criação

Ficar demasiado longe, tão longe que a paisagem não está mais á frente dos olhos, não há paisagem, não há corpo e a respiração não se sabe de onde vem. O lugar é estanho, não tem nuvens ao redor, não tem anjos, o tempo é como se fosse o tempo da terra mas não há a espera nem a demora, tem o sol e a chuva, alguém que caminha numa estrada, esse alguém vai dentro de uma casa vasculhar os livros de uma biblioteca , a figura caminha muito devagar, nas suas mãos um cachimbo que poderia ser usado por um detective. Não é possível comunicar porque os momentos são apenas momentos que se apagam a cada tentativa de aproximação. Não há corpo ou são vários corpos ligados como as gotas e quando nos mexemos o ar executa o desenho de uma criatura singular que se criou a si própria, abriu a sua grande boca e deixou que essa criatura de vapor lhe desse vida. Ficar demasiado longe, tão longe que parece que tudo se perdeu, os olhos perderam-se do corpo, a respiração das narinas e aquela criatura singular parece uma máquina com o corpo coberto de raízes e folhas. De repente há uma leve consciência uma sensação de que o corpo já não está revestido de carne, de que a carne apodreceu e de que a lama da terra nos ergueu como se erguem as árvores e por cima da primeira árvore aquela criatura desceu, fez o ar tão quente dentro de si que a chuva caiu permitindo a essa criatura trabalhar o barro. Não é o mesmo corpo nem é o mesmo liquido que corre nele, pode ser um sonho ou aquela criatura anda com uma máquina de filmar a entrar pelos quartos, a ser seguido por ratos e sons a imitar um personagem de uma história familiar. O sonho e o personagem a entrar no quarto ou a caminhar na rua porque tem aqueles que dormem na rua e tem os que vivem da rua, tem uma variedade de identidades, viciados, religiosos, programados para ter medo e meter medo ou possuídos todos eles por uma cápsula que se abre e derrama um fluido de infância e de encanto. O lugar parece uma sala de cinema ou consoante a programação da visão podemos ver uma grande sala de concertos de musica clássica ou em cima do galho da árvore enquanto a criatura cheia de ar deixa o ar sair e o calor do mesmo o faz dormir para que seja contada uma nova história sobre a criação, todos tiveram uma infância, o universo tinha duas dimensões, aqueles que foram criados grandes e aqueles que não sabiam nada, os que estavam desprotegidos, na mais profunda ignorância, imunes ao engano que a serpente no seu rastejar pois é esta a sua natureza se enganou no jardim entrando no jardim ao lado onde já estavam criados homem e mulher em idade adulta, no outro jardim a serpente não reparou nas crianças, não reparou que elas ajudavam aquela criatura que dormia a moldar o barro, a forma daquela criatura era uma barriga redonda que aquelas pequeninas mãos tocavam, depois todas em volta daquela barriga abriam as pequenas bocas e se alimentavam do leite que escorria das mamas daquele pai e daquela mãe, o primeiro pai e a primeira mãe criadores. Na terra seria uma quarta feira do dia 10 de Março do ano 3045, no cimo do galho da árvore criatura plural um menino tocava um violino e o ser que chegava a este lugar e que sentia tudo isto estranho, ser que não fora convidado ou que talvez não se lembra-se do convite, quando se abre um livro ou se está aberto a ouvir o canto seja ele lírico ou pop seja quem for terá a necessidade de saber se é possível viver daquele alimento, todos os que chegam estão sentados, a biblioteca tem muitas salas, a criatura verde não é o monstro que come os livros e nem a serpente que rasteja os suja com sumo de maça, todas as crianças daquele jardim se sentam ao colo da pluralidade e oferecem segundo os dons e beijam as faces a direita representando o pai a esquerda a mãe , em conversa com os outros que tinham chegado e que estavam vendo e ouvindo aquelas brincadeiras e se interrogando sobre o menino que tocava magistralmente aquele violino, de onde vinha ele, havia a suspeita de ser oriundo de Salzburgo pois tinha parecenças com alguém da terra, ele e outras crianças que havia por ali sempre activas, jogando e fazendo longos questionários a essa criatura plural e verde que muitos antes de ali chegarem o chamavam de Deus criador e absoluto. Havia na sala vários aparelhos que permitiam comunicar com aquelas crianças, alguém perguntou ao menino do violino como descreveria a figura plural e verde o que o menino responderia como sendo uma sinfonia. As outras crianças mostravam diversos bonecos de barro que destruíam e que se assemelhavam a toda a humanidade no estado adulto. As figuras faziam rir e também fazia medo quando eram olhadas, depois percebendo o nosso medo com aquele barro faziam mascaras e as pintavam, a situação não durava muito tempo, a criatura plural e verde se aproximava e desligava o comunicador central ficando tudo ás escuras sendo a luz reposta quando uma das crianças ia afastando o cabelo dos olhos que dava aquela criatura um ar de poeta e de louco. Ficar demasiado longe e agora não poder tocar em nada, já tínhamos ouvido aquela musica, já tínhamos visto aquelas cores tudo igual a uma paisagem impressionista , por aquela biblioteca onde aquelas coisas eram contempladas andavam uns Senhores vestidos de preto como os senhores que conduzem o publico ás cadeiras onde nos vamos sentar para assistir á representação. Desejava voltar e desejavam voltar, na verdade não havia nada que nos impedisse de sair dali e irmos ao encontro daquelas crianças, nós tínhamos medo, quando nos mostraram aqueles bonecos de barro cada um era uma representação das portas que fechamos, parecia que tínhamos de ter coragem, as crianças que ali estavam tinham passado por uma prova, tinham todas a capacidade de renascer . Não havia tempo a perder e como um pára-quedista salta do avião o jovem militar saltou, os outros o olharam e perceberam que era um adeus, as crianças o receberam, não era preciso nada mas aqueles que ainda estavam na terra ainda sentiam o poema como se o escutassem e ouvissem aquele longo adeus á vida

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Domingo, Junio 28, 2015 - 16:08

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