, Sem Nome. Temo - nos de apressar porque tenho a sensação que isto se vai desintegrar a qualquer momento.

Então montemos o nosso cavalo para que nos transporte o mais depressa possível daqui para bem longe, antes que nos aconteça alguma desgraça.

Ó Sem Nome achas que o nosso cavalo ia deixar que nos acontecesse alguma coisa?

Tens razão Niray mas, é já o instinto de defesa.

Estamos já no dorso do cavalo e continuamos a ouvir cada vez mais ruídos do interior do meteoro. Vamos meu misterioso, e ao mesmo tempo, ele corresponde com um relinche, levantando vôo com uma rapidez impressionante, parecendo adivinhar que algo de mau se irá passar nesta montanha voadora.

Já vamos a uma altura considerável do meteoro e de repente assistimos a um espectáculo nunca visto. O meteoro desintegra - se completamente em partículas pequenas, com muitas e grandes explosões, soltando jactos de fogo de muitos metros altura, parecendo fogo de artifício em pleno universo.

Agora todas aquelas partículas, umas maiores outras mais pequenas,  todas a arder, parecem estrelas deste universo mas, por pouco tempo, porque todas se vão apagando umas atrás das outras e deambulam no espaço como se fossem um bando de aves de fogo.

Possivelmente, alguns destes pedaços irão ser sugados pela gravidade de outros astros, provocando então chuva de meteoritos e muitos destes, mais pesados, provocarão também pequenas crateras nos astros onde caírem.

 

Então Niray, agora qual é a nossa próxima viagem ?

Não te preocupes Sem Nome, porque neste universo não faltam motivos para continuar a investigação. Há muito por onde escolher, e além disso não podemos esquecer que é o nosso cavalo de fogo a principal peça destas viagens.

Continuamos neste espaço imenso, observando qual será o nosso próximo astro a visitar. O céu continua a ser negro como a morte. Por nós passam milhares de  pontos luminosos a uma velocidade alucinante que parecem ser meteoritos  incandescentes que riscam este espaço negro parecendo fazer autênticas estradas luminosas que se vão apagando imediatamente atrás dos possíveis meteoritos incandescentes.

O nosso cavalo voa incansavelmente como uma autêntica nave espacial. No seu dorso sentimo - nos seguros e confortáveis e livres como os pássaros, que nos dá a maior sensação de liberdade do mundo.

O nosso cavalo relincha várias vezes, como que a dar - nos um alerta que há algo em especial que nos interessa .

Niray, prepara- te e observa bem  porque o nosso cavalo está a indicar - nos  que algo se aproxima de nós e que nos temos que precaver. Tu como mais conhecedora do espaço, diz - me se vês alguma coisa, algures neste firmamento  que  se aproxime de nós ? 

Deixa - me observar bem Sem Nome ! 

A Niray está em observação cuidada e rapidamente diz - me :  Atenção Sem Nome, que se está a aproximar de nós uma grande tempestade de poeiras cósmicas, de extensão muito grande.  Temos de ter o máximo cuidado para, no caso de sermos atingidos o que é provável, dado a grande extensão da tempestade, para não sermos arrastados com ela. 

Estou muito assustado mas, ao mesmo tempo, confiante no nosso cavalo que nos vai livrar com certeza  desta contrariedade. Temos que contar que nem tudo são rosas e elas também têm espinhos que, às vezes nos ferem profundamente.

Estamos bem agarrados ao nosso cavalo e ele continua a voar  incansavelmente.  Inclino- me para os seu ouvidos e  digo- lhe: meu valentão, temos uma grande tempestade na nossa frente, e por isso, tens que ter muita energia para a podermos ultrapassar. Eu sei que não é preciso avisar - te, porque para ti não há obstáculos que te façam recuar. Ele relincha, relincha, o quer dizer que está atento para o que der e vier.

Diz  a Niray: estou bastante preocupada com a tempestade cósmica, Sem Nome mas, também estou confiante no nosso cavalo. Vamos ver se não apanhamos a tempestade pelo meio, porque isso seria o pior que nos podia acontecer.

A mancha da tempestade, à medida que se aproxima de nós, mais receio nós temos, porque já contamos com a sua possível violência, cujas consequências são imprevisíveis mas, o nosso mestre está atento e sabe muito bem o que faz.

Estamos preparados para a enfrentar mas, o nosso cavalo voa a toda velocidade de modo a que não a apanhemos pelo centro. Desvia - te ao máximo meu grande cavalo de fogo, e ele guina para o lado direito da tempestade para tentar passar ao lado dela , o que vai ser difícil, porque já está muito próxima e vem com uma espada na mão, preparada para fazer estragos mas, não acredito que o nosso cavalo se deixe impressionar e derrotar por ela.

Ele continua a flanquear esta grande turbulência esbranquiçada no meio deste céu negro,  que se aproxima de nós a toda a velocidade. Embora continuemos confiantes no nosso cavalo, o receio apoderou - se de nós, o que quer dizer somos sépticos em relação à capacidade do nosso misterioso para enfrentar esta situação, o que é injusto, porque tem dado provas da sua valentia e tenacidade. 

Já estamos um pouco desviados do centro da tempestade de poeira cósmica, diminuindo portanto, um pouco mais a nossa tensão. Calculo de que dentro de pouco mais de meia hora estamos envolvidos na poeira. Grito para a Niray, agarra- te a mim que estamos quase a enfrentar o nosso inimigo. Grita também ela, está bem Sem Nome, já estou preparada. Agarro - me ao pescoço do nosso cavalo voador e digo- lhe:  desvia -te  o máximo que poderes e salva - nos. Ele relincha e sinto que ele voa ainda com força para tentarmos sair do centro daquele turbilhão de poeira.

Pronto, começamos a ser atingidos pela ventania cheia de poeira cósmica e sinto que a força do nosso cavalo de fogo diminui um pouco, pela pressão da tempestade que, parece ferver em turbilhões mas, resiste perfeitamente à intempérie. Continuamos agarrados ao nosso cavalo para não sermos cuspidos pela força da tempestade mas, esta cada vez tem mais força mas, ao mesmo tempo, temos sorte em não a  atravessarmos pelo centro que, seria impiedosa para nós. Sente - se o cavalo vibrar e estremecer, tal é a violência da poeira que parece gritar- nos aos ouvidos em som sibilante : preparem - se que os vou engolir e consumi - los no meu ventre. Querias tu malfeitora mas, não vais conseguir, respondo eu para o meu ego. Grito para a Niray, estás bem ? Grita - me ela, sim Sem Nome, com um pouco de medo mas, estou bem. Então prossigamos meu cavalo de raça e continua a tentar flanquear esta força cósmica da natureza. Ele relincha sempre que falo com ele, é sinal que compreende, ou não fosse ele um cavalo especial.

Meu Deus, esta tempestade cada vez tem mais violência. Ó Sem Nome, ainda faltará muito para sairmos deste inferno de pó e vento ? Não sei Niray, porque a mancha da tempestade continua espessa e grande. Ouve - se o sibilar desta ventania poeirenta que parece querer arrancar - nos o cabelo. Às vezes, até  parece que o nosso cavalo cede à pressão da tempestade mas, ele continua a voar com toda a energia para nos livrar dela.

Estamos a ser confrontados com esta turbulência há muito tempo mas, a nossa adrenalina não cede. É  tão forte como a tempestade.

Finalmente a força da intempérie vai abrandando, porque o nosso cavalo nos vai desviando dela, e o sibilar do vento nas nossas orelhas é menor. Estou a ficar mais animado e confiante.

Niray, anima - te, parece que já estamos quase fora da tempestade. Ainda bem, Sem Nome, porque já estava a ficar aflita.

De hoje em diante temos de acreditar mais no nosso cavalo voador, Niray. Ele praticamente já nos livrou  desta aflição. Praticamente já estamos fora da turbulência, agarrando - me ao seu pescoço e fazendo - lhe carícias, ao que ele corresponde relinchando, relinchando, relinchando, também satisfeito e aliviado deste esforço titânico para vencer esta batalha em que o adversário era teimoso e difícil. Só assim que as vitórias são saborosas e estimulantes que nos faz engrandecer a alma.

Respira fundo, Niray, porque  finalmente estamos livres e em paz, debaixo deste céu negro. Voando lentamente, o nosso cavalo, recupera as energias do esforço que dispendeu a atravessar aquela mancha turbulenta de pó infernal que nos ia torcendo os nervos mas, felizmente já passou. 

A Niray grita de alegria agarrada a mim, ao que eu correspondo também com um abraço e um grito de felicidade : viva a liberdade, viva o nosso cavalo de fogo. Estamos eufóricos por termos passado mais esta dificuldade espacial.

Agora lentamente o nosso cavalo voa neste universo sem fim para nos transportar novamente para o seio da paz celestial, onde impera a calma e a paz de espírito.

 

 

 

                                                CAPÍTULO VIII

 

 

                                        OUTRO SISTEMA SOLAR

 

 

 

Niray, agora estás mais calma, não é ?  Pudera, depois daquele susto que apanhámos, é caso para estar em período relaxe. E tu não te assustaste também Sem Nome ?  Claro que sim, embora me fizesse de muito forte na altura. Pior, foi termos duvidado um pouco da capacidade do nosso cavalo, com tantas provas de tenacidade e inteligência que já nos deu. Isso é verdade, retorquiu a Niray. Foi muito injusto da nossa parte.  Ambos fazemos carícias ao nosso glorioso cavalo, ao que corresponde, relinchando várias vezes, como que agradecendo o nosso gesto.

E assim lá vamos nós satisfeitos, algures neste universo à descoberta de novos astros e de novas formas de vida. O universo é surpreendente,  enigmático e imprevisível.

Nunca sabemos com o que contamos. No entanto, é preciso ter espírito de aventura, entusiasmo pela vida e uma grande fé, principalmente nas horas difíceis para que a derrota não se apodere de nós. Estamos metidos neste Universo motivados pela descoberta de novos astros mas, conscientes das dificuldades que iremos encontrar. Estas, dão - nos - hão ainda mais força  para prosseguir o nosso objectivo, conhecer o espaço que nos envolve.

Agora, estamos parados algures no espaço, um pouco à deriva para pensarmos na nossa próxima etapa. Como é extraordinário estarmos suspensos no Universo sem nada onde nos apoiarmos. É sensacional estarmos assim sentados no dorso do nosso cavalo poderoso, sem quaisquer movimentos. É como se estivéssemos a flutuar nas águas de um oceano.

Penso, porque é que ainda não me lembro do meu nome? Sei apenas que saí da Terra por ser quase impossível viver nela mas, de nada mais me recordo. Tenho fé que mais tarde ou mais cedo hei- de recuperar as minhas lembranças .

A Niray está calada e eu ocupado nos meus pensamentos neste período de descanso, no meio de um silêncio em que só se ouve as nossas respirações. O silêncio é tão grande que até parece que se ouve o bater dos nossos corações.

Quebro o silêncio e digo para a Niray, vamos lá observar novamente estes milhões de astros e a qual deles será a nossa próxima viagem. Ela responde, então observemos com muita atenção se algum nos desperta mais a atenção.

Parecem - me todos iguais, Niray. Pois é Sem Nome, é difícil decidir mas, espera lá, parece que vejo um  com uma côr diferente que mais me parece um sol muito amarelado mas, muito distante. A distância não é problema para nós, porque temos o nosso cavalo de fogo que nos leva onde quisermos. Estou realmente a ficar curioso com aquele astro. Porque será que tem uma cor tão amarelada ? Será que é um Sol em extinção ? É provável, diz a Niray. Para tirarmos as dúvidas, nada melhor do que tentarmos a viagem até ele, se puder ser. Depende da temperatura que ele ainda possa exalar, se é que se trata de Sol em extinção. Também pode não ser este tipo de astro que estamos a julgar.

Bem, deixemo- nos de conjecturas  e vamos decidir se vamos investigá-- lo ou não. Não podemos ter muitas hesitações quando queremos uma coisa. Devemos pensar ponderadamente e depois decidir com convicção, ou sim ou não. Tens razão diz a Niray.  Mas se for um Sol, mesmo em extinção não nos devemos aproximar muito. Eu sei minha amiga, por isso é que temos de ponderar bem, como há pouco frisei.

Ao fim de algumas trocas de impressões, decidimos fazer a viagem.

Mais uma vez, debruço- me para as orelhas do nosso cavalo e digo - lhe, estás pronto meu amigo, para esta nova etapa de exploração cósmica? Ele relincha várias vezes, em sinal de aprovação. Esta sempre disposto para a aventura.

 

O nosso cavalo dá um impulso e iniciamos a viagem em direcção ao suposto Sol em extinção que nos está despertar toda atenção.  A viagem é longa e extenuante, principalmente para o nosso cavalo de fogo que, voa como se fosse uma autêntica nave espacial.

De vez em quando passam por nós alguns meteoritos incandescentes  que parecem estrelas minúsculas como salpicos de fogo, neste céu negro que parece não ter fim. Alguns vêm direito a nós, só que o nosso cavalo tem bons reflexos e se desvia deles com a rapidez  de  mestre dos caminhos do Céu.

De vez em quando aparecem em grupos de milhares, parecendo pirilampos do firmamento, oferecendo- nos um espectáculo invulgar.

O sinal amarelado do tal astro, à medida que nos aproximamos  se vai tornando maior, com a cor um pouco mais viva mas, ainda está muito distante.

Temos todo o tempo do mundo, por isso, paciência não nos falta. Continuamos a viagem sem sobressaltos que, nos enche de boa disposição que até as estrelas parecem rir.

Agora não têm aparecido meteoros ou meteoritos no nosso caminho, o que torna a viagem mais monótona mas, ao mesmo tempo, sem qualquer perigo para a nossa navegação .

A nossa nave de quatro pernas, ou seja o nosso cavalo de fogo, não se cansa de voar em direcção nosso objectivo. De vez em quando passamos perto de algumas estrelas, que brilham com uma luz branca bastante intensa que nos faz esquecer momentaneamente a nossa solidão neste céu sem fim mas repleto de paz que nos faz correr para o nosso destino que felizmente o desconhecemos.

 

A minha amiga Niray, há muito tempo que não diz nada. De vez em quando tem períodos que não fala. Possivelmente medita.

Então Niray,  já tens alguma coisa a dizer sobre o nosso próximo astro ? De momento apenas te digo que ainda estamos longe dele e ainda é muito cedo para emitir uma opinião. A minha impressão é a mesma desde quando partimos, portanto ainda não tenho uma opinião válida sobre ele. Daqui a uns dias de viagem, talvez já te possa dizer alguma coisa de concreto sobre ele.

O que achas sobre estas estrelas que vemos à nossa volta ? Serão também astros sem vida? Á primeira vista, tudo indica que sim. Nada me leva a crer que sejam diferentes da maioria que temos encontrado. Mas, repara bem, Sem Nome que, alguns destes astros têm forma de espiral e têm cores vermelha, rosácea e branca. Tens razão Niray, agora reparo que é verdade o que dizes. Serão mesmo astros sólidos ? Pelo seu aspecto, não parece que tenham solo mas, sim apenas gases mas, dando a ilusão de estrelas, vistas de longe. Têm cores lindas. Quem me dera agarrá- las e sentí - las só para mim.

O nosso astro amarelado, já está mais perto e o nosso cavalo continua fogoso no seu vôo. Já começamos a ficar ansiosos por chegar perto dele.  Será mesmo um Sol em extinção ? A Niray é que percebe mais de astros do que eu, portanto, tenho de esperar pelo seu parecer que, emitirá a seu tempo.

O nosso astro, já parece mais alaranjado do que amarelo, porque a distância que nos separa dele é mais curta e dá para ver com mais nitidez a sua cor. Pela velocidade que levamos, talvez daqui a vinte e quatro horas estejamos  perto da sua órbita. Digo vinte e quatro horas, sendo apenas uma mera previsão, porque aqui não temos a noção do tempo. Anos, meses, dias, horas, minutos e segundos, não contamos, porque sabemos nem sentimos o tempo passar. Parece que o presente é eterno, o que quer dizer que andamos perdidos no tempo. Aqui não há hoje, nem amanhã, nem nunca, apenas presente e futuro. Isto, é o preço da paz e da liberdade aqui no Universo.

Esta viagem continua sem sobressaltos e esperemos que não os haja até ao fim, porque pela experiência que já temos, no Espaço nunca se sabe o que pode acontecer. O destino é uma incógnita. É igual ou a mesma coisa que o futuro. Fica sempre para além do pensamento.

 

Nesta altura, já se vê claramente o astro que pretendemos investigar e a sua cor é mesmo alaranjada.

Bem, Sem Nome, agora já estou em condições de emitir a minha opinião sobre o astro que estamos a ver mais de perto. Estou ansioso por saber, podes começar, sou todo ouvidos. Olha, já te posso dizer que se trata efectivamente de um estrela com luz própria e que deve ser o centro de um sistema solar. Pela sua cor, este Sol está mesmo em extinção e à sua volta devem fazer parte do sistema alguns planetas que nós ainda não vislumbramos mas, não deve faltar muito tempo para que possamos vê - los, se realmente fazem parte deste Sol alguns planetas.

Vamo- nos aproximar mais dele, porque a sua temperatura já não é grande. Estou satisfeito com a tua explicação Niray. És tu que vais conduzir esta expedição.

O nosso cavalo de fogo vai voando mas, agora com menos velocidade, porque nos aproximamos da meta de limitação de voo. Estou muito curioso em conhecer este sistema solar. Será que ainda tem vida, Niray ?  À primeira vista não parece que já tenham vida, uma vez que o seu Sol está a apagar - se. Será que um dia também sucede o mesmo ao Sol da Terra ? Disso não tenhas dúvidas Sem Nome. Tudo o que nasce morre. Eu sei Niray mas, é uma realidade que nem quero pensar. Para quê estar a mortificar - me por um acontecimento que não sei quando vai surgir ?

 

Finalmente chegamos ao limite de voo possível. Não há dúvida nenhuma que se trata de um sistema solar. Este Sol já não brilha, está mesmo quase sem vida. Aqui a cor do céu também é alaranjado mas, mais escuro. Há muito tempo que não víamos a cor do nosso cavalo. Mesmo com esta luz, a sua cor de fogo realça no ambiente em que agora estamos que mais me parece ser ele o sol. Para nós é. É como se representasse a nossa salvação.

Niray, agora já estamos em condições de ver quais os planetas que compõem este sistema. Perfeitamente, Sem Nome. Podes olhar à tua volta neste horizonte que, já distingues os planetas deste sistema solar. Eu vou- te dizer seguramente que são nove os planetas que o compõem e todos se distinguem com uma clareza fantástica. Observa bem e conta- os se são nove ou não.

Começo a observar e todos eles se distinguem, porque todos têm a cor do seu Sol. Se pudéssemos visitá - los um a um seria muito interessante. Estamos fora do centro de gravidade de todos os planetas do sistema e por isso dá para estarmos parados, para que o nosso cavalo descanse, deste voo tão longo e fatigante.

Agora que já observamos o astro que queríamos, acho que devemos investigar todos os elementos que compõem este sistema solar, não é Niray ? Pois é, concordo contigo e para a viagem ficar completa, pelo menos fazer o possível por investigar os planetas mais próximos.

Uma vez que são nove e estão relativamente perto uns dos outros, seria bom para os nossos conhecimentos, investigar todos, concordas Niray ?  Olha Sem Nome, a minha opinião é a seguinte : experimentemos visitar, como eu disse, os mais próximos que são três, e depois logo combinamos se vale a pena a investigação dos outros. Concordas Sem Nome ?  Estou plenamente de acordo, Niray. Assim faremos. Está combinado.

 O nosso cavalo de fogo, conduz - nos em direcção ao primeiro planeta. Estamos ansiosos por saber se existe vida nalgum deles, uma vez que têm um Sol como centro do seu sistema. Mas este Sol está semi apagado, pelo que me leva a duvidar que qualquer destes planetas  tenham vida.

O nosso cavalo continua, para podermos investigar o primeiro astro deste sistema, que nos desperta muita curiosidade, porque é o primeiro sistema solar que encontramos algures neste infinito que nos dá que pensar, pelos mistérios que existem e que desconhecemos totalmente. Por isso é que temos tanta curiosidade em navegar neste mundo para além da nossa galáxia. Na minha mente fervilham ideias e complexidades sobre tudo no que me rodeia neste mundo do além, cujas respostas só tempo me pode dar.

Faço carícias no meu cavalo veloz e ele corresponde sempre com um relinchar de contentamento. Já temos muito tempo de voo para alcançar o primeiro planeta mas, não tarda muito que não o alcançaremos. Estamos em pulgas para o grande acontecimento que está prestes a acontecer.

Sem Nome, diz lá ao nosso cavalo que seja um pouco mais veloz porque temos muito que percorrer. Está bem Niray mas não te esqueças que ele sabe muito bem o que tem que fazer e se calhar não vai gostar que lho digam porque se julga o senhor absoluto do universo e eu concordo.

Debruço - me para as orelhas do nosso cavalo e digo- lhe, vamos meu valentão, sê um pouco mais veloz, porque temos muito que voar. Ele não se perturba, relincha e dispara que nem um foguete neste céu alaranjado que desconhecemos completamente mas, que vamos tentar desvendar o máximo possível.

O que iremos encontrar neste primeiro planeta, Niray ? Tem calma, já falta pouco para sabermos ao certo o que ele contem. Pois é, tens razão, saber esperar é uma virtude. Estou feliz por poder voar no nosso cavalo de fogo para onde quisermos. A liberdade, além da saúde, é o bem mais precioso da nossa vida. Sem ela temos a vida limitada, não concordas Sem Nome ? Perfeitamente de acordo, não há a menor dúvida, tens toda a razão.

A Niray, apesar de muito nova é uma intelectual. O saber não ocupa lugar. A meu ver o ser humano nunca se deve sentir realizado. Pode sempre saber e fazer mais e mais. Por norma é um ser ambicioso mas, sê- lo demasiado pode ser prejudicial.

Já temos o primeiro planeta deste sistema perto de nós, Sem Nome, já podemos apreciá-lo. Como ele é grande Niray ? É verdade, é enorme. Vamo- nos preparar para a descida mas, com todo o cuidado porque não sabemos nada sobre a sua superfície. O nosso cavalo abranda a sua velocidade e já estamos a pouca altitude da sua superfície. Á medida que vamos descendo para o solo, reparo que é muito montanhoso mas, está todo branco. Será neve, Niray ?  Acho que sim, uma vez que o calor do seu Sol deixou de ter intensidade luminosa e de aquecimento e portanto, a sua temperatura desceu muito. Já estamos quase a pousar e agora já podemos afirmar que o planeta está totalmente coberto de gelo. Pousamos finalmente no seu solo.  Descemos do nosso cavalo e estamos a pisar, pela primeira vez este planeta gelado. Nunca pensei que estivesse assim, Niray ? Pois é Sem Nome, mas era de esperar e se alguma vez teve vida, podes crer que agora está tudo exterminado. Não há dúvida que é mesmo um sistema solar em extinção, que é uma pena. Será que um dia poderá acontecer o mesmo ao sistema de que faz parte a minha Terra ? É muito provável Sem Nome, mas, está descansado porque leva milhões de anos a acontecer. Costuma- se dizer : tudo o que tem princípio tem fim. Aliás já há sinais da natureza que, nos vai indicando que ela vai morrendo lentamente, tal como nós assim que nascemos.

 

Caminhamos sobre a sua superfície gelada. Este planeta tem montanhas e desfiladeiros como nunca vi. Sinais de vida não há. Parece que há muito tempo que está extinta. Sempre pensei que apenas houvesse o meu sistema solar neste universo. Pois estás enganado Sem Nome, neste infinito há vários sistemas solares, assim como o meu e o teu. Este planeta deve estar extinto há muito tempo. Porque dizes isso Niray ? Pela espessura do gelo. Caminhamos com muito cuidado, para evitar os trambulhões, uma vez que a superfície é muito escorregadia. O nosso cavalo de vez em quando patina mas, equilibra - se bem. Aqui faz - se sentir um vento agreste e gélido que até nos faz prender os maxilares, impossibilitando- nos de falar. Até parece o vento da morte que se instalou aqui.

Estamos um pouco preocupados pelo clima agreste que se faz sentir, convidando - nos à retirada precoce. Ficamos mais um pouco porque a curiosidade é muito grande mas, foi ela que matou o gato, como se diz na minha Terra.

Caminhamos mais um pouco. O gelo espesso continua, assim como os grandes relevos gelados que se erguem imponentes para o céu e as grande ravinas e abismos que se curvam para as suas entranhas mortas de cansaço impostos pelo rei tempo que gere a sua natureza implacavelmente. 

Dado que o frio me impede de falar, pela rigidez dos maxilares, faço sinal à Niray que é melhor retirámo-nos  deste planeta antes que nos aconteça algo de grave. Ela mostra - se renitente mas, compreende e concorda na retirada. Quer queiramos, quer não, duvidamos sempre das capacidades do nosso cavalo, porque o nosso medo é superior a tudo, levando - nos até a duvidar de nós mesmos. Não há nada a fazer porque nós somos mesmo assim, porque a mãe natureza assim nos fez.

Montamos no nosso cavalo de fogo e leva - nos para fora da órbita  deste planeta que nem uma flecha, outra vez, para outra aventura.

 

Já bem longe, muito longe, fora  das influências climáticas  deste astro sentimo- nos bem novamente. Agora já temos os queixos descongelados e  já podemos conversar livremente sem a ditadura do frio.  Que aflição que isto dá, querermos falar e não podermos. É horrível! Se este é o planeta mais perto deste sistema solar e está completamente gelado e morto, os outros oito devem estar ainda piores, não achas Sem Nome? Tens razão Niray, logicamente é assim. Então, o que fazemos agora, Niray ? Continuamos na nossa viagem de investigação ao outros planetas, ou partimos para outras paragens cósmicas? Fazemos o seguinte, Sem Nome :  se estiveres de acordo, fazemos um voo raso aos referidos planetas e se virmos que o panorama é o mesmo, partimos para outras descobertas, porque motivos não faltam aqui neste mundo imenso que é todo nosso. Está bem Niray, façamos assim. Acho que é acertada a tua ideia.

Então não percamos tempo, vamos fazer o resto desta viagem. Assim seja. Mais uma vez sopro aos ouvidos do nosso cavalo que pretendemos fazer uma visita rápida mas aérea ao resto dos planetas. Ele relincha e parte em grande velocidade em direcção aos outros astros deste sistema. A velocidade é tanta que já estamos perto do segundo planeta. Aproximamo- nos dele o mais possível e verificamos que na realidade a paisagem é a mesma, só gelo. Percorremos todo o sistema e não há diferenças, só gelo, gelo e mais gelo. Não há dúvida que este sistema solar está morto.

Uma vez que constatamos esta triste realidade, o nosso cavalo, com a mesma velocidade, faz um círculo de afastamento, e lá vamos nós outras vez para outras paragens. A pouco e pouco vamos deixando o céu alaranjado mas vamos levar muito tempo para sair dele. Assim é: voamos, voamos, no tempo e finalmente saímos completamente do céu alaranjado e passamos outra vez a ter o céu negro, sem gravidade. Paramos agora para descansar e flutuamos livremente no firmamento.

Uf, que descanso Niray ! Nunca pensei que encontrar planetas tão gelados. É natural, Sem Nome, porque o sol deste sistema agonizou e portanto, tudo se extinguiu. É uma triste realidade mas a lei da natureza seja em que planeta for é para se cumprir, sem contemplações, não concordas Niray ? Concordo plenamente Sem Nome.

Ó Niray, pareces cada vez mais bonita. Impressão tua. Não é impressão minha, estás uma beldade. Ó Sem Nome, agradeço o elogio mas, estou a ficar corada, de vergonha. Ó minha querida não estejas assim, eu digo isto, porque gosto muito de ti.

Ao mesmo tempo que lhe lanço estes piropos, faço - lhe uma carícia na cara e ela encosta a cabeça no meu ombro, olhando ternamente para mim. Os seus olhos são mesmo de apaixonada. As carícias continuam e ao mesmo tempo, os nossos lábios unem - se numa comunhão de amor eterno, tendo como testemunhas todas as estrelas do firmamento que aplaudem a nossa união.

Sem Nome, que é minha querida ? Beija - me muito. Cedo ao seu pedido e somos levados pelo nosso calor amoroso que arde nos nossos corações, tudo na presença do nosso cavalo que está em silêncio para não perturbar este nosso enlace.

Estamos colados um ao outro, desenvolvendo este nosso amor que arde sem se ver mas, que se sente e nos transporta mentalmente para bem longe do além, onde o prazer impera, tendo como resultado o acto mais nobre do mundo  quando é  feito com paixão.

Então Niray, estás bem ? Estou feliz como nunca. E tu Sem Nome ? Ai, eu estou cheio de felicidade, porque amo a mulher mais bonita do Universo e o que sucedeu entre nós foi o cúmulo da felicidade que jamais um ser humano sentiu.

Abraçamo - nos novamente e os nossos rostos estão quentes e no ar exala o  perfume amoroso mais suave do Céu. Este momento é o mais sublime das nossas vidas, que une duas vidas que se completam e que se desejam para sempre.

Ó Sem Nome, se o amor é eterno, tu és o meu céu. Obrigado minha querida, dá cá mais um abraço e um beijo.

O nosso cavalo é o eterno amigo fiel a quem nós devemos todo este amor e felicidade.

O momento é muito bonito mas, temos que partir para mais longe, para mais além.

 

 

 

                                               CAPÍTULO   IX

 

                                                  A BATALHA

 

 

Também é muito bom andar ao sabor do tempo no espaço, sem esforço, sem preocupações, enfim, usufruir da liberdade e de um mundo que parece ser todo nosso.

O silêncio é tão grande como a solidão que nos envolve.

É curioso Niray, ainda não tinha reparado que os olhos do nosso cavalo emitem luz como se fossem dois faróis. Tens razão, mas que fantástico !  Há tanto tempo que andamos no espaço e ainda não nos tínhamos apercebido desta característica tão importante. Não te esqueças Niray que,  este não é um cavalo qualquer. Porque se o fosse não poderíamos andar no espaço. Não são só os olhos que são luminosos, todo ele é. Isso já nós sabíamos que o corpo é assim mas, os olhos, a emitirem luz com esta intensidade é que não.

Uma qualidade curiosa e impressionante é continuamos sem envelhecer. Como é que vai ser, quando um dia regressarmos aos nossos planetas de origem? Envelheceremos de repente ? Nem me quero ver cheio de rugas e de cabelos brancos, de um momento para o outro. É uma mutação muito repentina. Tens razão Sem Nome, o teu pensamento tem razão de ser. Agora fico um pouco apreensiva. Deixemos isso para o momento certo, não vamos arranjar preocupações antecipadamente. Também não sabemos se regressaremos aos nossos planetas. Isso não Niray, eu um dia quero regressar e tu vens comigo, não é assim ? Claro que sim, já to tinha dito.

Já estamos a flutuar no espaço há muito tempo. Já é altura de pensarmos para onde é que vamos a seguir, não achas, Niray ? É verdade mas, se não te importas, fiquemos mais um pouco a flutuar que me está a fazer muito bem. Estás a ser preguiçosa. Tu também estás a ser preguiçoso porque também estás a gostar, não será assim ? Não desminto que me sabe bem flutuar mas, ao mesmo tempo, sinto curiosidade em continuar a investigar todo este espaço imenso que, ao fim e ao cabo é o motivo principal da nossa viagem pelo espaço. Essa curiosidade também eu tenho mas, não tenhamos pressa, nem nos devemos precipitar por causa da nossa curiosidade.

Lá na minha Terra diz - se que, a curiosidade matou o gato. O que é isso Sem Nome? O que isso ? Isso que tu disseste, o gato. O gato, lá no meu planeta Terra é um animal doméstico, pequeno, com o corpo tubular, coberto de pelos e que faz miau. Que engraçado, lá no meu planeta Niranium, não há animais desses ! Há destes e muitos outros. Bem, deixemos isso para a altura própria. Temos que decidir para onde voar novamente, não te parece Niray ? Está bem, Sem Nome, tens razão, vamos lá combinar.

E se voássemos ao acaso para ver o que encontraremos sem esperar ? Concordo, Sem Nome. Assim, é mais uma aventura no desconhecido que, afinal é o que temos feito até aqui. Está bem mas, agora é diferente, não temos essa preocupação de encontrar algo que queiramos.

 

Meu cavalo de fogo, voemos para mais uma aventura. Ele relincha e arranca para mais um voo, sem direcção definida. A sua crina esvoaça, sacudindo - se como uma bandeira, que parecem raios de fogo na imensidão deste além de negritude. Tudo o que iremos desvendar é uma autêntica surpresa que, tanto pode ser boa como pode ser má. Temos a impressão que voamos para o futuro e este é sempre desconhecido, o que faz desta viagem uma etapa da vida cheia de surpresas.

Continuemos a voar meu cavalo presunçoso, sopro - lhe eu nas suas orelhas, enquanto lhe passo a mão pelo seu lombo cor de fogo. Ele corresponde com um relinche prolongado, cheio de contentamento, como que a dizer, faz que eu gosto.

Sem Nome, repara, olha bem para a nossa frente, diz - me assim de repente a minha amiga Niray, que quase me assusta. Assim, logo à primeira vez, não vejo nada de anormal. Mas, olha bem, com muita atenção, e vê se não distingues centenas de pontos luminosos, uns atrás dos outros. É verdade Niray, tens razão, agora já distingo perfeitamente, até parece um bando de pássaros, como há no meu planeta Terra, só que estes são brilhantes. O que pensas que seja, Niray ? Parecem - me à primeira vista, um conjunto de naves espaciais mas, ainda não posso afirmar, porque estão muito longe. Vamos tentar uma aproximação mas, com cuidado porque não sabemos se são seres hostis ou não. Ao mesmo tempo, parece - me também que aquele conjunto de coisas se dirige para nós com que intenção não sei. Que dizes tu a isto Sem Nome ? Agora já vejo mais claro. Seja lá o que for também está, com certeza, a tentar a sua aproximação a nós.

De súbito o nosso cavalo relincha várias vezes, o que ele só o faz quando detecta perigo.  Já conhecemos bem a suas formas de relinchar.

Continuamos o nosso voo mas, estamos bastante preocupados, porque já sabemos que são seres hostis. O nosso cavalo avisa- nos sempre. Tenhamos coragem e confiemos no nosso cavalo de fogo. Ele fará todos os possíveis por nos defender. É a primeira vez que isto acontece e por isso vamos pô - lo à prova. A aproximação é cada vez maior, e aqueles pontos luminosos já são grandes mas, ainda não dá para distinguir o que quer que seja. O nosso cavalo começa a descrever um círculo como que querer envolver aquele bando não sei de quê.

O nosso envolvimento cada vez é maior e nós estamos a ficar curiosos e muito preocupados. O nosso cavalo completa um círculo à volta do bando e começa outro mais curto para se aproximar mais. Que me dizes a isto, Niray ? Ela agarra - se a mim, e sinto o seu corpo a tremer, o que é sinal de medo. Olha, Sem Nome, sinto que aqueles seres são realmente hostis e vejo bem, agora, que não são naves mas, também ainda não sei distinguir o que realmente é.

Vamos deixar que nosso cavalo complete o segundo círculo à volta daquele bando de coisas, e depois já posso opinar. Uma coisa é certa, eu estou assustada. Bem Niray, seja lá o que for, confiemos nosso cavalo valentão. Não te preocupes que havemos sair bem desta aventura.

O segundo círculo está completo. Agora já dá para ver que realmente não são naves espaciais mas sim dezenas de outros seres que também estão a tentar envolver- nos. Estamos a ficar cada vez mais perto do bando. Diz me, Niray, tu como melhor observadora e mais conhecedora do espaço do que eu, que tipo de seres são aqueles que já se nota que deitam fogo pela boca ?  Ai, Sem Nome, isto é o pior que nos podia acontecer. Diz - me já o que é, que me deixas também assustado. Pois é, vou dizer - te : são dragões espaciais que são montados por seres horríveis muito hostis que pertencem à galáxia Horríbilis, que tem vários planetas, todos povoados com estes seres que, com certeza, nos vão confrontar.

Eles tentaram várias vezes atacar o meu planeta mas, foram sempre escorraçados pelas nossas armas.  Ela treme cada vez mais e diz - me, o que vai ser de nós, eles são horrendos e muito maus. Por onde passam arrasam tudo.

Vamos ver se assim é, Niray. Tem calma e confia no nosso cavalo de fogo.

Ele continua os seus círculos e já estamos a ficar muito perto do bando de malfeitores. Já dá para ver que realmente são realmente dragões e deitam fogo pela boca.

Os seres que os conduzem não são menos horríveis e grandes, Ouvindo - se já da parte do bando, sons de guerra horripilantes que nos ensurdecem e nos assustam. Antes da batalha, querem - nos derrotar psicologicamente mas, não vão conseguir.

 

Agarra- te bem Niray.

Ao mesmo tempo que eu me abraço ao pescoço do nosso cavalo, grito com todas as minhas forças: Em frente meu cavalinho, vamos dar cabo deles. Ele relincha, relincha, sem parar, como se fosse também um grito de guerra da sua parte, para intimidar o inimigo. Ele também percebe das técnicas de guerra, ou não seja ele o rei do Universo.

Estamos já envolvidos pelo bando de dragões comandados por aqueles seres tão feios, que até metem medo ao susto. Os urros de guerra do bando e o relinchar do nosso cavalo enchem o espaço de medo. Os dragões lançam - nos vómitos de fogo que quase nos atingem mas, o nosso cavalo, desvia- se deles como que por magia, deixando - os ainda mais furiosos.

A Niray, grita de medo e eu encorajo o nosso cavalo, gritando - lhe, atira - te a eles meu misterioso, mostra - lhes o que vales. Ele continua a relinchar e a desviar - se de todos os vómitos de fogo dos dragões que, nos passam cada vez mais perto e que são expelidos como flechas mas, não tido sorte nenhuma.

Para surpresa nossa, vemos que o nosso cavalo de fogo lança sobre os dragões raios de fogo pelos olhos, como se fossem relâmpagos. Cada raio que bate nos dragões é uma explosão, e nós vamos contando, já há menos um. O nosso cavalo imprime uma velocidade tremenda, em círculos irregulares sobre eles, disparando raios de fogo, como se fosse uma metralhadora, fazendo - os explodir um a um, para nosso contentamento. A batalha continua e ainda não fomos atingidos pelas armas dos dragões, que seriam mortíferas se nos atingissem.

Em virtude da perícia do nosso cavalo em combate, continua mais perto do bando e a lançar - lhes raios de fogo. É vê - los a explodir e  urrar de morte, parecendo fogo de artifício, enchendo o espaço de clarões como se fossem bombas a explodir. Incentivo o nosso cavalo, gritando - lhe aos ouvidos e a matança continua.  Já só vejo dois dragões montados por aqueles monstros que insistem em nos atingir com os seus potentes vómitos de fogo. São poucos mas continuam a atacar.

A pouco e pouco vão sendo extintos pela nossa máquina de guerra viva. Finalmente o nosso cavalo desfere dois raios de fogo que agora parecem os mais potentes da batalha. Atingem mortalmente os últimos dragões. Batemos palmas e gritamos de contentamento : viva o nosso cavalo de fogo, ao mesmo tempo que o enchemos de carícias e ele agradece, com um relinche especial.

 

Bem, Niray, que dizes a esta emocionante batalha ?  Só te digo que este nosso cavalo é irresistível mas, tenho ainda a voz a  tremer de medo.  Foi fantástico, nunca tinha presenciado ao vivo, uma coisa assim. No meio de tantos monstros, nunca pensei sairmos vivos desta contenda. Parecia um inferno no meio deste céu imenso.

Flutuemos novamente porque o nosso cavalo deve estar exausto, embora não pareça. É o merecido descanso dos guerreiros.

Desde que estamos no espaço, é a primeira vez que enfrentamos outros seres considerados hostis. Estou em querer que, por aqui, por onde nós voamos não é só paz e  silêncio e a prova já a tivemos.

Perigos, há em todo o lado, Sem Nome. Pois é, tens razão mas, eu é que tinha uma ideia errada do espaço que andamos a investigar. Daqui para a frente temos de estar mais atentos ao espaço em que voamos. Estas contrariedades fazem - nos ser mais experientes e estar com mais atenção.

Bem, Niray, o pior já passou por enquanto.  Apesar de tudo, tenho fé que ainda havemos de encontrar alguma civilização de paz, algures neste Universo. Se isso acontecer, como será ela ? Os habitantes, o ambiente serão diferentes dos nossos Planetas? Ó Sem Nome, deixa - te de conjecturas, quando acontecer logo se vê. Mas, é que eu gosto muito de imaginar, de sonhar que, faz parte das características do ser humano. Acho que uma pessoa que não sonha, não tem futuro, é apenas um ser sem ambições e isso é muito mau. Para se viver é preciso lutar, nem que seja contra nós próprios, o que acontece quando há falta de auto estima.

Efectivamente tem lógica o teu pensamento, senão não havia evolução, estagnávamos no tempo.

Apesar dos perigos que possamos correr, nas nossas aventuras e investigações, vale a pena o risco que se corre, porque ficamos a conhecer outros mundos que não os nossos e enriquecemos os nossos conhecimentos. É verdade Niray, vale a pena o risco. Pensando bem, viver já é uma aventura. Está bem Sem Nome, não é desta aventura que falo mas, sim das outras mais emocionantes. Eu compreendo o queres dizer. É só uma forma de expressão.

Estou a gostar do diálogo que estamos a ter. Faz- nos sentir bem dialogar, trocar impressões, não achas Niray. Absolutamente de acordo. É essencial e principalmente nós, que somos apenas os únicos seres falantes onde nos encontramos. Já viste a monotonia que seria se não dialogássemos ? Seria terrível Niray.

Enquanto descansamos, já pensaste qual é o nosso próximo destino ? Antes de te responder, o que é isso, destino, Sem Nome ? Destino é o futuro que, pode ser mau ou bom, é uma incógnita. Neste sentido eu quero dizer etapa. Assim está bem, porque eu não acredito no destino.

No teu conceito de vida, não acreditas mas, temos que respeitar as formas de pensar de outras pessoas. Com certeza, aí estamos de acordo.

Vamos lá voltar à primeira parte, se já pensaste ou não para onde é que nos vamos dirigir. Ainda não, está - me a saber tão bem descansar. Estás a ser preguiçosa. Vamos lá pensar no assunto, porque não podemos ficar aqui eternamente. Sabe bem descansar mas, a nossa investigação tem de continuar. É como se diz no meu planeta : Quem está no baile tem de dançar. Aqui não dançamos, voamos no nosso cavalo de fogo. Está bem Niray, deixa - te de brincadeiras. Também faz bem brincar, Sem Nome. Evidente que sim mas, vamos lá pensar no assunto.

És um apressado mas, está bem, já é tempo de projectarmos a nossa próxima aventura. Até quem fim, Niray !

Eu penso que devemos começar a voar e ao mesmo tempo, observar bem os astros e estudar qual deles nos interessa visitar. Está bem, avancemos. Espera Sem Nome que tenho uma coisa para fazer.

De repente a Niray, joga - se nos meus braços e diz: um momento de amor é muito bom antes de começarmos o trabalho, Sem Nome. Beijamo- nos calorosamente, de corpos colados e eu sinto os seus seios tocarem no meu peito que me faz subir a temperatura. É o amor que fala mais alto.

Aperta- me Sem Nome e diz - me que amas. Amo - te muito e para sempre Niray. Obrigado Sem Nome, eu também te amo muito. Os nossos beijos são os mais quentes do Universo. Todo este envolvimento amoroso está a ficar voluptuosamente forte. É o grande prazer dos sentidos que  nos leva a consumar o culminar do acto mais belo do mundo.

Descansamos da guerra do amor que nos impôs o cupido.

Estamos prontos para partir, Niray ? Sim, Sem Nome, agora já podemos seguir o nosso caminho, ou melhor o nosso vôo.

 

 

 

 

                                               CAPÍTULO X

 

                                                PIRILAMPO

 

 

Iniciamos novo voo, no nosso cavalo guerreiro. Damos umas palmadas de amor ao nosso cavalo de fogo e ele relincha de satisfação. É uma nova aventura que nos agrada.

Estamos em observação contínua. Os astros brilham como pontos luminosos. Uns vêem - se maiores e outros mais pequenos, conforme a distância a que se encontram, parecendo alguns que estão mesmo ali.

