a pergunta errada
A pergunta errada
Volta e meia à sociedade se depara com questões polemicas que buscam revirar nossas mentes, instigando os debates mais furiosos e inimagináveis. Cada um de nós defende um ponto de vista e muitos defendem a ideia vendida pelos veículos de comunicação, a falta da informação ou a falta da busca dela, acaba por ser o maior erro cometido por toda a população.
Em tempos de imposições ferozes de opinião, uma pergunta foi jogada no centro do picadeiro humano e muitos de nós como bestas insaciáveis tomadas pela falsa razão, nos jogamos para defendê-la ou agredi-la.
Envolvemos Deus, religião, ciência e a razão, pois se trata da vida, da concepção dela e de tudo que ela pode trazer de bom ou ruim em função de tal ato. Mas não bastasse tal mistura explosiva, está envolvido o sentimento da mulher, para tanto acredito que o foco está errado e perguntar para população se é contra ou favor do aborto, é jogar ossos para os animais.
Esta é uma questão muito mais ampla e abrangente, nos remete a infância a nossa educação, aonde homens provem o sustento e mulheres cuidam da casa e educação dos filhos. Aprendemos que mulheres é o sexo frágil, que devem se guardar e manter uma posição de “santas” enquanto homens “podem tudo e a qualquer momento”.
O aborto não pode ser visto apernas na hora exata de tomar a decisão de fazê-lo ou não, é muito mais amplo, é uma questão cultural, de segurança da sociedade e da saúde publica, embora nos apeguemos apenas a ser a favor ou contra.
Grande parte dos abortos é decorrente pela violência sexual sofrida pela mulher, e se acontece é porque falta segurança, deveríamos então discutir meios de evitar que tal ato aconteça. Mas ao invés disto preferimos jogar a culpa na forma de se portar e vestir das mulheres, muito mais fácil e cômodo.
Outro fator importante é a gravidez na adolescência, mostrando nossa incapacidade de lidar ou falar sobre o sexo com os jovens. O que nos remete a nossa forma de criação e falta de politica publica de qualidade, não apenas de interesse momentâneo. E outros motivos alegados como estar gravida no momento errado, não ter estrutura familiar para um filho ou condições financeiras.
Mas não bastassem tantos fatores, continuamos apenas a focar no momento do aborto, não nas causas e consequências dele. É necessário antes de qualquer coisa, para todas as causas, um acompanhamento psicológico para mulher, pois esta emocionalmente abalada e com duvidas. Mostrar que a outros caminhos mesmo se não desejar ficar com o “filho”, como adoção, mas para isto também é necessário melhorar os processos de tal natureza, pois no país ainda impara a burocracia, tornando lenta e dolorosa tal escolha.
É preciso que mesmo a mulher optando por uma ou outra forma de seguir em frente, que ela disponha de toda ajuda possível, pois consumar ou não este ato, não encerra a questão, é necessário um acompanhando durante a gestação e pós gestação.
Não se discute o sentimento de quem está na situação, pois apenas temos a visão de espectadores e não de quem tem que tomar a decisão, abortar ou não, deveria ser uma decisão única e exclusiva da mulher e de ninguém mais. Mas uma escolha feita depois de ter todo apoio possível, depois que fossem mostrados todos os prós e contras possíveis.
Mas a cultura nossa do dia a dia, é de colocar o dedo aonde não temos o que ver e julgar, aprendemos a julgar sem pensar, sem questionar. Gostamos de fofoca, gostamos de uma desgraça, é da nossa índole de brasileiros.
Embora o ponto de vista colocado nas palavras à cima se de um leigo no assunto, de alguém que nunca teve que passar por tal decisão, uma visão de quem apenas acredita, que o foco esteja apenas na pergunta, maquiando todos os problemas que vem antes e pós-decisão, acaba se tornando a pergunta errada.
Pablo Danielli
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