Takelamagan Shamo 1

” –Desde as antigas cidades de Taskent,Kashgar e Samarkand pelo Tajakistão e ate ao deserto de Taklamakan transportaram-me os movimentos ritmados dos camelos, como berços de bossas, enquanto os sons gluturais ,quer dos homens como dos animais ,me embalaram lentos como navios ,pelas noites caladas ,parando apenas quando o sol martelava implacável a bigorna do deserto.”
mãos abertas , em concha , agradeceu , inclinando a cabeça e continuou dizendo:
–“Jo, sou eu baptizaram-me assim nem eu sei porquê, talvez por serem as primeiras letras do nome de meu pai , era um homem pequeno simpático e afável que gostava de charadas,sorrisos e jogos de palavras, pelo que ficou o gosto de escrever , viajar e pouco mais, talvez a teimosia, nisso somos parecidos… penso que sim”
“–Vivi no campo , num sitio completamente diferente deste , dificilmente conseguem imaginar a pequena casa e a escola que ficava longe, mais de sete quilómetros mas a ida e vinda a pé era um acontecimento diário e que ansiava quando em aulas.
As estradas eram pouco frequentadas , quase só por mulas e burros que vinham vender hortaliças e fruta á praça , pelo que as carroças serviam muitas vezes de transporte, sabia bem o ram ram da pequena odisseia escola casa ou vice-versa, alguma conversa a meio caminho com o condutor ou o cantoneiro que se esforçava mas pouco , por manter as bermas limpas de ervas,foram tempos bons que me fizeram sonhar”

Falava a custo , com gestos largos e as palavras que sabia ,olhando as estrelas de uma noite sem lua e o rosto dos seus anfitriões, envelhecidos pelos anos e pelo sol,estes , seguiam a narrativa por não terem nada que fazer , alem de avivar as chamas da pequena fogueira , feita com os poucos arbustos que teimavam em viver na desolação,o chá quente,forte e muito doce servido nos pequenos copos de vidro grosso , aumentava a sensação de bem estar sonolento que sentia.
Aberta ao lado a pequena tenda amante e confidente de muitas viagens convidava ao descanso.
“Iyi Geceler“ despediram-se com boa noite ,eram Turcos com mercadorias para trocar noutras cidades,talvez Turfan,no Gobi ou Xi´An ou mais a sul , em lhasa no Tibet.

Há muito tempo que tinha abandonado os lugares onde nascera , percorrendo toda a Europa, indo até ao Bósforo em Istambul e depois mais além , deixando para trás as montanhas de Elburz e do Pamir,tudo o que o ligava aos costumes do seu país , ele era agora um deles,dos nómadas perdidos em oceanos de dunas .

No fundo do albornoz , reclamando luz , encontrava-se um livro manuscrito , indecifrável e um mapa que lhe havia sido oferecido por um velho.
Não compreendia aquela escrita enigmática , mas estava no rota certa a caminho de Lhasa como prometera ao ancião.
também como prometera teria de fazer o caminho indicado no velho mapa , o dos nómadas e das rotas da seda , os caminhos ancestrais dos seus antepassados.
Segundo ele só assim teria acesso aos ensinamentos ou verdades presentes nos manuscritos quando decifrados.
Ao acordar , na madrugada tinha sido abandonado sem um adeus pelos companheiros de poucas falas da noite anterior , mas estava habituado a gente de poucas palavras,afinal também o seu pai era um homem de poucas palavras ,confiava mais em pessoas que falassem pouco.
Tivera um vez um amigo de viagem que lhe disse ser vendedor de palavras,como saudade por exemplo.
Talvez ele ainda não tivesse vendido palavras por estes lados,quando o visse dirá-lhe-ia,pensou Jo.
A senda revelou-se íngreme a partir daí,deixando para traz o deserto , encontrava-se no coração de florestas de cedros do libano e muitas árvores milenares que lhe ofereceram sombra durante as hora mais quentes do dia,as aldeias distavam varias horas se bem que não importasse , porque depois das dunas , sabia bem passear lentamente os olhos por tanta verdura.
Semi-deitado numa bicicleta atrelada a uma mini caravana veio ao encontro dele um ciclista pedalando muito lentamente devido ao peso,rosto e corpo magros como um cadáver, da bicicleta pendia uma concha , pelo que resolveu perguntar de onde vinha:
–sou zé do pedal mas mais conhecido por Andorinhão.
–Venho de Santiago
Respondeu uma voz timbrosa com sotaque do brazil.
pensou Jo como o mundo se tinha tornado pequeno ,o que faria por aqui um brasileiro de bicicleta vindo de Compostela.
–Vou para a cidade de Kashgar ,para lá , continuou dizendo e apontando na distancia.
–Escrevo enquanto pedalo disse apontando um mini gravador preso ao guiador ,tinha a vida toda para pedalar,já tinha ido do Rio a new York de barco a pedal e tencionava atravessar o Brazil em cadeira de rodas. (www.zepedal.com.br)

