A Canção de Bagdá


 
A Canção de Bagdá

Os olhos negros de Emab
já não choram. Estão secos.
Secos os olhos, os seios,
os corpos e os campos.
Secos, como a oliveira
que do antigo terraço
assistiu a chegada de cada uma
das mil e uma noites.
Secos, como são os homens
que metralham a esperança
e bombardeiam a inocência.

Foi-se o sândalo e a mirra evaporou inútil,
pois eis que o cheiro é só o cheiro da morte,
que compartilha o tempo da vida.

Calaram-se os mercadores
e tornaram-se imóveis estátuas
as mulheres que dançavam
desde a noite dos tempos.

Noites que já foram mil
e que agora nem se contam.
O relâmpago da bomba assassina
pari breves dias instantâneos,

e ruge a eterna ciranda
da fúnebre fome
de perpétua demanda.

Aos povos que sofrem o flagelo das guerras do homem.
 

Lettré, l´art et la Culture - Rio de Janeiro, Primavera de 2014.

Submited by

Viernes, Octubre 31, 2014 - 15:04

Poesia :

Sin votos aún

fabiovillela

Imagen de fabiovillela
Desconectado
Título: Moderador Poesia
Last seen: Hace 8 años 38 semanas
Integró: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of fabiovillela

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/General Bruxas 2 4.750 07/14/2009 - 14:56 Portuguese
Poesia/General Por quem 1 6.351 07/12/2009 - 21:19 Portuguese
Poesia/Tristeza Outono 2 4.282 07/09/2009 - 19:26 Portuguese
Poesia/Dedicada Isabel 1 6.182 07/08/2009 - 13:08 Portuguese
Poesia/Aforismo "Vivere Est" 2 5.268 07/07/2009 - 18:57 Portuguese
Poesia/General Foto 1 4.524 07/04/2009 - 22:41 Portuguese