O que de fato acontece por aí
... o homem às vezes se confunde se ama mesmo a mulher por inteira ou somente o sexo dela
mas sabe que apesar dela ser insuportável e confusa ele não consegue viver sem ela
e vive mergulhado na sua própria merda e ouve as reclamações da companheira por não saber se a ama ou somente aquela parte dela
que confusão quando sai à rua e vê tanta mulher caminhando mas ele sabe que em casa a sua está esperando de mau humor e que vai ouvir um monte de reclamações quando voltar
mas quer passar a mão entre aquelas pernas
quer sentir aquele cheiro
e vive a agüenta-la há muito tempo e não sabe se continuará para sempre com esse calvário
mas sempre volta para casa
mesmo depois do bar e de umas paqueras
e ouve a mesma ladainha
e vai dormir e se aconchega
passa as mãos nas nádegas dela e recebe um muxoxo que quer dizer nada mais que largue disso homem
e ele vira para o outro lado e põe-se a pensar o porquê de não largar aquela merda
mas não encontra resposta
e pensa na vizinha e na cunhada e na colega de trabalho
e na mulher que viu no boteco
e naquela que viu na rua e sei lá mais quantas que passaram na frente de suas retinas de macho procriador
é uma grande angústia que ele não sabe como resolver
e acaba dormindo e acorda com a esposa dizendo para ele mudar de posição que não agüenta ouvir tanto ronco
e ele se revolta e diz que não agüenta mais pagar contas
e ela diz que trabalha também e que não agüenta arrumar toda a casa e que não agüenta mais ouvir ele roncar e que não agüenta mais descer a tampa da privada
e que não agüenta mais tolerar a falta de atenção que ele não a compreende e tudo mais
ele se sente muito mau e sem sentimentos
mas sente uma grande vontade de passar a mão nos seios dela
pois os bicos podem ser vistos através da roupa de dormir
e ela percebe o olhar e se zanga
e as bundas ficam cara a cara e a noite prossegue
de manhã ninguém fala nada com ninguém e cada um vai para o trabalho que Deus lhe deu
e ele comenta com os amigos que comentam com ele que toda mulher é igual
e ela comenta com as amigas que homem não passa de um besta de bigode
e todos riem e pensam que é sempre bom falar mal de alguém
e a solteirona sente muita vontade de ter um marido
e aquele cara que não tem esposa pensa que já tá hora de arranjar uma
e seus amigos casados dizem que ele está louco
que casamento é uma bosta e coisa e tal
e todos seguem seus caminhos confusos
e todos sentem os corações baterem e a raiva brotar
outras se apaixonam pelos companheiros de outras
e outros se apaixonam pelas mulheres de outros
e trocam parceiros e cornos
e no final todo mundo tem algo de ruim a dizer sobre o outro
e os advogados acabam fazendo a festa
e ganhando uns trocados
e os psicólogos e os psiquiatras fazem cada um seu trabalho e os filhos não entendem coisa alguma
e a cidade continua seu movimento e Deus continua suas atitudes de onipotente
os padres e os pastores e os homens da lei continuam fazendo casamentos
e os homens da lei desfazendo
e papeis vão sendo preenchidos
e são divididos bens
e trocadas acusações
e cada um sente um vazio esquisito
e pensa em como se conheceram
e amaldiçoa o momento
e diz que nunca mais irá se envolver com ninguém
mas basta um olhar e começa tudo outra vez com outra ou outro
e gemidos saem das bocas
e os corpos suados contemplam o teto enquanto discutem qualquer bobagem numa cama qualquer
e as indústrias continuam a soltar fumaça nos ares
e os espermatozóides brigam entre si tentando penetrar num óvulo
e os obstetras continuam fazendo seu serviço
e as seguradoras continuam a pregar suas peças sacanas
e os funcionários públicos continuam seus afazeres burocráticos
e os bancos continuam seus afazeres cretinos
e os ônibus continuam a transportarem pessoas
ansiosas
e os aviões continuam a disputarem com os pássaros o espaço
