Rousseau e o Romantismo - Parte XIX - A Liberdade Civil

Rousseau e o Romantismo - Parte XIX -
A Liberdade Civil


Como dito alhures, o pacto ou contrato social foi firmado na época chamada de “guerra de todos contra todos”, com a esperança de que através do entendimento os homens pudessem viver de forma equilibrada e harmônica. É, portanto, precedente à formação do Estado e da Sociedade, os quais, em verdade, são apenas a sua face operacional.

Ao colocar essa sua tese, Rousseau teve como um de seus grandes objetivos, demonstrar de forma inquestionável a existência de uma Lógica Racional na gênese dos governos humanos, afastando, com isso, a antiga crença “Criacionista” que pregava o “governo divino”, operado por seus representantes eclesiásticos ou monárquicos.

Outro de seus objetivos foi estabelecer medidas legais para a participação do indivíduo no âmbito social, como, por exemplo, estipular a “igualdade jurídica” de todos, ainda que reconhecesse a persistência de algumas desigualdades no quesito das propriedades.

E ainda no campo da Legislação, Rousseau criticou severamente as leis vigentes à época, instituídas pela monarquia, por considerá-las injustas e equivocadas, vindo daí a sua proposta de se estabelecer um novo arcabouço legal, embasado nas ideias de igualdade.

Considerava, aliás, que a implantação desse novo Código seria imprescindível para que o conflito entre o Estado e o indivíduo fosse eliminado, bem como para a própria consolidação do pacto social.

As novas Leis, por serem representativas de toda a Sociedade e por serem consideradas como a expressão da Vontade Geral, teriam aceitação unânime e estipulariam equanimente os Direitos e os Deveres de cada qual; desde o mais humilde dos cidadãos até o Soberano (o Governante atual).

Ademais, ele não descartou a existência de um ou mais Legislador (es) – pobros, de inteligência superior e ética inatacável, desvinculados das questões que tratassem – cuja árdua e importante tarefa seria a de interpretar (em) a Vontade Geral e a partir dela estipular (em) as regras e normas que limitassem as liberdades individuais em prol do interesse maior da coletividade.

Desse modo, as Leis sendo proclamadas diretamente pela Vontade Geral ou indiretamente por meio dos Legisladores, assegurariam a “Liberdade Civil” de todos.

Porém, para o pacto se consolidar efetivamente seria preciso a doação integral de cada um de seus membros; inclusive no tocante à correção daqueles que se desviassem do caminho legal, aplicando-lhes penas proporcionais até se chegar à pena máxima: a exclusão do infrator da sociedade, tanto por intermédio da pena de morte, quanto pela pena de exílio.

Afinal, o que garante a “Liberdade Civil” é a própria Vontade Geral, sendo, portanto, legítimo que ela se resguarde para poder assegurar a Igualdade; a qual, a rigor, é o que torna os indivíduos realmente livres, já que a desigualdade na força física, econômica, política etc. é compensada pela potência da Lei, que impede a exploração, a usurpação e a violência. Nas palavras de Rousseau:

“Encontrar uma forma de associação que defenda e proteja a pessoa e os bens de cada associado com toda a força comum, e pela qual cada um, unindo-se a todos, só obedece, contudo a si mesmo, permanecendo assim tão livre quanto antes. Esse, o problema fundamental cuja solução o contrato social oferece”.

No aspecto político, o pacto rousseauniano, faz a separação nominal e jurídica entre o “público” e o “privado” para garantir a “Igualdade Política” a cada homem que se tornou um “cidadão”, possuidor de Direitos e de Deveres na esfera pública.

Com isso, cada indivíduo preserva a sua liberdade de opinião, de ideias, de aptidões profissionais etc. vez que é um Ser único; em contrapartida, ele doa parte de sua autonomia para a Sociedade todas às vezes que refreia seus impulsos e instintos e se comporta de acordo com as prescrições sociais e sempre em beneficio do “bem comum”.

