Óperas, guia para iniciantes - LA TRAVIATA - Personagens e Enredo
Autoria – Verdi (Giuseppe Fortunino Francesco – 1813-1901 – Itália).
Libreto – Francesco Maria Piave.
Violetta Valéry– Protagonista, interpretada por uma Soprano.
Alfredo Germont – amado e amante de Violetta, interpretado por um Tenor.
Georges Germano – o pai de Alfredo, interpretado por um Barítono.
Flora Bervoix – amiga de Violetta, interpretada por uma Mezzo Soprano.
Marquês d´Obigny – nobre frequentador dos salões de Flora, interpretado por um Baixo.
Barão Douphol – amante de Violetta, interpretado por um Baixo.
Doutor Grenvil – médico que cuida de Violetta, interpretado por um Baixo.
Annina – aia fiel de Violetta, interpretada por uma Soprano.
Giuseppe – frequentador do círculo social dos protagonistas, interpretado por um Tenor.
Paris, França, meados de 1850.
O primeiro ato se inicia quando Violetta Valéry* abre os salões de sua magnífica casa para oferecer uma de suas festas habituais.
Nesse cenário irá se desenrolar o primeiro encontro entre a anfitriã e o jovem Alfredo Germont, herdeiro de tradicional e abastada família da região da Provence, França.
Tão logo é apresentado a Violetta, pelo Marquês d´Obigny, o jovem se impressiona com a beleza e com a graça da mesma. Eufórico e deslumbrado por estar em um dos salões mais festejados da Europa, o rapaz interiorano não consegue conter a emoção e flana pelo salão como se estivesse em um sonho.
Alguns momentos depois, ele ergue um brinde a Mme. Valéry, que nota, então, que apesar de seu jeito provinciano, ele tem alguns encantos. Porém a sua avaliação sofre uma brusca interrupção por conta de um súbito mal estar que a acomete.
Os presentes correm para socorrê-la e Alfredo é quem se mostra mais atento e dedicado. Para confortá-la, ele não poupa cuidados e atenções, bem como palavras ternas e aconchegantes, permeadas de elogios acerca de sua beleza e de seus encantos, os quais, diz, ele admira desde longa data.
Violetta está habituada a ser cortejada e admirada e, por isso, a sua primeira reação às investidas de Alfredo traz um pouco de ironia e desdém. Contudo, ela sente que há na admiração e nos modos do jovem uma sinceridade que é inabitual em seu circulo social e, sem que se dê conta, começa a comparar a sua honestidade de caráter e a sua pureza com os trejeitos viciados das pessoas que frequentam os seus salões e lhe compartem a vida.
Assim, quando ele pede para revê-la, ela não hesita em consentir, desde que ele espere até que a camélia que lhe adorna comece a fenecer. Alfredo exulta com a resposta, pois sabe que a flor morrerá logo no dia seguinte e que, portanto, bastará esperar apenas algumas horas.
Enquanto isso a festa prossegue e quando finda, Violetta volta a pensar exclusivamente no que lhe ocorreu e se pergunta se enfim o amor verdadeiro lhe chegou? Um vago sentimento romântico preenche o seu olhar e ela se permite uma série de devaneios, mas, de chofre, a realidade volta a lhe assaltar e ao entoar a ária “Sempre Libera”, ela reafirma a sua intenção de não se deixar iludir por falsas promessas.
Não! Ela canta, não abdicará de sua independência. Será sempre livre e não renunciará às festas, aos flertes e aos outros prazeres do mundo.
Todavia, a voz do jovem Alfredo insiste em seu coração, contrapondo-se a essas determinações e deixando-lhe a dúvida sobre qual caminho seguir.
Com isso, encerra-se o primeiro ato.
O segundo ato é ambientado numa casa de campo, nos arredores da Cidade Luz. Nela, três meses após o primeiro encontro, o casal Alfredo e Violetta desfruta de uma deliciosa lua de mel.
Porém, apesar do clima romântico e feliz, Violetta se angustia por questões financeiras, sem que o amado perceba. E como os problemas se multiplicam e se tornam mais prementes, ela passa a viver num clima de tortura constante, o que obriga a sua fiel aia Annina a revelar a triste situação a Alfredo.
Ele percebe, então, o quanto tem sido um peso para ela, já que a sua família cortou-lhe todas as rendas por desaprovar o seu relacionamento com uma Traviata (uma transviada, como foi traduzida em suas primeiras apresentações no Brasil). Disposto a resolver a triste situação, ele parte incontinenti rumo a Paris em busca de uma solução.
Nesse entretempo, o velho e severo Georges Germont, pai de Alfredo, está fazendo o caminho inverso para exigir que Violetta se afaste de seu filho, haja vista que a união entre ambos comprometerá seriamente o futuro do rapaz, devido às convenções sociais e aos interesses econômicos envolvidos na questão.
Insultada e sentindo-se esmagada pelas ofensas que o velho lhe dirige, ela tenta retrucar, porém acaba concordando com a sua argumentação e cede às suas exigências por acreditar que com isso estará protegendo o seu bem amado. Com toda a pureza de sua alma, pede a Deus que lhe dê uma mulher de sua classe social e econômica que o faça deveras feliz.