O nosso cavalo voa lentamente para que a nossa observação seja mais pormenorizada, para que não sejamos surpreendidos como da primeira vez que, nos defrontamos com  os tais monstros. É como se diz no meu planeta : Cautela e caldos de galinha, não fazem mal a ninguém.

Na nossa observação contínua dos astros e já com algum tempo considerável de voo, ainda não notamos nada em especial que nos chame a atenção, por isso, continuamos a nossa viagem relativamente descontraídos.

Vais muito calada, Niray ! Estás a pensar nalguma coisa ?  Não, absolutamente em nada, estou em período de relaxe psíquico. Mas, isso não quer dizer que, não esteja atenta, podes ficar descansado nesse aspecto.  Eu não te estou a criticar por isso, apenas fiz a observação por estares tanto tempo calada, o que não é habitual.

Ainda não viste nada que nos possa interessar ? Ainda não, Sem Nome mas, não deve tardar. Com tantas estrelas que existem, é difícil estar muito tempo sem encontrar algum astro para visitar.

Olha, olha Niray, o que está a passar perto de nós. Até parece que surgiu do nada. É um cometa enorme, de quilómetros de comprimento, formado apenas de gelo. Passa lentamente por nós, até parece uma estrada enorme, completamente rectilínea, cheia de brilho cor de prata que inunda o céu de luz.

Atrás deste surgem outros, mais pequenos, parecendo um combóio de cometas. É impressionante as coisas que se vêem neste firmamento. Estão a passar tão perto que até parece que nos tocam. É lindo vê- los tão próximos que nos faz ficar de boca aberta a olhar para eles. É de uma beleza extraordinária, não achas Niray? É realmente maravilhoso, nunca tinha visto um cometa tão comprido formado por gelo !

Deixamos para trás os cometas e continuamos na nossa investigação. O nosso voo é calmo e descontraído  mas, atento, porque gato escaldado de água fria tem medo.

De vez em quando passam por nós também alguns meteoritos, perdidos no espaço, que mais parecem ciganos do espaço, o que é normal acontecer desde que cá estamos, por isso já nos habituamos a eles. São companheiros assíduos das nossas aventuras.

De súbito diz - me a minha amiga Niray :  Já descobri. Descobriste o quê ? Descobri, Sem Nome, olha bem para onde eu estou a apontar com o meu dedo. Não vês uma luz a piscar lentamente como se fosse um farol ?  Deixa - me olhar bem para onde estás a indicar. Já descobri também essa luz, parece um pirilampo. Será uma estrela ? Não, não me parece.  Pelas suas características ,tudo indica que é um planeta. Como sabes Niray ? Pela cor da luz. Estou a aprender muito contigo. Nós estamos sempre a aprender desde que queiramos, Sem Nome. É verdade mas, também se aprende às vezes mesmo sem querer.

 

Agora já temos outra investigação a fazer. Agarra - te a mim Niray que vou pedir ao nosso cavalo de fogo para acelerar em direcção àquele planeta. Muito bem, vamos a ele, Sem Nome. Não podia ter arranjado melhor companheira do que tu. Estás sempre pronta para a aventura.

De seguida, a Niray dá um beijo caloroso e um abraço muito apertado que me deixa muito feliz e me enche de forças, como se fosse um tónico mas, amoroso.

Como já é habitual, nestas decisões, debruço-me para o pescoço do nosso cavalo e sopro - lhe às orelhas : Vamos meu comandante, arranca com toda a tua força em direcção àquele farol intermitente. Relincha prolongadamente e dispara em direcção ao planeta que desejamos investigar, satisfazendo o meu desejo.

Então, Niray, sabes como se chama aquele planeta ? Francamente, desconheço, nem sei se pertence a alguma galáxia. Então se não sabes o nome dele, eu já tenho um, se concordares. Qual é ?  Lembras - te que, quando o vi pela primeira vez, disse que parecia um Pirilampo ? Lembro - me, pois é este o nome que sugiro. Que achas ? Ó Sem Nome, tu para baptizares as coisas és formidável. Claro que concordo com o nome. Então seja "Planeta Pirilampo". É giríssimo.

 

 

A caminho do Pirilampo, continuamos a encontrar cada vez mais meteoros e meteoritos que, passam por nós a toda a velocidade, como se fossem máquinas voadoras.

O nosso cavalo de fogo, tem uns reflexos fantásticos. Evita com uma facilidade extrema o contacto com eles, que, até nos arrepia mas agora que, o conhecemos bem, temos toda a confiança nele. É um grande guerreiro protector e senhor deste Universo sem fim.

O Pirilampo cada está mais perto. Não tarda  que não estejamos lá, não é Niray ? Relativamente, Sem Nome. Parece que a distância já é pouca mas ainda temos muito tempo que voar, apesar da velocidade do nosso cavalo parecer quase igual à da luz.

Estou cheio de curiosidade outra vez, para conhecer este novo planeta. Será habitado, Niray ?  Não te sei responder, Sem Nome, quando chegarmos lá tempos tempo de saber. Deus queira que não seja habitado pelos tais monstros. Estes não Sem Nome, podes ficar descansado. Porquê estes não ? É simples de explicar, não sabes que os conheço perfeitamente bem e sei qual é o habitat deles. Esqueci - me desse pormenor, minha querida, desculpa - me.

Já falta pouco para chegarmos perto do Pirilampo. Já se nota que é de forma redonda como a maioria dos planetas mas, não parece muito grande. Á medida que nos aproximamos, vai - se notando algumas manchas que, suponho seja de relevo ou de crateras, ou pode ser outra coisa, sabe - se lá ? Aqui tudo pode acontecer.

Finalmente o nosso cavalo de fogo abranda o voo, o que quer dizer que falta pouco tempo para chegar. Já não parece tão pequeno como há pouco eu disse. É fantástico, começar a vê - lo mais perto. O nosso cavalo do céu, inicia voos circulares para iniciar a descida. A curiosidade já é muita. Afinal já posso afirmar que o Pirilampo praticamente é relativamente plano.

Concluída a aproximação, o nosso cavalo inicia a operação para pousar, o que o vai fazendo lentamente, muito lentamente.

Enfim, finalmente já cá estamos. Efectivamente a sua superfície é plana o que facilita a nossa investigação.

Desço do cavalo, ajudo a Niray a descer e pronto, pisamos pela primeira vez o seu solo que, é duro e rochoso.

Reparamos que o solo do Pirilampo está repleto de pequeninas crateras. Parece ter sofrido com alguma intensidade  de uma chuva de meteoritos. Mas as crateras parecem autênticas tocas porque não se vê o fundo e os meteoritos não faziam isto com certeza. É estranho, não achas Niray ?  Realmente é verdade, de certeza que isto não é de meteoritos. Seres, não se vêem em lado nenhum. Calma Sem Nome, não te precipites com as tuas deduções.

Vamos caminhando a pé, acompanhados do nosso cavalo, e as tocas nunca mais acabam. Está mesmo repleto, por enquanto. Aqui há gato, não te parece Niray ? O que é que queres dizer com isso, Sem Nome ? Esta expressão é muito usual na Terra, quando suspeitamos que algo vai acontecer.

 

Caminhemos Sem Nome, porque se houver algo, há - de aparecer mais tarde ou mais cedo. Estou ansioso e com algum medo. E tu Niray ? Não, não há que ter medo, porque se houver outros seres, não são grandes e habitam nestas pequenas tocas. E se forem hostis ?  Se o forem está aqui o nosso cavalo de fogo para nos defender, como já o fez noutras ocasiões, ou já te esqueceste ?  Claro que não, Niray, pois foi muito recente para esquecer.

Continuamos a nossa investigação, e as tocas há por todo o lado. Olho sem cessar em toda a nossa volta, sempre receoso, com medo que apareça de repente algo que ponha em perigo as nossas vidas. A Niray faz o mesmo mas, está mais descontraída.

O nosso cavalo continua a caminhar a nosso lado  sempre imponente que nos dá uma sensação de segurança. A certa altura ele relinc ha e nós paramos, porque algo está para acontecer. Tudo está em silêncio mas, um silêncio perturbador para as nossas mentes.

Pressente - se que, a todo o momento, vai surgir qualquer forma de vida, porque o nosso cavalo já deu o seu relinche e continua inquieto. Estamos a olhar constantemente para as tocas que, com certeza deve ser dali que vamos ter a surpresa.

Sem Nome, fixemos os nossos olhos só para as tocas em todas as direcções. Está bem, estou alerta mas, ao mesmo tempo tão ansioso que até me                              faz comichão no corpo todo.

De súbito mas, de uma forma muitíssimo rápida, a partir das tocas, aparecem e desaparecem pequenos balões de luz alaranjada, a piscar que parecem pirilampos. É surpreendente, Niray esta forma de vida. É verdade, nunca tinha visto tal coisa assim.  Balões dentro de tocas ? Meu Deus, estarei a sonhar ?

Estamos quietos a presenciar este pisca constante a aparecer e desaparecer das respectivas tocas, à espera que saiam de vez dos buracos, para termos um contacto directo e sabermos de vez do que se trata. Hostis não me parecem que sejam e por isso, estamos calmos. Já nos doem os olhos só de olhar tanto para as tocas.

 

Depois de algum tempo, este ritmo destas luzes, acabam, que nos deixa perplexos e à espera do que vem a seguir.

Não levou muito tempo este interregno. Lentamente, presenciamos que, começam a sair das tocas todas estas bolas de luz a piscar, que parecem mesmo um campo de pirilampos. É lindo e surpreendente este espectáculo.

Também, muito lentamente, as bolas de luz começam a rodear - nos, ficando completamente envolvidos, como se fossemos o centro das suas atenções. Algumas aproximam - se demasiado perto de nós, e à medida que o fazem, transformam - se nas nossas caras e fazem os mesmos gestos que nós. Umas afastam - se dando lugar a outras e todas estas bolas de luz fazem a mutação para as nossas caras. Se nós rimos eles riem, se fazemos caretas elas também fazem, enfim, emitam todos os nossos movimentos. Tentamos andar e eles fazem o mesmo. Tentamos falar com eles e emitem as mas palavras que nós dizemos. Sempre a piscar acompanham o nosso andamento, até que decidimos parar de vez. O nosso cavalo relincha e eles desaparecem para as tocas num ápice, provocando o nosso riso. Possivelmente tiveram medo, não é Niray? Com certeza Sem Nome, não há outro motivo. Vamos esperar que, eles com certeza vão sair.

Assim acontece efectivamente, como a Niray diz. Lentamente começam a sair das tocas outra vez. A pouco e pouco aproximam - se mais uma vez de nós e a transformarem - se nas nossas imagens. Tentamos novamente falar com eles mas, continuam a reproduzir os mesmos sons e sempre a piscar, o que provoca o nosso riso e eles fazem o mesmo.

 Que surpreendente, Sem Nome, agora voam à nossa volta, mudando a luz alaranjada para verde mas sempre a piscar. Pois é, têm uma graça espantosa e olha como eles se aproximam - se de nós novamente?

Para nossa surpresa, nesta cor verde a piscar, transformam - se  em corpo inteiro iguais a nós, acontecendo o mesmo com o nosso cavalo. Parece autêntica clonagem. É a coisa mais engraçada que já presenciamos. Se nós andamos eles andam. Se paramos eles param. Se levantamos os braços, eles levantam, enfim é como se fosse a nossa imagem num espelho.

Agora beijemo - nos Niray, para ver se eles fazem o mesmo. Pronto Sem Nome, cá vai. Olha, olha, não nos imitam, porque será ? Não sei Niray, não tenho explicação para isto. Será que acham obsceno ? Não digas isso, Sem Nome, claro que não é nada disso. Pronto, para o que não há explicação, explicado está.

O nosso cavalo relincha novamente e eles automaticamente escondem - se nas tocas, demorando um pouco mais escondidos nos seus buracos. Emergem lentamente, voltando à cor alaranjada, aproximando - se novamente de nós mas, desta vez, transformando - se apenas nas nossas caras como da primeira. Desta cor apenas nos imitam o rosto e na cor verde o corpo inteiro, o que não deixa de ser esquisito.  Será que estão programados assim, Niray ? Não pode ser, não vez que não são robots, são apenas seres vivos ? Sei lá Niray, aqui tudo é possível.

 

Não emitem qualquer som próprio, apenas são seres em forma de bolas de luz sempre a piscar. Onde é que vão buscar esta energia Niray ? Possivelmente do interior das suas tocas. Essa deve ser a sua principal fonte de energia. Não tenho outra explicação, Sem Nome. Tem lógica o que dizes, outra fonte não devem ter.

Agora continua o baile de roda à nossa volta, enchendo - nos  de luz alaranjada. Param novamente e agora elevam - se todos ao mesmo tempo, parecendo um bando de pássaros luminosos, como que a exibirem - se para nós, o que não deixa de ser um espectáculo maravilhoso e muito colorido.

Descem lentamente, aproximam- se novamente de nós e muda a luz para verde, reflectindo novamente a s nossas imagens de corpo inteiro, afastando- se devagar,  ficando novamente em bolas de luz alaranjada, parecendo mesmo um espectáculo de circo.

Já não se tornam a aproximar, parecendo que se estão a despedir. É mesmo isso porque se dirigem muito lentamente para as suas tocas e um a um entram para o seu labirinto, acabando em pouco tempo a sua exibição.

Enfiaram - se completamente nas suas tocas. Esperamos que apareçam mas, já não o tornam a fazer, para nossa tristeza.

Pronto Niray, os nossos amigos acabaram o espectáculo e agora estamos sós. Também não podíamos ficar aqui eternamente porque temos mais investigações a fazer, não é Sem Nome ? É verdade mas, não me importava de ficar mais um tempo a conviver com estes seres. Davam - nos paz e tranquilidade, a sua companhia.

Que fazemos Niray ?Só nos resta deixarmos o planeta Pirilampo e partirmos para mais uma viagem. É pena, é tão tranquilo este lugar. Podemos pesquisar mais um pouco, o Pirilampo, porque apenas vimos estes seres e quem sabe se, mais além não haverá outra sociedade de seres diferentes ? Que dizes Niray ?  Concordo contigo Sem Nome, vamos prosseguir mais um pouco.

De mãos dadas, eu e a Niray, caminhamos ao lado do nosso cavalo, como dois amantes eternos.

Estás a ver Sem Nome, a paisagem é a mesma, crateras e só crateras. Pois é, Niray mas, prossigamos o nosso passeio, pode ser que tenhamos outra surpresa. Se for agradável vale a pena.

De repente somos envolvidos por um remoinho de vento e pó que ficamos sem ver nada. O que é isto Sem Nome? Não sei Niray, parece - me algo que nos quer fazer sair daqui. De momento somos levados por este remoinho e transportados para outro lugar. O turbilhão desaparece. Abrimos os olhos e estamos estupefactos com o que temos na frente. Os tais balões alaranjados, todos juntos, tocam uma música melodiosa, como nunca tínhamos ouvido. Faz - nos ficar calmos e serenos, com a sensação de uma paz inesquecível.

Porque será que nos fazem isto Niray? É talvez uma forma de se manifestarem agradavelmente, para nos transmitirem que aqui, só existe a paz e a música e darem - nos a sua despedida. Apresentaram o seu espectáculo e desaparecem como um flash que se apagou. Estamos novamente sós.

É melhor partirmos, não achas Niray ?  Sem dúvida Sem Nome, já não fazemos nada aqui.

Abraço - me ao seu pescoço, dou - lhe umas palmadas de carícias e ordem para partir.

Num instante deixamos para trás o planeta Pirilipampo e os nossos amigos piscas, com muitas saudades.

 

 

 

                                           CAPÍTULO XI

 

                                                  PIÃO

 

Novamente estamos a voar neste universo imenso e estudamos a nossa próxima investigação.

Era fantástico se chegássemos a encontrar um planeta onde houvesse uma civilização como a do meu planeta Terra, ou do teu planeta Niranium. Ó Sem Nome, aqui no desconhecido Universo tudo é possível, e por isso não me admiro nada que numa destas viagens cheguemos a encontrar o que tanto desejas. Tenho fé que sim Niray. Assim como existe o teu planeta habitado que, eu desconhecia antes de te encontrar, também pode acontecer existirem outros algures nesta imensidão do firmamento. É verdade Sem Nome, tens toda a razão.

Voamos no infinito mas, não sabemos onde estamos nem para onde vamos. Apenas sabemos donde viemos. Voamos ao sabor tempo, com a impressão de estarmos no futuro e esquecer o passado. O tempo é o tempo mas, não sabemos que tempo é. A vontade de conhecer o desconhecido é infinita, tal como este infinito onde voamos, por isso a coragem e a vontade também são tão grandes como o infinito, do qual nada sabemos.

Voemos então no nosso cavalo de fogo, segredo da nossa energia e tenacidade, para além, sempre para mais além mas, por mais tentativas que façam nunca se alcança o infinito, por isso o nosso sonho nunca terá fim.

Esta curta prosa são divagações enquanto estou calado e penso no meu silêncio que, às vezes, é preciso criar para dizer o que penso para dentro de mim mesmo.

Felizmente que somos donos e senhores dos nossos pensamentos. É a única fortuna que ninguém nos pode tirar.

Agora já posso falar outra vez com a minha amiga Niray que, já deve estar admirada do meu silêncio enquanto voamos no nosso cavalo neste espaço estelar.

Sem Nome, porque estiveste tão calado este tempo todo, sem dizer uma única palavra ? Não leves a mal Niray mas estive a falar com o meu ego, exercício que às vezes faço porque me faz bem. Dizes bem, por vezes, é necessário praticá- lo para termos a nossa íntima privacidade que tão importante é, e que, com o avanço da tecnologia e da instabilidade da sociedades evoluídas, a pouco e pouco nos vão retirando.

Olha Sem Nome, mesmo sem querer estamo - nos a aproximar de um planeta também desconhecido. Este nosso cavalo é muito inteligente, sabe conduzir - nos para os lugares certos sem nos preocuparmos muito. Estou a ver, estamos bem perto dele. Estou a ficar outra vez ansioso por lá chegar, para saber o que lá existe, se é que existe alguma coisa.

Eu, também estou ansiosa para conhecê - lo. Agora reparo que ele não é completamente redondo. Pois é Niray, tens razão, parece um pião sem bico. Que engraçado, Sem Nome, nunca tinha visto  um planeta com aquele formato. Voemos para ele. Estou em pele de galinha e não é hábito estar assim. Pressinto que algo de estranho vamos encontrar neste astro. Não me digas que são monstros outra vez. Não, monstros não são mas, quase que afirmo que ali há vida. Deixas - me curioso, Niray, com os teus pressentimos. Não conhecia essa tua faculdade. Pois é tenho esta e muitas outras que com o tempo logo descobres. Toma lá um caloroso beijo. Obrigado meu querido. Agora vamos mas é preocuparmo- - nos com a nossa próxima investigação, aquele planeta.

 

Uma vez que não o conheces, como é que o vamos chamar ? Não te preocupes Sem Nome que, quando pousarmos lá e segundo aquilo que encontrarmos, logo lhe damos um nome adequado. Não achas bem ?  Concordo contigo Niray mas, eu estava a pensar em chamar - lhe Pião, tendo em atenção a sua forma mas, esperemos e vamos proceder como dizes.

Continuamos o nosso voo em direcção ao astro que pretendemos visitar. Como já vem sendo hábito, fazemos carícias ao nosso cavalo, ao que ele corresponde sempre com um relinche e nós achamos muita graça e rimos à gargalhada. A nossa aproximação já bastante grande e já se pode apreciar bem a sua grandeza. A sua cor é avermelhada, quase da cor do nosso cavalo mas, linda como a dele não é porque é cintilante e além disso é o nosso guerreiro protector.

O nosso cavalo começa já a fazer os seus círculos para preparar o seu pouso, como só ele sabe. Nestas circunstâncias agarro - me bem sempre ao seu pescoço e a Niray à minha cintura, como medida de precaução até pousarmos definitivamente.

Nesta altura já não apreciamos a forma do planeta  mas, sim apenas a sua superfície que é extensa a avermelhada. Lentamente o nosso cavalo vai descendo sobre a sua superfície. Tal como a maioria dos planetas, este também tem relevos apreciáveis, assim como crateras.

Enfim pousamos.

Descemos do cavalo e a a Niray agarrou a minha mão, porque sente algum receio. De momento não se vislumbra nada de anormal nem sinais de vida. Vamos caminhando os três e de olho sempre alerta. Passamos no sopé de uma montanha que não tem qualquer espécie de vegetação e logo de seguida encontramos também uma cratera com alguns quilómetros de extensão  mas não muito profunda. Ultrapassamos este dois obstáculos e a seguir existem outros pequenos relevos e pequenas crateras. Vamos caminhando e ao mesmo indagando alguma eventual surpresa. Vamos lá ver se o pressentimento da Niray, sobre a existência de formas de vida é realidade. Ela nunca se engana. Vamos ver o que encontramos neste astro. Por enquanto nada.

Ó Niray, já andamos há bastante tempo, não é melhor montarmos o nosso cavalo para pouparmos as pernas ? É, Sem Nome, é melhor assim como dizes, vamos a cavalo, andando devagar, apreciando a paisagem e ao mesmo tempo, esperando que surja a vida como pressenti. Ah ! assim é melhor, cá do alto do nosso cavalo até se vêem melhor as coisas, não é Niray ? É verdade, é muito mais cómodo e menos cansativo.

Vamos andando, até parecemos peregrinos sem destino. Sinto o calor da Niray nas minhas costas ao mesmo tempo que ela me passa os seus braços pela minha cintura e encosta a cabeça no meu ombro. O amor é sempre bom, quando acontece entre duas pessoas que se amam de verdade, e eu sinto um calor dentro de mim que me diz que é o amor que chama por mim.

Algo de muito forte se passa nos nossos sentimentos. Isto é que é mesmo amor. Passo  - lhe a mão pela face e as carícias de ambas as partes se iniciam. De costas para ela não dá para abraçá -la mas, depressa resolvo a situação. Mesmo em cima do cavalo, viro para ela e abraçamo- nos pela primeira vez. Beijamo - nos prolongadamente  e o prazer cresce e fica quente quase como o fogo.

Como eu te amo Niray. E eu também Sem Nome. O que está a acontecer connosco é lindo mas, entre seres de planetas diferentes nunca tinha acontecido. Bem Sem Nome, é melhor pararmos porque temos que estar com atenção ao que nos rodeia. Viro - me novamente para a frente mas, por mim ficava eternamente agarrado a ela.

Depois de estes afazeres amorosos, vamos andando novamente no nosso cavalo que possivelmente também se apercebeu do que nós fizemos. Até me admira como ele não relinchou. Se calhar não quis interromper. Foi muito simpático. Disto até os animais gostam !

 

Continuamos então na nossa investigação, porque  vida é o tempo que se vive e o tempo que se vive é a vida, por isso não temos tempo a perder. Tal como nos outros, aqui não faltam relevos e crateras de todos os tamanhos. O solo, parece mais rugoso que nos outros planetas que temos visitado. A sua forma também é diferente. Enfim, são mais as diferenças do que as semelhanças.

É curioso, Sem Nome, não vês lá, ao longe, imensos montículos que até parece uma aldeia ? Vejo sim, Niray. O que será aquilo ? Não sei mas, o melhor é caminharmos para lá, para desvendarmos o que serão efectivamente os montículos. São semelhantes aos montes de Salalé ou baga - baga, feito pelas formigas térmotas, em África.  Parecem montículos aqui de longe, quando chegarmos perto deles é que saberemos realmente do que se trata.

Explica - me lá Sem Nome, o que são montes de Salalé ou baga - baga, porque para mim é novidade ?  É com muito gosto que te vou explicar, minha querida : Em África, um dos continentes Africanos, do meu planeta Terra, entre muitos bichinhos, existem uns a que chamamos formigas brancas, que constróem uns montículos parecidos com aqueles que representam os seus castelos para se defenderem das semelhantes formigas pretas. Baga - baga, é o nome dado pelos nativos a estas formigas brancas. Elas  têm a capacidade de corroer a madeira, com as suas mandíbulas.

Que engraçado Sem Nome, desconhecia completamente a existência destes bichinhos. No meu planeta não existem estes insectos. Estou satisfeita com a explicação que me deste. Como professor não sou nada mau, não é Niray ? Vaidoso!

 

 

Montados no nosso cavalo, aceleramos o passo, em direcção aos montículos, cheios de curiosidade e ao mesmo tempo ansiosos por saber o que se vai passar com aquelas coisas que não sabemos o que é. Á medida que nos aproximamos da suposta aldeia, já parecem mais com pequenas casas arredondadas do que montículos como inicialmente pensávamos. Aceleramos ainda mais o andamento do nosso cavalo e de repente ele começa a relinchar, o que quer dizer algo se vai passar. É um autêntico alarme.

Assim sendo, já vamos prevenidos para o que der e vier. Estamos mesmo à entrada da aldeia. Paramos e olhamos para todo o lado do casario que, pelo seu tamanho, e a ser habitado, os seres são muito pequenos, pensamos nós.

Bem Niray, aqui parados é que não podemos ficar. O melhor é avançarmos para descobrir o que se passa ali dentro daquelas casotas. Não te precipites Sem Nome, deixa - me pensar o que havemos de fazer porque estou com receio. Os meus pressentimentos sempre tinham razão de ser. Tens razão Niray, nunca duvidei das tuas faculdades mentais.

Depois deste pequeno diálogo, resolvemos finalmente entrar neste aldeamento, sempre montados no nosso cavalo. Lentamente vamos entrando e olhando para as entradas das pequenas casas para ver o que de lá possa sair.  Estamos parados no meio deste aldeamento e nada acontece mas sabemos que alguma coisa vai surgir, porque senão o nosso cavalo não relinchava, dando sinal para estarmos alerta.

Vamos esperar o que acontece, Niray. Está bem Sem Nome, esperemos mas, estou aflita por saber o género de seres que aqui existem.

Fixamos o olhar nas entradas das casotas. Num ápice, saem das casotas, todos ao mesmo tempo, pequenos seres a guinchar e rodeiam - nos completamente. São milhares. Estamos surpreendidos com o seu tamanho, nem nos chegam ao joelho. Os olhos são enormes e redondos, as orelhas desproporcionadas e em ponta. Têm dois braços e duas pernas mas, tanto os pés como as mãos possuem apenas quatro dedos com unhas pontiagudas. Guincham, guincham, sem cessar que até nos faz doer os ouvidos. Falam entre eles com guinchos esquisitos. Ao mesmo tempo que, guincham entre eles, olham para nós fazendo gestos com a cabeça com ar de admiração.

O que pensas destes seres  Niray ? São inofensivos, não te preocupes. Podemos descer do cavalo e tocar - lhes, sem problemas. Descer do nosso cavalo Niray ? Sim, vamos descer, não tenhas receio. Se fossem maus o nosso cavalo não estava quieto e não pararia de relinchar. Tens razão, não me lembrava desse pormenor. Afinal, também sou medroso.

Mais descansado, então descemos do nosso cavalo.  Assim que o fizemos começam a mexer em nós com as pontas dos dedos que até faz aflição. Mexo - lhes nas orelhas que as acho engraçadas. A Niray faz -lhes carícias na cabeça e eles adoram e guincham de prazer.  Pego num ao colo e os olhos dele enormes, olham os meus e ao mesmo tempo, parece muito satisfeito. Olha com espanto para as minhas mãos que têm cinco dedos e guincham como que a dizer que são diferentes. Faço - lhe carícias e ele faz o mesmo no meu cabelo, deixando - me estupefacto . São realmente dóceis estes seres. A Niray, brinca com eles em correrias loucas, parecem crianças. Nunca param de guinchar. Estão loucos de contentamento. Pus um deles em cima do nosso cavalo e todos queriam fazer o mesmo. É uma alegria.

De repente , no céu deste planeta, uma ave enorme, aparece  como se fosse um fantasma, faz um voo picado sobre nós e leva um nas suas garras que chora nos seus guinchos, apagando - se a pouco e pouco. Estamos muito tristes. Todos eles desapareceram para as suas casotas. Ficamos só nós vendo aquela maldita ave com aquele ser inofensivo nas garras, para o devorar e desapareceu no céu. Ficamos com muita pena de isto ter acontecido. A boa disposição reinava em nós e aquela ave maldita e negra veio manchar a nossa alegria.

É o predador deles Sem Nome. Está bem Niray, compreendo, mas eles são tão meigos que não mereciam ser comidos. Lá na tua Terra também não há animais inofensivos e que são devorados por vocês ? Tens razão Niray. Custa muito mas é a lei da vida a que ninguém pode fugir.

Estamos à espera que eles apareçam novamente. Assim acontece, estão novamente a sair das suas casotas, a pouco e pouco , muito receosos, se vão juntando  novamente a nós. São seres estupendos e meigos como a maioria dos seres humanos não são. Começa outra vez a sua guincharia que nos enchem os ouvidos.

Insistem que os ponhamos em cima do nosso cavalo. Adoram brincar connosco e nós com eles. Por mim, ficava aqui muito tempo com eles, porque são seres adoráveis como nunca vi, onde não existe a maldade e premeditação.

 

Olhamos para o céu e vemos muitas aves iguais à primeira que levou um dos nossos amigos. A confusão entre eles gera-se. Dou - lhes a entender que não se afastem que o nosso cavalo os vai defender. Confiam inteiramente em nós, embora muito hesitantes mas, estão todos a tremer de medo. As aves aproximam- se e desta vez o nosso cavalo está atento e em posição de guerra. Quando elas vêm em bando, manchando o céu de pavor, o nosso guerreiro - protector, dispara pelos seus olhos raios fulminantes para as aves de rapina que são esturricadas sem dó nem piedade. Em pouco tempo foram dizimadas, para nosso contentamento. Conseguimos salvar os nossos meiguinhos das garras daquelas feras. É vê - los pular de contentes e agarrarem - se  a  nós e principalmente ao nosso cavalo em forma de agradecimento. É bom ter um protector assim.

Enquanto os nossos amigos guincham e brincam, pergunto à Niray : Já pensaste que nome é que vamos dar a este planeta ? Ainda não, estou embevecida com estes nossos amigos que nem sequer me lembrei. Não leves a mal, Sem Nome mas, já discutimos isso daqui a pouco. Está bem? Seja.

Ela parece uma criança a brincar alegremente com estes seres, enquanto eu os ponho ao colo e em cima do cavalo, lanço - os ao ar e caiem nos meus braços, guinchando perdidamente de alegria. Todos querem que lhes faça o mesmo mas, é impossível contentar todos porque são muitos.

Não custa nada praticarmos o bem, até mesmo com os animais, porque se o nosso coração está vazio, a cabeça não serve para nada. Lá estou eu outra vez a pensar para dentro de mim. Estes pensamentos a serem divulgados, as suas sementes sempre germinariam nalgumas mentes, não se perdiam completamente. O pior é que nem todos as aceitariam.

Está a aparecer no céu uma mancha negra e o nosso cavalo relincha, dando sinal de perigo. Os nossos amigos seres desaparecem num ápice para dentro das suas casotas, deixando - nos completamente sós e sem tempo de lhes comunicarmos de que não o fizessem. Tudo isto se relaciona com aquela mancha que se desloca em direcção a nós.

Estamos tramados Niray, aquilo é um bando das tais aves predadoras dos nossos amigos. Deixa - lá Sem Nome, o nosso cavalo não dorme em serviço.

Elas aproximam - se, fazendo uma algazarra tremenda que até faz arrepiar mas, ao mesmo tempo, estamos confiantes que tudo vai correr bem para nós e os nossos amigos e mal para elas.

Voam sobre nós em círculos, à espera, com certeza que as suas presas apareçam mas, não devem ter muito tempo de vida, porque o nosso cavalo prepara - se para lhes dar o golpe final.

 Assim acontece e como da última vez o nosso cavalo, com os seus raios fulminantes, dispara tiros sucessivos, como se fosse uma metralhadora e  derrubou o pequeno bando que vinha atacar estes seres indefesos. Não desistem e  agora vem um batalhão delas, em retaliação pelo que aconteceu aos outros bandos que, me deixa inquieto mas a minha querida Niray, está calma e confiante.

Ó Sem Nome, já te esqueceste que temos aqui o nosso cavalo para nos proteger ? Não, não me esqueci, só que o bando é enorme e não sei se o nosso cavalo tem capacidade bélica para o derrotar. Tem calma, vamos esperar por ele, aqui sem denunciarmos que estamos cheios de medo. Não seria melhor levantarmos voo ? Acho que não Sem Nome mas, pelo sim pelo não, pergunta ao nosso cavalo. O bando está cada vez mais perto. Então vou perto da cabeça do nosso protector e pergunto - lhe : meu guerreiro, consegues ultrapassar o obstáculo que se aproxima sem levantar voo ?  Como resposta ele relincha e levanta voo imediatamente, deixando - nos pela primeira vez sozinhos no solo de um planeta, indo em caça do bando que se aproxima muito agressivamente.

Niray, e agora o que fazemos ? Não sei Sem Nome, estou a tremer de medo, sem o nosso cavalo, aqui ao pé de nós. Tem calma minha amiga, tenhamos confiança no nele que  nunca nos desprotegeu. Ele voa lá no alto,  ao encontro do bando daquelas malditas aves negras. Os dois contendores estão por cima de nós às voltas prontos a iniciar a luta. O bando rodeia o nosso cavalo e ele estrategicamente sai do meio dele e começa a desferir os seus raios emitidos pelos seus olhos e as aves vão caindo no solo a pouco e pouco. A Niray agarra - se a mim a tremer e a dizer : Ai, Sem Nome, Deus queira que nada de mal aconteça ao nosso cavalo. Tem calma que ele sabe o que está a fazer mas ela não para de tremer.

As aves separam - se em pequenos grupos para atacar de várias frentes o nosso cavalo. Ele troca - lhe as voltas e vai disparando pelos seus dois olhos raios fulminantes e elas vão caindo no solo aos magotes e nós batemos palmas, pela valentia do nosso cavalo.

Já só restam poucas aves negras que não desistem de dar - lhe luta. São muito persistentes. Por fim com mais um ataque do nosso bom guerreiro caem as últimas no solo que fica repleto delas. O nosso cavalo de fogo desce da sua luta e pousa lentamente aos nossos pés, imponente e terrivelmente belo. Abraçamo - lo  com toda a nossa energia e ele relincha de contentamento.

Para nosso espanto, as aves caídas no solo deste planeta, junto às casotas dos nossos amigos, evaporam - se no ar como que por milagre, não deixando rasto da sua existência. Estamos perplexos com este fenómeno e não temos explicação para ele. É fantástico as coisas que acontecem neste universo fora da nossa Galáxia. Será que elas foram teletransportadas através da anti - matéria, pergunto eu à Niray ?  Não te sei dar explicação para isto. Eu também estou espantada.

 

Os nossos amigos seres espreitam das suas casotas e começam a sair muito lentamente, muito receosos e a pouco e pouco se vão juntando a nós sem guinchar como costumam fazer. Parecem estar um pouco tímidos e têm os olhos um pouco tristes. Grito para eles, alegrem - se meus amigos que o perigo já passou, gesticulando com os braços para que se  animem.

Niray, brinca com eles que eu vou fazer o mesmo. Pegamos - lhes nas mãos e tentamos dançar com eles. A pouco e pouco começam a saltitar e a guinchar novamente e tudo volta ao normal. A alegria volta ao palco e tudo está como dantes.

Estamos tão familiarizados com estes nossos amigos, que vai ser difícil a despedida.

Ó Sem Nome, temos que preparar os nossos meiguinhos para a nossa partida. Estava mesmo a pensar nisso Niray. Já não podemos estar muito mais tempo aqui, não é ? Não, não é que tenhamos muita pressa mas tenho o vício da descoberta deste mundo sem fim. Também eu Niray !  As adversidades não têm sido muitas, em comparação com o enriquecimento dos nossos conhecimentos sobre o espaço, não achas . Concordo contigo Sem Nome.

Com estes seres, apetecia ficar aqui eternamente. Não exageres, Sem Nome. Pode não ser exagero mas, é uma força de expressão para reforçar como os adoramos.

Quem não está já muito satisfeito de estar aqui é o nosso cavalo de fogo, porque começa a ficar impaciente. O que ele quer é voar e levar - nos a conhecer o desconhecido.

Niray, antes de partirmos temos que resolver o problema da atribuição do nome a este planeta. Está bem Sem Nome, seja como tu pensaste, porque não encontro outra designação melhor que a de Pião. Pronto está resolvida a questão do nome.

Os nossos amigos minorcas, continuam na brincadeira guinchando sem parar. Já estão satisfeitos. Esqueceram o susto.

Está na hora, vamos deixar os nossos amigos. Montamos o nosso cavalo, em posição de largada. Estão todos à nossa volta guinchando, a querer partir connosco. Dá - me vontade chorar por termos que deixá - los. O nosso cavalo impulsiona - se e toma o caminho do espaço novamente, ficando para trás os nossos amigos mas, levamos connosco a saudade.

 

 

 

                                              CAPÍTULO XII

 

                                              PERSEGUIÇÃO

 

 

O Planeta Pião vai desaparecendo do nosso horizonte até ficar reduzido a um ponto luminoso. Sinto um aperto no peito, motivado pela saudade que tenho dos bons momentos que passamos junto dos seus habitantes, fisicamente diferentes de nós mas, com uma alma muito grande, de fazer inveja a nós humanos.

Estamos longe do último ponto de partida, com a convicção de um dever cumprido e à procura de novos mundos, montados no nosso cavalo de fogo, voador, que é para nós o grande guerreiro protector, sempre pronto para as boas e más horas. A ele lhe agradecemos estas viagens interplanetárias, longínquas mas,  enriquecedoras para as nossas mentes.

Voamos à procura de novos astros neste infinito Universo cheio de enigmas provocadores de vontade de ir mais além e  de conhecer sempre mais e mais, até ir ao ponto do quase insaciável. É assim a força do nosso espírito e por isso nasceram os grandes eventos que todos nós hoje usufruímos.

Mas nós, aqui neste espaço imenso, viajando sem rumo, não necessitamos nem precisamos dos eventos do homem. Basta o nosso cavalo de fogo, que não foi inventado pelo homem,  para chegarmos onde ele nunca chegará.

Niray, já estamos muito longe do Pião e ainda tenho saudades da convivência dos seres bons e amigos que o habitam. Eu também Sem Nome, não consigo esquecê -los. Foram bons os momentos que passámos com eles. Costuma - se dizer no meu planeta Terra, tudo o que é bom acaba depressa, que se adapta perfeitamente à nossa conversa.

Já viste Niray, que as nossas células continuam inalteráveis ? Fisicamente estagnámos desde que estamos no espaço. Só prova que estamos a receber as vitaminas necessárias anti-envelhecimento . Só pode ser isso, Sem Nome, não há outra explicação. Aliás, já tínhamos comentado sobre isto há já algum tempo. É verdade, tens razão Niray, até fui eu a interrogar - te sobre este assunto.

O nosso cavalo continua a voar, levando - nos sabe - se lá para onde mas, nós confiamos inteiramente nele, porque é o nosso guia - guerreiro e protector. Vamos lá ver qual será o nosso próximo encontro? Estamos preparados para enfrentar qualquer situação que se nos depare porque o nosso cavalo é invencível. É um autêntico herói. Dá - nos paz e confiança.

Niray, repara ! O que é aquela coisa que vem direito a nós ?  É uma nave espacial. É enorme Sem Nome. Tem a forma circular com dois andares, com muitos orifícios circulares que devem ser janelas, completamente iluminadas que até parece uma cidade. Estou em pele de galinha e isto não é bom sinal. Não me digas que vamos ter problemas Niray ? Pressinto que são hostis e não me devo enganar.

Agarro - me ao pescoço do nosso cavalo que de imediato começa a relinchar. Agora é que tenho a certeza que são hostis. O nosso cavalo dá o sinal e ele nunca se engana. Estou confiante que mais uma vez vai ultrapassar este obstáculo difícil, caso seja necessário.

Voa meu cavalo com todas as tuas energias, grito - lhe eu aos ouvidos. Ele assim o faz, para tentarmos desviar - nos da nave. Ela persegue - nos também a todo o gás. O nosso cavalo voa em círculos para tentar ludibria - la  mas em vão, porque tem tanta velocidade como o nosso cavalo. Niray, será que nos vamos safar desta ? Tem confiança no nosso cavalo Sem Nome, de certeza que não nos vai deixar mal.

O nosso cavalo cria um escudo protector à nossa volta, que nos deixou surpreendidos, porque não sabíamos que tinha mais esta força energética. A nave continua a perseguir - nos mas, não dispara qualquer arma, o que é de admirar. Todas as voltas que nós damos ela também dá. A perseguição é tão grande que até parece a nossa sombra. Ela tenta teletransportar - nos para si mas o escudo protector do nosso cavalo não deixa que isto aconteça. Como não estamos a ser atacados, o nosso cavalo também não ataca, apenas andamos a uma velocidade supersónica, aos círculos em volta da nave e esta à volta de nós. Até parece o jogo do gato e do rato. A nave tenta novamente teletransportar- nos mas não consegue e ainda bem. O nosso cavalo sobe em flecha  deslocando - se um pouco da nave para depois fazer um voo picado mesmo por cima da nave. Nesta altura apercebemo - nos ainda melhor da grandeza da nave, é realmente impressionante. Desviámo - nos um bom bocado dela até quase a perdê- la de vista. Estamos um pouco aliviados da pressão que nos exerce mas, ainda não estamos completamente descansados, porque a todo o momento pode aparecer de surpresa mas, não lhe vai servir de nada porque o nosso guerreiro é melhor que um radar. Apercebe - se sempre com muita antecedência do que vai acontecer.

Que te parece Niray, achas que a nave já não vai aparecer ? Não me parece que nos vá deixar em paz. Temos que estar alerta porque a todo o momento podemos ser surpreendidos. Voamos mais lentamente mas, sempre de olhos postos no espaço cósmico porque a nave pode aparecer num ápice e não se sabe qual a sua intenção. Por enquanto só nos perseguiu e tentou embarcar- nos.

Entretanto, continuamos a nossa viagem incerta no nosso cavalo supersónico e enigmático que sabe o que quer e para onde vai. Já há muito tempo que estamos fora do sistema planetário onde está inserida a Terra, à descoberta de novos mundos e até agora tem sido surpreendente.

Olha Sem Nome, parece que estou a ver um ponto luminoso ao longe que pisca constantemente, só espero que não seja a nave espacial que nos perseguiu. O nosso cavalo começa a relinchar. Pronto Niray, já sabemos que é efectivamente a nave que nos vai perseguir outra vez porque o nosso cavalo está a dar sinal. Ela aproxima - se cada vez mais e agora já se vêem muitas luzes a piscar. O que será que eles querem de nós Niray ?  Algumas naves dedicam - se à ciência, isto é, tentam raptar outros seres para os estudarem e verem o grau de inteligência e caso lhes interessem extraem- na por métodos muito sofisticados e deixam - nos a vegetar.  Isso é horrível. Temos que nos escapar. O nosso cavalo volta a criar o escudo protector. A perseguição do gato e do rato reinicia -se. Eles mereciam a destruição, Niray. Isso nunca Sem Nome, porque eles deve ter um poder bélico capaz de destruir um planeta. Temos é que tentar enganá - los, o que vai ser difícil mas, não impossível,  e nunca enfrentá - los. Ludibriá-los, como, se eles são seres tão inteligentes? O nosso cavalo sempre nos tem livrado e protegido das más situações, vamos confiar nele.

Abraço - me ao pescoço do nosso cavalo e digo - lhe: Tu que és um sabedor e um valente guerreiro afasta - te dos nossos inimigos. Ele relincha, como que a dizer, confiem em mim que eu chego para eles.

A perseguição é feroz.

A nave tenta novamente puxar - nos para si pelo seu teletransportador mas, felizmente esbarra sempre no escudo protector que o nosso cavalo criou. Estamos muito assustados mas, ao mesmo tempo, confiantes nas manobras do nosso cavalo de fogo. Ele aumenta a velocidade e de repente pára e deixa - se ficar a flutuar no espaço. A nave na sua velocidade estonteante passa por nós desaparecendo da nossa vista. Assim que isto acontece o nosso cavalo inicia novamente o seu voo a toda a velocidade em sentido contrário ao da nave. De momento estamos aliviados por ela ter desaparecido, pela forma estratégica do nosso cavalo. Gritamos de contentamento e continuamos a nossa viagem no Cosmos.

