Dilema

Estou sem sono. Minha esposa dorme ao meu lado. Olho para ela, totalmente alheia a aflição que toma conta de minha mente.
Penso nela, que há essa hora, também deve estar dormindo. Imagino seus cabelos dourados caídos no travesseiro e suas mãos que por vez, ou outra, buscam minha presença em seu leito.
Dividido.
Uma, meu passado, minha companheira.
A outra meu presente, sem futuro.
Uma é a razão e a outra é emoção. Uma é o correto, o alicerce, e a outra é o sonho, o brilho.
Uma é carinho, afeto. A outra é amor, loucura.
Uma é responsabilidade, A outra liberdade. Uma é coerente, forte, decidida. A outra é ingênua, doce, conformada.
Uma é a solidez, o chão, a outra é meu porto, onde desembarco feliz, em segurança.
Não consigo mais viver assim. Mas não sei o que fazer, nem como. Estou apavorado, perdido. A outra é dependência, respiração. Vive-se sem respirar?
Ela é a luz, que me faz ver. É a esperança de dias melhores, meu bom presságio, minha amiga, minha eterna criança. Ela é inteira, e eu? Metade?
Como me doar ao meio para um ser que me pertence na sua totalidade?
Uma é elegância, sofisticação. A outra é a simplicidade, a beleza natural, sem artifícios.
Uma é prática e resoluta, a outra é delicada e sonhadora.
Uma quer, A outra pede. Uma manda, A outra implora.
Dividido. Entre a obrigação, o dever, e as garras de um amor doente, mas feliz.
Uma é compromisso, A outra é necessidade.
De uma, não arrumo coragem para me separar, a outra, não posso perder. Com uma a vida é arrumadinha, como manda o figurino, a perfeição. Com a outra a vida é bela, desarranjada, insanidade.
Ninguém pode me ajudar. Estou vinculado com uma, mas pertenço à outra. E quero ser dela para sempre. Para sempre rir seu riso, claro e franco. Enxugar suas lágrimas fáceis. Deliciar-me no seu cheiro de flores do campo.
Esperar que pegue no sono para poder retirar suavemente sua cabeça de meu peito.
Uma me cobra e tem razões para isso, a outra aceita quieta, submissa. Uma interroga, a outra suspira.
Uma eu evito, a outra eu procuro. Disfarce com uma, a outra me alimenta, me arranha, me aperta, me possui.
Uma desconfia, a outra se entrega.
Não sei o que vai ser de nós três. Tenho vontade de dormir dias seguidos e acordar com uma decisão.
Decidir que ninguém vai sofrer, mas sei que é utopia.
Saudade. Dela. Do seu jeito meigo de olhar para mim e colocar margaridas na mesa do café, do seu falar suave, da provocação maliciosa com os olhos, a mania de morder os lábios.
Vou orar. Mas Deus vai me entender? Um adúltero?
Culpa remorso, medo. Alegria, paixão, delírio. Piedade, desejo, arrependimento, procura. “Sentimentos que se misturam atormentando minha alma...

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Domingo, Diciembre 6, 2009 - 04:06

Poesia :

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Gisa

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Comentarios

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Re: Dilema

Gisa,

Que díficil dilema...Tomara tenha solução... Abraços

Imagen de RobertoEstevesdaFonseca

Re: Dilema

Gostei.

Lindo texto.

Um abraço,
REF

Imagen de MarneDulinski

Re: Dilema

LINDO TEXTO, E DIFÍCIL DILEMA1
Mas na vida tudo se ajeita, tudo se acomoda e fica no devido lugar!
Meus parabéns,
Marne

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