Recorte do Autor
A atitude de Violetta é um gesto de desprendimento e de generosidade que foi comum na literatura da época e que não passou despercebido aos autores de Óperas, que faziam questão de incluí-lo em quase todas as suas obras devido ao seu potencial de admiração das plateias.
Para alguns leitores e espectadores mais engajados politicamente era, também, uma crítica ao arcaísmo farisaico das vetustas estruturas sociais e políticas do momento, vez que demonstravam a existência de nobres sentimentos nas pessoas das ditas “classes inferiores”; ao contrário do que ocorria entre aquelas pertencentes “as elites”, movidas apenas pelo apego materialista egoísta, pelos interesses mesquinhos, pelo culto exagerado da vaidade e pela superficialidade hipócrita.
Esse artifício literário e dramatúrgico ainda hoje é largamente utilizado, principalmente pelos autores de telenovelas e doutros divertimentos popularescos, que com ele buscam agradar ao seu público alvo: as pessoas menos instruídas, que imaginam que tais demonstrações de grandeza espiritual compensam a exploração a que são submetidas e que lhes renderá benefícios futuros, de ordem Metafísica ou não.
Nesse ínterim Alfredo retorna a casa e não encontrando Violetta pressente alguma fatalidade. Em seguida vê que os seus temores tem fundamento ao encontrar o bilhete em que ela lhe dá um frio adeus.
Cego de dor, parte a procura de sua amada, mas quem encontra é o seu pai que entoando a ária “Di Provenza” implora que ele volte para casa. Porém, crente que Violetta o deixou para seguir ao Barão Douphol, Alfredo só pensa em vingar-se, desafiando o rival para um duelo mortal.
A segunda cena desse segundo ato sinaliza a passagem de algum tempo e transcorre nos salões de Flora Bervoix, a amiga de Violetta, que está oferecendo uma de suas festas famosas.
De repente e de modo inesperado pela anfitriã, adentra a casa o ainda ressentido Alfredo que ao ser indagado sobre Violetta responde rispidamente não saber e nem se interessar por ela.
Mais alguns momentos e é a vez de Violetta entrar em cena, acompanhada por Douphol. Ao ver o ex-amante ela tem um sobressalto e passa a temer um confronto entre ele e o seu acompanhante, razão pela qual, roga ao barão para que não aceite provocações.
Porém, durante o jogo de cartas que era tradicional nessas ocasiões, Duphol acusa Alfredo de trapaça e ele, em resposta, desafia-o para um duelo, pouco se importando, a princípio, com as súplicas que Violetta lhe faz. Por fim, diz-se pronto a desconsiderar o duelo desde que ela volte para si.
Lutando com todas as suas forças para não ceder ao desejo de voltar, ela se nega a acompanhá-lo, pois ainda se sente presa à promessa que fez a seu pai e à sua própria convicção de que atrapalharia o seu futuro.
Alfredo, ignorando a intervenção paterna e as razões de Violetta, vê naquela recusa a confirmação de que ela não o ama mais e isso reacende a sua ira fazendo com que a trate com termos vulgares, chulos e injustos. Então, Douphol toma as dores de sua acompanhante e é a sua vez de o desafiar para um duelo.
E com esse clima tenso, termina a festa de Flora e o segundo ato.
O terceiro ato é encenado em um quarto sombrio, pobremente mobiliado e carregado de miasmas negativos. Ali agoniza Violetta.
Alguns meses se passaram desde a festa em casa de Flora e a jovem, completamente arruinada, vê chegar lentamente mais um dia de penúria e de melancolia. Seus antigos amigos e admiradores desapareceram e agora só lhe acompanha a fiel Annina.
Instantes depois entra em cena o doutor Grenvil que procura confortar a enferma, dizendo-lhe palavras de conforto e de encorajamento. Porém, para a Aia fiel ele não esconde que Violetta está vivendo as suas últimas horas.
Da rua, em contraste com o clima triste do quarto, chega o som alegre das músicas do Carnaval que acontece naqueles dias. Violetta relê pela enésima vez a carta enviada por Georges Germont, na qual ele lhe pede perdão por ter malogrado o romance entre ela e seu filho e por todo mal que isto lhe causou. Mostrando-se sinceramente arrependido, ele completa a missiva, avisando que ele e Alfredo, a quem confessou o seu sórdido gesto, já estão a caminho e que em breve a verão.
E essa última expectativa feliz dá-lhe alguma força e ele entoa a ária “Addio Del Passato” com a qual expressa as suas doces recordações dos dias felizes.
Nesse momento Alfredo entra no quarto e ambos entoam a célebre “Parigi, o Cara (cara, caríssima, amada)”. Juntos, novamente, deixarão Paris e a futilidade daquela vida e residirão no campo onde Violetta reencontrará a saúde plena e todos os sonhos se realizarão.
Porém, essa doce quimera logo se desfaz quando um violento acesso de tosse devolve-os à trágica realidade de que a morte não tarda a chegar.
O velho Germont e o doutor Grevil chegam, mas nada mais pode ser feito. Resta-lhes observar o último suspiro de Violetta Valéry, a eterna “Dama das Camélias”.
Nota do Autor* – Violetta Valéry* é reconhecida pelos amantes das letras como a “Dama das Camélias”, vez que essa personagem é uma adaptação de Marguerite Gauthier, do célebre romance homônimo de Alexandre Dumas Fº.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.
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