Niray, mais uma vez o nosso cavalo, com a sua inteligência e estratégia livrou - nos de mais um inimigo. Eu não te disse que confiássemos nele ?  Antes era eu que duvidava das suas capacidades e agora és tu. Não Niray, eu nunca duvidei, tenho é sempre receio não falhe alguma coisa. Então não confias totalmente, não é assim ? O teu raciocínio está certo. Daqui para o futuro vou deixar de recear e confiar inteiramente nele.

Estamos a passar por uma Nebulosa imensa  que é formada por uma grande massa de poeiras ou gases, que apresenta um aspecto de uma mancha láctea, com uma extensão talvez de milhares de quilómetros, que proporciona uma paisagem empolgante, com um brilho extraordinário. Voamos junto a ela para melhor apreciarmos a sua formação. Dentro da nebulosa as poeiras movem - se em turbilhão como que sacudidas por vento no seu interior, parecendo autênticos rolos de fumo, parecendo que lá dentro se desenrolam grandes tempestades. A uma velocidade moderada o nosso cavalo leva - nos  ao longo desta nebulosa.

É impressionante, como de uma nebulosa começam a sair centenas de meteoritos, parecendo uma chuva de pedras que voam a uma velocidade espantosa. É um grande espectáculo mas, perigoso porque podemos ser atingidos por estas pedras voadoras e algumas incandescentes.

O nosso cavalo afasta - se da nebulosa para evitar alguma colisão com estas pedras e seguimos a nossa viagem deixando para trás a nebulosa.

Niray, já alguma vez tinhas visto uma nebulosa de perto ? Confesso que não Sem Nome. Então gostaste de  ver esta ? Sem dúvida. Fiquei de veras impressionada com o seu tamanho e formação. Só o nosso cavalo de fogo é que nos proporciona  a visão destes astros.  Pois sem ele nada disto era possível. Fazemo - lhe carícias e ele agradece com um relinche prolongado demonstrando a sua felicidade e contentamento, por nos ter como amigos.

Fazer bem e ter sempre um sorriso, não custa nada e faz bem à vida. Para quê complicar o que não é complicado ? É tão bom mostrar aos outros alegria e vontade viver, de modo a contagiar todo o mundo para que isto se propague como o vento que corre sem travões.

Cá vamos nós atravessando o Cosmos, montados no nosso cavalo de fogo voador, à procura de outro planeta para fazer parte da nossa história planetária, para que se um dia regressarmos aos nossos planetas de origem, termos para contar aos nossos conterrâneos, como é constituído o universo para além do nosso sistema solar.

 

 

 

                                                  CAPÍTULO XIII

 

 

                                                   SONHOS VIVOS

 

 

 O silêncio é absoluto. Apenas  é quebrado pelas nossas conversas ao longo da nossa viagem em cima do nosso cavalo de fogo, devidamente instalados como se fôssemos cavaleiros do céu e que na realidade assim somos, com a devida modéstia. Se não fossem os milhões de pontos luminosos que se observam no Cosmos, diria que estávamos num abismo porque a escuridão que nos envolve é terrível. O nosso querer e força de vontade de conhecer o desconhecido ainda é maior que a escuridão que nos rodeia. Esta nossa viagem é uma autêntica odisseia no espaço valorizada pela valentia do nosso cavalo voador que é um ser inesquecível, fantástico e mágico .

No meio deste imenso Universo somos como um micróbio que não se vê à vista desarmada, praticamente insignificantes, que dentro da insignificância também somos enormes ou podemos sê - lo, dependendo da grandeza da alma de cada um.

 

Estamos a avistar um planeta que ainda se encontra distante, quão distante como o além. Concordas Niray que a nossa próxima viagem seja aquele planeta que vislumbramos deste aquém ?  Concordo sim Sem Nome, mas ainda está tão longe que nem dá para perceber que planeta será. Viajemos para ele, através do tempo, para nos aproximarmos, afim de  o podermos observar em várias fases e ver bem se não há perigo, quando a ele formos chegando. Tu, não conheces aquele planeta ?  Á primeira vista parece que não conheço mas, no entanto, voemos, voemos para lá para que te dê uma resposta concreta. Pergunto - te isto porque como tu és de outra galáxia podias conhecê - lo, assim como nós conhecemos através da tecnologia da Terra todo o seu sistema solar.        

Como é que vou conhecê - lo se este planeta não pertence ao meu sistema solar ? Tens razão Niray. Isto agora foi um disparate. Disparate é não perguntar aquilo que nós não sabemos. Há pessoas que preferem ficar na ignorância, do que perguntar o que não sabem, com receio que os outros saibam que eles não sabem.

Apertamos os cintos da coragem e lá vamos nós a voar em direcção a este novo planeta que desejamos conhecer. Já está relativamente perto. Parece completamente redondo mas às vezes o que parece não é. 

À medida que nos aproximamos destinguem - se milhares de pontos vermelhos, semelhante a fogueiras que parecem iluminar o coração do planeta. Estamos curiosos para ver do que se trata porque tem sinais diferentes dos outros todos que já visitámos .

Diz - me Niray, por favor, o que serão realmente aqueles pontos vermelhos ? Bem, ao certo não sei mas, parecem - me pequenas explosões, porque alguns acendem e apagam. Tens razão, efectivamente quase todos os pontos acendem e apagam.

O nosso cavalo aproxima - se cada vez mais do planeta e agora já dá para distinguir de que se tratam de explosões. À primeira vista parece um planeta cheio de vulcões e se assim for não podemos pousar porque é muito perigoso.

Já estamos muito próximos  e o nosso cavalo inicia os seus voos circulares  para nos aproximarmos o mais possível. Efectivamente as explosões que se vêem são de vulcões em erupção. Devem ser milhares. As suas explosões atingem uma altura considerável que temos de ter cuidado e por isso, não devemos  aproximármo - nos demasiado mas, o nosso cavalo sabe as precauções que deve tomar para que não sejamos cozinhados.

É um espectáculo fantástico. As lavas incandescentes  elevam - se a uma distância enorme e depois caem e jorram pelas montanhas formando do rios de fogo que se que se arrastam pelas encostas das elevações até arrefecerem as forças das suas almas. Outros expelem gases em jacto, juntamente com poeiras  e pequenas pedras que parecem foguetes dirigidos ao espaço e que caem muito lentamente como se fosse m penas de aves. 

Neste planeta é impossível haver vida, porque todo ele parece constituído por grande furúnculos que são os vulcões que ejaculam lavas por todos os orifícios que parecem milhares de bocas que comeram demasiado.

Continuamos a voar à volta deste inferno e o aspecto é sempre o mesmo, magma, magma, magma . . . sempre magma  a ser expelida pela boca dos vulcões. 

Temos que voar muito acima do planeta porque os jactos de magma e pedras são muito altos e não podemos correr riscos. Apenas nos limitamos a investigá - lo cá do alto. Nunca pensei que um planeta pudesse ter tantos vulcões num só planeta. Até parece que em tempos foi um sol e que agora está extinto, apenas a arder por dentro, talvez em agonia sabe - se lá há milhares de anos.

Aqui não há nada a fazer Niray, uma vez que o nossa nave viva não pode pousar para podermos investigar. Assim é Sem Nome, nada podemos fazer. O melhor será partirmos para outras investigações. De qualquer modo foi interessante vermos este planeta que desconhecíamos que existisse e  estivesse em explosões contínuas, como que a chorar eternamente.

Deixamos definitivamente de sobrevoar este planeta e fazemos rumo outra vez ao desconhecido pelo que estamos sempre sujeitos a surpresas, boas ou más e ao mesmo tempo, a adquirir conhecimentos novos que enriquece o nosso intelecto.

O trio da aventura, ou seja o nosso cavalo, a minha amiga Niray e eu, estamos novamente nas entranhas do espaço, já longe do planeta de fogo, prontos para novas investigações e novos contactos se possível.

Voamos a uma velocidade incrível  à procura de outro planeta que nos satisfaça a curiosidade do conhecimento e que nos encha a alma de sonhos vivos. Estamos convencidos que o vamos encontrar para nossa alegria e podermos viver lá um período razoável da nossa vida. Enfim um planeta de sonhos coloridos.

O nosso voo prossegue e a Niray observa: Olha Sem Nome, estamos com outro planeta à vista e permita Deus que seja o planeta dos nossos sonhos. Qual, perguntou eu ? Então não vês uma bolinha brilhante que se distingue de todos os outros astros?  Observo com atenção ! Tens razão Niray, já o distingo e digo - te que aquele é capaz de ser o planeta de que tanto ansiamos. Vamos ver diz a Niray ! Isto é uma forma de expressão, porque realmente não conhecemos o futuro.

Voamos então em direcção a este planeta que temos na mira. Abraço - me ao nosso cavalo e digo: leva - nos meu amigo para aquele planeta desconhecido que poderá ser o planeta da nossa admiração. Ele relincha e continua a voar como uma flecha para ele. Parece mesmo uma bola completamente redonda. Que surpresas nos irá trazer ! Têm de ser boas, tenho fé, diz a Niray. Como a velocidade imprimida pelo nosso cavalo é muita, estamos quase a chegar ao nosso pretendido. Já parece enorme e majestosamente redondo. Aqui o que é longe , também é perto, porque para o nosso cavalo na é longe, é já ali, no além. 

O nosso cavalo abranda a velocidade e inicia os círculos para aproximação. Ao fim de cinco voltas ao planeta, a nossa nave viva começa a descer sobre ele, para gáudio das nossas curiosidades. Lenta e suavemente, o nosso mestre pousa neste astro. Pronto, já cá estamos e prontos para mais uma investigação.

 

 O solo é montanhoso, parecendo um planeta de paz e tranquilidade. Caminhamos com calma para apreciar bem a sua natureza. Vida não vemos mas ainda é cedo. Caminhamos pela base das montanhas e a primeira coisa que nos chama a atenção é que, quase todos os relevos têm grutas com entradas enormes e profundas. Depois de observarmos que as grutas são imensas, pensamos em penetrar numa delas para ver o que se passa no seu interior. Como a curiosidade é muita não resistimos e iniciamos a penetração do planeta por uma das entradas.

Está completamente escuro mas a cor de fogo do nosso cavalo ilumina - nos o nosso caminho. Lá vamos entrando nas entranhas do planeta ansiosos por saber até onde nos leva esta gruta. Para não ser tão cansativo montamos no nosso cavalo e leva - nos mais rápido para as suas profundezas. Mesmo assim, caminhamos já há algum tempo e nada se vislumbra mas, a vontade é mais forte que o medo e continuamos a penetração nas entranhas deste astro. Este canal da gruta é largo e por isso andamos à vontade sempre para dentro do planeta que parece não ter fim.

Por este andar vamos ter ao centro dele mas, pelos vistos ainda falta muito. Desistir nunca, vamos em frente. O canal da gruta vai sendo cada vez mais largo. O caminho parece mais claro e ouve -se o sussurrar de ondas de um mar.

Será que estamos a ouvir bem Niray ? Estamos a ouvir realmente bem Sem Nome, é mesmo som de mar mas não sabemos se assim é mas, vamos em frente porque estou mortinha por saber o que ele nos tem para oferecer. O canal vai- se abrindo e a claridade também, como se fossem abrindo todas as janelas do mundo.

Estamos no fim da gruta, portanto no interior da barriga deste planeta, um pouco assustados mas, confiantes no nosso protector, de olhos lindos e sempre bem abertos.  Descemos do nosso cavalo e caminhamos a pé mas com muito medo. Quando saímos completamente da gruta deparamos com um mundo lindo, calmo,  um paraíso, onde predomina a cor azul clara.

O interior deste planeta é uma abóbada tamanho do mundo, com uma claridade espantosa. O mar é enorme com pequena ondulação que mais parece um lago sem fim. A floresta é densa mas toda a folhagem é azul. Nem sabemos por onde começar a investigação. Por enquanto não se vê quaisquer sinais de vida mas deve existir. Não é possível que num paraíso destes não haja vida.

Aproximamo - nos do mar onde a sua ondulação parecem carneiros a correr. A água é doce  e límpida como um cristal onde apetece mergulhar, sentir a sua leveza e perfume suave que exala das suas pequenas ondas. Com a água pelos joelhos caminhamos ao longo da sua praia extensa de areia fina,  dourada e cintilante . O sussurrar das águas dá - nos paz, amor e uma calma espiritual como nunca sentimos.

Vêem - se pequenos peixes com uns olhos desproporcionais em relação ao seu pequeno corpo que, serpenteiam na água e se aproximam de nós, envolvendo os nossos pés, fazendo um bailado como se estivessem a ouvir uma valsa.

Depois deste mar e desta praia, vamos entrar na floresta onde tudo é azul claro, como um céu de paz. As árvores são imensas e frondosas; as plantas rasteiras têm folhas aguçadas, também azuis que se movem de um lado para o outro empurradas por uma pequena aragem perfumada que nos dá um bem estar como nunca sentimos.

Continuamos a andar pela floresta dentro e muito aflita diz - me a Niray: Olha Sem Nome, olha aquele animal. Não te assustes que se trata de um lagarto. Mas tem asas e voam como uma ave. É verdade, nunca tinha visto semelhante animal com estas características. São muitos e azulados que se confundem com a vegetação. Não há problema Niray, são inofensivos. Ainda bem já estava a ficar preocupada.

As aves de variadíssimas cores proliferam por toda a floresta que cantam e chilreiam  enchendo o ambiente de vida e cor. No solo as formigas são grandes com mandíbulas horríveis que nos assustam que, contraria a mansidão das plantas. Como pode um planeta, no seu interior ter um paraíso destes ? Isto parece mais um sonho do que realidade.

Estou espantado com isto, Niray. Que me dizes a este panorama celestial que nos envolve ? Será que é aqui o céu ? Qual céu, Sem Nome ? É como se diz na minha Terra, quando se fala de paz e tranquilidade. Eu acho que estamos num paraíso onde apetece ficar para sempre. É verdade, tens razão minha querida.  Beijamo - nos de felicidade e damos um abraço quente e cheio de amor.

O nosso cavalo que caminha connosco relincha e nós ficamos apreensivos porque o seu sinal é sobre algo que está para aparecer. Niray, prepara - te que vamos ter surpresas. Não me assustes Sem Nome. Também há surpresas boas, não achas ? Espero que sim. És um pouco séptica a esta realidade.

Estamos os três embrenhados na floresta azul e os lagartos, formigas e pássaros parece que nos seguem os passos. Ao fim de algum tempo de caminharmos, diz - me a Niray : Sem Nome parece que alguém nos espreita entre a folhagem. Fico muito atento e continuamos a andar e efectivamente parece que os arbustos se movem  de vez em quando, sacudidos por alguém que nos segue de perto. Ouve - se o sacudir da folhagem como se alguém que se esconde e não quer ser visto. Estamos inquietos e ansiosos por saber o que nos segue ao longo da nossa caminhada, até que, de repente vemos um ser que anda de pé como nós mas que tem um rabo comprido mas que se escondeu tão rapidamente que não deu para ver a sua cara.

Fiquei um pouco curioso e comentei : Niray, viste o mesmo que eu vi ? Vi sim Sem Nome. Que te parece ? Digo que é um dos habitantes do interior deste planeta que, penso, deve ser inofensivo. Tens a certeza de que é assim ? Ora, a certeza não tenho mas, pela sua reacção assim parece. Às vezes o que parece não é . Continuemos para ver o que isto dá. Tu também és um séptico. Na minha Terra diz - se que o seguro morreu de velho e eu concordo plenamente com ele.

Continuamos a caminhar no interior desta selva azul. Os pássaros são milhões  que prestam um colorido extraordinário a esta natureza. Agora parece que somos seguidos por muitos seres iguais ao outro que há pouco vimos. Parece que nos estão a fazer um cerco mas, estamos calmos porque confiamos inteiramente no nosso cavalo protector. As árvores estão cheias de frutos sumarentos  que nos deliciam. Até o nosso cavalo gosta e se satisfaz. Apesar de comermos os frutos continuamos atentos ao desenrolar desta perseguição que não se sabe no que vai dar.

Chegamos a uma clareira. Sentimos que os nossos perseguidores nos cercam. Estamos a entrar na clareira, e agora dá para ver os seres que nos envolvem. Mesmo no meio deste espaço sem vegetação, começam a aparecer de todos os lados imensos seres com uma cabeça semelhante à nossa mas muito feios e realmente de rabo comprido como os lagartos que vimos no início. Estamos completamente cercados mas o nosso cavalo não reage e só por isso, não estamos assustados. Se fosse ao contrário ele nunca deixaria que nos melindrassem . Estes seres aproximam - se de nós e ficamos no meio deles. Falam entre eles como se estivessem a conferenciar. Tocam - nos e nós deixamos. Fazem - nos gestos para que os sigamos.

Que achas Niray, vamos com eles ? Acho que sim, e estou cheia de curiosidade  para onde nos querem levar. Se fossem hostis já o tinham mostrado.

 

Lá vamos todos em grupo por caminhos que só eles conhecem. Falam muito entre eles. Não entendemos nada mas, que são seres inteligentes lá isso é verdade. Já caminhamos algum tempo. Diz a Niray: Com certeza nos vão levar para a sua aldeia para que conheçamos o seu modo de vida. Espero que assim seja. Estás sempre desconfiado, Sem Nome. Não é desconfiado é precavido.

Por fim chegamos à sua aldeia que são semelhantes a tabancas que vi em África, feitas com a folhagem das arvores com uma porta de entrada. Convidam - nos a entrar para uma tabanca que parece uma sala de reuniões, só que temos que nos sentar no chão porque não têm cadeiras. Oferecem - nos de comer que aceitamos para não desagradar. Digo para a Niray que estava com o nariz franzido como quem repugna alguma coisa:  Faz um sacrifício e come e vais ver que eles ficam satisfeitos. Comemos com sacrifício, mas comemos. Num canto da sala está sentado um ancião já idoso que deve ser o chefe dos rabos compridos que fala para eles e escutam com muita atenção. A seguir saímos da sala e estamos em pleno aldeamento. As crianças dos rabos compridos gritam e rodeiam - nos, tocam - nos e pelo semblante deles parecem estar satisfeitos. Pus uma criança em cima do cavalo mas assustou - se e começa a gritar. Os pais riem  às gargalhadas mas, tirei -a logo de cima do cavalo, com medo de a magoar.

Sentamo - nos todos, à excepção do cavalo, claro. Oferecem - nos uma dança típica  na qual agarram os rabos uns dos outros  e dançam à roda, ficando as fêmeas no meio que por sua vez também dançam mas ao contrário dos homens.

No fim batemos palmas e entramos na dança que provoca as suas gargalhadas, pelo nosso ar desajeitado com que os imitamos mas, com cuidado para não lhe pisarmos as caudas. Só não temos é rabo comprido como eles.

Passámos um bom tempo na sua companhia, o suficiente para conhecer como vivem. Nunca os vim comer carne mas simplesmente fruta que a floresta dá com abundância.

Tratam - nos como deuses e nós correspondemos com o nosso bom agrado mas, não podemos ficar aqui mais tempo porque temos muito para ver neste planeta.

Montamos o nosso cavalo, despedimo - nos, ao que eles correspondem com uma gritaria tremenda e de braços no ar acenando como que a desejármo - nos boa viagem no interior do seu paraíso.

O nosso cavalo começa a andar e nós a fazermos adeus até que os perdemos de vista no seio da floresta azul.

Continuamos a nossa investigação no centro deste planeta, montados no nosso imponente cavalo voador a quem devemos estas alucinantes viagens interplanetárias, para além dos nossos sistema solares.

Ó Niray, sabes explicar - me porque será que tudo aqui é azul ? Não, não sei, mas tenho a minha opinião. Então qual é ? Como estamos no centro de um planeta o sistema químico da atmosfera é de composição diferente e isto deve interferir em tudo o que nasce aqui. Então, como é que nós nos adaptamos a todos os sistemas ambientais de todos os planetas que já percorremos ? Isso é magia que, devemos ao nosso cavalo, que nem tu nem eu sabemos explicar.

Estamos  a caminhar mas agora sentimos o solo estremecer com intervalos certos, parecendo  resultado de explosões . Sentimos este sons cada mais perto e mais fortes, não nos parecendo agora de explosões. O nosso cavalo relincha  e o seu corpo cintila, que é prenúncio de perigo. Estamos alerta e preocupados porque se deve tratar de algum animal de grande porte. Os olhos do nosso cavalo têm um brilho extraordinário que mais parecem projectores, o que quer dizer que se está a precaver de algum perigo iminente. Estes sinais que ele nos dá preocupa - nos e ao mesmo tempo, aumenta - nos a curiosidade sobre o que nos vai aparecer. No entanto, estamos calmos porque confiamos inteiramente nele.

 

Caminhamos um pouco mas depois decidimos parar e esperar que o animal ou que quer que seja se aproxime  o mais possível de nós. Enquanto esperamos, questiono a amiga Niray :  - Achas que é um animal de grande porte que está a provocar este ruído compassado e certo ? Quase que não tenho dúvidas em dizer- te que se trata de um animal gigante. Mas que tipo de animal vaticinas tu que seja ? Bem, Sem Nome, eu penso que deve ser um animal tipo dinossauro mas, sem vê - lo primeiro não posso ter a certeza. O ruído já está tão perto que até nós estremecemos e o nosso cavalo relincha e está inquieto. Já se ouve o resmalhar e o partir de folhas e troncos pela sua passagem, o que nos provoca uma grande ansiedade e ao mesmo tempo curiosidade desmedida em ver efectivamente que tipo de animal é.

Tanto a Niray como eu espreitamos entre a folhagem da floresta à espera que a todo o momento o possamos ver. Estamos aflitos e arrepiados porque pressentimos que devemos estar prestes a vê - lo . Finalmente está completamente à vista para que possamos apreciá - lo  e matar de vez a nossa curiosidade. Estamos boquiabertos perante tamanha grandiosidade. É um animal com cerca de vinte metros de altura e cerca de trinta de comprimento. O seu pescoço é enorme com uma cabeça relativamente pequena em relação ao corpo. Tem dois olhos também pequenos semi-fechados. A cauda é comprida  e em serra terminando em ponta. É um animal herbívoro alcançando as folhas mais altas das árvores, para comer. Parecemos pigmeus em relação ao seu tamanho. Dá guinchos que não são compatíveis com o seu tamanho. Pára e avança conforme o seu apetite. Agora repara em nós e estende o seu pescoço até nós, cheirando - nos por todo o lado. É um monstro inofensivo. Animais destes só podem existir num paraíso e no centro de um planeta como este porque se fosse no meu, já tinha sido exterminado pela fúria dos homens. Ó Sem Nome, os habitantes do teu planeta são assim tão exterminadores como dizes? Podes crer que são, porque a ânsia do dinheiro é desmedida e o homem não olha a meios para conseguir o que pretende.

 

Estamos atentos às atitudes deste herbívoro que não pára de comer as folhas mais altas das árvores. Cada passo que dá faz nos dar pequenos saltos no chão, tal é o porte  deste dinossauro. A Niray chama - me à atenção : Olha, olha, Sem Nome, o dinossauro é acompanhado por dois filhotes que mamam na mãe sempre que ela pára. É verdade, como é que eu não reparei naquelas duas gracinhas. Não vias porque tens estado o tempo todo a olhar para a mãe que fica lá bem no alto.

A pouco e pouco a mãe e os seus filhotes vão avançando abrindo caminho entre a floresta, partindo toda a ramagem que lhes se opõem.

Valeu a pena vir de tão longe só para ver estes animais que julgava estarem extintos há milhões de anos na Terra. Pelos vistos mudaram de planeta e para o seu interior porque à superfície possivelmente não conseguiriam viver.

Estamos entusiasmados com a investigação no interior desta planeta. Vamos lá ver que animais é que vamos ver a seguir.

Estamos embrenhados na densa floresta azul, onde caminhamos montados no nosso cavalo de fogo, que no meio da folhagem parece ouro sobre azul, como se costuma dizer. Estamos a ouvir urros de dinossauros e estes não devem ser herbívoros. Estes urros são tão fortes que nos faz doer os ouvidos. Estão à vista e são centenas deles com uma cabeça enorme e dentes bem afiados que correm cheios de fúria atrás de algumas presas que são pequenos animais que se deslocam à sua frente mas, não devem ter grande sorte. Felizmente que não deram por nós mas, também não havia que ter medo porque o nosso cavalo defender - nos ia.

Continuamos a nossa investigação.

A Niray ficou pálida e apavorada ao ver os dinossauros carnívoros em perseguição das suas presas. Se tivesse um espelho mostrava - te a tua cara Niray para veres o que é o medo estampado no teu rosto. Não me digas que tu também não tiveste medo Sem Nome ? Evidentemente que senti mas, não mostrei. Estás armado em machão ? Não, não é essa a minha intenção de querer parecer o mais forte, é apenas uma observação. Acho muita graça à tua cara, quando estás com medo. És, toma lá um beijo. Até a floresta parece que aplaudiu este nosso gesto de amor.

A floresta está cheia de pássaros e outras aves que chilreiam por todo o lado e nos enchem agradavelmente os nossos os ouvidos com os seus trinados. De repente esvoaçam todos como que assustados sacudindo a folhagem. O que será os assustou assim tanto Niray ?  Eu não sei o que é mas que, algo os assustou não há dúvida. O nosso cavalo relincha e esta é a prova. Não há dúvida, é um autentico radar.

Na floresta nada se vê, nem se sente, a não ser os pássaros a debandarem assustados.

O que será desta vez Sem Nome ? Já estás com medo Niray ? Apenas estou com medo de alguma surpresa desagradável. Também eu mas, simplesmente pelo repentismo do que possa surgir.

Entretanto, vamos caminhando em alerta máximo. Agora o silêncio é absoluto e contagiante. Até parece que as árvores se calaram momentaneamente. É calmo e ao mesmo tempo arrepiante este silêncio. Nada sucede e nós estamos apreensivos porque não sabemos o que está para vir.

Sentimos o solo a tremer e as árvores a serem sacudidas por este tremor como que a sentirem o medo do silêncio . Rapidamente o solo estremece com bastante ímpeto. A Niray e eu agarramo - nos ao nosso cavalo. Os frutos das árvores caem como se fosse chuva de frutos. A violência do tremor é aterrorizante que nos faz saltar o solo debaixo dos pés. A Niray está em pânico, gritando para mim : Sem Nome, agora é que morremos todos. Nada disso vai acontecer, tem calma. Gritamos um com o outro como se fosse um diálogo de surdos, por causa do ruído que este tremor está a provocar. Lentamente o planeta vai deixando de tremer até que ficamos calmos mas exaustos. Pareceu uma eternidade o tempo que este fenómeno sísmico levou.

A vida está a voltar ao normal. Os pássaros voltaram a pousar nas árvores gigantes, e entoam a sua música como se nada se tivesse passado. O vento já sopra devagar mas o suficiente para sacudir a folhagem, quebrando então todo o silêncio em que estivemos envolvidos. O chão está coberto de frutos, prestando um colorido que destoa de todo o azul que impera no centro deste planeta.

Minha amiga Niray dá - me abraço porque estamos vivos, depois deste grande susto que apanhámos. É verdade Sem Nome, ambos merecemos um abraço porque pensei que não saíamos vivos deste sismo. Assim, demos um abraço muito apertado em honra da vida que durante muito tempo não vamos esquecer. Fazemos também grandes carícias ao nosso cavalo que é o mentor destas viagens interplanetárias. Ele agradece como sempre com um relinche prolongado.

A Niray e eu somos grandes companheiros que já não podemos viver um sem o outro. Entre nós existe um romance que soa a música de muitos violinos que une os nossos corações para a eternidade.

A aventura continua na floresta azul. Nem os grandes sustos nos impedem de explorar o ventre deste planeta que já nos trouxe grandes surpresas mas que, nos dá forças para continuar a descobrir coisas que nunca imaginámos ver. Em plena floresta por vezes tão cerrada que quase não dá para prosseguir mas com a nossa insistência e força de vencer, vamos penetrando no seu seio mas, sempre de olhos bem abertos para abarcarmos tudo o que nos rodeia e nos possa ainda rodear.

                                                         

A Niray olha para o lado, toca - me no braço e diz - me : olha, olha Sem Nome. Olho para onde ? Para o teu lado direito. Olhamos os dois simultaneamente  e ficamos boquiabertos. Uma planta quase da nossa altura com muitos ramos, toda azul, como resto da paisagem, coberta de flores também azuis que oscila os seus ramos como tentáculos como que a dançar ao som de uma música lenta que faz a diferença entre as suas semelhantes. Do centro dos seus ramos sai uma flor que fecha e abre e solta um pólen  que nos faz espirrar quase sem parar. Mesmo assim, e apesar disto, não deixamos de apreciá - la  nos seus gestos graciosos parecendo dár - nos as boas vindas. A apanhar este pólen esvoaçam minúsculos insectos  para dar continuidade a esta espécie.  Coisa linda Niray ! Tens razão, que planta impressionante. Estes seres vegetais são raros  ou mesmo únicos porque nunca os vi em parte alguma. Plantas desta espécie proliferam nesta zona porque as vamos encontrando à medida que caminhamos, sendo um encanto vê - las dançar sem que o vento lhes toque.

Agora aparecem outras  que se encolhem à medida que passamos e retomam a posição inicial depois da nossa passagem, facilitando - nos o caminho em vénias sucessivas,  entre esta densa floresta azul. Agora vêem - se outras também muito bonitas, sempre azuis, cujos caules brotam da terra, bastante compridos, em cuja extremidade têm um flor em forma de sino que se abre e fecha em ritmo lento, parecendo que fazem este gesto para caçarem minúsculos insectos que proliferam à volta da sua boca. São plantas com uma sensibilidade espantosa.

Tudo se mexe nesta zona da floresta, formando uma população de plantas diferentes de todas as outras que têm forma estática, sem movimentos próprios.

Temos na nossa frente um lago, rodeado por floresta densa, de águas límpidas e cristalinas onde vemos as nossas imagens como se fosse um espelho. O lago está cheio de aves que nadam freneticamente e mergulham frequentemente para caçarem as suas presas. Elas emitem um som que mais parecem assobios, enchendo este espaço de alegria e vivacidade que, nos encantam. A Niray, eu e o nosso cavalo estamos estupefactos com as suas atitudes que parecem divinas. A minha amiga Niray imita os seus assobios e elas correspondem com muita clareza e satisfação, sacudindo as suas caudas  como que as fazer - nos adeus.

E se tomássemos banho no lago juntamente com as aves, Niray ? Boa ideia Sem Nome, vamos entrar nele e banhar - nos  para nos divertirmos um pouco.

Despimo - nos, sem preconceitos, e com toda a nossa nudez penetrámos no lago azul e cristalino. Mas que bela água, está quentinha, responde a Niray. É fantástica esta água. Mergulhamos nela e surgimos rapidamente à superfície  esbracejando e jogando mãos cheias de água um ao outro. Isto é uma festa Niray. Nunca me senti tão bem como aqui. Parece o paraíso que Deus nos legou e nós estamos a aproveitar ao máximo esta dádiva do Céu. Dentro das nossas brincadeiras e como as nossas mães nos puseram no mundo dos vivos, estamos frente a frente, a olharmo - nos deliciosamente. Uma atracção amorosa atrai - nos e une os nossos corpos que se entrelaçam no mais profundo amor.

Então minha querida, vejo que estás alegre com este contacto. E tu Sem Nome, o que sentes ? Junto a ti tudo é bom. Ela deita - se à beira do lago e puxa - me para cima de si, com os  olhos semi abertos e serrando - os completamente, quando completamos o nosso acto.

Tomámos o nosso banho, esperámos que nossos corpos secassem e vestímo - nos novamente para prosseguirmos a nossa caminhada nas profundezas deste planeta que nos tem deslumbrado na sua plenitude.

Mais adiante, de exploração em exploração, os nossos olhos vão bebendo tudo aquilo que  é possível ver e observar. O centro deste planeta é tão rico e tão vasto que  os nossos olhos não se fartam de ver tanta maravilha que compõe a sua natureza bela e delicada.

Descemos do nosso cavalo.

Agora andamos a pé porque a floresta agora não é tão densa, e ao mesmo tempo, sempre damos um pequeno descanso ao nosso guerreiro que nunca se nega a tudo o que desejamos. A Niray e eu vamos de mãos dadas à frente e o nosso cavalo acompanha - nos atrás, sempre imponente com os olhos fixos em nós, como que a proteger- nos de qualquer perigo que possa surgir.

Caminhamos lentamente e enchemos os pulmões deste ar puro para ganharmos resistência para as próximas etapas quando sairmos deste planeta azul que nos fascina e nos enche de paz.

Sempre em frente é o nosso lema. Paz, amor e ternura comemos todos os dias para nos alimentar a alma e nos ajuda nos nossos objectivos que, enquanto estivermos no espaço é desvendá - lo o mais possível e neste aspecto somos insaciáveis. Sempre mais e mais.

Estamos cheios de felicidade, embora longe da civilização. Nada nos falta, temos tudo o que necessitamos. Para sermos felizes não é preciso muita coisa. O conceito de felicidade não é igual para toda a gente. Uns são mais ambiciosos do que outros.

Mas nós, aqui, não somos exigentes, contentamo- nos com o que a natureza nos dá e nada mais queremos. Sentimo - nos felizes assim, com amor mútuo.

Diz - me a Niray : escuta Sem Nome, não ouves um ruído que vem do solo ? Esperei um pouco, é verdade mas que ruído tão esquisito. Parece algo que vem a rastejar. Continuamos a andar mas já com toda a atenção para ver donde vem o ruído. De repente diz - me a Niray : Olha, são formigas enormes, todas azuis, com enormes mandíbulas. Pois é, tens razão, é um exército de formigas enormes como nunca vi. À sua passagem destroem toda a folhagem que está rente ao solo e levam um rumo certo. Passam perto de nós e param, havendo momentaneamente  um silêncio. Todas dirigem a sua cabeça com as suas                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          enormes mandíbulas para nós, fazendo gestos de agressividade. Estamos um pouco surpreendidos e algo assustados. Parece que nos estão a cheirar, diz - me a Niray. Fiquemos quietos, retorqui. Não sabemos o que vai acontecer. Assim fazemos, e elas continuam com os gestos agressivos com as suas mandíbulas. O nosso cavalo relincha, quebrando o silêncio e nós subimos para o seu dorso porque é a nossa única e valente protecção. As formigas reiniciam a sua marcha, agora em círculo, sendo nós o seu ponto central. Completam o seu cerco à nossa volta e ficam novamente paradas, fazendo as suas ameaças. A Niray agarra- se a mim  e diz a tremer : que fazemos Sem Nome?  Tem calma e confiemos mais uma vez no nosso cavalo guerreiro. Elas vão apertando o cerco matraquejando as suas mandíbulas, com ar de intimidação. Agarro - me ao pescoço do nosso cavalo e digo - lhe: vamos a elas meu grande amigo. Não esperou que lhe repetisse e desfere automáticamente, com os seus olhos jactos de fogo sobre o inimigo em várias direcções, provocando baixas consideráveis. Elas tombam fazendo um grunhido impressionante. As que sobrevivem põem - se em fuga, muito dispersas, desaparecendo num ápice.

Estás a ver Niray, como tudo foi resolvido pelo nosso protector ? É verdade, não há dúvida que sem ele somos nada. Claro, se não fosse o nosso cavalo, não estávamos neste lugar de sonho.

Estamos numa área em que a floresta é pouco densa, com algumas clareiras. Não sei que voltas é que demos que estamos novamente perto do mar que descobrimos quando chegámos ao centro deste planeta, provocando - nos alguma surpresa. Aqui não damos pelo tempo passar. Parece - nos tão veloz como o pensamento. Montados no dorso do nosso cavalo caminhamos lentamente em direcção ao mar, ouvindo - se o seu sussurrar característico que nos enche o espírito de bem estar, que só o mar sabe proporcionar.

Que rico cheiro a mar, diz- me  a Niray. Até apetece encher os pulmões e gritar "viva a felicidade". Então gritemos bem alto "viva a felicidade". Este grito fez eco várias vezes através do tempo, perdendo - se no infinito do interior deste planeta surpreendente.

Descemos do nosso cavalo e estamos sentados sob as frondosas árvores. Estendemo - nos para trás e com as mãos atrás da cabeça, descansamos a olhar para a copa das árvores de folhagem sempre azul. Nem parece que estamos no interior de um planeta. Que bom estar aqui Sem Nome. Por mim ficaria muito tempo mas, pronto já sei o que vais dizer. Ainda não disse nada e como é que adivinhas o que te quero dizer ?  Já sei que vais dizer que temos muito para explorar no espaço, balbuciamos ao mesmo tempo. Rimos.

Dormimos descuidadamente um sono profundo. Ao acordar diz - me a Niray : Sonhei que tínhamos visto animais semelhante a árvores na horizontal e que as suas imensas patas eram as raízes. Mas que engraçado Niray, eu sonhei o mesmo. Mas que coincidência minha amiga. Até nos  nossos sonhos estamos unidos. Que bom Sem Nome, sermos assim. Sem dúvida minha querida, é o amor que paira no ar.

O nosso amor parece um romance dos antigos. Quem sabe se não degredimos no tempo ? Não achas Niray, que Já preguiçámos o suficiente ? Tem calma, Sem Nome, deixa de ser apressado, contempla e usufrui desta natureza bela, porque nunca mais vamos poder fazê - lo, quando sairmos daqui.

Olha, olha, olha, Niray. Que aflição é essa meu querido ?  Mas olha Niray. Mas olho o quê Sem Nome ? Estou sem palavras. Os nossos sonhos são realidade. Que me dizes Sem Nome ?

Vejo que a Niray Também já observou e tem a mão na boca e os olhos muito abertos . As árvores que andam, aí estão elas. Regressaram dos nossos sonhos Niray. Sem dúvida Sem Nome. Como é possível uma coisa destas ? Árvores que andam e as pernas são as raízes?  São muitas. São quase a floresta inteira que anda numa correria. Mas isto será verdade Niray ? Não será sonho ? Não é Sem Nome, eu também vejo. Vamos fechar os olhos Niray e pensar que isto não passa de um sonho. Não podemos enterrar a cabeça na areia para não ver a realidade, Sem Nome.  Vamos fechar os olhos, pode ser que, quando os abrirmos isto já não exista. Pronto, Sem Nome, façamos.

Agora já podemos abrir novamente, Niray. Estamos novamente espantados. Agora as árvores estão em pé e dançam com a sua folhagem, como se fossem gigantones, com muitos braços. Até o nosso cavalo parece que se ri, desta situação. A dança continua e nós estamos boquiabertos a apreciar toda esta festa arbórica ?

Que fazemos Niray ? Nada Sem Nome. Esperemos que este folclore chegue ao fim. Está a ser muito agradável. Espectáculos de danças com árvores, não se vê todos os dias.  Agora, até os passarinhos chilreiam, fazendo de orquestra que, emprestam à natureza um ambiente espectacular.

Isto é lindo, Sem Nome. Árvores a dançar e passarinhos a cantar, num ambiente todo azul celeste, só num paraíso como este. Pois é minha querida, isto é um hino ao nosso amor, não achas ?  Concordo contigo. É muito romântico. Aliás, tu és um romântico por natureza, Sem Nome.

Vamos estender-nos novamente Sem Nome e tentar dormir um pouco, ao som deste espectáculo fabuloso que nos embala para um novo descanso da nossa mente. Façamos então.

Dormimos, dormimos, dormimos.

Ao acordar todo espectáculo acabou e nós fazemos, oh, oh, oh, de muito admiração e pena.

 

A nossa missão neste planeta chegou ao fim. O nosso cavalo sai a toda a velocidade pela gruta por onde entrámos, atirados para o  espaço para novos encontros que não sabemos se serão imediatos.

 

 

 

                                            CAPÍTULO XIV

 

                                               LOUCURAS

 

 

Niray, felizmente que estamos novamente em espaço aberto. Abrimos os braços e gritamos : à nossa aventuraaaaaaa ! O nosso cavalo acompanha- nos com um relinche especial que nos enche os ouvidos e o espírito de auto estima e valentia para continuar na senda do espaço estelar.

Que achas que encontraremos a seguir. É difícil prognosticar Sem Nome. Voemos através da liberdade e depois logo se vê. Tens razão mas, já estou a ficar em pulgas para outras aventuras. Abrimos novamente os braços em cima do nosso cavalo, como que se toda a eternidade nos pertencesse. Voamos sem rumo para encontrar o rumo certo. Voamos no presente para alcançar o futuro, esse eterno desconhecido que nos faz pensar, viver, lutar e morrer para alcançar a vida.

Este céu negro é o nosso cenário permanente crivado de milhões de astros que são na sua essência, do passado e que para nós representa o futuro porque não os desvendámos. Dentro da nossa ambição bem gostaríamos de os conhecer um por um mas reconhecemos que é uma tarefa impossível de realizar porque embora o tempo seja uma eternidade, para nós é muito curto, isto é uma passagem breve, comparada com a sua dimensão.

Enquanto faço estas deduções só para mim, voamos no nosso cavalo neste espaço agreste e gélido e ao mesmo tempo, penso como resistimos nós a isto tudo? Faço esta pergunta à Niray, em  voz alta, ao que ela responde : não vês que o nosso organismo adapta - se a tudo e além disso temos a magia do nosso cavalo que é essencial à nossa permanência no espaço, como se fosse o nosso habitat natural.

Sem ele nada disto era possível.  Está claro Niray, concordo com a tua sábia explicação. De ti não esperaria outra coisa. Muito obrigado meu querido. Beijamo - nos. Desculpa a minha ignorância mas, ao mesmo tempo penso que se deve perguntar a quem sabe quando se desconhece. Isso não é ignorância, Sem Nome, é vontade de conhecer, é uma manifestação de inteligência que, é bom para qualquer pessoa e além disso, o saber não ocupa espaço e só o medíocre está sempre satisfeito com o que tem!...

Estou sempre a aprender com a minha companheira de jornada. Sem ela esta seria monótona e impossível de suportar uma solidão procurada.

Vemos no espaço mas, ainda muito longe, uma coisa que nos chama à atenção, muitos círculos luminosos dentro uns dos outros em constante mutação de cores vivas que se destacam muito, dentro do céu escuro que nos provoca muitas interrogações, das quais nunca obteremos resposta, a não ser as dadas pelo tempo.

 

Ó Sem Nome, o que estamos a ver é espectacular. Nunca tínhamos encontrado uma coisa assim. É verdade Niray. Que tipo de astro será aquele ? É fácil de saber, voemos para lá e tudo se clarifica. Assim seja. É como uma expressão que diz lá na minha Terra que é assim : quando um diz, mata, o outro diz esfola, o quer dizer que se está em sintonia perfeita com outra pessoa. É muito engraçada essa expressão, Sem Nome. Há estas e muitas mais, Niray que, não são menos engraçadas do que esta e eu conheço algumas delas que, são muito acertadas e têm a sua razão de ser.

Vamos então a caminho daquela auréola.

O nosso cavalo acelera e parimos cheios de animosidade para mais um aventura espacial.

No centro daquela auréola  brilha uma estrela que cintila tornando o astro um centro espectacular de luzes e cores que se vão acentuando à medida que nos aproximamos e nos vai criando uma ansiedade para vê - la de perto.

Enquanto voamos para o nosso objectivo passam por nós milhões de flocos que parecem de neve mas que cintilam parecendo as luzes de um presépio, envolvendo - nos completamente, fazendo esquecer momentaneamente  o outro astro que é nossa intenção imediata de investigar. Estes flocos de neve que mais parecem cristais, formam uma mancha extensa  que, levamos algum tempo envolvidos nela, cobrindo - nos de um branco muito brilhante mas, desaparecendo logo de seguida pela sua sensibilidade e leveza.  Pareço o pai natal com barbas brancas, faltando apenas o barrete vermelho, para ficar completo. O cabelo da Niray, também está coberto destes flocos brancos que, nos dá um ar de envelhecimento. Rimos bastante e os flocos não ficam por muito tempo, dissolvendo - se no espaço.

