Desertificação

Não há homens nos campos
e os desertos ardem
na própria secura dos ossos.
As terras estão lavradas a sangue
por sulcos movediços
em que os animais se perdem
do tempo.
A paisagem é o verde sofrimento
da carne,
a mágoa confunde-se
na medula do horizonte
e as flores latem seus despojos
entre as cartilagens
de um ângulo
roubado num único lamento.

Não há pastores nos montes
e os anjos já não cantam
o lume dos olhos.
E quando o outono finda
os homens hibernam com as aves,
em bandos de poetas clandestinos.
A primavera trá-los-á de novo,
nos primeiros abraços de luz,
e o amanhã é um motim
na fé dos mais pobres.
... Longe da voz,
a ângustia curva de um vento
que chora de mão em mão,
de silêncio em silêncio.

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Lunes, Noviembre 9, 2009 - 18:50

Poesia :

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JoseAntunes

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Comentarios

Imagen de gladysgimenez

Re: Desertificação

JoseAntunes!!Realmente a desertificação como tu o dizes é um grave problema social que hoje enfrentamos. Até quando a terra será lavrada a sangue? Um belo poema, merece uma reflexão profunda.
Abraços
ggiménez

Imagen de MarneDulinski

Re: Desertificação

LINDO POEMAS, MAS PARA COMENTAR TEREI QUE REVER!

Imagen de RobertoEstevesdaFonseca

Re: Desertificação

Lindo poema.

Parabéns,
REF

Imagen de Manuelaabreu

Re: Desertificação

Linda metáfora, feita sentença do poeta
...o poeta é assim...lavra a alma numa leve folha nas horas feitas, agonias, tormentas.
"... Longe da voz,
a ângustia curva de um vento
que chora de mão em mão,
de silêncio em silêncio."
:-)

Imagen de Fatima-Rodrigues

Re: Desertificação

Um poema para ler e reler ...

Gostei imenso José!

Abraço

Imagen de cecilia

Re: Desertificação

belo poema

lindo para reflexão.

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