Ofereceu-lhe da sua comida e beberam chá á entrada de um pequeno lugarejo , num casebre escuro com um nome sugestivo , “Taberna Vendaval,”
Pendiam nas paredes sujas quadros dos mendigos famosos do sítio , pintados por um artista da aldeia .
Separam-se com um abraço para se perderem de vista sob uma ponte de madeira á saída do grupo de casas ,perseguidos sempre por muitos cães.
Talvez estes cães ainda não soubessem que os primos constavam no menu em outras aldeias .
Não sabia Jo que, mais tarde, sem como nem porquê ,nem os cães ladrariam á sua passagem ,como se o ignorassem ,ou se tornasse invisível a eles .

Jorge Santos

(continua)

Submited by

Martes, Marzo 6, 2018 - 11:48

Ministério da Poesia :

Su voto: Nada Promedio: 5 (1 vote)

Joel

Imagen de Joel
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 4 días 9 horas
Integró: 12/20/2009
Posts:
Points: 42009

Comentarios

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

.

.

Imagen de Joel

Takelamagan Shamo 1

Takelamagan Shamo 1

Imagen de Joel

Takelamagan Shamo 1

Takelamagan Shamo 1

Imagen de Joel

Takelamagan Shamo 1

Takelamagan Shamo 1

Imagen de Joel

Takelamagan Shamo 1

Takelamagan Shamo 1

Imagen de Joel

Takelamagan Shamo 1

Takelamagan Shamo 1

Imagen de Joel

Takelamagan Shamo 1

Takelamagan Shamo 1

Imagen de Joel

Takelamagan Shamo 1

Takelamagan Shamo 1

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Joel

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Ministério da Poesia/General Fácil é sonhar, repetindo … 1 4.633 02/22/2018 - 16:25 Portuguese
Ministério da Poesia/General Dá inveja, a gaivota a gritar 1 1.534 02/22/2018 - 16:25 Portuguese
Ministério da Poesia/General Monção 1 2.419 02/22/2018 - 16:24 Portuguese
Ministério da Poesia/General “Deo-ignoto”, Ateu 1 1.464 02/22/2018 - 16:23 Portuguese
Ministério da Poesia/General Estranhos cultos … 1 3.933 02/22/2018 - 16:23 Portuguese
Ministério da Poesia/General A-Marte 1 2.192 02/22/2018 - 16:22 Portuguese
Ministério da Poesia/General pra sempre … 1 1.707 02/22/2018 - 16:22 Portuguese
Ministério da Poesia/General Conseguisse eu … 1 2.750 02/22/2018 - 16:21 Portuguese
Ministério da Poesia/General Aquando dormem as estrelas, o céu rebola … 1 338 02/22/2018 - 16:20 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sempre que desta falo … 1 3.671 02/22/2018 - 16:00 Portuguese
Ministério da Poesia/General Manhã e seda … 1 3.477 02/22/2018 - 15:59 Portuguese
Ministério da Poesia/General Tão simples quanto um cabelo meu … 1 1.668 02/22/2018 - 15:58 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sonhar agora … 1 570 02/22/2018 - 15:57 Portuguese
Ministério da Poesia/General Leste nas minhas mãos … 1 2.474 02/22/2018 - 15:57 Portuguese
Ministério da Poesia/General Onde quer que vás … 1 1.506 02/22/2018 - 15:56 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sou o mais intolerante dos homens … 1 1.362 02/22/2018 - 15:55 Portuguese
Ministério da Poesia/General Despeço-me demasiado depressa … 1 2.381 02/22/2018 - 15:55 Portuguese
Ministério da Poesia/General Ceramista quântico … 1 5.377 02/22/2018 - 15:54 Portuguese
Ministério da Poesia/General Ás vezes quebro (Hitler puff … ) 1 1.512 02/22/2018 - 15:47 Portuguese
Ministério da Poesia/General Caliça fraca … 1 2.543 02/22/2018 - 15:46 Portuguese
Ministério da Poesia/General O legado das minhas mãos … 1 2.011 02/20/2018 - 21:00 Portuguese
Poesia/General Meu mar sou 1 3.059 02/20/2018 - 17:24 Portuguese
Poesia/General Dum caule, as asas … 1 1.544 02/20/2018 - 17:13 Portuguese
Ministério da Poesia/General Canto 1 3.266 02/20/2018 - 17:12 Portuguese
Poesia/General Leve quanto a sombra 1 2.671 02/20/2018 - 17:06 Portuguese