Vamo - nos aproximando cada vez mais da nossa auréola multicolor, mostrando a sua grandeza  mas, ainda muito distante da nossa vontade. Nesta viagem vamos encontrando no espaço, nuvens de seres minúsculos parecidos aos pirilampos que piscam constantemente e que colidem connosco e alguns se agarram a nós, que nos fazem piscar também por simpatia. Sacudímo - los  mas alguns resistem parecendo querer viajar connosco para nos iluminar o caminho espacial, acabando ao fim de algum tempo, por ficaram pelo caminho, pela força da deslocação, deixando um rasto atrás de nós, de fogo de artifício simulado.

O nosso cavalo repentinamente dá um guinão para se desviar de qualquer coisa que não nos apercebemos e quase fomos cuspidos do seu dorso se não fossem os nossos rápidos reflexos em agarrármo - nos bem a ele. Apanhámos um susto dos grandes. A Niray soltou um grito tão agudo que quase me feriu os tímpanos.  Abraça- me tão fortemente que quase me sufoca, dando - me um beijo quente que só ela sabe dar.

Tem calma Niray, o susto já passou. Achas que não tenho motivo para estar assustada ? Evidentemente que sim mas, são apenas peripécias da viagem.

Aprecia bem a auréola, cada vez está mais linda  e colorida que, com certeza te vai fazer esquecer um pouco o susto que apanhámos. Tens razão Sem Nome, aquele astro ou lá o que seja está cada vez mais bonito mas espero que não seja aparentemente. Porquê ?  Vaticinas alguma coisa  de mal. Não sei mas às vezes as coisas lindas demais  têm os seus senãos. Não me assustes agora Niray. Também não é motivo para tanto mas, não faz mal precaver - nos.

Embora já nos pareça enorme, a auréola ainda está um pouco longe mas a nossa indómita vontade é querer lá chegar o mais depressa possível para matar a nossa curiosidade.     

O voo é longo  e mais longo parece ser porque a vontade chegar ainda é maior. A paciência é inimiga da pressa e saber esperar é uma virtude. Estes conceitos devem ser levados em conta em tudo aquilo que fazemos para que tudo seja bem feito.

Portanto, temos que dar tempo ao tempo, porque tempo nunca tem fim. O voo é longo mas será feito,  muito embora com escolhos neste trajecto que, talvez ainda estejam por vir.

A crina do nosso cavalo solta ao vento da sua deslocação, parecem raios de luz que brilham no céu imenso para alcançar a auréola da nossa vontade mas, ainda temos muito que voar para se concretizar mais esta nossa viagem.

O nosso cavalo relincha repetidamente e nós ficamos com os cabelos em pé porque anuncia próximos perigos iminentes. Olhamos, olhamos mas, ainda não vislumbramos nada. Estamos alerta porque alguma contrariedade vai surgir.

Pouco tempo passado do aviso do nosso valente guerreiro, avistamos um bando de aves negras tão grandes como a nossa preocupação. Parecem naves vivas mas em  forma de aviões. O nosso cavalo acende os faróis dos seus olhos já em posição de ataque. Estamos cientes da sua valentia mas, estamos sempre receosos de algum mal que nos possa acontecer. As aves gigantes são muitas e têm umas garras tremendas que estão abertas, prontas para nos atacar. Nós estamos bem agarrados ao nosso cavalo que relincha como nunca. Elas tentam envolver - nos  e o nosso cavalo sobe repentinamente, ficando em posição cimeira. Elas fazem braaa..braaa, braaa, e fazem - nos voos razantes que nos fazem pequeninos, em cima do nosso cavalo. Os olhos do nosso cavalo estão bem acesos e voa agora em posição frontal aos seus inimigos parecendo ir chocar com as aves mas, ludibria - as  ficando numa posição estratégica. As aves avançam para nós de garras abertas prontas para nos agredirem.

Põem - se em fila e uma a uma tentam alvejar - nos mas, o nosso cavalo lança o primeiro aviso, um lancinante raio de luz  que queimas as asas da primeira ficando a flutuar no espaço completamente morta. Em voos desconcertados elas tem retaliar mas o nosso cavalo lança mais um tiro certeiro e mais uma fica a flutuar. Mesmo assim, elas não desistem e atacam novamente fazendo braaaaaa, braaaaa, com todo o vigor para nos intimidar. Nada disto serve, porque o nosso valente cavalo queima mais duas  que jazem no espaço. As outras desistem voando para bem longe, ouvindo os seus braaas, braaas, em debandada, até que as perdemos de vista.

Vês Niray, como o nosso cavalo resolve estas situações ? Não é justo que nos assustemos como que, a pôr em dúvida as suas  capacidades bélicas . Não é isso Sem Nome, é normal a nossa reacção perante o perigo, sem pôr em causa o mérito do nosso grande cavalo. Tens razão, não estava a raciocinar bem.

Perdemos tempo nesta contenda mas vamos recuperar para alcançar a nossa auréola que cintila cada vez mais perto e a mostrar os seus círculos multicolores  que guardam a sua estrela central. A sua luz, parece que nos chama mas, temos que aceder com todo o cuidado.

Decididamente vamo - nos aproximar do astro a investigar. Esperamos que não tenhamos mais precalços até lá chegar. Com a velocidade que o nosso cavalo imprimiu não falta nada que não estejamos em cima do acontecimento. Estamos agora mesmo na posição frontal aos círculos que parecem ser de poeiras e gases mas que, cintilam e rodeiam a sua estrela. É deslumbrante o espectáculo que presenciamos. As cores são tão vivas que quase nos ofuscam os olhos. Começamos neste momento a rodear este astro colorido mas, ainda não nos aproximámos o suficiente para a nossa investigação, por mera precaução porque não sabemos se a sua força de gravidade é muito forte ou não.

A estrela está à porta de um túnel escuro que parece não ter fim e deve ser trágico para quem tentar lá entrar. Continuamos nos nossos círculos e num ápice sentimos que estamos a ser atraídos par o centro da auréola  como que a querer engolir - nos .

Muito assustados,  o nosso cavalo está a fazer uma força hercúlea para sair da área de sucussão. A Niray grita em pânico: Sem Nome desta vez vamos morrer. Também assustado tento acalmá- la, gritando - lhe : Mantem - te firme e confiemos no nosso cavalo. Pois eu tenho confiança mas, ao mesmo tempo vejo que estamos a ser atraídos para o maldito túnel. Agarro - me ao pescoço do nosso cavalo e digo - lhe: salva - nos meu bom amigo como já fizeste outras vezes. Ele relincha, relincha, com toda sua energia, dando um impulso fantástico e sai disparado desta maldita força gravitacional. Respiramos fundo de alívio e afastamo - nos o suficiente para presenciarmos este lindo mas, perigoso astro que nos queria engolir e reduzir a nada no seu infinito túnel escuro. Não sei como a estrela se mantém firme no centro do buraco negro. Faz parte dele.

Estamos a navegar numa zona do espaço onde os buracos negros proliferam como que à espera dos incautos. Estes buracos são enormes apenas rodeados por um anel de luz formado de poeiras e gases que são atraentes, mas perigosos. Muitos deles expelem um raio de luz verde muito brilhante com quilómetros de comprimento, como que a querer vigiar - nos.

Estes buracos negros enormes parecem - nos estrelas mortas. Estamos a ver uma delas que está moribunda e que expele  milhões de bolinhas de fogo como se fossem lágrimas transparentes que parecem sorrir para nós. Todas elas, dão origem  a milhões de estrelas que cintilam e cobrem o espaço e muitas estão tão unidas que parecem formar uma estrada de luz, convidando - nos para um longo passeio.

Mais à frente, descobrimos um grande anel de gases e poeiras, todo alaranjado e no seu centro existem outros anéis que giram a uma velocidade estonteante formando um enorme remoinho que engole tudo o que lhe aparece por perto. Fazem lembrar os grandes remoinhos que se encontram nos mares existentes na Terra. É assustador a forma como gira e parece conduzir a um túnel escuro igual aos outros que temos encontrado por aqui. São medonhos mas, nós continuamos a apreciá - los mas, afastados.

Aqui, nesta zona, também existem imensas galáxias que formam as diversas auto estradas do firmamento por onde nós gostaríamos de transitar mas não sei se será possível, em virtude de não termos o prazo de Deus para poder investigar tudo. Se fôssemos donos deste prazo, de certeza que nada escaparia à nossa investigação. Assim, temos de nos condicionar à nossa situação de seres mortais comuns e aproveitar ao máximo o nosso prazo de vida que é efémero. Não sei se isto se aplica a nós, uma vez  que enquanto estamos no espaço muito longe dos nossos sistemas solares, da Niray e meu, não sentimos o envelhecimento.

Enquanto navegamos muito lentamente quase à velocidade do descanso para descontrairmos física e espiritualmente diz - me a Niray : Estou numa fase de descontracção tão grande que só me apetece sair do nosso cavalo e flutuar no espaço para sentir a sua  tranquilidade. É verdade Niray, nunca experimentámos semelhante aventura, deve ser bom. E se passássemos da teoria à prática ? Ó Sem Nome, eu disse isto como uma força de expressão, uma brincadeira. Não estou a encarar o que disseste como uma força de expressão mas sim uma realidade. Vamos experimentar Niray. Estás louco S.N. ? Não, não estou, e digo mais, se não queres faço eu. Pronto está decidido, tu ficas no cavalo e eu vou nadar livremente no espaço. Não faças isso, que me enervas. Não tenhas medo, eu fico por perto  mas, se alguma coisa correr mal tu ajudas - me. Não faças isso S.N., não me deixes só. 

Ponho - me em pé em cima do cavalo, dou - lhe um beijo e lentamente escorrego pelo seu dorso e fico a flutuar de braços abertos, a girar muito devagar sobre mim. Que sensacional Niray !

Isto é maravilhoso, vem para junto de mim. Não, tenho medo. Não faz mal, experimenta. Ao fim de muita insistência lá consegui convencer a Niray, a descer do cavalo, dando - lhe a mão. Estamos então os dois de mãos dadas no espaço à volta do nosso cavalo que parece sorrir de satisfeito.

Que dizes a esta sensação Niray ? É maravilhoso. Viva a liberdade. Estarmos no espaço livremente é como  nadarmos nus em pleno oceano, não achas Niray ? Sem dúvida, até parece mentira. De mãos dadas damos cambalhotas e rimos a bom rir. O nosso cavalo está sempre de olho em nós, a girar à nossa volta para nos proteger e relincha de contente, acompanhando a nossa brincadeira sempre de perto.

Estamos há muito tempo a saborear a liberdade espacial mas, o nosso cavalo está inquieto. Se calhar acha que já estamos há muito tempo sem ele. Está com ar de zangado. De repente lança sobre nós uma onda de magnetismo e teletransporta - nos para o seu dorso com uma rapidez espantosa. Ó Niray, estou estupefacto. Eu também S. N. É mais uma coisa que ficamos a saber que o nosso cavalo é capaz de executar. Estamos muito contentes porque assim já podemos experimentar flutuar, sós no espaço sem receio.

Acabou a hora de lazer, continuamos a nossa viagem entre as lágrimas de algumas estrelas, agarrando de vez em quando, uma que brilha nas nossas mãos como um farol e em seguida libertamo -la,  para que se cresçam e vivam por muitos milhões de anos.

Depois dos buracos negros, agora sentimo - nos como no paraíso sem quaisquer obstáculos. É bom navegar assim mas, não se sabe por quanto tempo.

Navegamos no espaço e no tempo, completamente descontraídos sempre na espectativa de encontrarmos algo surpreendente para guardarmos no album das nossas memórias. Agora, atravessamos uma zona do espaço bastante gélida e o nosso cavalo, para nos proteger expele calor do seu corpo formando uma cápsula que nos envolve e nos mantém a uma temperatura agradável. Este nosso cavalo funciona como uma nave viva e só por isso é que conseguimos manter - nos no espaço. Para nossa surpresa, começam a aparecer uma grande quantidade de blocos de gelo de tamanhos diferentes que, parecem autênticos icebergues do espaço. Flutuam a uma velocidade considerável que nos obrigam a fazer desvios muito rápidos para não chocarmos com eles. A quantidade de icebergues é tanta que aqui o espaço parece um mar gelado, obrigando o nosso cavalo a expelir pelos seus olhos tiros de fogo para os destruir e abrir caminho para podermos passar, como se fosse um quebra gelo.

Vamos em voo lento,  atravessando este mar gelado, dentro da nossa cápsula magnética  que o nosso cavalo formou. Ao fim de algum tempo de navegação, a quantidade de icebergues começa a diminuir , o que quer dizer que a travessia do mar gelado está a acabar. Finalmente atravessámos este obstáculo mas, o espaço gélido ainda continua porque o nosso cavalo ainda não desfez a cápsula. 

Repentinamente começa uma grande quantidade  de rolos de poeira todos de uma cor esverdeada que parece um vento de gases que se deslocam a uma velocidade tremenda, provocando muitas faíscas no seu seio. Diz - me a Niray : isto é uma tempestade enorme que estamos a atravessar, parecendo um autêntico tufão. É verdade estamos a navegar numa zona muito turbulenta, embora dentro da nossa cápsula não sintamos nada. Já viste Niray, que estamos em dificuldades para vencer a força desta tempestade? Já me apercebi disso mas, estamos confortáveis e confiantes na travessia. O vento carregado de poeiras e gases sopra a uma velocidade incrível e é tão denso que praticamente não se vê nada à nossa frente. A nossa nave viva está a fazer um esforço enorme para vencer a sua raiva mas, vai conseguindo porque ele é forte e irresistível. Nós, dentro da nossa  cápsula invisível também fazemos muita força para vencer a tempestade infernal mas, a capacidade total é do nosso cavalo que nos guia pelo caminho certo ou seja, pela alma do infinito que é tão grande como prazo de Deus, uma eternidade.

A tempestade está a dissipar - se, para nosso contentamento e muito em breve vamos estar novamente num mar de calmaria que bem precisamos, depois deste terrível contratempo, como  acontece neste preciso momento.

Agora temos na nossa frente, mesmo perto de nós uma estrela moribunda  que nos desperta muita curiosidade. Ela é enorme e majestosa mas, já sem brilho, tendo já derramado todas as suas lágrimas de luz que brilham agora noutra galáxia.

Ora, temos agora oportunidade de investigar uma estrela quase morta, que achas Niray ? É fantástico S. N., estava a pensar precisamente a mesma coisa. Quer dizer que estavas a fazer telepatia sem querer? O poder da mente é muito grande e temos que exercitá -la, porque há ocasiões em que nos pode salvar mas, também matar.

E se tentássemos, com este mesmo poder da mente, fazer o mesmo que o nosso cavalo faz, para se defender dos inimigos, lançar raios de fogo pelos olhos ? Ó S.N. isso é um poder inexplicável que ele tem, nós com certeza não conseguimos fazer isso. Já experimentaste para saberes se consegues ou não ?  Eu não mas, digo - te que é impossível. Antes de entrar na estrela moribunda devíamos tentar. Isso requer um grande poder de concentração mas, não é para este tipo de coisas. Olha Niray, eu acho que não há impossíveis e lá diz o ditado "mais faz quem quer do quem pode". Não custa nada experimentar. Está bem, convenceste - me. Então está bem, concentremo - nos. Vamos pensar só num inimigo e que temos de o eliminar com os nossos olhos.  Assim seja. Espaço de concentração. ...

Passado algum tempo, mas já muito cansados, começa a sair dos nossos olhos um raio temeroso de luz e gritamos os dois ao mesmo tempo, eureka, conseguimos. Temos de fazer isto mais vezes para aperfeiçoarmos este poder. Diz a Niray, eu acho que por agora chega, senão queimamos os fusíveis. Rimos à gargalhada.

Agora vamos tentar entrar na estrela quase morta. Estamos a fazer investigação à sua superfície para saber se podemos pousar. Parece estar tudo bem e assim tentamos a descida. Lentamente o nosso cavalo vai descendo e já estamos a tocar na estrela mas não encontramos solidez e a pouco e pouco vamo- nos enterrando nela, porque a sua composição é apenas de gases e poeiras que imitam muito bem o solo. Gritamos para o nosso cavalo, sai, saiiii e ele dá um impulso com toda a sua energia  e conseguimos livrarmo - nos deste poço da morte.

Apanhámos um grande susto.

Já estamos distante desta estrela moribunda e assim respiramos fundo, aliviados de uma possível queda no abismo estelar que talvez nos fosse fatal. Nunca seria fatal, porque, com certeza, o nosso protector não o iria permitir.

Voamos novamente em espaço aberto, límpido como a alma de um anjo, tendo como tecto todos os milhões de astros que povoam o infinito. Podemos observar sem qualquer dificuldade todas as estrelas que nos envolvem e atraem a nossa curiosidade inesgotável. Tudo isto nos parece um sonho sem fim, viver todas estas aventuras no dorso de um cavalo voador, senhor do Universo e nós os seus tripulantes.

Ó Niray e se tentássemos novamente a nossa experiência de força mental ? Lá estás tu outra vez, S. N. Isso faz cansar muito a mente. Faz cansar mas dá resultado. Já viste se nós conseguirmos fazer o mesmo que o nosso cavalo, atirar jactos de fogo para os nossos inimigos, dava muito jeito. Assim já éramos três a fazer guerra e auxiliávamos o nosso cavalo que, já deve estar cansado de fazer tudo por nós. Ele não se cansa nunca de fazer bem. È como um grande amigo.

És persistente S.N. É assim que se conseguem as coisas, com a nossa luta, grande fé no que fazemos e muita persistência. Não se deve desistir facilmente. Está bem, vamos então praticar o nosso poder da mente. Atenção, concentração. ...

Ena, S. N. consegui agora enviar um raio de fogo a uma certa distância. É fantástico. Eu também consegui Niray, olha para isto. Boa, agora já podemos enfrentar os nossos possíveis inimigos.

Estamos entusiasmados com esta experimentação. É mais uma arma que possuímos para nos defendermos.

Ainda no meio deste entusiasmo vislumbro no espaço muitas figuras de preto que parecem voar montadas numa vassoura. Estás a ver, não estás Niray ? Sim, sim, são figuras estranhas e bizarras e dirigem - se para nós. Agora vendo mais de perto, exclamamos : são bruxas, são muitas bruxas. Que será que elas querem ? Boa coisa não é, responde a Niray. Preparemo-nos, para o melhor e para o pior.

São feias como os trovões, com um nariz que parece um cajado. Até metem medo ao susto. São um autêntico terror.

Todas elas se perfilam e começam a fazer - nos um cerco que parece ser cada vez mais apertado e por isso, o nosso cavalo voa para cima e sai da órbita delas, deixando -as  no seu cerco agora sem nós lá dentro.

Elas não desistem e tornam a cercar - nos, agora com maior agressividade. O nosso cavalo forma o seu escudo protector invisível e assim sentímo - nos mais seguros e à vontade. Novamente o nosso cavalo sai do seu cerco que a todo o custo nos querem fazer. Agora elas riem, ah, ah, á á á  á, que até arrepia, parecendo zombar de nós. Elas já vão ver o que é bom para a tosse.

Das suas vassouras disparam bolas de fogo, só que não nos atingem por temos o escudo protector e o nosso cavalo é mais rápido. Ainda não nos começámos a defender para dar a entender que temos medo delas. Continuam a disparar cada vez mais e cada vez mais de perto, só que os tiros  batem nosso escudo invisível e deslizam para o espaço, o que parece irritá - las muito e agora somos nós que rimos nas suas caras más e feias.

Elas persistem  e agora passam por nós em fila, montadas nas suas vassouras e disparam todas ao mesmo tempo mas o nosso cavalo rapidíssimo sai da sua direcção  e ficamos numa posição estratégica ideal para acabar com elas.

O nosso cavalo começa a disparar raios de fogo, assim como nós, com o nosso poder da mente e disparamos os três ao mesmo tempo, atingindo mortalmente algumas das bruxas, deixando - as a flutuar no espaço. As outras irritadas disparam com toda a força, sobre nós mas, em vão. Em resposta, nós lançamos um segundo ataque e como é bom vê - las  esturricadas, a flutuar no espaço. Nem sequer ficou uma para contar.

Vês Niray, como o nosso poder da mente conseguiu ajudar o nosso cavalo nesta batalha contra as bruxas ? Concordo inteiramente contigo. Não foi bom o que fizemos mas tivemos que nos defender.

Isto será verdade Sem Nome, lutar contra bruxas ? Não serão alucinações ? Também há bruxas no espaço ?  Pois é Niray, pode ser fruto da nossa imaginação mas, o certo é que lutámos com elas. Estaremos os dois alucinados ? Não sei Sem Nome, chegou a um certo ponto que, já não sei distinguir o que é verdadeiro, do que é falso. Estaremos malucos ? Não me parece, Niray. Nós vímo - las, confrontámo -las, não pode ser falso. 

Não estaríamos a sonhar Sem Nome ? Eu não estava de certeza. Não tenhas tanta certeza assim, porque a nossa mente é capaz de inventar tudo. Não era invenção Niray, eu vi e tu viste. É verdade mas, como parece impossível haver bruxas no espaço, é por isso que duvido. Pensando bem, as bruxas estão espalhadas pelo mundo inteiro. Na Terra tenho a certeza que há bruxas e bruxos mas, nunca os vi a voar de vassouras mas sim a caminhar como nós e que estão sempre preparados para apanhar os pacóvios.

O certo, Sem Nome, é que elas estão cá e não é só o nosso cavalo que voa. Parecem bruxas eléctrónicas Niray. Fizeste- me lembrar uma coisa, com essa tua observação. O que é Niray ?

Podes ter a certeza que estes personagens são fruto de qualquer planeta habitado e que as enviam como espiões, para entrarem noutros planetas e tentarem destruir tudo o que se lhes oponha e ao mesmo tempo levar informações de todo o tipo, para enriquecer o seu património intelectual e bélico. Tens razão Niray, é isso mesmo e agora, já posso estar descansado porque não estamos doentes da mente.

Isto de espionagem, faz - me lembrar o meu planeta Terra, porque lá também fazem este tipo de serviço, tendo alguns países, grandes redes desta actividade e que até fazem filmes comerciais baseados nestas aventuras.

No teu planeta também é assim Niray ? Claro que sim Sem Nome. Isto é uma praga que está em todos os planetas com civilizações avançadas, com a ambição do poder, sem olhar a meios, para alcançar os fins.

Já viste Sem Nome, o dinheiro que se gasta com tantas actividades bélicas que, serviria para que ninguém passasse mal ?  Tens toda a razão, o homem é mau e egoísta, só pensa nele.

 

 

 

 

 

 

 

                                              

                                              CAPÍTULO XV

 

 

                                    O PLANETA DOS SONHOS

 

 

 

Navegar é navegar e o que passou é passado, o presente não existe e o futuro é objectivo. Concordas comigo Niray ? Plenamente de acordo mas, ao mesmo tempo deixa - me dizer - te que pareces um filósofo. Não sou mas todos nós temos um pouco de filósofos. De qualquer modo, obrigado pelo elogio. Na minha Terra até se costuma dizer que, de médico e louco todos temos um pouco. Mas que engraçado, Sem Nome, tu de muitas conversas que temos, utilizas quase sempre um provérbio que, se coaduna com o assunto da mesma. Até podia dizer, Niray que de sábio e louco, todos temos um pouco que, também serve e melhor se adapta à nossa conversa de agora.

Fazemos rumo a outro destino, possivelmente a outro planeta de uma outra galáxia, das muitas que existem neste universo, porque já há muito tempo que não pisamos solo planetário e investigarmos a sua textura  e talvez achamento de vida e de preferência pacífica, muito embora nada dependa da nossa vontade neste sentido. É apenas um desejo mas que nem sempre é satisfeito, é preciso lutar para o ter.

Nada faz sentido se o sentido nada faz mas, faz sentido o desejo de viver e de saber, que é o que mais desejamos na vida que sentimos. Lá estou eu outra vez com os espirros filosóficos. Isto devem ser coisas do espaço que nos alargam a veia filosófica.

A viagem feita em sossego dá para pensar e filosofar, que exercita e faz desabrochar o cérebro, tanto para o bem, como infelizmente para o mal. É por isso que eu gosto do sossego e às vezes da solidão. Esta, nem sempre é prejudicial como se costuma pensar. Às vezes a solidão ajuda a pôr as ideias no lugar para agirmos com senso e dignidade que fazem falta a muitos de nós.

Niray, vê se descobres um planeta para fazermos a nossa próxima etapa. Está bem Sem Nome, vou tentar fazê -lo, mas há tantos e tantos que, de tantos há tão poucos. Bem já não sou só eu que estou louco ou sábio, tu também já foste afectada pelo vírus espacial. Achas, Sem Nome que isto pega - se? Talvez, nunca se sabe. Bem, voemos então de olhos postos nos astros, para tentar descobrirmos um para efectuar a nossa próxima visita. Temos todo o tempo do universo mas vou tentar descobri - lo o mais rápido possível, porque na realidade já tenho saudades de chegar a outro planeta. Também eu Niray estou desejoso de pisar o solo de um mas que seja diferente de todos os outros. Isso não depende da nossa vontade S. N. porque não podemos prever o que lá vamos encontrar. Mais uma vez tens roda a razão, tenho que dar a mão à palmatória. Não é preciso Niray, eu nunca a utilizaria para te repreender. Estou a brincar. Eu sei meu querido, dá - me um beijinho.

Depois de algum tempo de voo diz - me a Niray : Descobri um planeta, S. N., olha bem para ele, tem uma luz tão intensa que se destaca de todos os outros. Olho bem para o ponto do espaço que a Niray me indica e efectivamente lá está o astro todo brilhante como que a chamar - nos para uma visita .

Agora o nosso rumo é para lá. O nosso cavalo de fogo voa que nem uma flecha na direcção do planeta,  cheio de luz, objecto da nossa curiosidade. Não tarda que o alcancemos e ao mesmo tempo já começo a pensar  se será montanhoso, vulcânico, se tem vida e se tiver que espécie de vida será? Muitas interrogações se colocam na minha cabeça mas nada melhor do que esperar pelo momento certo do nosso poiso.

Vamos encontrando pelo  caminho muitos meteoritos que flutuam no espaço, possivelmente desintegrados de outros astros e que vagueiam inertes e sem destino dentro da eternidade do universo que nos abraça sem sentirmos.

Repara Sem Nome naqueles cometas com uma cauda enorme de gelo que passam por nós a uma velocidade incrível. É lindo Niray. Havia muito tempo que não víamos tantos cometas que riscam o firmamento como se fosse um lápis de prata num papel escuro. É bonita a comparação que fazes. Pois é Niray, além de filósofo também quero ser poeta. Não tarda que me digas que sofro de narcisismo, não é Niray ?  Longe de mim S. N., acho até que és bem modesto. Estava a brincar.

Com a conversa nem nos apercebemos que estamos bem perto do planeta a investigar. É enorme e redondo com sete luas à sua volta como sentinelas guardando o seu tesouro. Apesar de perto ainda estamos relativamente longe de o alcançar mas, o nosso desejo é tão grande que o tempo de viagem nos parece infinito.

Nuvens de gases e poeiras cósmicas estão a aparecer na estrada espacial para o nosso alvo que é o próximo planeta a visitar mas não sentimos qualquer dificuldade na sua travessia, apenas nos causa uma certa impressão pela fraca visibilidade que temos enquanto passamos pelo seu interior. É espectacular como o nosso cavalo se comporta nestas situações de fraca visibilidade, emitindo pelos seus olhos dois fachos de luz que atravessa as nuvens desta natureza. Faz tudo como uma nave espacial das mais sofisticadas.

Estamos quase a agarrar o nosso planeta. Agora vê - se que uma imensidão de massa com muitos pontos negros que devem ser crateras mas que não emitem qualquer sinal vulcânico pelo que, ou devem estar extintos ou as crateras são resultantes da queda de meteoros. Isto são meras suposições, nada melhor do que esperar para ver no local o que efectivamente são.

Estamos cada vez mais ansiosos por pousar na sua superfície e pesquisar tudo ao pormenor para gravarmos mentalmente tudo o que for possível ver, como se fosse o relatório de bordo. Já estamos tão perto que digo para a Niray : agarra- te bem porque o nosso cavalo vai iniciar a descida . Ok  Sem Nome já estou pronta para a etapa final. Então cá vamos nós. O nosso cavalo começa a descrever círculos de aproximação e num ápice estamos a pousar lentamente na superfície do planeta. Pronto, Niray, já cá estamos para mais uma exploração espacial. Pomos os pés em terra firme. Acabou - se a ansiedade, S.N. agora temos o planeta por nossa conta. Por nossa conta não se sabe, porque pode haver outros seres que imponham a sua posse. Isso é o que vamos ver. Nós aqui, somos uns intrusos, não achas Sem Nome? Não concordo contigo Niray, o nosso cavalo é o senhor do universo e nós como tripulantes, temos o mesmo direito. Só podes estar a brincar. Claro que sim, minha querida.

A superfície deste planeta é de rochas avermelhadas, com salpicos brilhantes, como se fossem pedras preciosas, que cintilam como as estrelas, parecendo um mar de pirilampos. Não se vê qualquer espaço de terra solta, tudo é duro e enrugado, que mais parece ondulação de mar bastante revolto. É uma paisagem linda que não se pode esquecer. Estas ondas de rochas não são muito altas e brilho das pequenas pedras encrostadas dão - lhe uma beleza extraordinária. Estas pequeninas pedras assemelham - se ao quartzo que se encontra na Terra mas é muito mais brilhante e multifacetadas.

Continuamos a percorrer o planeta e a sua composição continua a ser a mesma. As crateras que víamos quando nos aproximávamos dele, podem agora ser apreciadas. São enormes  mas não muito profundas. Tudo nos leva a crer que não são vulcânicas mas sim provocadas, talvez por meteoros que saíram da gravidade de outros astros.

Seres ainda não vimos. Será que os há ?  É uma incógnita.

Continuamos na nossa investigação e o que se nota agora é que o seu solo agora tem elevações mais altas mas sem qualquer vegetação, avistando - se ao mesmo tempo, grandes superfícies planas mas rochosas também. Agora paramos para apreciar as imensas superfícies planas mas o nosso cavalo relincha forte, o que nos fez arrepiar de medo, porque é sinal de que alguma coisa está para acontecer. Estamos em alerta para ver o que surge. O que será que vai acontecer diz a Niray ?  Esperemos firmes  e confiantes no nosso cavalo. Seja lá o que for ele proteger - nos -á . Também não te esqueças Niray, que também já temos as nossas armas que são as nossas forças mentais. Tens razão, já não me lembrava.

A Niray dá - me um grito, que até me pôs os cabelos em pé, dizendo, olha Sem Nome estamos rodeados de seres esquisitos que apareceram sem ser vistos . Olho em meu redor e realmente estamos rodeados de seres horrendos. São grandes, de cabeça redonda e os olhos e a boca não se vêem. Directamente da das suas cabeças enormes penduram - se muitos tentáculos viscosos. Estão suspensos do chão e giram à nossa volta, sem se aproximarem muito. Acompanhamos todos os seus movimentos sempre à espera de algum ataque. Aproximamo- nos deles mas, ao mesmo tempo, afastam - se não permitindo contactos. São mesmo repelentes. Nunca estão parados e sempre suspensos do chão a continuarem uma rotação lenta à nossa volta. Agora elevam - se e ficam por cima de nós, deixando cair a sua viscosidade. O nosso cavalo relincha e eles, num ápice afastam - se bastante de nós. Possivelmente tiveram medo, se é que o é. Ouvidos não há dúvida que tem porque reagiram ao relinche do nosso cavalo. Rentinhos ao chão aproximam - se novamente de nós como se fossem vassouras. São muitos, e nós só somos apenas três, de modo que estamos em desvantagem em caso de guerra.

Para nosso espanto, eles são mutantes  porque agora se transformam em figuras parecidas às nossas, incluindo a do nosso cavalo, como que a imitar- nos mas não por muito tempo porque depressa voltam às figuras horrendas e primitivas, sempre em rotação lenta  mas agora mais perto de nós. Fizeram isto para nos intimidar, o que prova que são seres talvez inteligentes. Estamos nervosos porque não sabemos o que querem nem o que pensam fazer, com a nossa presença. O nosso cavalo, na sua imponência está alerta, o que nos deixa descansados.

De repente a Niray grita: Sem Nome, estou agarrada pelas pernas pelos tentáculos deles, acode - me. Fica quieta, não tenhas medo. Imediatamente o nosso cavalo emite um feixe de luz e parte os tentáculos, soltando assim a Niray. Com este incidente afastam - se um pouco.  Será que eles nos querem fazer mesmo mal ? Agora talvez pensem duas vezes, porque já sentiram a nossa reacção.

Mesmo assim não desistem e lançam os tentáculos envolvendo - nos para nos arrastar, acompanhado de gritos da Niray. Utilizemos a nossa força mental. Querem guerra aqui vai disto. Os nossos olhos e os do nosso cavalo com raios de fogo atingimos os mutantes e soltaram - nos, afastando - se para longe mas não desistiram. Estamos em tréguas mas não sei por quanto tempo.

Alerta máxima, isto é, muita atenção às suas reacções. Os tentáculos que lhes queimamos já se refizeram totalmente, de modo que estão sempre inteiros e estamos a ver que é difícil derrotá- los. Olha Niray, agora estão a multiplicar - se, o que quer dizer que se reproduzem com facilidade como clonos. É verdade, nunca tinha visto semelhante coisa. Já viste, são mutantes, auto consertam - se, reproduzem - se instantaneamente  e são invisíveis quando querem. Como vamos resolver este problema, com seres desta natureza ?  Nós não sabemos, Sem Nome mas o nosso cavalo, com certeza que tem a solução. Esperemos para ver o que ele faz perante esta situação.

Desapareceram completamente como fumo. É uma arma terrível que eles têm contra nós. O nosso cavalo envolve - nos na sua cápsula magnética, o que quer dizer que, tem a percepção que nos tem que proteger contra estas manobras inimigas.

Diz - me a Niray, onde será que eles se terão metido ? Onde irão aparecer, ou será que aparecem? Não te interrogues tanto e aguarda que tudo aconteça normalmente, porque estamos completamente protegidos. Isso é verdade, não há  que ter receio.

Estamos a olhar para todos os lados, com a máxima atenção, para ver onde irão eles aparecer ou se pretendem fazer - nos um ataque surpresa. Enquanto isto não acontece vamos caminhando e observando toda esta região do planeta, que continua a apresentar a sua aridez rochosa em planícies extensas.

Quando já não esperávamos, eis que aparecem novamente nas nossas costas os temíveis mutantes, aos milhares. A pouco e pouco cercam - nos novamente  mas, não se aproximam muito, por enquanto. Estamos imobilizados para ver o que acontece. Os seus tentáculos movem- se como o vento como que a querer a agarrrar - nos. Assim acontece mas em vão esbarram no nosso escudo invisível, o que lhes provoca um mal estar. Agora transformam - se todos em cavalos iguais ao nosso e tentam enfrentar - nos levantando as patas dianteiras intimidando - nos, mas o nosso cavalo sai repentinamente do centro das atenções e ficamos suspensos no ar e lança -lhes umas dezenas flechadas de fogo que os atinge em pleno deixando - os muito avariados mas, não serviu de nada porque eles novamente se autorrepararam, elevando - se também à nossa altura e a luta passa a ser aérea.

Eles têm que ter um ponto fraco, digo para a Niray . Como sabemos, responde - me ela ? Podemos atingi- los na cabeça, talvez dê resultado. Isto parece um baile de roda, nós atrás deles e eles atrás de nós.  Ainda bem que temos o nosso escudo protector ou senão já tínhamos perdido a batalha. Não sei como vamos ganhar esta contenda, uma vez que eles se reproduzem à velocidade do som e têm o dom de ser invisíveis quando pretendem. Só o nosso cavalo é que deve detectar os seus pontos fracos.  Pousamos novamente e eles fazem o mesmo, fazendo - nos agora um cerco mais apertado, pretendendo talvez sufocar - nos.

Estamos montados no nosso cavalo, para mais segurança e agora vamos ver como ele vai fazer. Nós podemos também ajudá - lo nesta contenda com o nosso poder mental e é o que devemos fazer. O caso está feio e eles são  cada vez mais. Estes polvos estão - nos a fazer a vida negra. Eles estão completamente visíveis, sendo agora uma oportunidade de atacá - los. Inesperadamente o nosso cavalo sobe novamente com uma velocidade estonteante, disparando simultaneamente sobre as suas cabeças as suas flechas de fogo através dos seus olhos, fazendo nós o mesmo, com o nosso poder mental, num movimento tão rápido que os mutantes não tiveram tempo de sobreviver a tanto fogo. Atingimo - los mortalmente nas cabeças, que afinal era o seu ponto fraco, como de todos os seres. A Niray grita de raiva e de medo mas está firme, ao meu lado.

Caíram por terra e ao mesmo tempo, evaporaram - se como gás, não deixando rasto de nada. Foi como se nunca tivessem existido. Custou mas foi, uf que alívio. Que se passa Niray? Ai, Sem Nome, parecia que esta contenda nunca mais tinha fim mas, felizmente o nosso cavalo, não é um cavalo qualquer, é um super cavalo . Não tenhas dúvidas Niray, ele é mesmo super, um super herói, rei das aventuras sempre bem sucedidas. Já reparaste Sem Nome que, nós, nestas contendas nunca saímos com a mínima beliscadura ? É verdade, minha querida, nós temos aqui o maior protector do universo.

Pousamos novamente e continuamos a nossa investigação. Estamos a sair desta planície e começam a aparecer novamente pequenas elevações de rochas enrugadas, umas atrás das outras, como se fossem ondas petrificadas até perder de vista. Temos dificuldade em caminhar, dado a configuração do terreno. Apenas podemos andar entre as ondas rochosas mas com muito cuidado para não nos magoarmos. Tudo é seco e duro, não havendo um bocado de terra solta. A cor continua a ser avermelhada, com as tais incrustações de pedras brilhantes que parecem quartzo. O terreno é difícil mas a paisagem é linda, diferente de todos os outros planetas que já visitámos.

O brilho destes supostos quartzos incrustados nas rochas, parecem estrelinhas agarradas ao solo, proporcionando aos nossos olhos um firmamento aos nossos pés que deslumbra e nos incita a investigação deste planeta grandioso e ao mesmo tempo estranho, pelos seres que já encontrámos e pela formação do seu solo.

Montamos o nosso cavalo, uma vez que a caminhada é longa e é sempre melhor observá - lo duma posição mais alta e mais segura.

Já viste Niray, depois de um início atribulado, agora está tudo calmo. É como quem diz, depois da tempestade vem a bonança. Olha, S. N. a bonança também pode acabar de um momento para o outro e recomeçar a tempestade. Esperemos que não mas, provavelmente mais tarde ou mais cedo se calhar vamos ter problemas como tivemos no início. Também não sejas tão pessimista Sem Nome. Não é ser pessimista Niray, deste desconhecido planeta tudo se pode esperar. Para quê estar com esta conversa se temos aqui o nosso salvador que nos tem protegido de tudo o que nos tem aparecido. Vês, disseste uma coisa acertada.

O caminho é longo e difícil pela ondulação do terreno mas vamos ultrapassando tudo. A paisagem continua a ser a mesma. Quem sabe, se pela configuração do terreno esta zona, há muitos milhões de anos não foi um mar ? É verdade S. N., pode ter sido, não é de excluir esta hipótese. Não somos peritos na matéria mas pela aparência poderá ter sido assim. 

Já temos muito tempo de andamento e tudo continua calmo e a paisagem bela. Decidimos voar em voo razante  para atingirmos outro lado do planeta.Vamos apreciando mas, muito mais rápido toda a superfície do planeta. Temos à vista grandes elevações muito pontiagudas que nos faz despertar a curiosidade e descemos novamente para uma investigação mais pormenorizada. Estas montanhas são bem grandes e muito aguçadas, talvez causada por erosão de vento ou chuva que de vez em quando possa ter caído há muitos, muitos anos e ter fustigado todas estas montanhas por muitos séculos. Tudo isto não passa de suposições mas, que poderá ter a sua ponta de razão.

Estas montanhas que estamos a observar são completamente nuas de vegetação, dando um aspecto árido, como temos encontrado até aqui. Agora, de momento, está a levantar- se um tempestade de poeira que, mais parece areia sacudida por um vento fortíssimo que nos obriga a refugiar na base de uma das montanhas, pelo que, nos faz crer que o clima aqui, é muito instável e perigoso. Foi efémera a sua fúria. Tão depressa veio como acabou. Felizmente que aconteceu assim, porque senão dificultava- nos a nossa viagem. Voltou tudo ao normal e agora já podemos apreciar melhor e mais descansados toda esta paisagem rochosa que não tem nada de incrustações de pedras brilhantes mas cuja cor também é avermelhada.

Diz - me a Niray, olha Sem Nome, os mutantes estão de volta outra vez. Que me dizes. Olho em redor mas não os vejo. Onde estão Niray ? Não tiveste tempo de ver porque apareceram e desapareceram repentinamente. Será que vamos ter outra vez sarilhos ?  Ficamos mais uma vez alerta. De que lado é que irão aparecer? É sempre uma incógnita. Assim é como lutar contra o vento.

Estamos quedos e em posição de defesa. Agora sim, já os estou a ver outra vez. São os mesmos, com as suas cabeças redondas e os tentáculos até ao chão. Como é possível eles terem - se refeito depois de terem sido extintos ? Não te esqueças que são mutantes Sem Nome. Que raça de seres são estes que nunca morrem ? Pode ser que desta vez eles não ataquem ou sejam outros, quem sabe amistosos. Também pode ser, mas desconfio. É melhor estarmos prevenidos Niray. Sim, sem dúvida é sempre melhor e é como tu costumas dizer, o seguro morreu de velho.

Aparece novamente e num ápice um lufada de vento muito forte que parece querer levar - nos pelo ar, levando pela frente outra onda de poeira. Pergunto à Niray, porque será que aparecem estes ventos fortes rápidos e rápidos desaparecem ? Não me parece natural que isto venha da natureza deste planeta. O queres dizer com isso Niray ? Não sei, pressinto que algo de anormal se está a passar. Estamos receosos destes acontecimentos e mais os mutantes. Estes nem se mexem com estas ventanias repentinas. Até parece que estão agarrados ao chão.

Está tudo novamente calmo, só nós e os mutantes. Não sabemos o que eles querem fazer desta vez. Agora já não nos cercam e estão à distância, talvez com medo dos nossos ataques. Eles de vez em quando mudam para as nossas figuras mas por pouco tempo. Estamos num impasse, nem eles atacam nem nós estamos descansados. Eles são milhares  e continuam a multiplicar - se  com facilidade.

Estamos a ouvir uns ruídos estranhos muito ao longe mas, este som vem - se aproximando de nós. O nosso cavalo relincha muito e diz ao mesmo tempo a Niray: Eu não te disse Sem Nome que achava estranho aqueles ventos repentinos ? O que tem a ver com este ruído ? Vamos ser surpreendidos por outros seres gigantes e este som que se houve vem deles, assim como o vento. Que coisa Niray, o que estás para aí a dizer ?  Sim Sem Nome, acredita em mim e antes que seja tarde montemos nosso cavalo para estarmos seguros. Pronto assim seja. Voemos outra vez para não sofrermos com a violência destes seres. Levantamos voo e ficamos suspensos no ar para observar o que se vai passar.

Esperamos, esperamos e ainda não há sinais dos tais seres gigantes. Os seres mutantes continuam no solo, como que à espera dos outros.

Outra vez, de repente levanta - se outra ventania de poeira. Para surpresa nossa quem vem a provocar esta ventania são os tais seres gigantes, com grandes sopros que levam tudo no ar. Olha Sem Nome, são enormíssimos mas, mais agressivos do que outros  mutantes que estão no solo. O que será que vai suceder entre uns e outros, digo à Niray. Nós estamos cá no ar para ver.  Já estão próximos uns dos outros e ambos multiplicam - se como se fosse magia. Aparecem e desaparecem num ápice que até faz impressão. Agora os mutantes mais pequenos transformam-se  em animais de grande porte, cujo corpo é disforme, ao longo do tronco muito pontiagudos e compridos, e investem com toda a energia contra os gigantes e estes  tentam afastá -los com grandes sopros mas não conseguem.

Desferem - lhes grandes golpes, levantando - os no ar com a força dos seus cornos com tanta violência que até se ouve grandes estrondos quando caem no solo.

