Violências

Sobre mim, caíram as suas mãos pesadas e frias.
Palmadas, puxões de cabelos…
Já não era a primeira vez.
Ele ia arrepender-se e implorar perdão. Mas voltaria a fazê-lo?
Claro que sim. Continuou o que eu deixara que começasse.
Não interessam as razões.
Apenas interessa o acto.
Ele era assim. Até mesmo com os animais, porque não com os mais fracos, como eu?
Só os cobardes o fazem.
Fazem-no sempre aos mais frágeis e indefesos.
Naquela altura, eu era demasiado frágil para colocar um ponto final naquela história.
Mas um dia, ganhei coragem e fechei todos aqueles capítulos.
Demorou. Foram meses de angústia, dias de tristeza, horas de lástimas, mas consegui terminar aquela história sórdida.
Perdi anos de vida? Talvez sim, talvez não.
Mas para quê, olhar para trás?
Renasci, reaprendi a viver.
Afinal, para algo nascer, há sempre alguma coisa que tem de morrer.
Sempre que o sol esmorece num determinado lugar, sempre nasce noutro local…