Apocalipse

(Os corvos
não nascem por acaso.
Há noites negras
de calafrios, pesadelos intrigantes, pressentimentos
pesos súbitos na consciência.)

Uma mulher corre pela noite de temporal até à igreja.
Encharcada, aninha-se, benze-se, chora, brame:
“Perdoa-me Senhor!
Perdoa-me ter desprezado e manipulado meus filhos!
Perdoa-me ter negociado meu espírito!
Perdoa-me os maldizeres!
Perdoa-me ser mais uma alma sanguinolenta
a profanar o teu imaculado perfume
com orações imaturas que faço como rotina!
Perdoa-me!”

(Os corvos pernoitam
nas casas dos pecaminosos
numa piedade irremediável
à espera
dalguma nostalgia...)

Uma mulher com a casa possuída
por demónios que não dormem
pede mil perdões.
A peste apodera-se de cada poro seu:
o corpo esboroa-se,
a alma é impura.
Será condenada, e ela sabe-o.

(Num silêncio macabro, um criminoso apercebe-se
de como o mundo se enlutou por ele,
pelo Juízo Final…
São os corvos quem lamenta, com desgosto
esse desperdício.)

- Perdoa-lhe senhor, ela só queria ser célebre um dia.

"O nosso arrependimento não é tanto um remorso do mal que cometemos, mas um temor daquilo que nos pode acontecer"

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Jueves, Julio 2, 2009 - 15:13

Poesia :

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Comentarios

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Re: Apocalipse

Belo poema, acrescentaria;"só não há perdão para a blasfemea contra o espirito santo", ela alcançará o perdão e a salvação em Cristo.

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Re: Apocalipse

Olá Ebony,
Gostei bastante do poema.
Seu estilo de escrita é muito interessante,
Já sou sua fiel leitora.
Beijo :-)

Daniela Gomes.

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Re: Apocalipse

Excelente escrita

O arrependimento é uma tentativa de iludir o futuro do mal do passado.

Gostei imenso

Bjos

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