É um luta infernal e o pó que levantam é tanto que, não se conseguem ver os contendores. Já há muito tempo que guerreiam. Entretanto o pó passa e lá estão eles nas suas formas originais mas, em grupos separados mas, não se vêem mortos nem estropiados porque eles se auto reparam e se reproduzem sem ser sexualmente.

Ambos os grupos estão parados e rapidamente se volatilizam, desaparecendo da nossa vista. Esperámos ainda um bom tempo para ver o que sucedia ou se, se materializam. Nada acontece e nós voltamos ao solo para prosseguir a nossa investigação. Somos persistentes e não abdicamos das nossas intenções que são boas e justas.

Montados no nosso cavalo vamos prosseguir a nossa caminhada porque este planeta tem coisas muito curiosas que nos incentiva a nossa investigação. Enquanto mantemos a nossa viagem vamos conversando a respeito do que já encontrámos e do que iremos encontrar, para recordarmos o passado e projectarmos  o futuro. Se eu tivesse o condão de adivinhar o futuro, lá na Terra seria um bruxo e aqui não sei o que sou, talvez um peregrino do espaço.

 Já viste Niray, as montanhas altas e aguçadas vão desaparecendo, dando lugar a grandes rochas soltas em grande quantidade? É verdade S.N. a natureza deste planeta é tão diversa que até parece que aqui, já terá havido alguma civilização em tempos longínquos. Não temos vestígios para julgar que em tempos terá sido assim . Os vestígios não existem porque já se passaram muitos milhões de anos e tudo se modificou. Talvez não tenhas razão Sem Nome. Mas porquê Niray?  Porque os vestígios existem sempre, podem é não estar à vista. É verdade tens razão. Olha agora para estas rochas S.N. colocadas em cima umas das outras como se fosse um túmulo. Isto pode ser um vestígio. Não acredito que a natureza as tenha montado assim. Agora já te dou inteiramente razão Niray. Vamos continuar para ver o que poderemos encontrar para reforçar mais a tua tese.

Ao fim de algum tempo de viagem, sempre encontrando grandes pedras soltas e algumas em posições bizarras, vislumbramos agora um estrutura rochosa altíssima com um acesso em pedras rectangulares formando escadas até ao cimo deste grande monumento. Olha Niray, continuas a ter razão, agora já não tenho dúvidas, este planeta já foi habitado. Estamos na base do monumento rochoso, com a escadaria a convidar- nos a subir. Para quê subir pelas escadas se nós podemos voar até ao cimo do rochedo, diz a Niray. É diferente e dá mais gozo. Então está bem S. N., subamos então. Esta escadaria até parece que vai chegar ao céu deste planeta. Iniciamos de degrau a degrau, incluindo o nosso cavalo, que é imprescindível em todas as nossas aventuras. A meio da subida diz - me a Niray : estou cansada de tanto subir, isto é tão alto ! Vamos devagar para chegarmos longe, não achas Niray ? Lá estás tu com as tuas filosofias mas, tem a sua razão se ser. Já falta pouco para chegarmos ao cimo. A paisagem cá cima é deslumbrante e agora dá para ver como é montanhoso este planeta. O cimo desta torre rochosa  é larga , parecendo um prato. Até parece que acendiam a chama dos Jogos Olímpicos. Chegámos e estamos em cima do prato rochoso. É curioso, esta plataforma tem um buraco enorme que não se consegue ver o fundo. Cá do alto vê - se todos os picos de todas as montanhas. A maioria parecem agulhas apontadas para o espaço, de uma forma imponente e graciosa.

Diz- me a Niray, é a primeira vez que subimos ao ponto mais alto de um planeta. É impressionante a vista que temos daqui. Agora já posso afirmar mesmo, que este planeta foi efectivamente habitado por outra civilização. Digo para a Niray, não achas que essa suposta civilização foi exterminada por aqueles seres horrendos que já encontramos e nos defrontamos ? Parece ter lógica o teu pensamento mas, não sabemos ao certo. Provavelmente terá sido assim ou também podem ter sido exterminado por tremores de terra violentos ou chuva de meteoros intensa por longos anos, ou alguma catástrofe de grandes dimensões. Estes seres ter- se - ão formado pela natureza do próprio planeta. Tudo isto são hipóteses.

Bem Niray, agora não temos mais nada a fazer cá no alto desta torre rochosa, não achas que devemos descer e prosseguir com a nossa investigação ? Sim, podemos descer mas, ao mesmo tempo, dá imenso prazer estar cá em cima. Quem está por cima está sempre melhor mas, nunca devemos esquecer que os que estão por baixo, também têm o seu valor e ajudaram, com certeza, a subir os que estão em cima, só que já estão esquecidos.

Montamos no nosso cavalo e descemos lentamente até à base do monumento, como a pena de uma ave.

E agora Sem Nome, descansamos ou prosseguimos com as nossas pesquisas ? Claro que prosseguimos, este planeta tem imensas surpresas e não podemos de maneira nenhuma parar por aqui. Assim sendo, montamos no nosso cavalo e vamos sobrevoando o planeta que é imenso e pousaremos nos lugares que mais nos interessar.

 

Vamos observando toda a sua superfície, plena de relevos e planícies sempre avermelhadas, notando - se agora algumas crateras bastante grandes, possivelmente provocadas por desagregação de outros astros e que caíram aqui provocando estas feridas profundas que, nem o tempo cura. São feridas eternas.

Como a paisagem é diferente, não achas Niray que, é melhor descermos e observarmos no terreno o que se passa ? É boa a ideia, porque estamos praticamente noutra face do planeta e é bom que a  investiguemos em pormenor porque estou cheia de curiosidade sobre o que poderemos encontrar.  Combinado, vamos descer. Pronto, cá estamos nós novamente em terra firme para continuarmos as nossas pesquisas. Em primeiro lugar, desejamos que não encontremos mais mutantes para que não haja mais agressões, e sobressaltos para que, façamos as nossas investigações em paz.

Agora estamos a observar uma cratera que é extensa e profunda que faz impressão olhar para baixo e temos de ter muito cuidado para não cairmos neste abismo porque é mais fundo que a tentação.

Não tem vestígios vulcânicos, o que nos leva a crer que ela foi causada pela queda de um meteoro de grande tamanho. Lá bem no fundo é escuro mas, dá para ver que é totalmente sólida como o solo da superfície, não tendo qualquer sinal de água. Aliás, todo este planeta até agora, é completamente árido, não existindo sequer uma pequeníssima planta mas, apesar de tudo, não deixa de ter a sua beleza natural. Os carecas também têm o seu charme. Rimos muito e beijamo- nos.

Continuamos a caminhar e a observar outras pequenas crateras, além de outras elevações de rochas com curiosas rugosidades que parecem feitas à mão mas não há dúvidas, são obra da natureza em que nada fica ao acaso. A natureza é o maior artista do universo e nós uns aprendizes muito minúsculos mas que, às vezes nos pomos em bicos de pé, para pensarmos que somos grandes e darmos nas vistas.

O nosso cavalo caminha sempre a nosso lado, como nosso guarda-costas, sempre imponente e gracioso, com a sua crina cor de fogo que lhe cai ao longo do pescoço, apercebendo- se sempre dos perigos com uma antecedência espantosa que, nos coloca sempre numa posição vantajosa. Sempre tem sido assim, desde o primeiro dia em que o encontrei. É um autêntico anjo da guarda.

O nosso cavalo relincha e a Niray fica assustada e diz - me : Ai Sem Nome, o que será que vem a seguir ?  Por enquanto não surge nada mas, vai surgir com certeza, portanto, temos de ficar em alerta máxima. O nosso radar vivo já anunciou.

Apesar de confiante estou nervosa, como sempre está claro. Isso é natural Niray, pois por muita confiança que tenhamos em nós próprios ou no nosso protector, temos sempre réstias de dúvidas. Por natureza somos sépticos.

Vamos - nos abrigar debaixo daquela semi caverna que está na base daquele monte que ficamos mais abrigados para o que der e vier.

Já abrigados ou escondidos, como queiramos interpretar, diz - me a Niray que é sempre mais perceptivel do que eu: Ouço uns grandes assobios vindo do espaço, tu não ouves, Sem Nome ? Embora seja de ouvido um pouco duro, também ouço Niray. Isto parece chuva de meteoritos, dizemos os dois ao mesmo tempo. Ainda bem que estamos nesta caverna, pois se for o que pensamos, estamos protegidos.

Os assobios são cada vez mais audíveis, o que prova que a chuva de meteoritos está a chegar.

Neste preciso momento começa o bombardeamento dos pedregulhos vindos do céu que fazem um barulho ensurdecedor e quase nos provoca o pânico. Com o impacto no solo, uns desfazem - se, outros dividem - se em muitas partes e outros de maior dimensão enterram - se no solo, fazendo algumas crateras. É um espectáculo medonho e assustador. A chuva destas pedras parece nunca mais acabar e algumas até vêm parar aos nossos pés, o que nos preocupa bastante, embora estejamos sob protecção.

Os meteoritos parece que já começam a ser menos intensos e mais pequenos. Um aspecto curioso é que quase todas as pedras chegam ao planeta completamente incandescentes, apagando - se instantâneamente,  assim que embatem no solo. Estamos a ver que este planeta é um sacrificado pelas chuvas constantes de meteoritos e meteoros, especialmente nesta zona onde nos encontramos.

A natureza em todo o universo é assim. Numas zonas é agreste e dura e noutras é bastante é muito suave mas, os seres adaptam - se sempre a todas as zonas que ela possui, com características físicas de defesa. É fantástica e espantosa.

Assim que isto acabar temos de sair daqui imediatamente, não achas Niray? Sem dúvida Sem Nome, porque é aflitiva esta situação e isto parece nunca mais acabar. Tudo tem o seu fim, temos é de ter paciência. Pois é S. N., só que não sabemos o tempo que esta chuva vai levar e o solo já está repleto de pedregulhos e já estou a ficar nervosa. Não fiques assim que isto vai passar. Lá no meu planeta Terra, costuma dizer - se que, não há bem que sempre dure e mal que não acabe, portanto, aguardemos com paciência que, tudo tem o seu termo. Nós é que somos impacientes e precipitados. É mesmo isso, Sem Nome, tens toda a razão.

Já estamos há imenso tempo a ver cair pedras mas, a intensidade é menor. O pior é que estamos encurralados nesta gruta e só o nosso cavalo é que nos pode valer como sempre.  Estamos a ficar mais satisfeitos porque as pedras já estão a cair esporadicamente e, por isso, não tarda que, com certeza, nos possamos livrar  daqui.

A calma chegou. Abraçamo - nos com muito amor.

Bom Niray, temos agora a nossa oportunidade de sair da gruta. Pois é S. N. vamos sair da nossa toca em cima do nosso cavalo porque o chão está crivado de pedras e torna- se difícil para nós andarmos a pé.

Montamos o nosso cavalo e ala que se faz tarde.

Começamos novamente a sobrevoar o planeta, não para nos irmos embora, mas para nos deslocarmos para outra zona onde não apanhemos tempestades como esta e continuarmos as nossas investigações que é a nossa principal intenção.

Embora árido, este planeta, com todas as suas diferenças de relevos, em que a maior parte parecem autênticos monumentos talhados por mão humana, não nos cansamos de apreciá - los, especialmente enquanto o sobrevoamos. Toda a sua natureza é totalmente diferente de todos os outros astros que temos visitado e por isso o torna especial.

Concordas comigo Niray?  Sim, perfeitamente mas, também é curioso que todos as elevações erguem - se para o céu terminando em pontas aguçadas. Tens razão, também é um grande  pormenor a salientar e também de pensar qual a razão, de ser assim. Olha S. N. não achas esta zona que agora sobrevoamos ideal para pousarmos? O que é que tu vês de especial para querer descer aqui ? Então Sem Nome, não estás a ver pequenas crateras que parecem flores desabrochadas na superfície do planeta ? Estou  a vê -las  mas, não me parecem crateras. Podes crer que são e bem bonitas porque parecem conter água azul. Podemos experimentar e depois logo se vê se vale a pena a investigação.

Pronto, já cá estamos. Vamos lá ver estas crateras que parecem tão especiais.

Elas não são muitas mas, têm uma forma que parecem realmente flores a desabrochar. São uma autêntica obra prima de formação rochosa que devem ter milhões de anos. No interior de cada um, parece  ter água solidificada de uma cor azul clara. Estamos debruçados no rebordo da cratera que nos parece ser a mais bonita e contemplá - la indefinidamente, especialmente para o seu interior. Retiramos pausadamente da cratera  quando o nosso cavalo relincha forte e nós ficamos assustados porque algo vai suceder novamente. Preocupados, começamos a ouvir um ruído em todas as crateras como que o quebrar de qualquer coisa no seu interior. Eis que dentro de cada uma começa a surgir um monstro enorme de cabeça disforme e horrenda que urram abrindo uma bocarra com enormes dentes aguçados e todos olham na nossa direcção como que a desaprovar a nossa presença, considerando - nos intrusos. Diz - me a Niray : Vamos sair daqui Sem Nome porque senão ainda somos engolidos por estes gigantes. Não tenhas medo porque eles nem sequer saíram das crateras. Não vamos esperar que eles o façam. O melhor é retirarmos rapidamente. Tem calma Niray. Já te esqueceste que temos aqui o nosso cavalo ? Pois é, tens razão, mas eu estou aflita só de olhar para estes monstros que não parecem nada pacíficos. Só urram, urram, urram, fazendo um barulho ensurdecedor  e intimidativo que até me arrepia. Eles ainda não tentaram agredir - nos, Niray, portanto não é motivo para batermos em retirada, com o rabo entre as pernas. Se nós não mostrarmos medo talvez eles nem saiam das crateras.

Estamos firmes a apreciar todos os movimentos dos monstros que apenas mostram meio corpo do centro dos seus esconderijos. O nosso cavalo relincha e levanta as patas da frente mostrando também a sua valentia. Estamos pasmados porque com este gesto do nosso cavalo, os monstros recolheram para o interior das crateras. Afinal, Niray, parecem que eles apenas têm tamanho, pois valentia não mostram. Tu também não sabes o que eles irão fazer a seguir e insisto, o melhor é irmos embora.  Estávamos nesta conversa, eis que surgem outra vez os monstros  a urrar e arremessar - nos fogo pela boca que, por pouco não nos atinge. Todos nos bombardeiam com fogo mas o nosso cavalo começa a ripostar com os laisers  dos seu olhos decepando a cabeça de alguns e caiem para o fundo mas, repentinamente aparecem com nova cabeça e agredir - nos e o nosso cavalo responde com os seu meios bélicos e naturais, cortando a as suas cabeças mas aparecem sempre com novas e sempre a atacar. Não há nada a fazer Sem Nome, temos de retirar. Não Niray, eles não podem levar a melhor. Quem sabe se eles apenas renovam poucas vezes a cabeça. O nosso cavalo vai sempre atirando o seu fogo pelos olhos e continua a decepar - lhes a cabeça, até que se começa a notar que alguns já não emergem. Tantas vezes foram atingidos que, todos submergiram sem mais aparecer.

Então quem é o mais forte ?

 Quem tinha razão, Niray ?  Está bem vencemos mas, tens de compreender que  foi muito arriscado. Tens de aprender uma coisa Niray,  nunca se deve voltar as costas ao inimigo. Nunca viste uma guerreia de cães ? Não, porque no meu planeta não há cães. Explica lá. É assim : quando eles lutam e há um que mete o rabo entre as pernas, o outro sente a sua fraqueza e só não o mata se não for capaz. Se é assim tens razão Sem Nome.

Este planeta está cheio de surpresas e por isso mesmo vamos continuar as nossas pesquisas. Montamos o nosso cavalo e vamos caminhando e ao mesmo tempo, apreciando todas as crateras onde estavam metidos todos os monstros. Todas elas estão na mesma, tal e qual como as encontramos antes do aparecimento daquelas bestas. Sumiram - se completamente não deixando qualquer rasto. Está tudo como se nada tivesse acontecido. É fantástico o que se passa aqui.

Deixamos para trás as crateras de má memória e avançamos ao encontro de outras paragens. O terreno continua a ser acidentado e muito desequilibrado em termos de altura. A sua estrutura continua a ser rochosa, sem qualquer tipo de terra solta, sendo o chão duro que nem ferro. O vento é gélido mas não forte mas, o calor do nosso cavalo de fogo protege - nos de qualquer intempérie, de modo que nunca temos sido afectados pelas diferenças climatéricas encontradas. Além disso, quando o clima é muito rigoroso, temos a sua cápsula magnética que nos envolve sempre que o rigor do clima o exige. Funciona tudo automaticamente como se de uma nave se tratasse .

Já andamos há muito tempo e por enquanto continua tudo sem sobressaltos. Não temos pressa na nossa caminhada para apreciarmos muito bem o que nos cerca e estarmos sempre alerta se, porventura, aparecerem outros seres que sejam hostis à nossa presença.

Agora estamos a atravessar uma zona de planície extensa avistando - se apenas ao longe, muito longe outros relevos que parecem de grande dimensão.

Decidimos atravessar a planície e ir ao encontro dos relevos avistados que mais parecem arranha-céus que talvez escondam segredos que ultrapassam a nossa imaginação que afinal, é com isto que nos faz correr para o infinito e desvendar esses segredos que todos estes astros escondem e que a humanidade da Terra desconhece e só nós temos o privilégio de descobrir porque temos o nosso cavalo de fogo que nos transporta para o incógnito além.

A planície está quase no fim e as montanhas pontiagudas  estão completamente à vista. São tão altas que até parecem tocar o céu. Nós, em comparação com elas somos ínfimos grãos de areia perdidos na sua imensidão do planeta mas, temos o nosso papel a desempenhar porque não viemos para aqui em vão. O vento toca nestas montanhas e ouve - se um som que parece música da solidão que nos faz arrepiar e ficar nostálgicos de qualquer coisa que não sabemos explicar.

A passagem entre elas parecem ser autênticos labirintos  e quando olhamos para os seus cumes parece que nos querem cair em cima mas é apenas ilusão porque elas estão ali bem firmes e majestosas, como autênticos monumentos.

Caminhamos, a Niray e eu lado a lado com o nosso cavalo ao meio entre os labirintos das montanhas mas, sempre com toda a atenção, não vamos ser surpreendidos por alguns habitantes esquisitos como outros que aqui já temos encontrado. A Niray caminha calada, e eu com os meus pensamentos egocêntricos ouvindo apenas o barulho das passadas do nosso cavalo que está firme como estas rochas.

Repentinamente a Niray dá um grande grito angustiante e diz: olha Sem Nome, para o cimo das montanhas, elas estão a debruçar - se sobre nós. Observo também que na realidade isso acontece. Alucinações não são. É mesmo realidade. Todas elas inclinam - se à nossa passagem como que a fazer - nos uma vénia e voltam à posição inicial. Digo para a Niray: não tenhas medo porque o nosso cavalo não relinchou a  dar qualquer alarme. Mas é esquisito S. N. as montanhas dobrarem - se à nossa passagem. Pelos vistos tudo é possível e surpreendente neste planeta. Até tem montanhas vivas que  à primeira vista, nos pareciam estáticas e inertes. As vénias continuam a ser feitas até  ao fim da nossa passagem, parecendo - nos e incrível que isto esteja a acontecer. Devemos estar a ver um filme, pois é impossível de ser verdade.

Ó Niray, ainda não estou em mim, depois de ver este acontecimento. Estou completamente estupefacto. Não dizes nada, achas isto normal ? Não é nada disso Sem Nome, é que eu nem tenho palavras para descrever o que vi. Estou também estarrecida com este espectáculo. Até me parece um conto de fadas.

Saímos desta floresta de montanhas aguçadas e agora estamos perante uma paisagem que mais parece um planeta careca, sem quaisquer relevos ou crateras, em contraste com o que deixámos para trás que tem paisagens e seres surpreendentes que nos deslumbram e ao mesmo tempo, nos assustam mas, tudo ultrapassamos graças ao nosso cavalo de fogo que, nos tem transportado por todo este infinito.

Caminhamos então neste espaço deserto, para verificarmos se daqui nasce alguma coisa que nos surpreenda. Às vezes donde não se espera acontece e esperemos que assim seja, para que esta aventura não se torne monótona, pois assim não teria graça nenhuma, nem nos animava a descobrir o que está para além do sistema solar a que pertence à Terra e outros tantos planetas.

Nesta zona, por onde caminhamos já existe terra solta, o que é de admirar, uma vez que até aqui, todo o planeta é rochoso mas arquitectónico, provocado talvez pelos milhões de anos que já passaram por ele.

Aqui já se levanta pó à nossa passagem e todo ele é fino e de cor avermelhada, fazendo lembrar a cor do nosso cavalo que muito nos orgulha. As nossas passadas ficam vincadas no pó fino e fofo, deixando a nossa marca, embora indelével e o nosso desejo é que, elas fiquem para sempre fossilizadas como testemunho da nossa passagem por este planeta e se alguma vez, alguma civilização aqui nascer, já têm que contar que antes, deles já aqui esteve outra gente.

Resolvemos montar o nosso cavalo porque vamos andar muito e torna - se cansativo para nós e ao mesmo tempo, podemos apreciar toda extensão em pormenor  desta grande falha de relevo existente nesta zona. O céu é negro onde se podem verificar uma massa cósmica sem fim com um brilho cintilante de prata que, são os milhões e milhões de astros que a compõe de que faz parte afinal, também este planeta onde estamos momentaneamente e de saída.

                                                 

Ao fim de algumas horas de caminho, cansados de ver tanta terra vermelha, paramos e observamos atenciosamente todo o horizonte que a nossa vista é possível alcançar. Observa a Niray : Nunca pensei que este planeta tivesse uma extensão grande de planície sem mais nada para investigar. Achas, Sem Nome, que vale a pena continuarmos neste deserto ? Eu sei que é cansativo, Niray, de ver sempre a mesma coisa, durante muito tempo mas, ao mesmo tempo, penso que, este planeta tem - nos proporcionado muitas surpresas e que devemos esperar mais um pouco para ver o que surge e depois ou deixamos o planeta, ou voamos para outro lado,  onde a paisagem não seja tão monótona. Eu sei que precisamos de actividade e de aventura mas, não faz mal também um pequeno interregno, não achas Niray? Está bem Sem Nome, convences - me sempre.

Olha Sem Nome, não observas lá muito ao longe uma onda de poeira ? Vejo sim. Será poeira ? Entretanto o nosso cavalo relincha, relincha, como há muito que não fazia. Pronto Niray, acabou- se a nossa paz, vamos ter aventura. O nosso cavalo já avisou que vamos ter problemas.  A onda de pó é enorme e vem - se aproximando de nós. Caminhamos também em direcção a ela para constatarmos o que provoca tamanha tempestade.

Já dá para distinguir que é o caminhar de seres que levanta esta onda. Em alerta máxima é a nossa posição. Já relativamente perto, verificamos que a onda pó se vai diluindo, deixando ver claramente que, são seres negros como o carvão, bem grandes, que têm várias pernas, semelhantes a aracnídeos que param ao sentirem a nossa presença. Nós caminhamos de largo para observar melhor estes animais que são como aranhas gigantes. Parecem estar assustados a rodaram as cabeças como radares. São um batalhão delas, todas armadas com grandes mandíbulas, sobressaindo delas dois dentes que parecem foices. Pela sua fisionomia devem ser agressivos. Continuam imóveis, enquanto continuamos a andar à sua volta para não sermos surpreendidos. Mexem as mandíbulas fazendo um barulho semelhante a matracas que deve ser para nos provocarem medo e verem a nossa reacção. Nós nunca reagiremos primeiro porque não sabemos qual a intenção destes bichos horrendos que basta a sua presença para nos provocarem arrepios. Estamos mais confiantes porque o nosso cavalo está ao nosso lado e nos dá uma força incrível para enfrentarmos qualquer reacção hostil. Sabemos que só ele será a figura principal deste filme.

Os aracnídeos começaram a mover - se novamente, batendo as suas mandíbulas horríveis mas agora, estão formar uma posição estratégica em forma de círculo, com uma entrada bem larga, parecendo uma boca para nos engolirem. Mesmo assim, não nos intimidam porque nós também temos a nossa estratégia. Formando o círculo de boca aberta, tentam deixar- nos no meio mas, nós não vamos nisso e continuamos sempre por fora. Tudo é feito lentamente com precaução.

De repente arrancam a toda a marcha para nos surpreenderem. Aqui já percebemos que temos que nos defender porque a sua atitude é de agressão premeditada. O nosso cavalo abre bem os olhos prontos a lançar sobre eles os seus lança- chamas. Os aracnídeos movem - se a uma velocidade espantosa para nos cercar e nos desfazer com as suas armas terríveis. Já estamos a ser bem apertados e é tempo de reagir. Eles nem sabem a morte que vão ter. A eles, gritamos nós para o nosso cavalo.

A guerra começou.

Os aracnídeos avançam de mandíbulas abertas prontos para nos liquidar. Surpresa. Também lançam jactos de fogo, arma que desconhecíamos possuírem quase que nos atingem. Valeu a perícia do nosso cavalo que possui reflexos invulgares e rapidíssimos e por isso, nos livrou de sermos queimados.

Damos a volta por fora deles e à distância, em posição estratégica para atacar também. O nosso cavalo lança os dois primeiros raios de fogo, atingindo apenas um aracnídeo que caiu por terra, soltando um gemido agudo. Estamos a rodeá - los  e simultaneamente o   nosso cavalo vai disparando raios de fogo fulminantes exterminando - os  um a um, soltando gemidos estridentes que enchem o planeta de dor. Bombardeiam - nos com os seus jactos de fogo que passam muito perto de nós. O que nos vale é que a sua pontaria não é  muito boa e todos os seus tiros passam ao lado. O nosso cavalo continua com a matança  e eles vão ficando de papo para o ar, todos esturricados. Como eles são muitos o nosso cavalo levanta voo  e vai atingindo - os em massa e o campo de batalha vai ficando pejado de cadáveres de aracnídeos todos de patas para o ar. Ouvem - se as suas matracas, completamente enraivecidos e desorientados por não nos poderem alcançar. Fazem círculos irregulares, levanta a cabeça e disparam jactos de fogo contra nós mas em vão, não conseguem os seus intentos.

Fazemos vários voos por cima deles  e em poucos minutos o resto dos aranhuços gigantes ficam em churrasco. Nem um que ficou para contar. Ficaram completamente exterminados, pelas armas poderosas e inteligência do nosso cavalo.

Descemos para ver os despojos de perto. Passamos por entre eles de peito inchado, próprio de vencedores por ter ganho mais esta  contenda. Estamos completamente descontraídos, como é normal, depois desta derrota que infringimos ao nosso inimigo. Ao mesmo tempo, apreciamos de perto estes bichos malignos e atrevidos que jazem agora no meio deste pó avermelhado . De repente, o nosso  cavalo recomeça a relinchar e em simultâneo, sem termos tempo para pensar, avisa - nos que temos novamente sarilhos.

Eis que, os aracnídeos, como que por milagre, começam a levantar- se do solo, como se nada tivesse acontecido e prontos para a guerra, com uma agressividade ainda maior. Estamos estupefactos com esta mutação. O barulho das mandíbulas entoam  novamente no ar que nos faz arrepiar e ficar espantados, com este novo ressurgimento de vida. Parecem que nunca morreram mas, simplesmente ficaram inertes, quase desfeitos mas de morte aparente. Não dá para perceber o que se passa com os poderes que estes seres têm neste planeta. Parece que tem uma energia que os faz reviver e serem imortais. Será que a morte não existe para eles ?

Afastamo - nos imediatamente do lugar e em posição de defesa, prontos e atentos para um novo ataque destes seres que parecem irresistíveis. As nossas previsões falharam e nada do que pensamos acontece.

Simplesmente batem em retirada, a uma velocidade estonteante, levantando consigo uma nuvem de pó que os perdemos de vista em pouquíssimo tempo. Estamos pasmados com a sua atitude.

Diz - me a Niray: o que se passa com os aracnídeos, que debandaram num abrir e fechar de olhos ? Olha Niray, não tenho explicação para te dar. Estou também admiradíssimo pelo que aconteceu. Será que tiveram medo ? Possivelmente sim, é o que de momento podemos deduzir. As coisas que se passam neste planeta é deveras surpreendente.

Estamos novamente sós e ainda bem, não achas Sem Nome? Com certeza, e lá diz o ditado: mais vale sós que mal acompanhados. Tu sabes muitos ditados. Pois sei. Aprendi lá no meu planeta com os mais velhos. Então como é que te lembras de tanta coisa e não te recordas do teu nome ? Boa pergunta Niray mas, eu não te sei explicar o porquê desta situação. Parece impossível mas acontece que, a minha memória foi afectada, não sei porquê. Por mais que tente recordar- me não consigo que o meu cofre sagrado me desvende este segredo. Quando será que isto vai acontecer ? Não te apoquentes S. N., que algum dia há- de acontecer sem dares por isso. Deus te oiça porque quando penso nisto, fico aflito porque faço um esforço enorme para me recordar mas, nada feito, não consigo.

Bem, e agora o que é que fazemos Niray, prosseguimos na nossa investigação neste planeta ou partimos para outras paragens do universo ?  Eu acho que devemos tentar dar mais uma volta por este planeta e investigar mais alguma coisa. Está bem, mas é só mais esta vez porque já estou a ficar um pouco saturado de tanta adversidade.

 

Levantamos voo e cá vamos nós pela derradeira vez à procura de outra face desta planeta na tentativa de descobrirmos algo que ainda não tenhamos encontrado nos astros que já visitámos. Tem que ser algo que mexa muito connosco para darmos bem empregue o nosso tempo que aqui temos passado.

Não digas semelhante coisa Sem Nome. Então achas que o tempo que aqui temos passado, não tem sido maravilhoso ? Pois é, tens razão Niray, às saem - nos frase impensáveis, por isso temos que pensar bem no que vamos dizer. Ao fim e ao cabo ninguém é perfeito, não achas Niray. Claro que sim, Sem Nome mas, às vezes isto é uma desculpa para os erros que se cometem e não devia de acontecer. Na minha Terra, costuma - se dizer que estes erros são desculpas de mau pagaor.

Lentamente voamos em voo baixo para chegarmos à outra face deste astro e ao mesmo tempo, apreciar a sua crosta ao longo da nossa viagem. Já passámos a zona de planície e agora surgem novamente relevos bastante acidentados e rochosos iguais aos que já tínhamos encontrado, sem se vislumbrar quaisquer seres ou algo muito diferente que valha a pena descer para investigar. Continuamos a passar por montanhas rochosas, sem crateras, o que prova que aqui, nesta zona não caíram asteróides, o que nos provoca uma certa admiração. Estamos a andar tanto, que pouco faltará para dar a volta ao planeta, não achas Sem Nome ? Já andámos muito mas também não exageres Niray. Estou a brincar. Então continua a fazê lo que só nos faz bem ao espírito.

Esta aventura através do espaço, tem que ser levada a cabo com muita alegria e vontade, não concordas Niray? Evidentemente que sim, porque senão tornar-se - ia uma viagem muito monótona e tristonha e isto não queremos que aconteça.

Olha, olha, Sem Nome, estamos a sobrevoar agora uma zona enorme que parece um mar gelado, sem quaisquer sinais de relevo. Vamos descer Niray, que é bastante curioso o que estamos a ver. Lentamente, pousamos nesta zona gelada que até nos faz arrepiar o céu da boca.

Pronto já cá estamos.

Efectivamente parece mesmo um mar que até tem a formação das ondas mas, o gelo é duro que nem rocha, o que prova que está gelado há milhões de anos. Água já vemos que existe mas em forma de gelo. Nem sequer se nota uma racha.  Ó Niray, será que o nosso cavalo poderá descongelar uma parte deste mar gelado? É uma hipótese a considerar Sem Nome. Vamos experimentar ? Vamos !  Através dos seu olhos saem dois raios de fogo finos como um cabelo directamente ao gelo, fazendo um buraco profundo mas, não derrete absolutamente nada, tal é a dureza deste gelo. Temos de andar com cuidado para não escorregarmos. Este mar de gelo é  tão extenso que até o perdemos de vista na linha do seu horizonte. Quase que não temos dúvidas que isto é um mar porque as suas características não desmentem. Haverá vida por de baixo de gelo Niray ? Se já tem milhões de anos é provável que nada existe a não ser gelo mas, ao mesmo tempo pensamos que poderá existir vida nas suas profundezas. Pensando bem, não creio que possa haver porque este mar deve ser um bloco de gelo desde as suas profundezas até à sua superfície. É engraçado porque conserva toda a sua ondulação em toda a sua plenitude mas inertes como as rochas, que proporciona um espectáculo fabuloso para a vista que raramente vamos ter oportunidade de ver. É simplesmente maravilhoso, conservando a cor característica dos oceanos. Andamos por cima das ondas, acompanhando o seu movimento sinuoso, como se estivéssemos a navegar mas apenas com os nossos pés, que nos dá uma sensação de leveza porque nos dá a impressão que caminhamos sobre a água como se fosse magia.

A Niray delira com esta situação exclamando : estou a divertir - me imenso andar aqui, até parece que estou a dançar mas só para cima e para baixo. Já pensaste Sem Nome se o mar descongelasse de repente que, nós éramos engolidos sem darmos por isso ? Não digas uma coisa dessas que me faz arrepiar. O melhor é sairmos já daqui, não vá o diabo tecê -las. Não tenhas medo e diverte - te Sem Nome. Não consigo depois de me teres dito isto. O nosso cavalo relincha muito o que nos faz assustar bastante. Pulamos para cima dele porque algum perigo nos espreita.

Inesperadamente, o mar começa a tremer e a fazer rachas enormes capaz de engolir o universo. Perante esta situação o nosso cavalo não perdeu tempo e num ápice levantou voo livrando - nos de uma tragédia. Cá de cima, vemos que todas as ondas se liquefazem e o mar gelado se transforma num grande mar revolto e alteroso   causando - nos  suores frios só de vê - lo cá do alto. É medonho o que está a acontecer ao mar gelado. Tudo se desfaz como farinha, tornando - se o mar numa cratera sem fim e abismal, como se tudo fosse uma ilusão. A água sumiu - se, deixando apenas escuridão e medo.

Mas que grande susto, Sem Nome ! O nosso cavalo salva - nos sempre na altura certa. Pois é minha querida, acontecem coisas aqui que até parecem ficção. Um dia hei - de escrever um livro a relatar estes factos das peripécias e aventuras espaciais, para que constem para a prosperidade. Se fizeres isso será um grande feito, Sem Nome porque, com certeza ainda ninguém descreveu uma aventura nas entranhas mais recônditas do Cosmos.

Pronto, esta etapa acabou.

Envolvemo - nos em cenas  amorosas, com o culminar do ponto mais alto de uma relação que, nos deixa tranquilos e relaxados, para as aventuras que seguem.

 

Voemos então para  muito alto e para muito longe, deixando o planeta de uma vez para sempre porque estamos cansados dos sustos que este planeta nos tem oferecido.

 

 

 

 

                                          CAPÍTULO XVI

 

 

                                   PLANETA VERDE

 

Novamente lá vamos nós  outra vez navegar nas profundezas do universo uma velocidade  superior à da luz, verdadeiramente alucinante ainda amedrontados pelo que nos sucedeu na parte final do último planeta, metidos na cápsula magnética que o nosso cavalo forma quando o clima é muito hostil. Vamos rindo e na brincadeira, lembrando as peripécias que temos passado em todos os astros que já visitámos.

É curioso que nós continuamos a não envelhecer, mantendo a  nossa juventude intacta, sem termos explicações para este acto benéfico da natureza deste longínquo universo enigmático e incógnito.

E agora Niray, qual será a etapa a seguir ? As opções são tantas que nem sei o que dizer. Já viste bem os milhões e milhões de astros que nos rodeiam ? Sem dúvida que não é fácil mas não é impossível escolher. Olha Sem Nome, vamos voar ao sabor do tempo e pensar com calma o que iremos fazer a seguir. Está bem, tens razão, para quê tanta pressa?

Tu és precipitado em muitas das tuas decisões e isso às vozes pode levar - te a dissabores e algum arrependimento. É um dos grandes defeitos que tenho, a precipitação. Sabes o que me faz ser precipitado, é tentar resolver as coisas o mais depressa possível, porque não gosto ter coisas pendentes durante muito tempo. Às vezes é necessário fazer as coisas uma de cada vez para que elas sejam bem feitas, não concordas? Está bem Niray, tens toda a razão, vou tentar emendar as minhas atitudes precipitadas. Por enquanto não te tens dado mal mas, alguma vez pode acontecer que, alguma resolução precipitada, pode  ser muito negativa para mim e para os que necessitam do meu trabalho ou do meu auxílio. Obrigado pela lição Niray.  Nunca é tarde para aprender e o comer e o aprender é até ao fim da vida. És a companheira ideal para a minha maneira de ser. Abraçamo - nos.

Estamos descontraídos na nossa conversa quando como que por magia estamos cercados por milhões de seres espaciais com um aspecto semelhante ao nosso mas com uma cabeça maior e orelhas redondas e grandes que flutuam no espaço. Todos choram de tristeza e nós perguntamos o porquê de tanta mágoa. Há um que responde : Fomos expulsos do nossa planeta por um bando de malfeitores que ocuparam o nosso planeta, dizimando muitos dos nossos companheiros mas, ainda não conseguimos fugir. Andamos à deriva sem saber o que fazer e à procura de auxílio para podermos voltar à nossa comunidade. Digo: não chorem que talvez nós os possamos ajudar. Mas como, se vocês são tão poucos. Somos poucos mas, temos o nosso cavalo que é irresistível e defensor dos fracos e dos oprimidos e não admite desigualdades. De onde são vocês, pergunto eu ? Nós pertencemos ao Planeta Verde que faz parte da galáxia Algúria que fica nos confins do universo, muito além muito além de todos os planetas. Vagueamos no espaço há muito tempo e só agora conseguimos encontrar alguém que nos quer ajudar. Vamos ficar eternamente gratos pela ajuda que vocês nos possam dar. Bem, Niray, concordas em ajudarmos estes nossos amigos? Claro que sim mas, temos que saber se o nosso cavalo está de acordo em fazê-lo por que ele é o principal protagonista deste empreendimento. Agarramo- nos ao seu pescoço e sussuramos - lhe ao ouvido : concordas em fazer repor estes nossos amigos no seu planeta natural ? Ele relincha alto  e abana com a cabeça a dizer que sim. Óptimo, nós sabíamos que ias lutar por uma boa causa.

Então dizemos aos desalojados: meus amigos preparem - se que nós vamos ajudá - los, para os reintegrar no vosso território. Todos fazem em uníssono um algazarra de contentamento. Guiem - nos então em direcção ao vosso planeta.

Estamos no meio deles e damos ordem de marcha à nossa nave viva. Vamos em grande velocidade com os nossos companheiros de luta em direcção à galáxia Algúria, onde se situa o Planeta Verde.

Ó Sem Nome, achas que nós vamos conseguir desalojar os malfeitores ? Eles devem ser muitos e se calhar armados até aos dentes. Não sejas incrédula Niray, e confia nos poderes do nosso cavalo. Estás sempre a duvidar das suas potencialidades. Não custa nada tentar. Pois é eu sei que não custa nada tentar mas, pode custar - nos a vida. Tu não estás bens psicologicamente Niray, tens de ter fé e acreditar que conseguimos ajudar os nossos amigos que ficaram sem o seu planeta. A causa é nobre justa. Não sejas pessimista. Não, não sou pessimista, sou prudente que é muito diferente. Está bem, tu és prudente e eu sou precipitado, corajoso e acredito que vamos conseguir repor a legalidade, que é meter em sua casa estes seres indefesos.

Fazemos uma mancha enorme no espaço, connosco centro do batalhão. Nós vamos bem camuflados no meio dos nossos amigos que vamos dar a impressão aos ocupantes do Planeta verde que os seu verdadeiros habitantes se dirigem para a morte. Quando estivermos perto vamos adoptar a seguinte estratégia : Os nossos amigos ficam para trás e nós saímos como um relâmpago do centro do batalhão e vamos tentar aproximar- mo - nos o mais perto possível para os atingir e lançar o pânico no seio dos malfeitores.

Ainda não distinguimos o Planeta Verde, Niray. É porque ainda estamos muito, muito  longe. Ó Sem Nome então não vês que não entrámos na galáxia Algúria é porque ainda estamos muito afastados. Eu sei Niray mas, estou ansioso por lá chegar e desbaratar aqueles malvados intrusos que tanto mal fizeram a estes seres, nossos irmãos que, nos acompanham nesta viagem de recuperação do que lhes pertence- a sua casa.

Quero ver o nosso cavalo em acção e nós também com os nossos poderes mentais, ou já te esqueceste que nós também temos armas como o nosso cavalo, embora menos  poderosas. É verdade já não me lembrava que nós também podemos ajudar na batalha que vamos ter.

Os nossos amigos apontam - nos para a sua galáxia e efectivamente já começamos a vislumbrá - la. É uma mancha enorme, completamente prateada que se estende ao longo do universo composta por milhões de astros e sabe - se lá mais o quê?

Agora a galáxia Algúria está à vista e nós ansiosos por lá chegar e ao mesmo tempo, com alguma preocupação, porque não sabemos o que vamos encontrar de poderio bélico, na posse dos beligerantes que ocupam o Planeta Verde.

Voamos  à velocidade do pensamento para alcançarmos o nosso objectivo, resguardados na cápsula magnética que o nosso cavalo nos prepara, e por isso vamos confortavelmente instalados no seu dorso, sem sentirmos o poder da deslocação impulsionado por ele, o que parece impossível mas acontece.

A pouco e pouco vamo- nos aproximando da mancha prateada de planetas e estrelas que formam a galáxia, parecendo cada vez mais gigantesca e brilhante, distinguindo - se já, perfeitamente a maioria dos astros que a formam. Parece incrível estarmos tão perto e tão longe da humanidade, com outras civilizações à vista e quão diferentes umas das outras. Dentro da minha ignorância pensava que estávamos sós dentro deste universo e afinal, estava completamente enganado, porque a vida continua para além do meu sistema solar e que jamais o podia justificar se não fosse o nosso valente e mágico cavalo de fogo que nos mostra todos os cantos do universo para nosso gáudio. Claro que, nem sempre tem sido fácil, havendo pelo meio muitos contratempos mas que, no entanto, nos dá vontade de continuar e persistir na investigação que levamos a cabo.

Estamos em plena galáxia de Algúria, acompanhados pelo batalhão de refugiados do Planeta Verde que nos indicam o caminho para ele e para sua posse, em que o papel principal nos cabe a nós que, é desalojar os intrusos malfeitores. Voamos através da Algúria mas, no entanto, parece  que vamos levar ainda algum tempo até concluirmos a nossa missão.

Então Niray, estás preparada para o grande embate ? Com certeza Sem Nome. Eu sou uma mulher de coragem que não vira a cara à luta e ainda por cima, por uma boa causa. Assim é que gosto de ouvir, estamos os dois de acordo e confiamos inteiramente nas potencialidades bélicas do nosso cavalo. Também sem ele não somos nada, em especial, em causas como esta e em todas as situações que nos temos envolvido. O nosso caminho é em frente e dos fracos não reza a história.

Os nossos companheiros de luta apontam - nos agora que o seu Planeta Verde está à vista e é verdade, já o estamos a lobrigar.

A nossa tensão aumenta e a coragem também para a hora H. Estrategicamente estamos organizados, bem simulados no seio dos nossos amigos Verdianos que mostram cara de contentamento porque brevemente vão ter aquilo que por direito lhes pertence. Já com o Planeta Verde bem à vista, começamos a voar em círculos para nos aproximarmos em  segurança adequada e estratégica que, nos permita  que não sejamos apanhados de surpresa.

Já temos três voltas dadas ao planeta e agora sim, estamos em posição de combater e possivelmente já à vista do inimigo. Todo o batalhão está a postos. Por enquanto, ainda não vemos qualquer movimentação dos intrusos. Tentamo-nos aproximar mais um pouco e eis que de repente aparece o primeiro bando de malfeitores, prontos a escorraçar - nos. Deixamos que eles se aproximem mas, nós sempre em movimento contínuo, saímos rapidamente do seio do batalhão e fazemos sinal que eles se afastem um pouco, ficando na rectaguarda,  o que acontece neste preciso momento.