e a sirene da hora do almoço toca
e os gatos pedem um petisco
e as crianças brincam de adultos
e os estudantes vão à faculdade aprenderem um monte de coisas
que não resolvem o problema do mundo
e a camada de ozônio está sumindo
e o calor aumentando
e o investidor coça a cabeça quando liga para a corretora
e a vovó morre
e nasce um neto
e a policia corre atrás de um ladrão que só recebe esse nome por ser um ser humano da classe baixa
e os catadores recolhem os restos descartados por aqueles que não são da classe baixa
e o bêbado bebe
e o drogado se droga
e todos os dois vêem coisas típicas de seus vícios
e a lavadeira põe a roupa para secar
e o caminhão está descarregando coisas no supermercado que depois serão compradas pelos consumidores que trabalham para ganhar o dinheiro necessário à sobrevivência
e à noite o trabalhador tenta voltar para casa pelo menos vivo
e a vida segue seu curso esquisito
e os anjos com suas bocas angélicas estão rindo de toda essa desordem.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 645 reads
Add comment
other contents of andersonc
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Desilusión | Sitiados | 2 | 612 | 03/14/2010 - 16:12 | Portuguese | |
Poesia/General | Acontecimentos noturnos | 2 | 936 | 03/09/2010 - 14:24 | Portuguese | |
Poesia/General | Manifesto libertário | 2 | 546 | 03/09/2010 - 12:35 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | Anjo perdido | 2 | 701 | 03/08/2010 - 18:35 | Portuguese | |
Poesia/General | Desluz | 2 | 1.056 | 03/08/2010 - 18:07 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | A face desconhecida | 3 | 652 | 03/07/2010 - 04:35 | Portuguese | |
Poesia/General | Meus olhos, um mistério (manifesto sobrenatural) | 1 | 780 | 03/07/2010 - 04:07 | Portuguese | |
Poesia/General | Pensamento livre | 3 | 641 | 03/07/2010 - 03:57 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | Apenas quinze minutos | 1 | 658 | 03/06/2010 - 23:25 | Portuguese | |
Poesia/General | Prisão | 2 | 576 | 03/06/2010 - 15:22 | Portuguese | |
Poesia/Amor | O solitário | 2 | 618 | 03/06/2010 - 04:02 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | O apocalipse | 4 | 640 | 03/06/2010 - 03:46 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | O mundo em três versos | 1 | 915 | 03/05/2010 - 22:41 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Poeminho bobo | 1 | 545 | 03/05/2010 - 12:29 | Portuguese | |
Poesia/General | Espelho | 1 | 675 | 03/05/2010 - 04:30 | Portuguese | |
Poesia/General | O homem cego | 1 | 518 | 03/05/2010 - 03:47 | Portuguese | |
Poesia/General | Caos pós-moderno | 1 | 703 | 03/05/2010 - 03:08 | Portuguese | |
Poesia/General | Soneto da escada | 1 | 736 | 03/04/2010 - 20:05 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Clamor ao mundo | 2 | 727 | 03/04/2010 - 13:38 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | O amor | 2 | 565 | 03/04/2010 - 12:58 | Portuguese | |
Poesia/General | A história de um menino | 1 | 585 | 03/03/2010 - 19:12 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | Margarida | 1 | 788 | 03/03/2010 - 03:57 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Anônimo | 1 | 823 | 03/03/2010 - 03:10 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | A fronteira | 3 | 770 | 03/02/2010 - 19:44 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Interação cósmica | 1 | 637 | 03/02/2010 - 19:35 | Portuguese |
Comentarios
Re: O que de fato acontece por aí
Não há como não nos encontrarmos nesse poema. Genial, gostei bastante.
Re: O que de fato acontece por aí
Grande texto.
Parabéns,
um abaço,
REF
Re: O que de fato acontece por aí
LINDO SEU TEXTO, SENSACIONAL, GOSTEI MUITO!
Meus parabéns,
MarneDulinski
Re: O que de fato acontece por aí
E passam-se anos e tudo continua igual! Muito legal o seu texto, hilário e bem real...infelizmente. Abraços