Eu sei que foi você - capítulo 6
Narciso estava esperando dar o sinal do fim do intervalo. Nos últimos dias, andava quieto e distraído, afastado dos amigos e colegas, pois não tinha com quem dividir o que andava a perturbá-lo. Como estava de cabeça baixa, não escutou os passos sutis de alguém indo na sua direção, o que o fez se assustar ao ouvir:
-Eu sei que foi você!
Teve um sobressalto, não acreditando que a pessoa que lhe falara com aquele tom tão acusador era Cassandra.
-Ca-Cassandra? Do que está falando?
-Estou falando que eu sei que foi você, seu covarde mentiroso!
-Eu não sei o que você está dizendo, Cassandra!
-Mas sabe o que fez! E o que você fez não pode ser desfeito, não é?
Um murro na boca do estômago não seria mais doloroso do que o que Cassandra falara e, desta vez, Narciso se ergueu do banco, perturbado.
-Cassandra, você não pode chegar e falar essas coisas! O que você quer dizer? Do que está me acusando?
-E você, Narciso? Você pode chegar e fazer algo como o que você fez? O que você queria que acontecesse? Queria que ficassem apontando alguém, humilhando e acusando até esse alguém não aguentar e achar que não podia continuar?
-Pare, Cassandra!
Atordoado, Narciso estava quase em lágrimas. Cassandra o fitou sem pena.
-Por que quer chorar, Narciso? Remorso ou medo?
-Você está...
-Não estou imaginando ou inventando nada, Narciso!
Ele quase deu um pulo para trás. Cassandra dissera o que ele pensara antes mesmo dele falar. Era como se...não, impossível.
-Cassandra, você devia tentar chamar a atenção de outro jeito, não desse! Ficar falando coisas sem nexo não vai fazer você se tornar popular!
-Diga o que quiser, covardão, mas isso não muda que eu sei que foi você!
-Você não sabe de nada, Cassandra! Sabe o que você é? Uma maluca que quer atenção?
-Pouco me importa o que você acha! Você devia ter vergonha de ter feito o que fez!
-Ora, vá se tratar!
Andando abruptamente, Narciso queria escapar de Cassandra e de seu olhar acusador.
"Como ela poderia saber? Como ela poderia saber?"
Sim, não havia como ela saber. Não havia como ninguém saber.
Deu o sinal de que acabara o intervalo e Narciso voltou para a sala de cabeça baixa.
-O que houve, Narciso? Parece que viu um fantasma!
Marcelo, que andava estranhando o comportamento de Narciso, espantou-se com sua palidez.
-Nada, Marcelo.
-Nada? Rapaz, você devia se ver no espelho! Parece que tiraram todo o sangue das suas veias! Está doente?
-Não, cara, estou bem! Por que não fica na sua?
-Meu Deus, eu só fiz uma pergunta e você vem com quatro pedras na mão! Diabos, Narciso, você está insuportável ultimamente! Ninguém pode dizer ou fazer nada que é como se você tivesse levado um choque!
Marcelo saiu de perto de Narciso, cheio de raiva.
"Preferia o Narciso cheio de si, que só falava de meninas."
Narciso se perguntou se devia pedir desculpas a Marcelo, mas não teve coragem e preferiu ficar no seu lugar. Voltou-se para trás, espiando Cassandra, que estava de olhos baixos, aparentemente alheia à barulheira dos colegas. Porém, como se avisada por uma voz, ela subiu aqueles olhos estranhos e os fixou nele.
"Ela não demonstra nenhuma surpresa? Eu diria que sabia que eu a estou espionando antes mesmo de me olhar!"
Instintivamente, Narciso se descobriu com medo de Cassandra, em cujo olhar podia ler perfeitamente: "Eu sei que foi você."
Submited by
Prosas :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1658 reads
other contents of Atenéia
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Gótico | Apenas um nada | 0 | 2.556 | 10/20/2014 - 23:06 | Portuguese | |
Poesia/Gótico | Além de nós | 0 | 1.675 | 10/15/2014 - 15:19 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Névoa | 0 | 859 | 10/15/2014 - 15:17 | Portuguese | |
Prosas/Pensamientos | O verdadeiro amor | 0 | 2.036 | 10/13/2014 - 22:17 | Portuguese | |
Prosas/Pensamientos | Ideias voadoras | 0 | 2.312 | 10/13/2014 - 22:15 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Ânsia | 0 | 2.088 | 10/12/2014 - 20:17 | Portuguese | |
Poesia/Gótico | A musa da tristeza | 0 | 3.500 | 10/09/2014 - 14:49 | Portuguese | |
Poesia/Gótico | Seres da noite | 0 | 2.442 | 10/08/2014 - 23:05 | Portuguese | |
Poesia/Gótico | O cemitério | 0 | 2.618 | 10/08/2014 - 22:59 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | Fluindo | 0 | 2.671 | 10/08/2014 - 22:57 | Portuguese | |
Prosas/Contos | O vale escuro | 0 | 3.105 | 10/06/2014 - 15:58 | Portuguese | |
Prosas/Pensamientos | Definição de solidão | 0 | 1.651 | 10/05/2014 - 15:36 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Por que | 0 | 2.121 | 10/05/2014 - 15:32 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Um sopro | 0 | 1.416 | 09/22/2014 - 14:32 | Portuguese | |
Poesia/General | Challenged | 0 | 5.688 | 09/15/2014 - 21:59 | Inglés | |
Poesia/Amor | Be loved | 0 | 6.013 | 09/13/2014 - 12:31 | Inglés | |
Poesia/Tristeza | This way | 0 | 7.830 | 09/12/2014 - 12:12 | Inglés | |
Poesia/Meditación | We should have done | 0 | 6.509 | 09/12/2014 - 12:09 | Inglés | |
Prosas/Pensamientos | Insegurança | 0 | 2.366 | 09/10/2014 - 20:27 | Portuguese | |
Prosas/Tristeza | O túnel da dor | 0 | 3.584 | 09/10/2014 - 20:18 | Portuguese | |
Críticas/Libros | Um processo difícil | 0 | 8.855 | 08/30/2014 - 20:02 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | A qualquer momento | 0 | 3.415 | 08/28/2014 - 14:28 | Portuguese | |
Poesia/Gótico | Desolação | 0 | 1.726 | 08/27/2014 - 21:18 | Portuguese | |
Poesia/Amor | If we are together | 0 | 5.443 | 08/24/2014 - 19:02 | Inglés | |
Poesia/Gótico | I can't cry now | 0 | 4.679 | 08/24/2014 - 18:58 | Inglés |
Add comment