O inimigo lança os primeiros fogachos  e nós respondemos imediatamente e com prontidão, acertando em cheio nos primeiros beligerantes que caem no solo do planeta como moscas. Como é possível o nosso cavalo ter um poder bélico tão grande? Eles não desistem  e aparece um novo bando, um pouco mais denso que o primeiro, a lançar grandes jactos de fogo contra nós que, nos passam muito perto. Só oiço a Niray dizer, ai, ai que nos atingem. Eles são muitos e nós também auxiliamos o nosso cavalo a lançar jactos de fogo pelos olhos e vamos dizimando os malvados intrusos. Eles são aguerridos e tentam cercar - nos mas, nós não o permitimos fazendo fogo!intenso. Vemo- los cair no solo do planeta e a dar grandes gritos de dor. Os nossos amigos estão na rectaguarda, indefesos e na expectativa, enquanto que, nós em  movimentos rápidos e seguros, sempre em posição superior para que, não nos consigam atingir. O fogo deles é intenso mas, o nosso embora menos, é certeiro e eficaz, provocando baixas físicas e morais, deixando - os desorientados que, ao fim e ao cabo, é o que nós pretendemos.

De seguida damos a impressão que batemos em retirada para depois aparecermos de surpresa e apanhá- los desprevenidos. Assim acontece. Desaparecemos e passado pouco tempo, em grande velocidade, reaparecemos com um poder de fogo intenso e fazemos uma razia, provocando o tombar da maior parte deles, desmoralizando - os e pondo - os em fuga, deixando o Planeta Verde em paz, para os seus habitantes naturais.

Depois desta contenda, aproximamo - nos dos nossos amigos que nos esperavam, fazendo um festim de loucos com a alegria de voltar à posse do se seu planeta. Todos regressamos e agora estamos em terra firme, devolvendo o seu a seu dono. Por esta façanha, somos considerados heróis, e por isso, não nos deixam em paz, fazendo de nós quase deuses, adorando - nos como se assim fossemos. Isto para nós representa eterna gratidão e pedem incessantemente para ficarmos com eles porque assim se sentem mais protegidos. 

Agora reparamos bem, todos os habitantes deste planeta têm a pele verde e segundo investigações por nós feitas, eles não se reproduzem por via sexual mas, sim por enxertias de células, criando os seres todos da mesma cor e grandes grupos completamente iguais. Aqui vivem em grupos, não havendo conceito de família, tendo a sua razão de ser uma vez que não é necessário ventre materno para a reprodução. Têm a faculdade de escolher o sexo do ser a produzir, pois só não conseguem é alterar a cor da sua pele. Eles são uma autêntica civilização e cientificamente muito avançados mas, ao mesmo tempo, sem poder de defesa, porque todos são de natureza pacífica, o que não deixa de ser fantástico.

Os nascimentos são devidamente controlados, em virtude do seu método de reprodução, não havendo habitantes a mais ou a menos, há os suficientes. Morrem uns fabricam outros, havendo assim trabalho para todos.

Possuem computadores com um cérebro semelhante ao nosso, usando na sua confecção componentes biológicos, tornando- os máquinas pensantes e com uma capacidade de resolução muito futurista, fazendo deles, seres deste planeta, uma sociedade super inteligente e avançada, para bem da comunidade. Não têm ar no planeta mas estão adaptados biologicamente, para viverem nesta situação, tudo feito pela sua ciência, alimentando- se quimicamente por produtos por si fabricados que lhes dão toda a energia de que precisam. Só não inventaram foi máquinas de guerra para se defenderem, e por isso, de quando em vez, são ameaçados por outros seres que invejam a sua inteligência. São uma civilização de paz e de saber.

Também estamos a investigar o ambiente do planeta, que além de não ter ar, também não tem vegetação natural mas, sim arvores, imensas árvores, em que na sua criação misturaram células suas com raízes do solo, nascendo daqui, árvores de pequeno porte, cujas folhas são autênticas mãos iguais às nossas que, constantemente parece que nos fazem adeus. Como é possível nestes confins do universo haver uma civilização destas ? Que dizes a isto Niray ?  Eu estou super estupefacta porque pensava que o meu planeta Nyranium era dos mais avançadas. Que direi eu do meu planeta Terra, pois em matéria científica eles estão a mil anos de distância. E eu a pensar que estávamos sós no universo e que éramos uma civilização única mas, nunca exemplar, antes pelo contrário, deixa muito a desejar.

Eles também não têm  transportes, nem necessitam porque têm também capacidade de voar como as aves, sem necessidade de asas que, ainda é mais fantástico, porque não existe poluição. Com esta evolução toda, estou maravilhado mas, ao mesmo tempo, muito baralhado. Donde é que eles beberam esta evolução toda, é o que não conseguimos descobrir. Toda a gente é auto suficiente porque todos são cientificamente avançados, sem excepção mas, vivendo sempre em grupos restritos além de serem todos amigos. Isto é o que eu chamo, o paraíso científico.

Os edifícios são todos transparentes, não tendo nada a esconder uns dos outros. As suas paredes parecem de vidro mas, não são o que parecem, porque tudo é produzido por máquinas super inteligentes, sem beliscarem o ambiente em nada. A matéria prima é toda extraída do planeta mas das entranhas deste para que a superfície não sofra danos e apresente sempre a beleza natural que tem.

Aqui, os animais são robots fabricados por eles e que servem para fazer o serviço de somenos importância, deixando - os livres só para a ciência. Ao fim e ao cabo,  não são perfeitos, também têm os seus escravos. Estes robots têm uma mistura de máquinas e células humanas mas, fabricados com uma inteligência inferior aos seus criadores, precisamente com o sentido de apenas serem tratados como seres inferiores, destinados a fazer tarefas que os outros não querem. São como já disse os escravos desta civilização. São também como os seres da Terra com menos instrução escolar que executam os trabalhos mais violentos e sujos. Aqui somos equiparados.

Os filhos destes seres do Planeta Verde, logo após o seu nascimento, são instruídos para trabalhar na ciência, especializando -os directamente nos vários graus de ensino dentro deste ramo, sem misturas de outras matérias, sendo por isso, verdadeiros peritos em tudo o que fazem. O Planeta é constituído por uma civilização altamente treinada e muito competente. A sua capacidade mental é tanta que não existem erros, nem são admitidos, em qual trabalho especializado que executam, porque psicolgicamente são logo escolhidos de muito novos conforme a sua capacidade mental e a sua  tendência para as variadíssimas especializações. Em primeiro lugar a vocação. É precisamente por isto, que este é um Planeta com uma evolução em todas as áreas em alto grau.

Se este método fosse aplicado na Terra, não havia ninguém formado em cultura geral mas sim, peritos em todas as matérias, conforme as suas vocações e assim a ciência ganhava muito mais e se calhar o homem já podia viver debaixo de água ou lugares sem ar, devidamente adaptados pela ciência para viver em qualquer ambiente.

Em todos os lugares por onde passamos, somos aclamados e bem recebidos como benfeitores da sua raça e nós sentimo - nos orgulhosos pelo bem que praticamos. Em contrapartida, ganhamos conhecimentos e saber que dá para fazer uma revolução total, quando regressarmos aos nossos planetas. O mais adorado por eles é o nosso cavalo imponente e polivalente que, ao fim e ao cabo, é o herói principal, porque sem ele, com certeza, não seríamos nada nem estaríamos aqui com certeza.

Aqui a afectividade não existe mas, sim espírito de grupo simplesmente vocacionados para a grande ciência, sem hostilidade para quem quer que seja, havendo uma união extremamente forte e concisa, que nos deixa verdadeiramente impressionados. Só não gostamos neles é o facto de não conhecerem a família mas sim o trabalho e o bem comum do Planeta que, os distingue muito dos seres terrestres. Aqui o grupo de trabalho é que conta, não havendo, no entanto, a inveja, a violência, nem a competição entre eles mas, sim uma grande responsabilidade por aquilo que são incumbidos de fazer e é por isso que, eles são verdadeiros peritos e responsáveis pela grande evolução da sua raça.

Uma curiosidade que nos espanta, é que eles têm efectivamente o seu descanso mas, fazendo a levitação em várias vezes, em curtos períodos de tempo, de cada vez, que é o suficiente para ganharem energia para o trabalho. Não precisam de sete ou oito horas como nós. Comparados com eles somos autênticos preguiçosos. Os habitantes deste planeta têm uma longevidade grande, porque têm um dispositivo electrónico na coluna vertebral que dá alarme, quando algum órgão não está a funcionar bem e assim, é logo substituído por outro artificial ou clonado de outros órgãos do próprio organismo. Esta peça também elimina rapidamente qualquer dor que o paciente possa vir a sentir, de modo que dispõe sempre de um bem estar invejável.

Os seus mortos não são enterrados mas sim, volatilizados por uma máquina super sofisticada que transformam os corpos em vapor e este é aproveitado por outras máquinas que transformam este vapor em sangue, havendo outras que depuram - no, dispondo sempre deste precioso líquido em abundância, para as respectivas transfusões que são feitas quando necessárias por computadores mesmo no próprio local de trabalho, não perdendo tempo em internamentos. Todas as operações são feitas em pouco tempo e os doentes recuperam praticamente na mesmo dia, não desperdiçando tempo destinado ao serviço que estão incumbidos de fazer. Os internamentos são nulos e os doentes são imediatamente socorridos demonstrando uma capacidade de resolução fantástica.

No aspecto de transplantes, não há qualquer dificuldade para eles, porque têm qualquer órgão ou parte do corpo para substituir, incluindo o cérebro. Este conseguem mantê - lo vivo fora do tronco por tempo indeterminado com sistemas de irrigação artificial. Quando há deficiências em qualquer órgão incluem - lhe peças mecânicas que produz o mesmo efeito que as peças vivas. Estou convencido que eles conseguem fazer um ser robotizado, com misturas de peças vivas e mecânicas, dando - lhes um aspecto e inteligência idêntico ao ser natural, parecendo - me que, também em robotologia estão a trabalhar no futuro, não se reconhecendo a diferença entre um robot e um ser vivo. Atingiram um nível de perfeição impressionante, de uma perfeição invejável.

No aspecto religioso, ainda não vimos nenhuma manifestação que prove que a têm, não necessitando de um ser ou espírito sobrenatural para a sua existência, como acontece no Planeta Terra. Aqui são eles os próprios criadores das suas vidas, não se verificando qualquer crença num ser superior, um Deus. As suas mentes apenas são dirigidas para a ciência,  para o seu bem estar e mentalizados fortemente para a preservação do seu planeta, tendo o cuidado de não o beliscar no que quer que seja, mantendo - o ecologicamente puro.

No meu planeta Terra, passa - se precisamente o contrário, o homem dá  prioridade absoluta à ganância do mais e mais, guerreando - se entre si, pondo em causa toda a humanidade que lá vive, acabando por destrui - lo mais tarde ou mais cedo, morrendo com ele, pondo fim à existência da vida na Terra.

Então Niray, no teu planeta também preservam com todo o rigor a natureza ? Com tanto rigor não mas, logo de pequeninos temos formação escolar de como devemos proceder para que tenhamos os cuidados ecológicos  necessários para o mantermos sempre em condições de nos dar o melhor sistema de vida. Tem lógica e inteligência  este procedimento porque não temos outro planeta para onde ir e se estragarmos os nossos onde vivemos? É como  cuidarmos de nós mesmos.

 

Pelo ambiente que presenciamos, quer social quer físico isto é mesmo um Planeta Verde na verdadeira acepção da palavra, não achas Niray ? Sem dúvida Sem Nome, melhor que isto não se pode exigir. Não concordo contigo porque o melhor nunca se atinge. No limite das nossas capacidades sim. E tu sabes o limite das nossas capacidades ? É uma incógnita tal como o espaço onde nos encontramos.

Já estamos no Planeta Verde há imenso tempo, não achas que já é tempo de partirmos para outra aventura ? Acho que sim Sem Nome mas, tenho imensa pena de deixar os nossos amigos evoluídos.

A Algúria é muito grande, e com certeza que tem imensos planetas para investigarmos. Tens razão, devemos partir e matar a curiosidade sobre mais alguns astros existentes nesta galáxia. Será que há outros semelhantes a este ? Talvez sim, talvez não, só investigando.

Então está decidido. Partamos. Vamos despedir - nos dos nossos amigos.

Estamos reunidos com o conselho de grupos e participamos a nossa decisão de partir. Todos estão tristes mas, compreendem a nossa posição.

Estamos prontos, montados no nosso cavalo e dizemos adeus, talvez para sempre que é sempre triste quando nos sentimos bem onde estamos.

O nosso cavalo de fogo parte que nem uma flecha dentro da mesma galáxia e num ápice deixamos para trás o Planeta Verde até que fica reduzido a um ponto luminoso.

 

 

 

                                          CAPÍTULO XVII

 

                                       ALGÚRIA

 

 

A Niray tem lágrimas nos olhos e de vez em quando olha para trás. Tens saudades Niray ? Sim Sem Nome mas, não tem importância porque em primeiro lugar está o nosso trabalho, a nossa investigação espacial. A nostalgia dura uns tempos e depois passa com o decorrer do mesmo, e se não fosse assim, era uma tortura para quem parte e para quem fica.

Estamos em plena Algúria, cheia de milhões de astros, buracos negros, asteróides, meteoritos, cometas, rolos de gases coloridos que parecem labirintos, parecendo astros enganosos que, nos perturbam a visão pelo seu brilho incandescente. 

Agora estamos a passar por uma estrela enorme que parece feita de lava de vulcão que arde lentamente como a sarça de Deus, que mais parece estar a extinguir - se. Já viste Niray, esta não é uma estrela que está agonizando ?  É mesmo Sem Nome, está a morrer. Não vês que deita jactos de gases por muitas fendas ? Vejo perfeitamente. Que pena estar a morrer. É assim, umas nascem e outras morrem. É a lei da vida, Niray e contra esta não há que lutar porque é irreversível e impiedosa.

Perdidos no espaço vagueiam centenas seres vivos incrivelmente disformes, como se fossem flores com um caule grande, existindo no términus deste uma boca cheia de pólipos que abre e fecha como se fossem peixes na água. Parece um jardim flutuante mas, vivo como nunca tínhamos visto no espaço longínquo. Alguns encalham connosco e expelem uma espécie de pólen  colorido que deve ser a defesa principal deles. É incrível Sem Nome, como é que existem seres destes no espaço ? Vês estes e hás- de ver muitos mais completamente diferentes que se formam e  vivem no espaço, conforme as condições que o lugar lhes proporciona. Olha agora ali, Niray, um planeta miniatura, redondo, parecendo sólido mas não é. É uma bola de gases que expele fogo por todos os lados. Sem Nome, vamo - nos afastar dele não vá explodir. Não tenhas medo que não explode porque apenas é gás a arder. À volta dele tem um anel de poeira que o protege das ondas cósmicas do exterior, provocando vibrações magnéticas que nos faz sentir algo de invulgar no nosso corpo. Parecem pequenos choques eléctricos, não achas Niray ? É precisamente isso que se sente, semelhante a electricidade estática mas, o melhor é afastar - nos.

Assim fazemos e afastamo - nos, deixando de sentir as vibrações que nos cria um ardor em todo o corpo, o que prova que, o que sentimos foi mesmo provocado pelas ondas magnéticas daquele astro, se calhar impregnadas de bactérias espaciais que podem existir nesta zona. Será perigoso para a nossa saúde ? Não creio Sem Nome, porque estamos imunes a qualquer doença enquanto aqui estivermos e desde que o nosso cavalo queira, porque ele é quem nos protege de tudo.

 

Continuamos o nosso voo mas, de forma lenta para que possamos investigar com a máxima exactidão todas as formas de vida que por aqui possam existir mas, só desejamos que não sejam hostis, hipótese com que podemos contar, pelas experiências anteriores que já tivemos.

Niray, Sem Nome, dizemos os dois ao mesmo tempo, para chamar à atenção para os milhares de seres que flutuam  no espaço à nossa volta, em forma de sino com muitos pólipos à volta da boca que se encolhem e distendem, parecendo que se estão alimentar de qualquer coisa que nós não vemos à vista desarmada. Tentamos apanhar um deles mas, que coisa estranha, não conseguimos agarrar nada, são apenas corpos virtuais que se deixam atravessar sem serem destruídos. Tentamos agarrar mais uns tantos mas são todos assim. Corpos sem matéria ? Como é possível?  Não te admires Sem Nome, porque neste imenso universo há de tudo, até as coisas mais estranhas que possamos imaginar, porque a composição química do ambiente que aqui existe faz com que os seres sejam diferentes e adaptados a este espaço, tendo as formas mais bizarras e estranhas à nossa vista. Ainda estou incrédulo perante a existência destes seres. Não, não estejas assim porque no lugar onde nos encontramos tudo pode suceder e existir, por mais que nos espante, os seres mais incríveis do universo.

Olha agora Niray, aqueles grandes, tantos... , são polvos do espaço mas com muitos tentáculos que os ostentam em tom de agressão. Cuidado Sem Nome que eles estão a envolver - nos e tentam agarrar - nos. Um cola os tentáculos à Niray e ela grita, acode - me que ele quer arrancar - me do cavalo. Com muita força consigo retirar os tentáculos e empurrá - lo para fora de borda. Que suste que apanhei Sem Nome, já pensava que me queria levar e ia ficar sem ti, que nem quero imaginar.

Mas eles não nos largam, o melhor é desaparecermos daqui, senão ainda somos arrancados. Nem penses Niray, nós temos capacidade para nos defendermos e afastá - los ou destruí - los. São peganhentos como as melgas, continuam a insistir em atacar - nos. Não te preocupes Niray que o nosso cavalo já trata deles. Não vês que o nosso cavalo não lhes quer fazer mal ? Eu sei, já reparei e penso que deve ser pelo facto de serem pouco agressivos ou talvez apenas brincalhões.

Continuamos a estar envolvidos pelo polvos que parecem um bando de pássaros atrás de peixe e sempre a tentar lançar os tentáculos. O nosso cavalo voa com mais velocidade para ver se eles despegam mas, nem assim, continuam a perseguir - nos. Bem, temos que fazer alguma coisa para os afastar de vez e continuarmos em paz. O nosso cavalo lança - lhes raios eléctricos que os paralisa momentaneamente, fazendo- o várias vezes até os atingir a todos. Como é bom vê - los inertes, todos enrolados e  a flutuar no espaço. Isto não lhes faz mal nenhum, Apenas é um meio de os afastar de vez da nossa companhia. Continuamos a nossa viagem na imensa Algúria, na tentativa de descobrir outros planetas para investigar e descobrir outras vidas ou outras civilizações mas, temos a impressão que mais nenhum planeta desta galáxia será habitado.

Que mais vamos encontrar Niray ? É uma incógnita Sem Nome. Como já por aqui proliferam seres diversos e das mais formas mais esquisitas, como estes por exemplo que estão a passar por nós que parecem minhocas brancas. Ena tantos, até parecem nuvens e serpenteiam incessantemente. Estamos  a ficar repletos destes seres mas, sorte a nossa que eles descolam com a velocidade que levamos. Estás a ver Sem Nome, aqui encontra - se de tudo, desde os seres mais pequenos aos maiores como os polvos que encontramos há pouco. Qual será a composição química do ar desta galáxia para existirem seres desta natureza, tão diferentes e disformes ? Isso não sabemos mas, se eles existem é porque têm as condições ideais para sobreviverem. É interessante, o cheiro que predomina aqui, é semelhante a enxofre mas, não deve ser só isto, há outras misturas de gases que não conhecemos o cheiro mas,  não é desagradável.

Agora temos à nossa volta muitas bolinhas transparentes que mais parecem bolhas de ar mas, não são porque têm autonomia. São semelhantes a bolinhas de espuma de sabão. Estes também são seres vivos, Niray ? Parece - me que sim, Sem Nome. Batem em nós mas não se desfazem, já viste Niray ? Sim, estou a reparar mas, agora vou tentar apanhar uma e analisar bem.  Elas escorregam da mão Sem Nome mas, hei-de  conseguir prender uma na minha mão. Vou tentar também apanhar uma Niray. Não está a ser fácil, até parece que têm gordura. Temos de conseguir, não vamos desistir. Pareces que jogamos à apanhada mas elas vencem sempre. Estamos a fazer disto uma brincadeira que nos provoca gargalhadas.

Olha, Niray, consegui uma. Mostra, mostra. Pronto, aqui a tens, analisa - a bem. Ela estrebucha na minha mão, Sem Nome mas não a vou deixar escapar, enquanto não a verificar bem. 

Olhamos em redor e vemos que, à nossa volta há milhões de bolinhas que parecem que choram e pedem para soltarmos a sua amiga.  Olha Sem Nome, ela tem órgãos, portanto, não há dúvidas é um ser vivo.

Mas, que é isto, Sem Nome, ela está a inchar e vai rebentar. Solta - a Niray, porque não se sabe o que pode acontecer. Pronto, aqui vai ela. Livre, volta à posição inicial e toas as companheiras recolhem - na no seu seio e desaparecem como que por magia.

Bem Niray, temos vários planetas à vista, por qual deles começamos a nossa investigação ?  Vamos começar por aquele que tem duas luas à sua volta que parecem dois guardas que vigiam a entrada na sua órbita de qualquer intruso. Pode ser vamos lá a caminho dele, para que a nossa curiosidade seja satisfeita. Não tenho esperanças que possa haver vida. Dou- te o exemplo do meu sistema solar  onde se situa a Terra que apenas esta é habitada. Isso não quer dizer nada Sem Nome, porque por analogia não podes afirmar seja o que for. Eu sei, mas é uma intuição. Assim já estou de acordo.

O nosso cavalo decididamente voa velozmente em direcção ao planeta das duas luas e nós, de olhos postos nele, para alcançá - lo o mais depressa possível. Vamos encontrando pelo caminho muitos meteoritos e alguns asteróides que passam por nós a toda a velocidade e  que fumegam, parecendo autênticas caldeiras, talvez expelindo gases que contêm no seu interior.

Finalmente estamos muito perto do nosso objectivo e não tarda que estejamos a pousar na sua superfície se é que a tem. Ele é grande e amarelado com muitas manchas negras e que gira à volta de si mesmo com uma velocidade fora do comum que nos deixa admirados e ainda com mais curiosidade para o conhecer in loco. O nosso cavalo começa a fazer círculos à sua volta para tentarmos pousar com segurança.

Estamos em posição vertical para a descida lenta sobre si e ao mesmo tempo, sinto o coração da Niray nas minhas costas, um pouco acelerado, em sinal de intranquilidade e algum receio. Não digo nada e começamos a descida definitiva. Pousamos. Não há dúvida que é terra firme, podemos estar neste aspecto, à vontade.

O solo é de terra solta e ao mesmo tempo rochoso. Existem muitas e muitas pedras soltas no seu solo como se tivesse havido chuva delas. Vamos caminhando e ao mesmo tempo observando para todos os lados até onde os nossos olhos alcançam com toda a atenção e cuidado para tentar ver se realmente há seres vivos, coisa que até agora não vislumbramos. Crateras  enormes e grandes elevações temos a certeza que existem  mas, vida, nada de nada, por enquanto. Pegamos numa pedra e jogamos ao ar e achamos graça porque leva uma eternidade para chegar ao chão, o que prova que a sua gravidade é muitíssimo baixa. Repetimos isto várias vezes mais para brincadeira para vermos elas descem muito lentamente e enterrando -se no solo de terra solta. Vegetação não existe, sendo o seu solo completamente careca e árido. Os montes são altos, compostos de placas de pedra negra empilhadas como se tivessem sido colocadas de propósito mas não, foi o próprio tempo que as construiu ao longo de milhões de anos com certeza. Todos os montes têm a mesma natureza, todos são de tamanho irregular, quer dizer uns mais baixos e outros mais altos. Continuamos o nosso caminho à procura do incerto, completamente descontraídos convictos de que vida não deve existir mas, cuidado não vá o diabo tecê - las e sermos surpreendidos por alguma forma de vida hostil.

Repara Sem Nome que no solo existe sinais de seres rastejantes e não é de há muito tempo. É verdade, tens razão. Será que é verdade que existem mesmo animais rastejantes? Como podem viver num clima árido e inóspito ?  Já te esqueceste que todos os seres se nascem e adaptam- se ao meio que têm ? Quem sou eu para duvidar se já encontramos de quase tudo ? Vamos no rasto destes seres para ver se os encontramos e conhecê - los de perto. Se eles deixarem Sem Nome. Achas que são grandes ? Pequenos não são, pelo rasto que deixam no solo. Vamos lá ver o que isto vai dar. O que vai dar não, vamos ver o que vamos encontrar. Ó Niray tu sabes o que quero dizer, não sejas chata com a tua intelectualidade. Está bem, vamos lá andando para ver se os conseguimos encontrar.

Lá estão eles, não vês Niray ? Sim, sim estou a vê - los. Vamos a aproximar - nos com todo o cuidado. O nosso cavalo não relincha é porque não devem ser hostis. É por isso que estou descansada. Ena, Sem Nome, são grandes. Têm uma  carapaça coberta de saliências agudas e seis patas com três dedos e três grandes garras, que considero armas de defesa, o que quer dizer que, não só são eles  que existem aqui. Olham para nós e fazem grrrr, grrr, grrr com uma língua grande e bifurcada, para nos assustar ou em ar de defesa mas, não mais do que isto. Têm um só olho inserido no meio da cabeça que gira para todos os lados como um camaleão. É um ser pesado que se arrasta lentamente no solo porque as suas patas não aguentam com o corpo, o que parece estranho.  De repente, para nosso espanto, estes seres pesadões e vagarosos, abrem asas e começam a voar formando um longo bando, desaparecendo no horizonte. Nunca nos passou pela cabeça que seres desta natureza se pudessem comportar desta forma. Tudo nos levava a crer que eles vivessem agarrados ao solo nunca podendo voar, porque na sua fisionomia não víamos indícios de quaisquer asas.                                                                                                                                                                                                                                                                                 Aqui acontecem as coisa mais espantosas que, nem na imaginação mais fértil poderia  ter criado, parecendo inacreditável que isto possa acontecer.

Ó Niray, que dizes a este acontecimento ? De facto provoca espanto mas, ao mesmo tempo, não te esqueças que estamos  numa zona do Universo onde podem acontecer as coisas mais enigmáticas e estranhas porque a composição química que nos rodeia proporciona a existência de seres invulgares que, para nós é muito estranho. Pois é tens toda a razão mas, eu é que sou distraído e por vezes não me lembro que estamos noutro mundo. Pela mesma razão, também nos oceanos, quanto mais fundo se penetra mais estranhos são os seres vivos. Todos vivem de acordo com o seu ambiente, não é assim Niray? Sem tirar nem pôr, é assim mesmo, a comparação está óptima.

Montados no nosso cavalo, caminhamos à descoberta de mais formas de vida neste planeta árido e pedregoso, a que poderemos chamar o planeta das pedras, porque é o que mais abunda por aqui, parecendo até que este astro foi alvo de um dilúvio de pedras. As grandes crateras são poucas mas, as montanhas são muitas mas, completamente peladas  e imponentes parecendo implorar aos deuses  para as cubra de neve ou chuva e se vistam de verde.

Alegrem - se as montanhas, as crateras e os vales que a neve cai como que por milagre e o verde aparece e cobre tudo dando uma tonalidade de esperança  de vida a toda a área que a nossa vista alcança. Correm riachos, cascatas e cataratas, formam - se lagos, charcos e lagoas. A vida pulula e avança, e todo o planeta canta de alegria e vivacidade. Esvoaçam as aves, cantam os pássaros e o céu é azul. Que se passa Sem Nome, o que é que tu tens ? Responde Sem Nome, acorda e fala. Estremeço e digo o quê ?  Desculpa Niray, estava a imaginar que este planeta se cobria de vida, isto é estava a sonhar acordado, com uma força psicológica tremenda para que tudo fosse realidade mas, infelizmente o planeta continua árido, seco e  apenas com os seres que rastejam e voam e ficamos momentaneamente sós. Que pena não ser verdade o que estavas a imaginar. Pois é, a realidade é esta e nós somos os mesmos que continuamos na nossa investigação.

Vamos voar sobre o planeta e aprecia - lo lá do alto se vale a pena continuar a nossa tarefa, concordas Niray ? Sim vamos.

Aparentemente não se vê diferenças  dignas de registo que valha a pena mais uma descida. Em vias disto resolvemos continuar a voar na Algúria  e  aproximar-mo - nos dos outros planetas e estrelas que formam esta galáxia que tem muito para observar e investigar. 

Neste momento estamos a observar estrelas que são completamente vermelhas que têm explosões gigantescas e outras muito perto completamente azuladas mas muito pequenas que parecem estar em formação, girando à volta destas como se cruzassem o seu sentido de gravidade.  De vez em quando vêm -se colisões de pequenos astros que explodem como se fosse fogo de artifício, provocando grandes clarões no espaço. Passamos agora também por um buraco negro, rodeado de uma auréola de fogo, talvez escondendo dentro de si algum abismo que, porventura, possa   conter alguns segredos do universo. Entrar lá seria o ideal mas, o receio ou o medo é maior que qualquer estrela desta galáxia, embora o nosso cavalo fosse capaz de penetrar nele e desvendar tudo o que ele contem mas, poderia custar- nos o nunca regressar que, seria o pior que nos podia acontecer e assim, lá se acabava tristemente a nossa odisseia. Portanto, o melhor é não tentar intimidar o medo e não pensar em coisas trágicas, seguindo em frente com o que temos em mente, que é investigar seguramente todo o espaço sideral que nos for possível.

As estrelas vivas não podemos visitá - las porque são muito incandescentes e emitem um calor tão grande que só as podemos observar de longe, restando - nos apenas os planetas e as estrelas mortas mas, preferimos os primeiros que é o que mais nos interessa, porque nestas temos a hipótese de encontrar vida que é sempre mais aliciante, embora também se corram riscos mas, sem vencer riscos a vitória não dá prazer.

Como vês Niray, temos aqui outros planetas para visitarmos. Queres escolher a  qual deles o nosso cavalo nos pode conduzir ? Tem de ser de comum acordo, Sem Nome, como sempre temos feito. Que achas daquele que está envolto em anéis com manchas avermelhadas,  e tem várias luas que o circundam ?  É lindo mas, resta saber se é sólido ou se é composto apenas de gases. Sem nos aproximarmos não podemos saber qual é a sua composição. Então vamos lá matar a nossa curiosidade mas, não te esqueças que, a curiosidade matou o gato. Não achas Sem Nome que, nós temos mais cuidado do que o gato ? Sem dúvida mas o seguro morreu de velho.

E assim e de comum acordo, o nosso cavalo arranca em voo acelerado em direcção ao planeta das luas que aguarda a nossa visita nem que seja de passagem, porque não sabemos se podemos pousar. Se for de terra firme, com certeza que o faremos,  para investigarmos se realmente tem vida ou se é deserto.

Vamo - nos aproximando cada vez mais e o planeta e as suas luas são cada vez maiores e majestosos que nos vai provocando ansiedade por - conhecê- los de perto. Esperemos que possamos satisfazer o nosso desejo de nele pousar e investigá - lo cuidadosamente com o objectivo principal de encontrar vida que em princípio não julgávamos ser possível haver para além da Via Láctea,  Galáxia onde pertence a Terra e todo o seu Sistema Solar.

Repentinamente entramos num mundo invernoso, de tempestades de poeiras e pequenos meteoritos. O vento é fortíssimo que nos deixa preocupados. Só a destreza do nosso cavalo, é capaz de vencer os ventos carregados destas matérias que nos perturba. Os ventos são tão fortes que, sentimos que podemos desaparecer na imensidão do cosmos e fazer parte eterna dele. O nosso cavalo vai resistindo e protege - nos com a sua cápsula magnética mas, o vento faz uns gemidos soturnos que nos arrepia. De momento sentimos que andamos à deriva no seio da tempestade mas, o nosso cavalo é invencível e devolve- nos a esperança, saindo deste inferno a muito custo.

Uf, que alívio Niray. Quem havia de pensar que havíamos de passar este mau bocado ?  Ó Sem Nome, confesso - te que cheguei a desanimar quando ficamos à deriva mas, não há dúvida que o nosso cavalo tem uma invencibilidade tremenda. Acho mesmo que é invencível. Também creio, Niray. Eu não creio, tenho a certeza.

 

O Planeta que pretendemos visitar tem precisamente nove luas muito mais pequenas que ele, que giram à sua volta como nove sentinelas que o seguram na sua rotação, através da gravidade. Se existirem seres vivos, esperemos que não nos façam guerra e que nos deixam entrar pacificamente. Estamos a passar as suas luas e dirigimo - nos para o Planeta que é enorme, parecendo - nos pela sua configuração que, se trata efectivamente de um astro sólido,  onde poderemos pousar em segurança como desejamos.

Enquanto o nosso cavalo voa à volta do Planeta, pergunto à Niray: chegou a hora de nos decidirmos, pousamos ou não ? Parece que estás indecisa. Não, não,  Sem Nome, não estou indecisa, às vezes o que parece não é. Não vês que o nosso cavalo não relincha é porque não há problema, senão ele era o primeiro a avisar - nos, não achas ? Está bem Sem Nome, eu sei, está decidido, vamos descer.

Lentamente o nosso cavalo começa a operação para chegarmos ao contacto físico com o Planeta das Luas. Atravessamos uma pequena auréola de poeiras e depressa estamos em cima do nosso astro.

Pronto, Niray, já cá estamos. Vamos lá ver o que nos espera. Tudo há - de correr bem. Assim esperamos Sem Nome. Ó Niray, parece que estás desconfiada. Estás a esconder ou a pressentir alguma coisa que eu não saiba ?  Está descansado Sem Nome que não tenho nada a esconder, nem pressinto seja o que for. O nosso cavalo é que é especialista nas premonições e neste aspecto, podemos estar despreocupados que, ele ainda não deu qualquer sinal.

O Planeta é rochoso como os outros, tendo crateras, montes e vales mas, vegetação nenhuma, sendo à primeira vista um planeta árido. Vamos ver se quanto a vida nos traz alguma surpresa mas, que não seja hostil, para não termos que andar em guerra que é sempre muito desagradável e ao mesmo tempo, termos que eliminar outros seres vivos para podermos sobreviver que, ao fim e ao cabo é a lei da guerra, que é o maior flagelo de todos os planetas onde exista.

Montados no nosso cavalo, caminhamos lentamente para apreciarmos com todo o pormenor, todo o solo que pisamos para ver se encontramos vestígios de alguma hipótese de vida que, nos parece muito remota mas, temos de estar atentos porque podemos estar errados e apanharmos um grande susto que, é normal nos seres vivos, seja de que natureza forem.

Gosto de ouvir os gritinhos que a minha amiga Niray dá quando somos confrontados com alguma situação inesperada. Dá - me vontade de rir mas, ela não gosta mas, depois passa -lhe e sorri também. É um ser excepcional que eu adoro.

Dirigimo- nos para um vale muito extenso, passando por algumas ravinas bastantes perigosas até chegarmos ao desejado vale de terra mole e fina, erguendo - se de um lado e outro grandes montanhas, cujo cimo quase se perde vista que se elas desabassem ficávamos definitivamente a fazer parte do planeta das luas. Pensamentos negativos é que não mas, tudo vem à mente quando estamos calados e por isso, é sempre bom conversar com a minha amiga e querida Niray que é extremamente positiva e com quem gosto muito de conversar. Aliás, é sempre muito agradável conversar com quem gostamos muito.

Agora que estamos num vale deste planeta das luas, cujo solo, dado a sua natureza é propício a vestígios de algum ser vivo que porventura exista por aqui, é bom que estejamos atentos, não achas Sem Nome ? Tens razão Niray, é conveniente estarmos atentos, embora não acredite muito que haja vida por aqui. Não tenhas tanta certeza assim, Sem Nome porque às vezes quando não se espera acontece. Mas tens algum pressentimento Niray ? Não bem pressentimento mas, palpito que haja por aqui qualquer coisa que se mexa para além de nós. É melhor continuarmos a andar e observar  bem se realmente tens razão.

Algures, em pleno vale estamos parados e muito apreensivos porque o nosso cavalo relincha e quando ele o faz, algo estar para acontecer. Bem Niray, o que será que vai suceder ? Seja o que for é melhor estarmos preparados. Acabando de dizer isto, grita - me a Niray que tem uma visão fantástica : olha Sem Nome, digo-te que já não estamos sós. Arrepio - me. Que me dizes Niray ? Sim, olha bem para o fundo vale e diz se vês alguma coisa. Por enquanto não. Então espera que já vais ver. Continuo a olhar bem para o horizonte do vale e efectivamente vejo muitas coisas que se mexem mas, não distingo ainda o que é. Pronto, efectivamente não estamos sós. Continuamos parados a aguardar que se aproxime o que quer que seja. O meu coração bate acelerado. Como está o teu coração Niray ? Um pouco assustado Sem Nome. Não te esqueças que temos aqui o nosso defensor. Eu sei mas, fico sempre nervosa quando isto acontece. Não há - de ser nada. Até pode ser que os seres não sejam hostis.

Já dá para ver do que se trata. São milhares de utentes deste vale que dirigem para cá mas, ainda não se vê bem como são. A pouco e pouco vão- se aproximando e nós parados à espera deles,  montados no nosso cavalo para, no caso de sermos atacados, ripostarmos ou levantarmos voo, para maior segurança. Lentamente vamo- nos apercebendo da sua fisionomia, até que ficam relativamente perto de nós e também param, parecendo algo receosos. Têm duas pernas muito compridas, fininhas, um tronco muito pequenino, braços também finos mas curtos. O pescoço é comprido encimado pela cabeça pequena com dois olhos pequenos mas redondos muito vermelhos que brilham muito. Dirigimo - nos para eles e ao mesmo tempo recuam, em sinal de medo, o que nos faz descansar mais. Continuamos a andar para continuarmos a aproximação mas, eles continuam a recuar. Tentamos dizer - lhes que somos pacíficos, não queremos fazer - lhes mal, mas eles ficam indecisos, não sabendo se recuem ou se esperem. Continuamos a falar para eles : esperem, não lhes queremos fazer mal, somos amigos mas, eles nada respondem. Se calhar não têm voz. São imensos e nós somos apenas três, como é possível mostrarem tanto receio ?  Nunca viram um cavalo e dois seres humanos, completamente diferentes deles e aos seus olhos seremos monstros com certeza.

Fazemos nova tentativa de aproximação mas eles continuam a ter reacções de medo, recuando e tropeçando uns nos outros, parecendo - nos à primeira vista, seres muito frágeis mas, não fiando porque às vezes debaixo de uma pedra sai um lagarto.

Não sabemos o que havemos de fazer para conseguir um contacto com estes seres, uma vez que se mantêm afastados, não permitindo uma aproximação real. Não queremos forçar esta ligação para que não se afastem de vez e nos dêem ainda alguma hipótese que, pelos vistos deve ser remota.

 

Possivelmente o nosso aparecimento neste vale interrompeu o destino que levavam e uma vez que não o permitem, o melhor é desviarmos a nossa rota para outro lado.

Assim, levantamos voo no nosso cavalo de fogo e desaparecemos desta região deixando em paz os seres de pernas delgadas e de olhos vermelhos, interrompendo desta forma, a nossa investigação naquele lugar. Uma coisa é certa, sabemos que existe vida neste planeta das nove luas, cujos seres são completamente diferentes dos que temos encontrado. De planeta para planeta, os seres são sempre diferentes, o que é compreensível, uma vez que na própria Terra de região para região também têm as suas diferenças, muito embora sejamos todos  humanos.

Já que sobrevoamos novamente o planeta, achas minha querida Niray, que vale a pena continuar por aqui por muito  mais tempo ? Francamente, Sem Nome, não estou muito entusiasmada. Desejava algo que nos desse mais luta. Estás muito guerreira? Não, não é nesse sentido que estás a pensar mas, sim no aspecto de aventura sem violência. Mas, nós estarmos aqui é uma grande aventura. Agora não encontro palavras para te definir o que pretendo dizer - te. Está bem. Então achas que devemos partir para outra investigação mas, noutro astro nesta galáxia ? Olha, se queres que te diga, acho muito melhor, sim.  Então vamos sair desta órbita, porque astros para investigar não nos faltam.

Na imensidão da Algúria, voamos a uma velocidade lenta para apreciar todas as estrelas e observar com toda a atenção todos dos muitos elementos que a compõem, o que estamos a fazer já há muito tempo.

Estamos a observar lá muito longe milhares de pontos prateados que se deslocam a uma velocidade estonteante, ao mesmo tempo que, o nosso cavalo corresponde com vários relinches prolongados para nos avisar que nos preparemos para a guerra. Aqueles pontos prateados deslocam - se na nossa direcção, o que quer dizer que possivelmente, já nos viram e pensamos que seja para nos expulsar da galáxia, caso sejam naves hostis.

Estás pronta Niray ? Sim, já sei que temos visitas mas, desta vez estou desejosa de ver o nosso cavalo em acção. Não te estou a conhecer Niray ? Antes detestavas todas as contendas e agora, de um momento para o outro mudaste de postura ? Sim, efectivamente mudei de comportamento, porque a fraqueza não nos leva a qualquer lado. Assim, é que te gosto de ouvir falar.

Partamos também ao encontro dos possíveis inimigos para não darmos parte de fraco. Gritamos ao mesmo tempo : a eles, e o nosso cavalo também nos acompanha com um relinche muito prolongado. Estamos cheios de adrenalina, prontos para o que der e vier. Querem guerra, guerra vão ter.

Os pontos prateados deixam de o ser, parecendo- nos agora, embora ainda muito pequenos, objectos voadores em forma de estrelas metálicas que brilham bastante no céu e que se aproximam a toda a velocidade de nós. Estamos com uma certa angústia, mas confiantes no poder do nosso cavalo que nos há- de valer em mais esta  pretensa contenda. Voamos um pouco mais baixos do que as prováveis naves que agora já não parecem estrelas mas águias metálicas, o que nos leva a crer que sejam mesmo naves espaciais que, estrategicamente se dispoem  numa frente em triângulo a uma altura bastante acima de nós. Já estamos relativamente perto delas e a nossa adrenalina aumenta ainda mais, agora que o nosso cavalo aumenta de velocidade e se afasta subindo para uma posição superior.

Eis que, inesperadamente sofremos uma explosão, ficando envolvidos numa grande bola de fogo e perdemos os sentidos adormecendo completamente, sem saber o que se passou a seguir. Acordamos completamente bem instalados numa grande nave espacial e digo para a Niray: o que foi que nos sucedeu ? onde estamos nós ? e o nosso cavalo, onde está ? Terá morrido ? Também não sei o que se passou mas, parece - me que o nosso cavalo se transformou nesta nave para termos mais capacidade bélica. Será assim como dizes Niray ? Quase que tenho a certeza que sim. Escuta o relinchar dele, é mesmo isso como eu digo. Efectivamente ouço o relinchar em toda a nave, o que prova que o que dizes é verdade. Estou espantado, como é que um cavalo faz isto ? Não é para compreender, mas aconteceu.  Olhamos para fora das vigias e observamos que as outras naves em forma de águia circulam em forma de triângulo à nossa volta. À nossa frente temos um painel electrónico, onde aparece num ecram gigante a figura do nosso cavalo cor de fogo que cintila como uma estrela. A nave é espectacular completamente automatizada, enfim um espanto mas, temos muitas saudades do nosso cavalo de fogo. Esperamos que quando isto passar, ele reapareça.

Agora temos na frente este problema para resolver. Vamos lá ver o que se vai passar.

Estamos cercados de águias prateadas e os primeiros tiros da contenda aparecem, fazendo estremecer a nossa nave que, responde automaticamente com uma rajada certeira em cinco águias, fazendo -as explodir. A velocidade  é tremenda e o tiroteio é cerrado. A nossa nave treme de vez em quando mas, vemos explodir águias a fio perante os nossos tiros certeiros. Um dos quadros electrónicos é atingido com um tiro dos nossos inimigos mas, por artes mágicas automaticamente se recompõe e a força bélica continua.

Por momentos as águias desaparecem, provocando um interrégno na contenda que nos dá uma sensação de alívio mas, esperamos por outra carga que não deve tardar. Neste intervalo vamos pôr a conversa em dia e comentar os factos sucedidos.

Então Niray, que te parece toda esta transformação ? Ó Sem Nome, não tenho palavras para poder comentar. Ainda não estou em mim, no que nos está a suceder. Então não comentes e olha bem para esta grandeza electrónica. É o último grito.