Essa separação, além de ser um equacionamento da dicotomia “liberdade – igualdade” foi um vigoroso ataque ao vestuto pensamento medieval e à ordem política feudal, pois ao afirmar a individualidade de cada homem, contestou a concepção que o mesclava à sua família, ao seu clã, à sua classe social e funcional; assim como questionou fortemente o tratamento político que decorria dessa situação.

Os chamados “laços de sangue” já não poderiam ser usados para impor restrições ou para fomentar privilégios. Cada qual receberia segundo seus méritos.

Dessa sorte, Rousseau reafirmou que todos eram iguais, justamente por serem únicos.

Na sequência, encerrando a série sobre Rousseau, veremos a grande compilação de suas ideias políticas em sua obra prima “O Contrato Social”.

Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.

Submited by

Sábado, Noviembre 15, 2014 - 22:04

Prosas :

Sin votos aún

fabiovillela

Imagen de fabiovillela
Desconectado
Título: Moderador Poesia
Last seen: Hace 8 años 43 semanas
Integró: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of fabiovillela

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Prosas/Otros Arne NAESS - Filósofos Modernos e Contemporâneos 0 6.211 06/27/2012 - 12:32 Portuguese
Poesia/Tristeza WEB 0 4.153 06/25/2012 - 22:32 Portuguese
Poesia/Fantasía Fellini às 8,30 0 4.229 06/25/2012 - 13:04 Portuguese
Poesia/Tristeza À Filha 0 2.418 06/24/2012 - 13:47 Portuguese
Poesia/Amor Brisa do Atlântico 0 2.578 06/23/2012 - 12:27 Portuguese
Poesia/General Sofista 1 2.475 06/22/2012 - 21:45 Portuguese
Poesia/Tristeza Rio + 0 4.564 06/22/2012 - 11:35 Portuguese
Prosas/Otros Willard Van Orman QUINE - Filósofos Modernos e Contemporâneos 0 4.293 06/21/2012 - 22:18 Portuguese
Prosas/Otros Ferdinand SAUSSURE - Filósofos Modernos e Contemporâneos 1 6.712 06/21/2012 - 20:13 Portuguese
Prosas/Otros Rudolf CARNAP - Filósofos Modernos e Contemporâneos 1 6.346 06/21/2012 - 20:10 Portuguese
Poesia/Dedicada Ella 0 3.345 06/17/2012 - 12:04 Portuguese
Prosas/Otros Roland BARTHES, Filósofos Modernos e Contemporâneos 0 5.657 06/15/2012 - 11:49 Portuguese
Poesia/Dedicada Botero de Colômbia 0 2.349 06/14/2012 - 12:11 Portuguese
Prosas/Otros Hannah Arendt, Filósofos Modernos e Contemporâneos 0 6.381 06/13/2012 - 11:59 Portuguese
Poesia/Amor O Voo de Callas 0 2.658 06/11/2012 - 12:44 Portuguese
Prosas/Otros Gilles DELEUZE, Filósofos Modernos e Contemporâneos 0 4.813 06/10/2012 - 00:15 Portuguese
Poesia/General A Verdade 2 3.769 06/09/2012 - 11:48 Portuguese
Poesia/General Noturno 0 2.370 06/06/2012 - 13:30 Portuguese
Poesia/Amor Luz das Estrelas 0 1.192 06/05/2012 - 12:59 Portuguese
Poesia/Dedicada Dolce Fellini 0 1.797 06/04/2012 - 13:20 Portuguese
Prosas/Otros Walter Benjamin - Filósofos Modernos e Contemporâneos 0 3.314 06/03/2012 - 13:20 Portuguese
Poesia/Meditación Lua e Rua 0 3.705 06/02/2012 - 13:48 Portuguese
Prosas/Otros Filosofia Moderna e Contemporânea - BERLIN, Isaiah - A Liberdade Positiva e a Liberdade Negativa. 0 5.279 05/30/2012 - 22:47 Portuguese
Poesia/Amor Tantas 0 3.595 05/29/2012 - 14:00 Portuguese
Poesia/General Ópera 0 1.263 05/28/2012 - 12:05 Portuguese