Cravo Vermelho

O cravo vermelho que tenho na lapela
insiste já que vivi nalgum romance
e que já tive a eternidade ao meu alcance.
Mas o tempo passou num relance
e despercebido eu nem vi que também tinha ido.
Que também fui roído. Também fui moído.
E que por Cérbero, tinha sido mordido,
sem sequer ter tido o epíteto
de problema resolvido, ou de inimigo abatido.
Restei um ombro. Restei um escombro
que agora sustenta um Cravo desbotado,
que já nem assombra os raros olhares
que passeiam pelos boulevares
em busca das Senhoritas dos bazares
e das das Senhoras putas nos sujos bares.

Os homens de branco enfiam-me pílulas na garganta
e me xingam de ateu, terrorista e filho da anta.
Eu os chamo de "Carrascos Redundantes",
já que os conheço das torturas de antes.
Exigem que eu volte à Realidade e pare
de escrever essas bobagens.
Dizem que a Guerra tudo danou,
que o Mundo mudou e que o sonho acabou.
Que foram fuzilados os malditos romancistas
e que agora só vivem as Estrelas de revistas.
Que eu esqueça qualquer ranço de lirismo,
antes que o sumidouro me leve para o abismo,
ou que seja forçado a entrar nas águas do batismo.
Que eu me contente com as sobras,
pois o tempo não tem dobras.

Personagens pequenas, daquelas de fundo de cena,
borram o vermelho que ainda havia no meu cravo
e amassam a lapela que antes era engomada.
Mas eu mantenho a insolência e cuspo
nas Vossas Excelências. Nas ditaduras excrecências.
Eu sinto que me batem, mas adormeço nas braços da Musa
e toda dor é esquecida quando o Cravo volta à vida.

                        À Musa.

Submited by

Viernes, Mayo 17, 2013 - 14:46

Poesia :

Sin votos aún

fabiovillela

Imagen de fabiovillela
Desconectado
Título: Moderador Poesia
Last seen: Hace 8 años 22 semanas
Integró: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of fabiovillela

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/General Ária 1 2.292 03/27/2011 - 23:08 Portuguese
Poesia/Amor Fases 1 2.536 03/25/2011 - 11:18 Portuguese
Poesia/Amor Ainda 0 2.652 03/23/2011 - 11:45 Portuguese
Poesia/Amor Destinada 2 2.116 03/22/2011 - 18:21 Portuguese
Poesia/General Aedo 1 4.023 03/20/2011 - 14:16 Portuguese
Poesia/Tristeza Branca 0 2.936 03/18/2011 - 11:31 Portuguese
Prosas/Teatro Gregas Tragédias - 07 - HÉCUBA 0 7.617 03/17/2011 - 12:12 Portuguese
Poesia/General Lixo 1 2.343 03/17/2011 - 01:11 Portuguese
Poesia/Fantasía Gregas 1 5.953 03/16/2011 - 06:23 Portuguese
Poesia/Fantasía Terror 1 3.492 03/13/2011 - 13:17 Portuguese
Poesia/Tristeza Jarro 3 3.717 03/10/2011 - 21:51 Portuguese
Poesia/Meditación Entulho 3 2.518 03/10/2011 - 01:30 Portuguese
Poesia/Dedicada Elas 0 3.011 03/08/2011 - 10:02 Portuguese
Poesia/Dedicada Mestre 2 3.118 03/07/2011 - 19:51 Portuguese
Poesia/Amor Que 1 3.280 03/07/2011 - 11:24 Portuguese
Prosas/Teatro Gregas Tragédias - 06 - MEDÉIA 0 7.789 03/05/2011 - 12:57 Portuguese
Poesia/Tristeza Março 3 2.757 03/02/2011 - 18:41 Portuguese
Poesia/Amor Face 1 2.645 02/27/2011 - 11:01 Portuguese
Poesia/Amor Intruso 1 2.398 02/25/2011 - 23:24 Portuguese
Poesia/General Megido 1 3.243 02/22/2011 - 11:36 Portuguese
Prosas/Teatro Gregas Tragédias - 05 - EDIPO REI 0 6.858 02/21/2011 - 20:52 Portuguese
Poesia/General Economia 0 2.697 02/21/2011 - 11:14 Portuguese
Poesia/General Hélade 1 2.992 02/19/2011 - 13:44 Portuguese
Poesia/General Games 1 2.820 02/16/2011 - 19:30 Portuguese
Poesia/Tristeza Jaz 1 2.490 02/14/2011 - 23:11 Portuguese