Ó Sem Nome, como é possível esta transformação de um cavalo em nave ? Isto não será um sonho ? Qual sonho nem sonho, isto é realidade e vamos vivê - la para mais tarde recordar. Não brinques com isto Sem Nome. É muito sério. Então o que queres que eu faça ? Se eu não posso explicar o porquê destes acontecimentos, tenho que levar isto a brincar. Relaxa e alegra- te que aí vem mais fogo. Aqui temos os nossos amigos novamente.

Ouvimos o relinchar em toda a nossa nave e os tiros dos águias continua a repetir - se. A nossa nave continua a estremecer, agora com mais violência e ela responde com uma violência bélica que só se vêem águias a explodir novamente umas atrás das outras. É um festival. Abrimos uma estrada entre o inimigo e disparamos para ambos lados, provocando baixas que é uma calamidade. Esta foi de mestre, grito eu para a Niray. Ela aprova e faz o seu gritinho de guerra que dá gozo ouvir. Batemos as mãos que provoca um estalo de alegria.

As águias nunca mais acabam, até parece que cada vez há mais e não abrandam os ataques. Quando será que nos vemos livres desta praga ? Nem tão cedo, diz - me a Niray. Não me digas isso. Até parecem carraças.

O que são carraças ? Numa altura destas queres que te explique o que são carraças ? Tem calma Sem Nome e explica lá. Pronto, carraças são bichos invertebrados a que chamamos parasitas porque vivem agarrados aos animais de sangue quente e alimentam - se deles. Estou satisfeita. Toca a guerrear.

Ainda bem que a nossa nave é toda automática e inteligente porque senão, no meio desta conversa, tínhamos sido fritos. Olhamos pelo painel da proa e mesmo direito a nós vem uma águia suicida para embater mesmo de frente mas, não serve de nada porque a nossa  nave ápice fê - la explodir, vendo - se uma grande bola de fogo.  Batemos novamente com as mãos e dizemos, mais uma fora de circulação.

Continuam a andar à nossa volta como mosquitos à volta da luz mas esturricam - se sempre, fazendo uma bola de fogo e desaparecem no infinito. Eles não desistem e nós também não. Dois teimosos a bater à mesma porta. É um termo engraçado Sem Nome. Isto é linguagem simples e pura que, só o povo sabe dizer na sua imensa  sabedoria infinita.

Agora, um grupo de talvez de dez águias tentam suicidar - se contra nós para nos fazer explodir mas, a inteligência da nossa, não permite e saímos da rota de colisão, dando - lhes um prazo maior de vida. Não desistem e lá vêm outra vez, tentar novamente a colisão mas, desta vão fazer lixo no espaço, com certeza. E assim, uma grandiosa explosão, que mais parece um cogumelo de fogo, eleva - se no espaço quando lhes acertámos em cheio nas suas carcaças. Desta vez dizemos : olé, olé ...

Somos a nave invencível, o terror do espaço, só para os que tentarem destruir- nos porque lá diz o ditado : quem o seu inimigo poupa, às suas mãos morre.

Somos pacíficos, não queremos guerras. Apenas somos uma equipa de investigação que quer fazer as suas explorações em paz mas, temos os nossos meios de defesa. Não somos como os nossos amigos do planeta verde que vivem apenas para a ciência e não inventam meios de defesa. São opções de vida, há que respeitar.

As águias metálicas sobem para uma posição superior à nossa, e descem vertiginosamente fazendo fogo sem cessar, para nos conseguir derrubar. Só que a nossa resposta anula os seus ataques e continuam a dar um festival de explosões. Mesmo assim, não recuam. Nunca vimos tamanha teimosia. Os nossos voos são acrobáticos e arriscados para fugir ao fogo inimigo que é intenso e persistente. Neste momento, aparecem dois grupos de águias suicidas, um do lado esquerdo e outro do lado direito, a toda a velocidade, com a intenção de nos fazer explodir mas, a perícia da nossa nave automática é fantástica, deixando - se por momentos ficar entre os dois grupos atacantes, dando a impressão ilusória que nos vão embater e quase a dar - se o momento crítico, a nossa nave dispara num voo rápido como o pensamento, deixando de ser alvo apetecido e fazendo com os dois grupos de águias suicidas embatam um no outro, provocando uma explosão enorme, como se fosse a erupção de um vulcão. Neste acto ouve - se na nossa nave um relinchar de contentamento, o que prova que o nosso cavalo é a nossa nave e que não nos deixou.

Uma vez que, as águias já são em número reduzido, causando- nos pouco perigo, estou a pensar numa coisa que transmito de imediato à minha amiga Niray :  Nem queiras saber o que me está a ocorrer no pensamento ? Diz o que é  que estou a ficar curiosa. Entretanto a nossa nave vai ziguezaguendo entre as naves inimigas. Estou a pensar em capturarmos uma das naves águias e saber como são os seres que as pilotam. É arriscado, Sem Nome, não achas ? Acho mas, a vida é um risco constante.  A ideia é brilhante mas, tenho receio que essa operação nos traga problemas. Confia Niray e experimentemos. Não te esqueças que o nosso cavalo não nos deixou. Ainda me faz impressão como é que ele se transformou nesta grandiosa máquina de guerra. Com ele tudo é possível. Os águias continuam à nossa volta, tentando eliminarmos, enquanto paramos o nosso fogo.

Está bem Sem Nome, vamos tentar fazer essa operação. Assim é que é falar. Vamos a isso. Olhamos para um dos poucos águias sobreviventes e perseguímo -lo a toda a velocidade, por cima dele, de modo a fazermos a acoplamento, mantendo a mesmo velocidade que ela. As duas naves voam juntas uma à outra e sentimos a águia está presa a nós porque dá muitos impulsos para se deslocar mas não consegue.  Agora já a temos prisioneira e voamos a toda a velocidade para longe das suas semelhantes para investigarmos com calma um dos nossos inimigos.

Pronto Niray, já cá a temos. Agora é procedermos à operação de sucussão depois de aberta a sua escotilha. Estou ansiosa Sem Nome. Também eu estou ansioso para saber como é o ser que está lá dentro. Entretanto aparecem perto de nós as outras poucas águias mas não fazem fogo, apenas se mantêm à distância e na expectativa, com certeza para verem o desfecho da operação que estamos a levar a cabo.

Neste momento, estamos a proceder à abertura da escotilha da águia prateada com um pequeno braço robótico que fica na barriga da nossa nave. Operação efectuada e a seguir é o acto mais esperado, a sucussão do piloto do águia.

Estás pronta Niray, para receber a visita ? Ai, Sem Nome, espera um pouco. Estou muito nervosa porque não sei como ele é fisicamente. Não sei se é horrível, se é bem parecido, estou a ficar um pouco perturbada.  Ó Niray, o que é que se passa contigo?  Ainda há pouco parecias uma guerreira intrépida, agora estás uma lamechas ? Tem coragem que eu vou puxá - lo. Não, não ainda não o faças, espera um pouco. Afinal concretizamos a nossa operação ou soltamos o prisioneiro ? Tem calma Sem Nome, dá tempo ao tempo. Está bem, desculpa.

Enquanto se mantém a indecisão da Niray, os águias prateadas continuam à espera do desfecho desta cena, à distância sem qualquer intervenção, o que nos parece muito estranho, dado as suas investidas suicidas que mantiveram connosco durante algum tempo.

É desta Niray ? Está bem, vamos lá ver o que surge. Podes puxá - lo para cima, que eu estou em condições psicológicas para o enfrentar. Pronto, aqui vai disto. Carrego na tecla de sucussão do painel e ficamos à espera. A Niray treme e eu estou ansioso para ver o que aparece lá debaixo. A pouco e pouco ouve - se o zumbido do içar da nossa visita.  Através do canal de sucussão, já na parte final, começa a aparecer uma cabeça cheia de botões luminosos que piscam incessantemente, até que aparece o corpo todo, tendo na cara duas órbitas redondas e muito vermelhas, duas pernas e dois braços terminando com duas mãos apenas com dois dedos. Pousámo - lo na nossa frente. Ambos estamos boquiabertos porque esperávamos um ser vivo e sai - nos um robot. Diz - me a Niray, estava tão assustada para no fim sai da caixa de surpresas um autómato. Por esta é que eu não esperava. Também eu, estou estupefacto perante tamanha novidade. Todo ele acende e paga e fala uma língua que não percebemos que deve ser transmitida da base das águias. Que fazemos com ele Niray ? O melhor é recolocá - lo na sua nave e deixá- lo fugir. Achas bem, assim? Desta forma temos mais um contra nós. Vamos experimentar soltá -o e se fizer alguma coisa contra nós, fazemos dele uma fogueira. Está bem, façamos o que dizes. Metemo -lo no canal de sucussão e enviamo - lo para baixo. Soltamos a nave e dirige - se rapidamente para junto dos outros que o esperavam há muito tempo.

Para nosso espanto, todas os águias desaparecem no espaço, deixando - nos em paz com a nossa majestosa nave. Houve - se mais um relinchar do nosso cavalo, aparecendo no monitor todo imponente com ar vitorioso.

Que mais surpresas terá a Algúria para nos oferecer ? Não sei Sem Nome, é o que  vamos tentar descobrir enquanto estivermos no seu espaço. Com tantos milhões de astros que existem nesta galáxia, nem daqui a um milhão de anos conseguíamos visitar todos. Lá isso é verdade mas, não é essa a nossa intenção porque o que nos interessa são os possíveis planetas que tenham vida.

 

Voamos lentamente no espaço da Algúria e para descontrair digo para a Niray : não te voltes para trás, fica quieta. Mas porquê ? Porque atrás de ti está o robot que há bocado puxámos para cima. Não pode ser, estás a brincar? É verdade, não te vires para ele não sentir que está a ser observado. Mas se é um robot, não se assusta. De repente a Niray vira - se e nada vê, dizendo : onde está ? Olhaste para trás e, desapareceu. Mentiroso, estás a brincar comigo. Foi só para ver a tua reacção. Como vês, não me assustaste. Ainda bem.

Enquanto estamos na brincadeira aparece no painel electrónico um objecto envolvido em fogo que se desloca a uma velocidade tremenda, na nossa direcção. Em face do perigo de colisão, desviamo - nos da sua rota que possivelmente se destina a fazer estragos nalgum planeta. Para que isto não aconteça, o melhor será destruí - lo e evitar uma catástrofe onde possivelmente iria bater. Esperamos que ele se aproxime mais e ao mesmo tempo damos - lhe maior imagem para vermos melhor do que se trata. É efectivamente o que suspeitávamos, um meteoro de proporções exageradas muito perigoso que, pode causar a eliminação da vida de qualquer planeta. Controlamo - lo no nosso painel electrónico medido a distância a que se encontra e a velocidade a que se desloca para que, possamos destruí - lo. Pronto, chegou a altura de apontar para ele todo o nosso poder bélico. Colocamo -lo na mira e disparamos, vendo- se em fracções de segundo, uma explosão tão grande que parece o Sol do sistema solar da Terra. A nossa nave também tremeu muito com o vento que foi desencadeado pelo rebentamento do meteoro e alguns fragmentos dele embateram - nos mas, não causaram estragos. Dever cumprido, consciência tranquila e viagem normalizada para tentarmos descobrir outro astro e investigá - lo, como temos feito a todos os outros que temos encontrado nesta longa viagem espacial e inesquecível.

Prosseguimos novamente a aventura dentro na Algúria, observar e investigar tudo o que podermos que, afinal é tudo o que pretendemos e queremos, apesar de representarmos apenas um grão de areia nesta imensidão espacial que não se sabe o que esconde e que tentamos descobrir no íntimo da nossa pequenez,  porque tudo é tudo,  e tudo é nada, e nada seremos no tempo que temos.

A todo o momento esperamos que a nossa nave, deixe de o ser e volte a ser o que era, o nosso cavalo de fogo mas, não depende de nós mas, sim da vontade de mutação do nosso cavalo e das circunstâncias para o fazer que, esperamos seja breve porque já temos saudades da sua fogosidade, imponência e magia e a aventura é mais saborosa. Demos tempo ao tempo, e esperamos pela sua vontade soberana porque, nós nada temos que exigir, porque sem ele nada disto seria possível ou seja viver o espaço, no seu espaço mais recôndito que é como penetrar no íntimo do nosso cérebro e descobrir o mundo que ele tem.

Parece - me que há muito tempo que não converso com a minha querida Niray mas, vou fazê-  lo agora porque senão, não tarda que me chame a atenção explicar o motivo porque não o fiz mais cedo :  Niray, estou admirado por não me perguntares porque tenho estado calado ? Estava mesmo a fazê - lo, até parece que advinhas ou tens pensamentos telepáticos. Sabes que às vezes, como já te tenho explicado, gosto de falar sozinho sem ser ouvido para entrar dentro de mim e julgar - me a mim próprio. É uma auto avaliação ? Não Niray, às vezes são auto críticas e ao mesmo tempo, tenho prazer em viajar dentro de mim. Tu, nasceste mesmo na tua Terra ? Então porque perguntas ? Porque segundo, há muito me disseste, no teu planeta já não tinhas ambiente para ti e os teus pensamentos são muito humanos, coisa que a maioria de vocês já perderam, não é assim Sem Nome ? Sou obrigado a concordar contigo, porque é isso que efectivamente que eu penso. Infelizmente a Terra há muito que deixou de ter solução para os humanos viverem porque a sua ambição desmedida há - de fazer com que ela fique sem vida como alguns planetas que temos encontrado neste longínquo Cosmos.

Bem, chega de conversa fiada e vamos mas, é tentar descobrir um astro que possamos visitar. Neste momento, outra explosão que não é como as outras, nos acontece e ficamos novamente a dormir não sei por quanto tempo.

Acordamos e qual é o nosso espanto maravilhoso : estamos no dorso do nosso cavalo que relincha de alegria e ao mesmo tempo, agarramo - nos ao seu pescoço com lágrimas nos olhos e dizemos : sê bem vindo nosso guerreiro protector, cobrindo - o de beijos e abraços. Aproveitamos e beijamo - nos também com muito amor.

Tudo está bem, quando acaba bem, temos o nosso cavalo de fogo de volta que cintila como nunca e relincha ainda melhor. Viva o nosso cavalo Niray, viva. Batemos com a mão um no outro em sinal de satisfação, voando em direcção ao desconhecido que fica no além.

Bem, Niray, vamos tentar descobrir qual o possível planeta que desejamos investigar. Eles são tantos, Sem Nome, que nem dá para escolher. O melhor é partirmos para um à sorte, para e ver o que nos sai. É isso mesmo que vamos fazer, apontar para um, e vamos a isto.

Livremente e nas asas do pensamento voamos na direcção de um astro que julgamos ser mais um planeta que se salienta dos outros pelo seu brilho e por isso, nos desperta mais a atenção assim como outros que temos encontrado. Ele está longe, bem longe mas, para o nosso cavalo isto não é problema porque é mais rápido do que a luz mas, apesar de tudo, vamos levar imenso tempo até lá chegarmos. Aqui, nesta zona espacial onde nos encontramos o mundo é completamente escuro, brilhando apenas as estrelas e o nosso cavalo de fogo que há muito tempo faz parte do firmamento.

No percurso desta nossa viagem enquanto não atingimos o nosso objectivo, conversamos e analisamos tudo o que vai sucedendo ao longo desta caminhada que serve para conhecer todos os seres vivos ou mortos que possam existir neste oceano escuro.

Ó Niray, não te causa impressão viajar nesta escuridão ? Claro que sim, Sem Nome mas temos o nosso cavalo que nos guia, que praticamente é os nossos olhos. Se não fossem os sinais luminosos das estrelas podíamos dizer que andávamos às cegas. Até parece que caminhamos dentro de um sonho completamente estranho, não te parece Niray ? É isso mesmo Sem Nome, tiraste - me as palavras da boca. Com estas coincidências será que podíamos falar em telepatia ?  Acho que não, Sem Nome, porque este fenómeno acontece  com algumas pessoas, portanto, não é de estranhar.

Esta é boa, nem acredito no que estou vendo ? O que é Niray ? Estão a aparecer no espaço uma espécie de nuvens  brancas composta por muitos pontos brilhantes, não vês ?  Sim, sim já estou a ver, o que poderá ser ? Vamos passar por perto para saber do que se trata. Lentamente e em voo calmo aproximamo- nos das supostas nuvens de pontos brilhantes que nos surpreende, pois são nada mais nada menos do que milhões de seres vivos muito pequenos em forma de sinos transparentes, semelhantes a bolhas de água com tentáculos pendentes muito finos que se deslocam como as medusas. Ainda perto destes seres, outros vagueiam, em muita quantidade, parecidos a cavalos do mar e lulas minúsculas, com a particularidade de terem antenas luminosas mas, o curioso é que em nenhum destes seres se nota que tenham olhos e se calhar, por via disso é que são luminosos, próprios para viver na escuridão.

Até parece que estamos nas profundezas de um oceano e não no espaço sideral. A semelhança é tão grande que psicologicamente pensamos que estamos investigando o fundo do mar e não o longínquo espaço. Uma coisa que reparamos é que os seres semelhantes a medusas são predadores, atacando e comendo os outros seres parecidos com as lulas que são muito mais pequenos, muito luminosas.

É a lei da vida, tal qual como na Terra, embora noutro sistema galáctico, talvez a milhões de milhas de distância. Reparamos agora noutros seres em forma de pequenos caranguejos que flutuam e se deslocam com asas transparentes que também são predadores de outros parecidos semelhantes a minúsculos camarões, com muitos tentáculos na cabeça. Tudo isto acontece no mais perfeito e medonho silêncio, tal qual como no fundo de qualquer oceano da Terra.

Ó Niray, nem calculas como isto me perturba. Estamos no espaço ou no mar ? Podes crer, Sem Nome que, efectivamente estamos no espaço. Belísca - me para sentir que existo. Não é preciso fazê - lo com tanta força Niray ? Não pediste ? Claro que sim mas, tens as unhas muito afiadas. Eu sou uma gata. Rimos até não poder mais.

A zona que estamos a atravessar não é muito límpida, parecendo conter uma espécie de planton muito denso, tal como existe nos mares ou oceanos, dificultando de uma certa forma a visibilidade espacial, ao ponto de o nosso cavalo ligar as luzes dos seus olhos, vendo - se perfeitamente pulular os milhões de minúsculos de seres vivos que por aqui vivem, o que nos causa bastante admiração, porque pensávamos que apenas pudessem existir alguns seres vivos mas muito maiores. Vêem - se também grandes manchas de diversos tons avermelhados que parecem nuvens densas de algodão enroladas em espiral, com pontos negros e outros brilhantes que giram de forma constante. Talvez sejam estrelas envoltas em gases que lhes dá todos aqueles tons coloridos e bizarros que nos alegra os olhos e o espírito neste céu completamente de luto.

Já estamos muito perto do planeta que escolhemos visitar, graças ao nosso cavalo que nos leva sempre ao sítio certo. Como ele é enorme Niray ? Pois é e se não me engano é o maior que já vimos. Não tem uma cor definida, já reparaste ? É isso mesmo Sem Nome, ela oscila entre o amarelo e laranja, com grandes nódoas negras que devem ser crateras profundas.  Isso é o que tu pensas Niray, pois só quando nós pousarmos na sua superfície é que nos vamos certificar se é assim ou não. Também não afirmei, apenas disse que devem ser. É impressionante o seu tamanho Niray. É verdade também me causa espanto. Não vês como ele gira em volta de si mesmo, mostrando a sua cara e toda a sua forma arredondada, notando se já que tem muitas e grandes elevações. Já estou desejando lá chegar. Eu também, estou muito ansiosa Sem Nome, para ver e observá - lo bem pertinho. Será que tem vida ?  Fica no ar a interrogação, enquanto nos preparamos para pisarmos o seu solo.

O nosso cavalo inicia os seus círculos de preparação para pousar, dando várias voltas ao planeta a toda a velocidade que nos parece tudo da mesma cor. Lentamente vai abrandando e descendo para o planeta até que o fazemos numa área de superfície plana.

Finalmente chegamos, Niray. O terreno é firme e muito rochoso e negro mas,  quente, Sem Nome. É isso que estou a ver e a sentir. Porque será ? A sua natureza é assim e eu não te sei explicar. Será vulcânico? É provável. Já viste Niray, que o pico das montanhas são tão altos que quase os perdemos de vista ? Como o mundo físico deste planeta é diferente ? Só falta é ouvir música celestial de fundo para que pareça um sonho profundo e não realidade, porque o silêncio é pesado que faz pressão nas nossas mentes e nos faz pensar que estamos absolutamente sós e entregues a nós próprios mas, protegidos por um cavalo de fogo que é os nossos olhos, as nossas pernas e as nossas asas que, nos faz voar em todos os sentidos.  Ena, que filósofo, Sem Nome. As tuas palavras também parecem celestiais. Não vás tão longe Niray, porque não sou  divino mas, sim um simples ser pensante que vagueia no espaço, acompanhado por uma linda menina, muito querida e que é a razão da minha vida . Muito obrigada pelo elogio, Sem Nome. Sorrio de contentamento.

Caminhamos  lentamente, na superfície rochosa deste planeta e não nos cansamos de observar estas lindas e altíssimas  montanhas, assim cimo as crateras que são profundas e largas. Aliás, tudo neste planeta é grande e o solo continua a ser quente, o que nos leva a pensar que talvez seja de natureza vulcânica, como sugeriu há pouco a minha querida Niray, que nos assusta um pouco, porque não sabemos se a qualquer momento nos pode rebentar debaixo dos pés. Ao mesmo tempo, estamos descontraídos porque confiamos inteiramente no nosso cavalo que, não me canso de repetir e nos alerta sempre de qualquer imprevisto que seja perigoso.

Ao fim de muitas horas de investigação, na zona onde nos encontramos as montanhas já não são tão grandes, nem as crateras tão profundas mas, o que mais desejamos é encontrar vida mas, que não nos seja hostil mas, isso não depende da nossa vontade mas sim da natureza do planeta que, é quem dita as leis em todos os astros e felizmente contra ela nada podemos fazer.

Completamente descontraídos  e já longe das pequenas montanhas e crateras, eis que surge novamente outro tipo de paisagem, como  as tais montanhas enormes que vimos quando aqui chegámos e as mesmas crateras de largas dimensões, repetindo- se novamente a mesma natureza física. Vida é que não surge mas, o planeta é tão vasto que a qualquer momento nos pode aparecer o que mais desejamos mas, que nos pode intimidar se forem seres com intenções malévolas, como já temos defrontado mas, temos ultrapassado com a força mágica do nosso cavalo de fogo que nada de mal deixa que nos aconteça, pelo menos até este momento.

Entretanto, parece sentirmos no ar que algo está para acontecer  e Deus queira que não sejam erupções vulcânicas que nos façam evacuar mais depressa do que desejamos. A temperatura do solo é mais elevada, causando - nos uma certa apreensão, fazendo jus ao que julgamos estar para a acontecer, coisa que antes nunca nos tinha acontecido, parecendo - nos haver mudanças de comportamento na nossa natureza física ou mental, talvez pelas características ambientais do planeta.

Aqui está o que mais temíamos, o relinchar de aviso do nosso cavalo que vai haver guerra e assim, rapidamente do longínquo cimo das montanhas,  seres de grande envergadura, semelhantes a dragões, com asas enormes, surgem emitindo urros  que quase nos ensurdecem, com o intuito, com certeza de nos intimidar e não só, porque somos intrusos que invadem o seu território. Perante estes factos, o nosso cavalo, num ápice eleva - nos acima do cimo das montanhas, donde surgem os dragões que, a pouco e pouco nos cercam e de certeza, que não é para nos abraçar.

A Niray, está calma e confiante e ao mesmo tempo grita, vamos a eles, Sem Nome.

Da bocarra dos dragões saem os primeiros sinais hostis, potentes descargas eléctricas que iluminam o espaço como trovões mas, que nos passam ao lado e o nosso cavalo sem perder tempo atira - lhes através dos seus olhos, raios de fogo, atingindo mortalmente dois  dos muitos dragões que se desintegram e desaparecem no espaço como o vento. Os outros afastam - se  mas, eis que voltam à carga, enchendo o espaço de urros e descargas eléctricas na nossa direcção mas, batem no escudo protector que o nosso cavalo cria quando surgem contendas desta dimensão. Mais dois raios de fogo fulminantes e certeiros eliminam mais um dragão, acontecendo que, a pouco e pouco, nos vamos livrando do inimigo mas, ainda faltam muitos e a batalha ainda é uma criança.

Diz - me a Niray, estamos completamente cercados, Sem Nome. Não te preocupes que o nosso cavalo já se livra desta situação embaraçosa que, nos faz subir a adrenalina, não sei se pelo medo, se pela força da luta. Medo não, Sem Nome mas, sim pela última parte.

Completamente cercados pelos dragões, o nosso cavalo deixa - se descair abruptamente, como se entrássemos num poço de ar,  e passa pelo lado de fora dos dragões que se encontram praticamente juntos, e inicia os seus jactos de fogo que atinge a maioria daqueles seres horríveis, desfazendo - se no Cosmos. Os restantes agora não atacam, ficando afastados e na expectativa.  Não sei como, aparecem no espaço, outros seres enormes semelhantes a morcegos, numa guincharia tremenda que atacam os dragões, envolvendo - se com estes numa luta infernal e nós na plateia a vê - los exterminarem - se uns aos outros, o que nos causa alguma perplexidade porque não esperávamos por esta contenda entre duas espécies de seres.

A nossa luta acabou e pousamos novamente no solo do planeta quente. Ainda bem não pousamos,  eis que surgem animais erectos semelhantes a lagartos que lutam entre si pela posse de uma pequena cratera que deita vapor que possivelmente é onde eles vivem. Ao fim de algum tempo de luta, aproximamo - nos da contenda e imediatamente todos se enfiam na dita cratera, desaparecendo na sua profundidade.

Estamos no descanso dos guerreiros, montados no nosso cavalo porque nos faz muita impressão o chão quente deste planeta que exala um cheiro a flores mas, que não existem. Se não há qualquer tipo de vegetação de que se alimentarão os seres semelhantes a lagartos que se enfiaram na toca ? Estás a dirigir - me a pergunta Sem Nome ? Ó Niray, há mais alguém aqui ? Tens razão, às vezes tenho observações impensáveis que saem sem querer mas, penso que é normal. Evidentemente que sim, minha sempre querida Niray, eu também as tenho e em maior número do que tu. Voltando à conversa dos lagartos erectos, com certeza se devem alimentar de alguma coisa que existe na cratera onde se enfiaram porque não vejo outro sítio onde o possam fazer. Tem lógica o que dizes Niray, não me tinha lembrado disso. Ninguém é dono de todo o saber, pois nem todos sabemos tudo, não achas ? Tens razão Sem Nome, concordo absolutamente contigo.

Bem, Niray já descansámos e agora sugiro que devemos procurar outras paragens neste planeta porque aqui já vimos tudo e o planeta é muito extenso. Concordo contigo Sem Nome, vamos ver a outra face deste planeta.

O nosso cavalo levanta voo e iniciamos nova viagem para tentarmos chegar ao outro lado do planeta quente a fim de investigarmos toda a sua superfície e formas de vida que eventualmente possam existir. Entretanto, como há muito tempo que não o fazia, reparo que a minha amiga e companheira de jornada Niray, fisicamente está igual como quando a encontrei, o que prova que ainda não envelhecemos  em todo o tempo que aqui estamos, ao contrário do Planeta Terra que desde que se nasce começamos logo a morrer lentamente, mostrando fisicamente toda a transformação que vamos fazendo. Será que, um dia quando regressarmos à nossa proveniência este processo é acelerado ou começamos a envelhecer lentamente ? É uma incógnita.

A superfície do planeta quente continua a ter as mesmas características, grandes elevações, crateras, pequenas elevações. Vamos ver se realmente a outra face dele terá a mesma formação geológica.

Estamos em pleno voo mas, em observação contínua ao nível da superfície deste planeta e a paisagem não mudou muito até agora mas, insistimos em atingir o nosso objectivo que é  ver a outra face oculta deste astro para verificar as diferenças geológicas aqui existentes bem como a existência de vida se é que existe no seu lado que ainda não atingimos.

Neste preciso momento começamos a descortinar o princípio da face escondida, o que nos causa muita apreensão porque esta está completamente gelada  e possivelmente inóspita porque assim, não poderemos talvez, matar a nossa curiosidade, porque se tornará perigoso qualquer tentativa de abordagem.

Estás a ver Niray, é tudo gelo este lado do planeta. Isto quer dizer que aqui o planeta já não é quente mas sim frio e talvez impróprio para tentarmos investigar o que quer que seja. Apesar de tudo estava tentado a fazer uma descida. Eu acho que não Sem Nome, seria pôr em perigo as nossas vidas. É uma pena não podermos descer. Nem sempre podemos fazer o que queremos. Tens razão Niray, é melhor eu tirar isto da ideia. Claro que sim Sem Nome, o contrário seria pôr em risco a nossa missão.

O nosso cavalo relincha forte e ficamos apreensivos porque algo de grave vai suceder e nós não sabemos ainda o que é. Ele sobe, sobe, a toda a velocidade, tirando - nos num ápice da proximidade da face gelada do planeta.

Olhamos um para o outro sem sabermos do que se tratará. Ó Sem Nome, estou a ficar assustada. Não te preocupes porque, de certeza que vamos saber do que vai acontecer. Olha aí está, olha para o céu Niray e observa o que aí vem. Vai haver uma catástrofe, se for realmente o que eu penso. O que são aquelas duas bolas de fogo que se dirigem a uma velocidade para o planeta ? Com certeza que são dois cometas, não vês a cauda enorme que têm ? Observando bem, tens razão, são cometas e vão fazer explodir uma grande parte do planeta porque eles são grandes. O nosso cavalo tem sempre razão. Já viste se nós temos descido ? É verdade Niray, o nosso cavalo sabe o que faz e nós temos sempre que confiar nele.

Os dois cometas trazem uma velocidade indescritível e pela grandeza das suas proporções, tudo o que houver de vida na área atingida será extinta para sempre. O mesmo sucedeu no Planeta Terra há muitos milhões de anos, na altura em que os dinossauros desapareceram da sua face.

Estamos completamente parados, funcionando apenas como observadores sem nada podermos fazer que é muito frustrante, sentindo - nos inúteis perante a possível catástrofe que irá suceder a parte do planeta quente.

Afinal, Sem Nome, não são cometas,  parecem duas montanhas com uma cabeça de fogo e uma cauda enorme que arrasta nos céus. É verdade, cometas não podiam ser, porque normalmente são formados por gelo e gases. Santa ignorância a minha. Tua não, Sem Nome, nossa.

Ó Niray, será que o nosso cavalo não poderá fazer nada ? Não sei Sem Nome, só ele saberá se tem possibilidades de fazer explodir as montanhas antes de atingir o planeta. Neste momento, quando os meteoros já estão relativamente perto do seu impacto, estamos no meio de outra explosão e mais uma vez adormecemos sem saber o que se passará. Acordamos e claro estamos outras vez instalados na nossa nave espacial, em que o nosso cavalo se transformou e assim, já acredito que ele vai evitar um grande ferida no planeta quente. Voamos a toda a velocidade em direcção aos astros e agora acompanhamo - los lado a lado, fazendo a mesma trajectória que eles. Já relativamente perto do impacto, a nossa nave dispara vários potentes tiros sobre os rochedos e eis que se desintegram em milhões de partículas, que caem no planeta como se fosse chuva intensa, evitando assim, uma ferida grave e irreparável neste astro. Soltamos um grito de alegria e vemos no painel electrónico o nosso cavalo mostrar os dentes num grande sorriso, fazendo um relinche grande que enche completamente a nave.

E agora Niray ? Descemos ou partimos para outra aventura ? É melhor descermos para vermos o resultado da chuva de partículas da sua desintegração e, ao mesmo tempo, continuar se possível, a investigação desta nova face do planeta quente. Muito bem, concordo em absoluto contigo mas, desta vez, vamos pousar com a nossa nave em vez do nosso cavalo mas, ao fim e ao cabo é a mesma coisa, porque é ele na mesma que ali está. Sem dúvida, Sem Nome mas, é sempre uma nave, e esta experiência nunca tivemos. Tudo esta mutação depende do nosso cavalo. A ele cabe a decisão final.

Vamos então para a descida.

Então a nossa nave inicia a operação de aterragem, descendo direitinha para o solo do planeta quente que aqui, parece que já não é. Pronto, estamos na sua superfície mas, agora na outra sua face.

Estás a ver Sem Nome, aqui o planeta é completamente gelado. É verdade mas, que diferença faz da outra sua face que é precisamente o antítese. O planeta é muito grande e climaticamente compreende - se  que tenha muitas diferenças, de zona para zona, tal qual como os outros planetas que existem neste infinito.

É surpreendente, Niray, não existe nenhum vestígio, das partículas dos cometas que aqui caíram. Se calhar  eram mesmo cometas que são formados apenas por gelo. Só pode ser isso, Sem Nome, não vejo outra explicação. Então estávamos outra vez enganados ? Mas que confusão a nossa ?

Será que aqui também há vida, Niray ? Pode ser que sim e pode ser que não, pois os seres vivos adaptam - se a todas as situações climatéricas, portanto, não de estranhar que aqui também exista. Não estou satisfeito com a tua resposta. O queres que eu te diga mais, Sem Nome? Que me respondas sim ou não. Não pode ser, ou não adivinha.  Está bem, minha querida, eu estava a brincar.

Estávamos nesta conversação, eis que a nossa nave explode mais uma vez e aparece novamente o nosso cavalo de fogo sempre belo e imponente, com um relinchar suave e de contentamento, espectáculo este que, já nos vamos habituando a presenciar, embora o não compreendamos como isto acontece mas, que nos fascina esta mutação, lá isso é verdade e nós gostamos muito.

As montanhas são mais pequenas, as crateras existem mas, tudo está coberto de gelo há milhões de anos. Que tipos de seres vivos podem existir aqui, se é que existem, neste ambiente gelado? É uma interrogação de que não temos explicação mas, vamos tentar investigar para encontrá -la ou não. Caso as nossas tentativas não dêem frutos, só nos resta abandonar de vez este planeta e partir para outro.

Antes desta iniciativa, vamos caminhando, montados no nosso cavalo, observando todas as elevações e crateras profundas, com todo o cuidado, para não sermos surpreendidos totalmente, por seres vivos que porventura possam existir.

 Já andamos há bastante tempo,  a paisagem continua a ser a mesma, e a esperança de encontrar o que pretendemos está um pouco desvanecida e o cepticismo paira nas nossa mentes mas, repentinamente, eis que o nosso cavalo nos dá o seu aviso de que algo está para a acontecer e que nos deixa arrepiados e ansiosos mas, estamos preparados para o que der e vier porque a adrenalina está no máximo.

Estamos rodeados por várias crateras geladas e com certeza que vão sair daqui as nossas surpresas. Estás preparada Niray ? Sim, Sem Nome, desde que o nosso cavalo nos deu o alarme. Tu olhas para um lado que eu olho para outro, para assim, abrangermos um espaço de visão muito maior e ao mínimo sinal um avisa o outro, embora o nosso cavalo veja pelos dois. Está combinado Sem Nome.

Por enquanto não há sinais de nada, o que nos vai perturbando a nossa paciência mas, não podemos desesperar, porque já se sabe de antemão que alguma coisa vai suceder ou aparecer. É uma questão de tempo.

Uma gritaria da Niray, perturba o silêncio : Sem Nome ... Sem Nome ... Sem Nome, olha para este lado. Jogo os olhos para o seu lado muito precipitado e fico de boca aberta, completamente sem palavras.  Seres completamente brancos, quadrúpedes, mais ou menos do tamanho do nosso cavalo, sem olhos e sem boca, com antenas ao longo do dorso, terminando com duas enormes na cabeçorra, que se confundem com o gelo. Surgem das crateras, formando um rebanho à nossa volta, farejando, farejando, levantando e baixando a cabeça. É através das antenas que eles detectam os obstáculos mas, o que nos faz confusão é a ausência de boca. Como será a sua alimentação ? Deve ser feita através da pele, talvez. O que é que  tu dizes sobre estes seres Niray ? Olha, eu estou admiradíssima como tu, não sei o que dizer. Estás a ver, eles andam à nossa volta, sem terem qualquer reacção hostil, por enquanto.  Vamos andar para ver o que eles fazem, Niray. Olha, olha, eles vêm atrás de nós, sempre levantando e subindo a cabeça, de antenas no ar. O nosso cavalo relincha suavemente e eles ficam de cabeça muito levantada, captando o som pelos sensores das antenas e recuam como que assustados. Uma coisa é certa, Sem Nome, eles não são hostis, de certeza. Ainda bem Niray, já não eram sem tempo de pararmos com as contendas.

Eles não passam à nossa frente, andam sempre atrás. Parecem grandes cães domesticados. O nosso cavalo trota um pouco e eles também, viramos para a direita ou para a esquerda e eles sempre atrás. Têm as antenas bem sensíveis.  Agora de todas as crateras vão saindo aos magotes, todos iguais, como se fossem gémeos. Como são engraçados Sem Nome, até parece que nos conhecem há muito tempo. Não podes dizer isso Niray, porque estamos há pouco tempo com eles. Tu és desconfiado. Não, não sou, sou apenas precavido e realista.

Já temos um rebanho enorme à nossa volta mas, o que é que se passa com eles que estão a agredir - se ? É uma reacção estranha, uma vez que parecem tão mansos. Bom, fazem uma guerra tremenda entre eles, tendo como resultado, o desaparecimento total, enfiando - se nas crateras geladas.

Esperamos um pouco mais para ver se surgem mas nada feito. Sumiram - se completamente, e talvez não apareçam mais. Bem Niray, não achas o que o melhor é sairmos do planeta ? És muito apressado Sem Nome, tem calma, é preciso saber esperar, ainda temos muito que investigar. Se inesperadamente apareceram estes seres, outros mais haverão, não concordas ? Tens razão mais uma vez. Não há dúvida que as mulheres de uma maneira geral, são mais calmas e ponderadas. Muito obrigado Sem Nome, pelo elogio. Não tens de quê. Tu és uma querida minha amiga. Já te considero um pedaço de mim mesmo. Beijamo - nos.

Vamos então prosseguindo a nossa investigação, nesta natureza gelada, esperando que mais alguns seres apareçam, com a curiosidade de ver se não têm boca nem olhos como os que acabámos de ver. O nosso cavalo acelera o andamento e as coisas são observadas mais rapidamente, sendo agora o diâmetro das crateras mais reduzido e as montanhas mais pequenas, modificando, assim, o aspecto da natureza mas, continua dura, fria e enigmática mas, nós superamos tudo, graças ao nosso cavalo que, para ele não há impossíveis, devassando todo o infinito e desvendando muitos segredos que desconhecíamos.

Como vês Niray, nada aparece com respeito a seres vivos, nem a qualquer fenómeno e já andámos muito. Ó Sem Nome, desculpa que te diga mas,  as coisas não aparecem só porque nós desejamos. É verdade, sou impaciente, e às vezes despropositado nas minhas atitudes mas, tu aturas - me como sou, não é verdade ? Ó Sem Nome, isso nem se questiona, ninguém é perfeito e é muito importante reconhecermos os nossos erros e defeitos, porque assumimos a possibilidade de nos emendarmos. Além disso, reconhecermos os nossos erros e tentar - nos corrigir é um acto de inteligência.

Olha Niray, repara, repara, aqueles seres rastejantes que deslizam no solo, completamente negros mas, também não têm olhos nem boca, dispondo também de antenas enormes na cabeça. Repara também Sem Nome como eles se deslocam, tendo na barriga umas coisas semelhante a esferas que rolam com toda a facilidade. É verdade, mas isto é impressionante, nunca tinha visto semelhante locomoção?  Olha que eles são muitos e sempre pretos e grandes mas, fogem de nós e enterram - se no gelo com uma facilidade extrema. Cuidado Sem Nome, vem ali um monstro que faz por três de nós, de forma e locomoção igual aos outros seres que acabámos de ver. Este é hostil mas também não tem olhos nem boca, com grandes antenas na cabeça que o orientam e vem na nossa direcção. Tem calma Niray, temos aqui o nosso cavalo que sabe muito bem o que fazer.

Tem um rabo enorme que bate ora para um lado ora para outro que deve ser o seu meio de defesa e de combate.  Tenta atingir - nos com movimentos rápidos da cauda mas, o nosso cavalo evita - o sem lhe fazer mal o que nos surpreende. Isto parece o jogo do gato e do rato, o monstro tenta atingir - nos com a sua cauda  e o nosso cavalo evita - o com uma facilidade que nos dá vontade de rir mas, ao mesmo tempo, com alguma apreensão. O monstro enfurecido, tenta um golpe tão grande que, ao falhar, bate com a cauda no solo fazendo uma fissura no gelo, desaparecendo em seguida.

Já reparaste Niray, que o nosso cavalo não o quis matar ? Ele sabe o que faz Sem Nome e não faz nada ao acaso. Possivelmente, como era só um, não o quis exterminar, preservando a espécie.

E agora Niray, o que fazemos, continuamos ou partimos ?  Não sei, por um lado, gostaria de continuar mas, por outro já tenho saudades de outras aventuras, voando para além deste planeta. Que dizes tu Sem Nome ?  A minha opinião é que devemos partir, porque temos muito por onde escolher na imensidão deste universo, onde impera o silêncio absoluto. Então, se a opinião dos dois coincide, o nosso cavalo que faça o resto.

E assim agarramo - nos ao pescoço do nosso cavalo, fazendo - lhe carícias, ao que ele corresponde com um relinche e  partimos para mais uma aventura.

 

 

 

 

                            CAPÍTULO XVIII

 

                                     O MEDO

 

Pronto, cá estamos novamente deambulando pelo espaço, à procura de um novo motivo para exploração. Vamos deixar por enquanto, a Algúria sem a certeza de voltarmos. Tudo depende do que encontrarmos na nossa viagem para além da galáxia que vamos deixar.  Ainda no espaço desta galáxia, decidimos parar para tomar uns banhos de ar. Assim, suspendemos o voo e ficamos a flutuar no espaço, para saborearmos ainda mais a liberdade que nos envolve e é tão grande como a que desejamos.

Niray, vou fazer - te uma proposta, uma vez que estamos no intervalo de outra aventura. Isto que te vou propor, já o fizemos uma vez, tu ficaste renitente mas, depois gostaste muito. Ó Sem Nome, deixas - te de enigmas e diz - me já o que é que  me deixas nervosa. Adivinha, já que és boa em premonições. Gostas de fazer sofrer as pessoas, não é ? Eu sou assim, sou um castigador. Lá isso és, não há dúvida. Bem, não te quero fazer sofrer mais por uma coisa tão simples como respirar. Aqui vai : proponho - te que flutuemos no espaço, fora do nosso cavalo de mãos dadas. Ah, é isso, pensava que fosse outra coisa. O que pensavas que fosse que, ficaste assim, tão murcha ? Nada, nada, vamos então flutuar que deve ser engraçado, embora seja perigoso. Vamos, antes que te arrependas.

Damos as mãos e escorregamos do dorso do cavalo, encontrando - nos em pleno espaço, gritando, viva a liberdade, viva a liberdade. Amorosamente damos um abraço, beijamo - nos. Amo - te, Sem Nome. Eu também te amo muito Niray. Em liberdade, o melhor momento acontece, em pleno espaço. É inédito, fazer amor nestas condições.

 

Há muito tempo que não tínhamos esta sensação de estarmos em pleno espaço, apenas sob o olhar protector do nosso cavalo que também flutua à nossa volta, como que a envolver - nos num grande abraço. Fazemos tantas piruetas engraçadas, que nos provoca um riso contínuo, dando largas à nossa alegria.

Andamos nas nossas brincadeiras e repentinamente eis que, sem esperarmos somos sugados e afastados do nosso cavalo. Entramos em pânico e gritamos aflitivamente por ele para nos acudir e nos salvar desta brutal sucção. Estamos já tão longe que deixámos de ver o nosso protector mas, continuamos a gritar em estado de pânico para nos acudir. A sucção parou e agora flutuamos sós  no espaço, agarrados um ao outro, chorando, chorando  mas, sem nunca deixar de gritar pela presença do nosso salvador.

Ao acaso, continuamos a flutuar, agora já calados e conformados com o nosso destino que será o desaparecimento total. Uma grande força entrou em mim que deixa animado e digo para a Niray : Aguenta e tem fé que o nosso cavalo não nos vai abandonar. Achas, Sem Nome ? Estou muito desanimada e não acredito que tal aconteça. Já o perdemos para sempre. Ó Niray, esta atitude, nem parece tua, anima --te e cria auto- estima que tudo vai acabar em bem. Ela agarra - se a mim e não pára de chorar, o que me perturba bastante e faço um esforço enorme para me conter e não chorar com ela. A tal força anímica continua em mim e leva - me a que não desespere e a transmita à minha companheira que bem precisa nesta altura em que tudo é incerto e desanimador.

Não sabemos onde estamos, nem para onde vamos mas, a esperança diz que ainda nem tudo está perdido e tudo me leva a crer que o nosso cavalo não nos abandonou mas, está de certeza por perto a observar- nos e na altura certa nos salvará.

A Niray e eu continuamos de mãos dadas para que o destino não nos separa mas, nos junte sempre, para o bem e para o mal e duas forças juntas, é sempre melhor que uma, embora estejamos à deriva, como um barco sem rumo, sujeito a todas as intempéries que, por muito fortes que elas sejam, havemos de superá - las.

Ó Sem Nome, diz - me a Niray, muito triste, será que o nada tomou conta de nós ? Ó minha querida, não estejas assim, que nós não estamos sós. O que queres dizer com isso ? Quero dizer que tenhas força e esperança, porque o nosso cavalo não nos abandonou e mais tarde ou mais cedo nos vem buscar. Tens assim tanta certeza, Sem Nome ? Claro, que tenho Niray. Ele nunca nos abandonará, podes ter a certeza e memoriza bem o que te digo para que, mais tarde, quando o nosso encontro acontecer, tu dizeres - me, afinal tinhas razão. E se aparece algum ser hostil, o que será de nós? Se isto se proporcionar, ele aparece para nos salvar, podes crer.

Já parece que estamos aqui há uma infinidade de tempo e ainda agora começou. Deixa- - te de lamentar Niray, que não nos leva a lado nenhum, simplesmente nos perturba moralmente. Já reparaste que somos como as estrelas, fazemos parte do firmamento, só com a diferença que flutuamos na imensidão do espaço e não temos luz mas, temos a da esperança.

Agora estamos unidos, pela alma, pelas mãos e por uma amizade forte que apenas há- de morrer com o corpo mas continuará pela alma. A minha amiga Niray, está muito mais conformada, com este nosso isolamento mas, temo por alguma recaída dela. Eu sinto também, apesar de não lhe mostrar, uma depressão enorme, causada pelo medo, que choca com a tal força anímica que penetrou em mim, sendo esta e ainda bem, a mais forte.

Olha Niray, experimenta oscilar as pernas para cima e para baixo que nos conseguimos deslocar, como se fosse na água. Mas que engraçado Sem Nome, consigo mover - me para a frente, para cima ou para baixo. Sem nunca deixarmos as mãos com medo de nos separarmos, começamos a locomovermos para parte incerta porque assim não temos rumo. Vamos mexer os pés mais depressa e ao mesmo tempo : um, dois, três, agora. Ena, que engraçado Sem Nome, assim é melhor, porque já não estamos parados e quem sabe se não iremos ao encontro do nosso cavalo. Devemos deslocarmo - nos devagar para não perdermos muitas energias, não achas Niray ? Sem dúvida, é assim que devemos fazer. A tua voz é fraca, minha querida e eu não te quero ver assim. Anima - te, porque isto que está a acontecer - nos é apenas um sonho. Não te iludas Sem Nome, a realidade é esta que vivemos neste momento mas, estou a ficar mais conformada. Além disso, estou contigo, que é o que mais quero.

 

Olha Sem Nome, uma estrela a desfazer - se em lágrimas. É lindo mas, é a morte de uma estrela. As lágrimas são tantas que parece chuva de fogo de artifício. Anda Niray, vamos agarrar algumas. Não é preciso fazermos muita força que, muitas vêm ter connosco em ar de lamento. Esperemos por elas.

E assim, algumas lágrimas brilhantes como o fogo caem nas nossas mãos, todas redondinhas e pequeninas que dá para enchê - las. Já viste Niray, são leves como o algodão e não as podemos reter por muito tempo porque podem morrer. Agora vamos soprá - las e enviá - las como se fossem beijos, para o seu habitat natural que é o espaço e quem sabe, se não irão formar novas estrelas ?

Ao mesmo tempo, com um sopro mútuo, aí vão elas a cintilar, também sem rumo certo, até crescerem como a mãe, dando continuação à luz e ao universo que nos cerca.

Que bonito Sem Nome, vê las a flutuar graciosamente depois de terem libertadas das                              nossas mãos. Realmente é um espectáculo maravilhoso. Ninguém gosta de ser prisioneiro, nem mesmo as lágrimas das estrelas. Estas estrelinhas são a boa nova, do nosso encontro com o nosso protector.

Achas, que o nosso cavalo vai voltar, Sem Nome ? Eu, não acho, eu tenho a certeza. Dizes isso só para me animar. É que estamos indefesos e é disso que tenho muito medo, caso nos apareça algum monstro ou outro ser hostil. Já te disse que o nosso cavalo não nos vai deixar, podes ter a certeza.

Sabes que a força da nossa mente, que é a nossa fé, consegue coisas que às vezes parecem impossíveis de atingir mas, também pode suceder ao contrário, quando também da nossa mente se apodera o desânimo e aí em que corremos o risco de cair no nada, que é o vazio da nossa existência e o pior nos pode acontecer. Portanto, minha querida, segue o meu conselho e acredita que isto que nos está a acontecer é apenas uma experiência nova das nossas vidas, para o nosso cavalo ver até que ponto nós acreditamos nele.

Está bem Sem Nome, conseguiste que a minha fé ganhasse força e doravante, a minha auto estima e a força da minha fé vão andar de braço dado e creio firmemente que isto realmente é mais uma das muitas aventuras que já vivemos. Podes crer que é a coisa mais maravilhosa que já ouvi da tua parte. Assim é que é pensar. Nunca ouviste a frase, a fé move montanhas ? Não, Sem Nome. Mas sabes o que quer dizer Sei sim, e obrigado pelo teu amor. Quem havia de pensar que, eu terrestre, me havia de apaixonar por uma menina extra - terrestre ? A mesma interrogação faço eu, Sem Nome mas, ao contrário. Rimos à gargalhada.

Vês Niray, aquela grande mancha alaranjada muito enrolada que se desloca na nossa direcção ? Sim, vejo e espero que não seja uma tempestade de poeiras cósmicas ? É verdade, não te enganaste mas, não te assustes que ela faz parte da nossa aventura e é mais uma prova à nossa fé. Agarra- te bem a mim, como se fossemos um corpo só, para que as nossas fés se fundam e resistam com mais força às adversidades morais e físicas.

O pânico anda connosco mas, a nossa indómita vontade de vencer é do tamanho do além.

A tempestade chega até nós e somos arrastados a uma velocidade incrível, com destino incerto. Como te sentes Niray ? Tudo bem, podes ter a certeza. Assim é que eu gosto de ouvir. Tu conseguiste com as tuas palavras, devolver - me a minha fé,   Agora, nada me amedronta, desde que te estejamos sempre juntos para encontrarmos o nosso cavalo de fogo que, deve estar a rir das nossas peripécias e das nossas aflições. Agora a nossa prova de fé é forte e de certeza que ele vai estar orgulhoso de nós.

Continuamos ainda à deriva levados pela força da tempestade que não há meio de dissipar mas apesar de tudo, a sua força já é menor. Se tentássemos resistir à sua força já estávamos esgotados moral e fisicamente. Nunca, mas nunca, o podemos fazer se quisermos sobreviver.

Finalmente a intempérie já desapareceu e nós continuamos a flutuar neste espaço imenso mas que, pela força do hábito, já não temos medo. Estás a ver Niray, como nós superámos o que parecia impossível ? É realmente verdade, a nossa fé vence as etapas que quisermos. Até há casos em que ela consegue transformar a química do nosso organismo e curá - lo de doenças que pareciam irreversíveis. A fé é uma crença tão forte, que consegue ver o que não é visível, não acreditas Niray ? Estou plenamente de acordo contigo. O que se passa contigo, Sem Nome, quanto mais tempo estamos no espaço mais a tua mente se desenvolve ? Não é uma questão de desenvolvimento da mente, Niray, é uma questão de força interior que me impele sempre para cima, vendo a vida sempre pelo lado positivo. Chama - se a isto, optimismo.

Vamos pensar que somos aves e voemos ao encontro do nosso cavalo. Para isso, Sem Nome, vamos fazer toda a força mental do mundo porque o que eu mais quero é encontrar o nosso cavalo, para dar continuidade às nossa investigações espaciais.

Então fechemos os  olhos e vamos voar. Assim fazemos. Por momentos temos realmente a sensação que temos grandes asas e estamos por cima de todas as estrelas por onde viajamos, como se fosse um belo sonho.

Que te parece Niray ? É sensacional, Sem Nome, é incrível como a nossa mente consegue estas maravilhas. Isto é o que se chama, querer é poder.

Entretanto, vamo - nos mexendo e deslocando - nos lentamente, com o auxílio das nossas pernas, brincando e gracejando, já devidamente ambientados a esta nossa situação, sem protector, aparentemente,  que nos dá a sensação de estarmos sempre a subir, como se fossemos objectos flutuantes sem qualquer valor, completamente insignificantes, talvez inferiores a um grão de areia, comparado com a imensidão do mundo onde nos encontramos. Tudo passa e nada existe se nos alhearmos de tudo e de todos, tal qual nos sentimos neste momento, completamente despreocupados e mentalizados que mais tarde ou mais cedo vamos ter o que queremos, que é o nosso cavalo de fogo e chegar ao tecto do mundo cósmico.

Repentinamente, a minha companheira grita - me : Olha Sem Nome, estou a ver um objecto luminoso, com uma cauda de fogo que risca o espaço e segundo me parece vem na nossa direcção. Fico assustado com a aflição com que me diz o que está a ver, e ao mesmo tempo, reparo que ela tem razão. Ainda vem muito longe Niray, mas se for um meteoro, pode ser que nos passe ao lado. Nada podemos fazer e se for o que pensamos e se formos o seu alvo, duas coisas podem acontecer : desaparecemos para sempre ou o nosso cavalo dá provas que nunca nos deixou que é com certeza, o que vai acontecer. O que quer que seja, é de grandes dimensões porque à distância que ainda se encontra, já parece grande, não achas Niray ? Tudo indica que sim mas, é imprevisível avaliá - lo e não sabemos o tempo que leva até passar por nós. Ou se nos atingir, não é Sem Nome ? Sim também temos que equacionar essa hipótese, mas não devemos ser pessimistas.

O possível meteoro vai parecendo cada vez maior, assim como a nossa preocupação e nada podemos fazer para o desviar da sua rota. Só o nosso cavalo é que o podia fazer, como o fez com o cometa que se deslocava para o planeta quente, destruindo - o,  e que já deixámos para trás. A bola de fogo está a crescer, estando cada vez mais perto de nós, o que nos leva a crer que, somos o seu alvo preferido, provocando - nos uma apreensão tremenda mas, ao mesmo, tempo, temos a nossa fé que algo vai acontecer para que não nos atinja.

Ai, Sem Nome, tenho tanto medo. Ó Niray, onde está a tua fé ? Sê forte e acredita que nada vai acontecer. Mas, o meteoro  já está tão perto e incandescente, Sem Nome, que o cepticismo me está a querer invadir. Levanta o teu ânimo, Niray e crê que isto é apenas uma alucinação. Antes fosse mas, é pura realidade.

Ele já está tão perto que a Niray se agarra a mim e diz - me : Vamos morrer Sem Nome ! Vamos fechar os olhos. Ficamos agarrados um ao outro à espera que o destino se concretize. Como é possível acabarmos assim, sem termos possibilidades de transmitirmos os conhecimentos adquiridos em todas as investigações espaciais. Até acontecer, o que receamos, credito sempre no nosso cavalo.

Ouve- se um grande estrondo como se fosse um bomba de grande potência. Abrimos os olhos e para nossa surpresa vemos o meteoro ser reduzido a milhares de pequenos fragmentos que se espalham pelo espaço num grande clarão que ilumina uma grande parte do Céu. Ouvimos relinchar e eis que o nosso salvador, aparece como por milagre, junto de nós e fazemos uma grande gritaria de satisfação. Foi ele que, com um tiro certeiro nos salvou de morte certa.

Repletos de contentamento, montamos o nosso cavalo e digo para a minha companheira Niray: diz lá se o teu amigo Sem Nome, não tinha razão, quando te disse que o nosso cavalo de fogo, nunca nos abandonaria. Felizmente é verdade Sem Nome, tinhas razão. Dá - me mais um abraço e um grande beijo.

O nosso cavalo voa para fora da galáxia Algúria, de modo que fiquemos longe deste episódio aflitivo que tão más recordações nos trouxe mas, não é motivo para desistir, só por que tivemos uma enorme contrariedade. É como se costuma dizer, a vida não são só rosas, também tem espinhos, e por isso não desistimos de viver.

Já estamos longe da galáxia Algúria, com a protecção do nosso cavalo de fogo, que corresponde sempre com um relinche às nossas brincadeiras, resultantes da nossa imensa alegria, por nos ter libertado de um grande pesadelo que ia pondo em risco a nossa sobrevivência e a nossa missão.

Voa cavalinho, voa e leva - nos para o mar da boa disposição para que nos purifiquemos nas suas águas mansas e incolores, onde a vida é sempre bela, e nos cativa a ficar sempre mais um dia, a somar aos muitos dias que a vida nos dá mas, há um dia, em que nos tira tudo e nos faz permanecer para sempre nas suas águas límpidas e serenas, para um sono profundo e perpétuo. Vivamos enquanto  é tempo e o sono que nos é imposto pela vida não chega.

 

 

                                                      CAPÍTULO XIX

 

                                          PROSÁRIDA

 

Sabes Sem Nome, agora estou a ver um planeta que me parece o  Prosárida que pertence à galáxia Antíbrida. Como é que o conheces ? Olha bem para ele. Não vês um grande ponto vermelho circundado por nove luas ? Sim, sim, vejo perfeitamente. Segundo consta, é um planeta habitado com uma civilização muito avançada, queres conhecê - lo ?  Claro que sim, sabes perfeitamente que estou sempre pronto para conhecer novos planetas e outros astros. Então vamos.

Cá vamos nós para mais uma aventura e desta vez com rumo certo para conhecer o planeta Prosárida. O nosso cavalo voa a toda a velocidade em direcção a ele e já estamos em pulgas para lá chegarmos. Já estamos relativamente perto e a sua cor avermelhada é notória e as suas nove luas emitem uma luz  muito amarela que as distingue bem do planeta e além disso, são muito mais pequenas. Eles vão crescendo à medida que nos aproximamos, assim como a nossa vontade de os conhecer.

Às vezes penso, Niray, se o nosso cavalo, não terá a capacidade de vencer o tempo, isto é, de partir e chegar ao mesmo tempo ? Isso é muito complicado Sem Nome ? Às vezes tenho destes pensamentos. Mas o que eu quero dizer é que, se ele não terá a velocidade de pensar e chegar ?  Não sei Sem Nome, mas acredito plenamente que ele o possa fazer, desafiando as leis da física. Com ele nada é impossível.

 

Ena, que grande planeta, Niray. Além de grande é lindo, não achas Sem Nome ? É Talvez o mais lindo e majestoso que encontrámos até aqui. As suas nove luas dão - lhe uma graça enorme que até parecem sois que o iluminam. Quem sabe se assim não é ?  Seria original e quem se assim terá sempre dias, uma vez que é iluminado por todos os lados.  És capaz de ter razão Sem Nome, não me tinha lembrado disso.

Já estamos por cima do Prosárida preparando - nos para descer. O nosso cavalo inicia a descida lentamente e parece, que vamos aterrar numa área deserta. Ele sabe escolher os sítios, para não dar nas vistas e partirmos para a descoberta deste planeta.

Estou a lembrar - me duma coisa Niray. O que é ? Já pensaste se vamos entrar nesta civilização, o que vamos fazer com o nosso cavalo ? Não te preocupes com isso Sem Nome que ele sabe muito bem o que fazer, quando chegar a altura própria. Vamos ver qual será a surpresa ou se ele nos acompanhará.

O nosso cavalo vai nos conduzindo para a convivência social e nós estamos ansiosos porque não sabemos o que vamos encontrar e como será a nossa integração temporária dentro desta sociedade. Será que também são humanos ?

Começamos a ver ao longe muitos arranha céus, o que quer dizer que estamos perto duma cidade cosmopolita. Em primeiro lugar, precisamos de contactar com alguém que nos saiba explicar em que continente, país e cidade estamos e como é composta a sociedade deste planeta. Precisamos de encontrar um poliglota para que nos compreenda e nos possa transmitir alguns conhecimentos, pelo menos, sobre a região em que estamos.

Já estamos muito perto da cidade e então descemos do nosso cavalo e pela primeira vez a Niray eu pisamos o solo deste planeta mas, de súbito o nosso protector enche-  -se de luz como se fosse um sol e eis que nos aparece um ser igual a nós que nos sorri e nos diz, sou eu o vosso cavalo não se assustem. Vou acompanhar - vos nesta missão. Ficamos perplexos, boquiabertos durante algum tempo mas, radiantes porque assim, vamos entrar na cidade seguros e protegidos.

Assim, os três, já estamos às portas da cidade que é atravessada por um rio e muitas estradas estreitas e ruas todas em círculos estando no centro  um grande edifício. As ruas estão cheias de gente e os veículos não têm rodas, parecendo - nos pequenas naves que circulam suspensos a poucos metros do chão, todos eles com cores garridas, acentuando- se o vermelho e o preto.

Pela primeira vez vamos presenciar os habitantes. São seres mais pequenos do que nós com orelhas completamente redondas e os seus olhos são muito maiores que os nossos mas, no resto à primeira vista, parece que somos semelhantes. Estamos em plena rua e todos olham para nós com espanto. O nosso protector mete conversa com um deles e pergunta - lhes na sua língua que é muito esquisita. A conversa vai longa e acompanha - nos também no nosso passo até chegarmos a um belo jardim repleto de flores e árvores completamente diferentes das que existem na Terra. São enormes e vermelhas e as árvores compridas e frondosas mas, também vermelhas. Sentamo - nos num banco do jardim e o nosso protector e o cidadão tagarelam sem percebermos nada do que se está a passar mas, esperamos pacientemente pela tradução.

Ao fim de duas longas horas de conversa, finalmente o nosso protector vira - se para nós e diz : Efectivamente estamos no planeta Prosárida, no continente Amarídio, no país Kikipopim e na cidade de Piricório. Além deste continente, este planeta tem mais sete e que são : Irinókia, Platónius, Marboria, Tantinídia, Sinkofório, Kantúrim e Eurikídia.

Que nomes são estes cavalo de fogo ?  Fica calmo Sem Nome, porque tudo aqui é diferente dos lugares por onde temos andado. Diz a Niray, o nosso Protector tem razão Sem Nome, e ele melhor do que ninguém sabe como é a geografia deste planeta. Está bem mas, sou curioso e gosto de saber o porquê das coisas.

Vamos alugar uma nave para visitarmos a cidade e assim, já vocês vão perceber melhor o lugar onde estamos. Como Protector, se não temos dinheiro, pergunto eu ? Fica descansado Sem Nome que o vosso Protector tem tudo controlado. Não é perigosa a cidade, pergunta a Niray ? Responde o nosso Protector, é um pouco violenta mas, não há problema que tudo há - de correr bem.

O nosso guia mandou parar uma das naves das muitas que circulam nas ruas e entramos os quatro para o primeiro passeio guiado. O piloto tem um boné que parece um computador com muitos botões luminosos que é um sistema de segurança que utilizam neste tipo de veículos.

Pronto, lá vamos nós para esta viagem em rua circulares mas todas se atravessam. É muito engraçada esta arquitectura. Os prédios são enormes e terminam sempre em bico, apontando para o interminável céu. A nave anda rápida e não faz barulho, não se ouve qualquer ruído vindo das ruas que são infernais em trânsito mas, tudo controlado por sistemas electrónicas e  olhos da mesma natureza que, nos vigiam sempre.

Entramos numa avenida enorme que deve ser das últimas que dão a volta à cidade, ladeada de arranha - céus intermináveis. Os peões são aos milhares nas ruas e de vez em quando vê - se zaragatas que acabam logo, porque a guarda tem tudo controlado pelos olhos electrónicos, instalados em todas as ruas e  em toda a cidade, de modo que, quando há violência ela é logo anulada porque os guardas são muitos nas ruas e são logo avisados quando alguma coisa não corre bem.  As armas usadas pelos guardas são eléctricas que paralisam imediatamente quem prevarica.

As lojas estão apinhadas de gente que entram e saem sem cessar mas tudo ordeiramente porque sabem que estão a ser vigiados. Os jardins são muitos, das tais flores esquisitas e os habitantes gostam muito destes espaços e as crianças correm, correm sem cessar pelos canteiros dos jardins mas, não gritam muito.  Dá a impressão que andamos sempre no mesmo sítio porque andamos às voltas e as ruas são todas iguais. Paramos junto a uma Praça enorme onde os cidadãos se divertem, cada um à sua maneira mas, os guardas andam sempre por perto porque às vezes, aparecem de repente invasores para saquear mas, quase sempre são caçados e exterminados, não havendo contemplações para quem comete crimes graves.

 

Descemos da nave e misturamo - nos com os demais cidadãos mas todos ficam estupefactos a olhar para nós porque somos maiores e diferentes. Diz o nosso guia que, esta Praça costuma ser assaltada pelos tais invasores, porque para aqui vêm os mais endinheirados  e é a eles que tentam roubar. O nosso passeio continua  mas, entretanto eis que as pessoas se alarmam porque os invasores chegaram. Como somos diferentes somos os primeiros a que eles tentam atacar mas bateram a má porta, porque o nosso Protector dizima- os  sem dó nem piedade, causando o espanto dos guardas que se acercam de nós e felicitam o nosso Protector pela sua actuação, convidando - o logo para fazer parte do seu grupo de defesa pública. Claro que ele não aceita porque tem uma missão a cumprir, chegar ao tecto do mundo e levar - nos de volta à minha Terra e além disso é um ser mutante que, ao fim e ao cabo lhes dava muito jeito.

Os nomes das pessoas são muito engraçados e originais, tais como, tikikim, Porikim, Sirokim, tudo em im, porque se ouve chamar e os sons são precisamente entoados com muita acentuação.

Depois de uma curta paragem, metemo- nos na nave  e prosseguimos novamente na visita à cidade de Piricório, afastando - nos cada vez mais do centro em virtude de as ruas serem em caracol e a luminosidade é do dia eterno porque a noite não existe.

Entramos numa parte da cidade em que não há cidadãos a passear e por isso, temos as ruas por nossa conta mas, para não existirem aqui transeuntes é porque a zona deve ser perigosa. Parece que estamos no extremo da cidade, sinto uns arrepios de medo e a Niray agarra na minha mão como que a pressentir algo de grave. O nosso Protector, o guia e o piloto vão calmos mas, ao fim ao cabo nós não temos nada que recear porque temos o nosso salvador mutante que tem sido cavalo, nave e agora é homem.

Pronto, temos o problema à nossa frente, marginais de naves fazem - nos frente e mandam - nos parar. Quem sai é o nosso Protector e vai ao encontro dos malfeitores que não esperam e tentam agredi - lo. Coitados dos malfeitores, com quem se foram meter. Nem eles sabem o que os espera. Repentinamente há corpos pelos ares e a nave destruída só com dois impulsos  do nosso grande amigo . O nosso piloto da nave e o guia levam as mãos à cabeça e ao mesmo tempo, ficam surpreendidos com a sua actuação. Até as luzes do chapéu do piloto piscam incessantemente, pela adrenalina da sua reacção que, até os olhos se entortam e quase saltam das órbitas, não evitando uma gargalhada nossa, apesar da situação.

Regressamos ao princípio da cidade, desejando voltar aos nossos voos, porque a cidade não nos agrada, quer pela sua violência, quer pela sua cor de ambiente que parece descontrolar - nos um pouco a nossa mente, desconhecendo - se a razão por que isto acontece.

Esta cidade não é grande, cresceu mais para cima do que para os lados. Se fosse possível virá - la ao contrário, parecia uma  cama de faquir gigante.

Esta nossa viajem chegou ao fim, deixamos o guia e a taxi - nave e caminhamos para o ponto de chegada, na área deserta da cidade.

O nosso Protector procede ao processo de mutação como se fosse um relâmpago e eis que temos de  novo o nosso cavalo de volta, pronto para nos levar novamente para outra aventura espacial.

Não gosto nada deste planeta, diz - me a Niray ? Pois é, nem eu minha querida. Prefiro os outros planetas mesmo inóspitos. Sem dúvida Sem Nome, nem tem comparação.

Que fazemos agora, Sem Nome ? Enquanto voamos para as entranhas do infinito, vamos decidir o que fazer a seguir, concordas Niray ? Com certeza, meu querido. Tu és um amor minha querida.

Partamos.

 

 

 

                                                CAPÍTULO XX

 

                             

                                 O  FIM DO INFINITO

 

     

Estou a lembrar - me de uma coisa que, se calhar, tu vais achar que é uma loucura por ser uma aventura muito grande  mas, acho eu que é aliciante. Diz, diz, Sem Nome, que estou muito curiosa e tu costumas ter umas ideias arrojadas. Não sei se te diga isto que estou a pensar, é uma grande viagem e uma ambição muito grande. Fala Sem Nome, deixa - te de enigmas, deixas - me nervosa e impaciente. Eu sei que isto não é impossível para o nosso cavalo mas, para o meu ou o teu sonho talvez.

Para concretizar este sonho, com certeza que vamos levar muito tempo e não sei os escolhos que vamos encontrar, nem sei se o nosso grau de envelhecimento vai ser acelerado ou se se  mantém. Quanto a isso não te preocupes Sem Nome, porque se nós não envelhecermos pela morte lenta das células, envelhecemos pela idade, porque o tempo não para. Bem, o que eu quero que de uma vez por todas me digas que sonho é esse ? Gosto de te ver impaciente e curiosa, Niray porque ainda ficas mais bonita. Muito obrigado pelo elogio mas, por favor Sem Nome diz lá que aventura é essa que tens em mente que é tão difícil ? É uma aventura tão difícil e absurda que, não sei se me atrevo a dizer - te. Seja como for diz o que te vai na alma, desembucha.

A minha amiga Niray está a ficar muito impaciente e nervosa mas, já é altura de não a fazer sofrer mais e vou dizer - lhe qual a aventura que gostaria de fazer.

Pronto Niray. Não me digas que é agora que me vais revelar ? Efectivamente é. Tenho estado a pensar há muito tempo quão misterioso é o cosmos e interrogo -me se o mesmo não terá fim ? E é isto precisamente que pretendo desvendar, encontrar o tecto do espaço, ou seja o fim do infinito. É uma contradição mas tu sabes o que eu quero dizer. Estou pasmada Sem Nome. A matéria não podia ser mais aliciante para discutirmos. Efectivamente é uma curiosidade que gostaria também de ser satisfeita. Muito bem.

Afinal, pensava que ias achar disparate mas, pelo que vejo, estás também maravilhada pela ideia e eu muito contente por isso.

Desde que meti esta ideia na cabeça, estou cheio de ansiedade e com uma curiosidade extrema para conhecer o ponto culminante  ou seja a extremidade do extremo do grande Cosmos que tanto nos intriga e nos faz sonhar e encher o nosso cérebro de imagens incríveis e alucinatórias e que, nos faz também voar, correr no vazio, chorar, rir, matar, ver o invisível,  cair e levitar. Todo este filme de ficção passa no ecram da minha memória, tão rápido como a luz, ouvindo muito ao longe a voz da minha amiga Niray: Sem Nome, acorda, em que estás a pensar ? Desperto de um sono de ficção e digo : Ah, Niray, estava já a milhões de quilómetros de distância do meu corpo e num ápice fizeste - me voltar à realidade. Gostaste do filme ? Evidentemente que sim. Estar no espaço longínquo faz - me sonhar muito, e a ti não ? Também Sem Nome mas, não com tanta frequência.

Bem Niray, não achas que é altura de nos prepararmos para a nossa viagem ? Sim, claro. Assim, de flutuantes do espaço passamos rapidamente para o voo memorável da nossa imaginação, atingir o inatingível. O nosso cavalo voa a toda a velocidade porque a distância a percorrer é longa, o alvo incógnito e o desejo de regressar ainda maior. Ainda não chegámos e já estamos a pensar em voltar. É sinal que o destino é incerto e  a preocupação é muita. Agarrados um ao outro e ao nosso cavalo, estamos a passar por estrelas vivas e mortas, grandes e pequenas, vermelhas e amarelas, tendo a sensação que o universo é um gigante, sem pernas e sem braços mas, com muitos olhos que são as estrelas que,  nos vigiam e controlam permanentemente, como se fossem guardas celestiais.

A velocidade imprimida pelo nosso cavalo é tanta que, quando pensamos que as estrelas estão longe, já passaram e passam a estar longe novamente, como se fosse grãos de areia luminosos pregados no firmamento, dando  a ilusão estão efectivamente coladas ao tecto do infinito, mas não, porque para além delas ainda há outras que não se vêem  e passam a ver - se  como que a surgirem do nada. É para lá que nos dirigimos até encontrar os últimos astros e por fim a nossa meta espacial. Com esta velocidade toda, temos de ter muito cuidado para não embatermos na fronteira do Cosmos. Se ela for mole amortece a pancada mas, se for ao contrário podemos ficar reduzidos a plasma e isto não convém porque possivelmente, nem vai dar tempo para se sentir se vai doer muito. Entretanto, galopamos no espaço e damos vivas à nossa imaginação, produto da nossa loucura que advém das profundezas da nossa caixa de comandos, o nosso cérebro, onde se produz tudo o que temos de bom e de mau mas que, do mau nunca somos culpados.

O céu é escuro como as profundezas  do oceano mas, o nosso cavalo brilha como uma estrela das mais belas que existem neste universo e a sua orientação é  sempre perfeita, sabe sempre para onde se dirige, nunca cometendo o menor erro. Se assim não fosse, andaríamos vagueando sem rumo e sem saber para onde ir e o destino nunca nos encontraria nas vagas alterosas do tempo que é também infinito e este, por mais que o ser humano se esforce nunca o alcançará.

É esquisito Niray, o céu está com manchas muito negras e outras menos, parecendo autênticos buracos que nos querem engolir. É verdade Sem Nome, é assustador, temos de ter cuidado, pois não te esqueças que estamos a caminho do tecto do infinito e é natural que vamos encontrando diferenças na composição do espaço. Agora vêem - se manchas mais claras, parecendo autênticas portas que nos convidam a entrar mas não vamos cair nisso, não achas Sem Nome ? Com certeza Niray, mas não devemos de ter receio porque o nosso cavalo sabe para onde nos leva. Tens razão, esqueço - me sempre. Por muito que  confiemos sobe - nos sempre o medo à cabeça que acho natural, porque é uma maneira hábil  de nos defender - nos. Será que até chegarmos ao tecto do universo, não iremos encontrar seres hostis?

Não sabemos Niray mas, se os encontrarmos, temos a nossa nave viva que os destruirá. Agora por isso, há muito tempo que o nosso cavalo não procede à sua mutação para a nave sofisticada.  Só o fará quando achar necessário.

Mas o que é isto que estou a ver Niray ? Que seres são estes ?  Estou a vê - los Sem Nome, mas que esquisitos ?  São como bolas ovais, sem braços e sem pernas mas, com dois olhos enormes e uma boca semelhante à de um peixe. São uma nuvem deles, com cerca de metade do nosso tamanho que formam um círculo à volta de um semelhante, muito maior do que eles. Deve ser a mãe, não achas Sem Nome ?  Tudo leva a crer que sim mas, ela é negra e brilha como se fosse uma fonte de luz que os alimenta e os mantém vivos. Já viste Niray, eles não se perturbam com a nossa presença, nem apresentam qualquer hostilidade. Será que à medida que nos aproximamos do tecto do Universo vamos encontrando seres que vivem neste ambiente ? Isto tem muita semelhança com o fundo do mar, que é escuro e misterioso.

Devíamos descer do nosso cavalo e aproximármo - nos deles, não concordas Niray ? Nem penses Sem Nome, na última vez que o fizemos apanhámos um grande susto e por isso não quero experimentar outra vez. Ficaste traumatizada Niray ?  Achas que não devia ficar ? Sem dúvida, tens toda a razão, o que nos sucedeu foi horrível. Estou a fazer - me de forte mas, também não ganhei para o susto. Sempre pensei que morríamos.

A viagem continua na turbulência do espírito mas a mente quer sempre ir mais além, até alcançar o cume da inteligência, ferindo as mentes mais aquém e matando de vez a inteligência da ignorância da raça humana mas, a nossa meta continua a ser o pico final do Universo que em breve o alcançaremos para o culminar da nossa ambição que também tem um limite mas que, ultrapassado nos  pode ser fatal. Por isso, vamos avançando até atingir esse limite e voltar à nossa condição normal de ser racional.

O céu é escuro como a visão de um cego mas, nós temos os olhos do nosso cavalo que nos ilumina o caminho da nossa viagem e nos vai levando sempre para além até entrarmos na recta final para o tecto do mundo, enchendo - nos de ansiedade porque não sabemos como será e por isso é que navegamos para  desvendarmos o seu mistério que, deve ficar para além da eternidade.

Aparecem os primeiros astros- nuvens vermelhos, enroladas  em espiral, enormes e majestosos que nos dá a sensação de algodão colorido, macio mas, tendo no meio um  buraco negro que mais parece uma boca que nos quer engolir. Quanto mais encurtamos o espaço para o tecto do Cosmos mais densos são os astros que até parece que o nosso cavalo tem dificuldade em atravessá - los mas, sempre longe do seu ponto negro central, deixando para trás um rasto de luminosidade como se fosse um cometa.

Como há muito tempo que não converso com a minha amiga Niray, chegou o momento de lhe pôr a seguinte questão :  Achas mesmo ou acreditas que o Cosmos tem tecto ? Não sei  Sem Nome mas, seguindo o princípio que, tudo que tem princípio tem fim, a lógica diz - me que sim. O facto é que nós não encontrámos o princípio e por isso também tem lógica que não encontremos o fim. Seguindo o teu raciocínio parece que tens razão Niray. Este assunto é muito complicado, não achas Sem Nome ? Evidentemente que sim mas, os assuntos complicados também se discutem e às vezes nasce luz. É verdade, está bem pensado.

Já viste Sem Nome que, agora estamos encontrar menos estrelas e o céu parece azul escuro ? É verdade, ainda não tinha reparado mas, ao mesmo tempo vê - se cada vez mais os tais astros vermelhos que parecem nuvens enroladas em espiral com braços estendidos a querem abraçar - nos ou a darem - nos as boas vindas por estarmos perto da última etapa.

O nosso cavalo parece que voa mais lentamente e assim, podemos apreciar mais em pormenor que o céu aqui é mesmo azul escuro, notando - se agora milhões de pontos brilhantes que parecem velas acesas, dando a impressão que isto é capaz de ser mesmo o Céu, na verdadeira acepção da palavra e as velas parecem ser as almas que deixaram os seus corpos nos seus planetas e estão presas no tecto do Universo.

Olha Niray, tenho estado a pensar só para mim mas, o que estamos a ver é muito belo, parecendo que o Céu é um manto de cor azul escura que está a  envolver todos os astros que o compõem e os pontos brilhantes são almas que têm o seu habitat no tecto do mundo. Estás a querer dizer - me que estamos a chegar ao fim do Universo?

É  isso mesmo que me parece Niray. Estamos mesmo a chegar ao verdadeiro Céu. Então continuemos a viagem que estou curiosa por saber como é o tecto do mundo. Também eu Niray, estou curioso e ao mesmo tempo, ansioso.

Voamos, voamos em direcção ao fim do Cosmos e já estamos a ficar muito perto e o Céu azul escuro cada vez é mais bonito e as velas acesas distinguem - se cada vez melhor até que a aproximação já é tão grande  que dá para perceber que as velas são figuras humanas que brilham no topo do Céu e que dá a este uma luminosidade extraordinária e um silêncio de morte.

Niray, como vês o Cosmos tem tecto e nele moram as almas de todos os seres humanos que formam um manto contínuo de luz que sobressaem do azul escuro do topo do Céu.

Será que dá para ver o meu pai, a minha mãe ?  Acho que não Sem Nome, como é que tu os queres ver se aqui estão biliões e biliões de almas ? E se eu chamar por eles ? Não sei Sem Nome, tudo é possível, experimenta.

Grito, grito muito alto : Paiiiiii, mãeiiiii, estou aqui, é o vosso filho Zé que vos quer ver r r r r ...  Ao fim de alguns chamamentos, duas velas em forma de gente descem até nós e eis que são o meu pai e a minha mãe que me envolvem com a sua luz e me cobrem de beijos sem falar e as lágrimas correm dos seus olhos como uma fonte cristalina, estendendo  - me os seus braços e vão desaparecendo a pouco e pouco, fazendo - me adeus e eu grito por eles, paiiiiiiii, maeiiiiiii, não vão embora, não me deixem mas, em vão, precisam de descanso e de paz.

Fico muito triste mas aceito as leis do Universo.

Estou muito comovida Sem Nome, nunca vi uma cena tão triste. É aqui no tecto do mundo que estão todos os espíritos ? É verdade Niray, valeu a pena termos chegado até aqui. Nunca pensei que pudesse ver os meus pais. Foi comovente mas lindo.

Não chores Sem Nome, tu sabes que a natureza é insensível e cruel, aplica as suas leis sem olhar às condições sociais de cada pessoa. É cruel mas justa, assim todos nós procedêssemos da mesma forma. Desculpa Niray, esta situação comoveu - me muito. Deixa lá, encosta a tua cabeça no meu ombro que te vais sentir mais aliviado. Como é bom ter sempre um ombro amigo para desafogar as nossas mágoas.

O nosso cavalo dispara em grande velocidade e começamos a afastar - nos do fim do infinito, sempre olhando para trás, deixando para sempre os meus queridos pais que foram sempre pobres mas, ricos em amor.

A velocidade imprimida pelo nosso cavalo é imensa que parece ter pressa em se afastar do tecto do infinito mas, ao mesmo tempo estou um pouco deprimido pelo encontro inesperado que tive mas, ao mesmo tempo muito contente  por ter encontrado os meus pais que há muito os tinha perdido.

A Niray olha para mim constantemente porque vê no meu semblante algo que não é hábito mas eu não resisto e pergunto - lhe: então Niray, porque olhas tanto para mim?  Estás diferente. Não me digas que comecei a envelhecer ? Nada disso Sem Nome. Então estou mais bonito ? Vaidoso! Então diz lá porque estou muito curioso. Sei lá, parece que o teu rosto está brilhante. Olha que o teu também está. Não me digas Sem Nome ? É verdade, acredita. Deve ter sido influências do fim do infinito.

É inacreditável como isto pode acontecer.

E agora o que fazemos Sem Nome ? Continuamos a nossa exploração ou damos por finda a nossa viagem e regressamos aos nossos lugares de origem ?

Não sei Niray, estou a gostar tanto de andar nos confins do espaço, em cima do nosso cavalo voador que até não me importava nada em me transformar em estrela e fazer parte do universo para sempre. Não digas isso Sem Nome. Estás assim tão aborrecido com o teu planeta ? Eu não estou aborrecido com o meu planeta mas, sim, com os governantes dos países que o compõe. São assim tão maus ? São sim Niray ?  As pessoas que põem em perigo o seu planeta pela ambição do poder e do dinheiro, só podem ser maus. Se é assim tens toda a razão Sem Nome. Mesmo assim estou ansiosa por conhecer o teu planeta Terra. Vais levar  - me contigo, não vais ? Com certeza Niray, é o que eu mais quero.

Então estás de acordo em que partamos já em direcção à Terra ? Perfeitamente de acordo. Era o que eu mais queria ouvir. Grita comigo Niray, para a Terra que se faz tarde. O grito perdeu - se no espaço e damos um abraço amoroso para comemorar a nossa decisão.

O nosso cavalo de fogo, parte de rompante  que nos deixa perplexos.

Olha Niray, fechemos os olhos e  vamos abri- los só quando tivermos a Terra à Vista. Não achas que é muito tempo Sem Nome ? Não, vais ver que é rápido. É como um sonho. Pronto, assim seja.

Abraçamo - nos e o nosso cavalo transporta - nos para a realidade do nosso sonho que é chegar à Terra do nosso desejo

Sempre calados, apenas unidos pelas nossas almas e pelo nosso amor, voamos pelo

Cosmos dos enigmas, das estrelas, da paz e dos fantasmas, para entrarmos na órbita dos pesadelos da atmosfera da Terra. Só espero que não nos considerem intrusos e nos provoquem a destruição.

Vamos abrir os olhos Niray. Um, dois, três, pronto as janelas estão abertas.

Olha Niray, a minha Terra está à vista. Tem um azul lindo e é redonda como uma roda mas, ainda estamos longe porque se vê ainda muito pequena. Estou assustada Sem Nome. Porquê Niray ? Não sei, começo a ter saudades do meu planeta Niranium. Estás indecisa minha querida ? Estou a ficar também aflito, não penses em deixar - me agora.

Não te esqueças que temos uma missão a cumprir. Qual missão Sem Nome ? Dar paz à Terra, para que tudo e todos vivamos sem sobressaltos e medos. Como vamos fazer isso ? Eu também não sei, e o melhor é deixarmos essa tarefa importante e divina para o nosso cavalo misterioso.

Ele continua a voar para a Terra, imbuído do espírito desta nobre missão, todo imponente irradiando uma luz que ilumina todo o Planeta.

Ele transmite - nos que todas as armas mortíferas serão destruídas e o espírito de todos os humanos serão preenchidos de boa vontade, paz, amor e tolerância.

Á nossa passagem toda a Terra está em festa, pela boa nova que o nosso  cavalo lhes trouxe.

Olha Niray, o nosso cavalo cumpriu a nossa missão. É verdade Sem Nome. É lindo o que está suceder ao teu Planeta. Todos gritam por nós, possivelmente para nos aclamar como heróis. Vamos descer Sem Nome. É melhor não Niray, nunca gostei que me agradeçam pelo bem que faço, nem gosto de passar por herói. Ao fim e ao cabo, o nosso cavalo é que fez este milagre e nós vamos receber os louros ? Uma mão não deve saber o que a outra dá.

Adoro a tua maneira de ser Sem Nome. Tens toda a razão. Vamo- nos despedir e voltemos para o nosso infinito.

O nosso cavalo de fogo parte a toda a velocidade para o céu sem fim e de repente vejo que a minha Niray está triste. O que se passa para estares assim ? A nossa aventura chegou ao fim, eu tenho de partir para o meu planeta.

O nosso cavalo pára, apercebendo - se dos sentimentos da Niray. Ela está lavada em lágrimas, deixando- me também muito perturbado sentimentalmente.

Abraça - me muito forte, enquanto o nosso cavalo treme também de emoção, parecendo até que as lágrimas da Niray cintilam no espaço e sobem para o infinito para que nasçam novas estrelas e recordem para sempre este nosso encontro.

 

Num ápice a Niray esvai- se  dos meus braços e desaparece como um fantasma, deixando - me a gritar por ela : Nirayyyyyyyyyy, Nirayyyyyyyyy, voltaaaaaaaaaa. Choro, choro, a soluçar,  a  minha cabeça parece um vulcão e todo o meu corpo estremece no meio deste pesadelo. Quero mexer - me mas não posso e vou ouvindo muito ao fundo uma voz que chama por mim:

Pai, pai, paiiii, acorda, o que é filho, é o tio Nuno que está a telefonar para irem à pesca. Mas que alívio estar acordado. Meu Deus que loucura tenho na minha cabeça. Estava tão longe, algures no espaço mas, felizmente estou de volta. Pensava que nunca mais voltava mas, ainda soluço acordado com saudades da minha amada Niray, que me acompanhou nesta aventura eterna pelos confins do além.

 

 

 

 

 

 

 

  

 

 

 

    

     

 

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Jueves, Marzo 15, 2012 - 11:22

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José Custódio Estêvão

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