Noite no campo de ti.
Deitar-me-ei em teu solo por apenas mais um dia, pois me cravam as rosetas de tua pele seca, desidratada e febril. Não posso adormecer em teus sonhos e sentir-me refeita ao amanhecer, pois teus espinhos ficam-me incessantemente e mesmo quando não estão, as pústulas que ficaram das perfurações anteriores vertem o sal de minha alma criando crostas azedas em minha costas nuas. Sou um ser em chagas, cuja saliva esgota-se a cada arranhão de teu solo. Não consigo mais sobreviver nesta sépsis de pelos nús que revoltos grudam-se às lembranças do que um dia foi um chão de alabastro alvo e liso.
Hoje sou o resultado da lepra que carrego, juntando os pedaços que doei pelo caminho, mas como carne espúria, foram queimados na fogueira das vaidades. Então cauterizo-me com as incandescentes brasas dos desejos que queimam minhas mãos burras, que querem agarrá-las sem proteção. Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se, nem catre para esgotar-se até a hora da morte. Por isso permaneço sobre este capim selvagem em que me deito e finco-me com as rosetas de teu chão. Mas mesmo assim, é melhor que estar morta e apenas, apenas a lembrança longínqua de pele exposta ao confortável sol primaveril na enseada do teu mar, onde deitávamos e éramos perfeitos e intocáveis, me conforta, a lembrança de nossos frutos que nasceram fortes a guisa do chão árido de nossas almas, me fazem ainda querer respirar.
Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer.
Há de se saber o destino da vida? Muito menos o caminho da morte. Estamos à deriva deste vendaval que varre os campos sem piedade.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1202 reads
Add comment
other contents of analyra
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Amor | Trajeto | 13 | 2.212 | 11/06/2009 - 16:12 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | Essa luz no ar, | 7 | 992 | 11/06/2009 - 16:07 | Portuguese | |
Poesia/Amistad | muito grata!!! | 20 | 3.112 | 11/06/2009 - 13:30 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Insegurança e futuro. | 11 | 1.020 | 11/05/2009 - 18:47 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Lembrança do passado... | 5 | 1.094 | 11/04/2009 - 19:40 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Autobiografia poética | 7 | 1.531 | 11/03/2009 - 17:18 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | Despertar | 7 | 1.315 | 11/03/2009 - 13:46 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | Os tempos | 6 | 1.119 | 10/30/2009 - 16:43 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | Anjo de luz | 9 | 939 | 10/30/2009 - 16:38 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Ser luz | 5 | 1.079 | 10/30/2009 - 16:35 | Portuguese | |
Poesia/General | Verdade, maldita verdade!!!! | 11 | 1.173 | 10/30/2009 - 14:40 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Métrica louca | 11 | 1.281 | 10/30/2009 - 02:39 | Portuguese | |
Poesia/Comedia | Acorda | 9 | 1.135 | 10/28/2009 - 01:54 | Portuguese | |
Poesia/General | Tua namorada? | 7 | 1.578 | 10/28/2009 - 01:47 | Portuguese | |
Poesia/General | Sou criança, sou confiança... | 5 | 630 | 10/28/2009 - 01:40 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | A certeza do verdadeiro amor em ti. | 4 | 1.238 | 10/26/2009 - 22:30 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Para que entender | 6 | 693 | 10/26/2009 - 01:06 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Pequena flor em ti | 5 | 768 | 10/25/2009 - 22:10 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | A revolta da feiticeira | 3 | 649 | 10/25/2009 - 22:08 | Portuguese | |
Poesia/Fantasía | Afeiticeria do tempo no mundo do Mago Mopheu | 3 | 1.768 | 10/25/2009 - 22:04 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Cansaço | 9 | 1.260 | 10/23/2009 - 20:55 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Destino | 6 | 1.085 | 10/23/2009 - 20:54 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Chega de confusão | 5 | 819 | 10/22/2009 - 20:15 | Portuguese | |
Poesia/Amor | A voz do meu amor. | 5 | 1.122 | 10/22/2009 - 13:38 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Meia hora após a hora do fim... | 9 | 1.128 | 10/21/2009 - 21:14 | Portuguese |
Comentarios
Re: Noite no campo de ti.
Tão triste que chega a doer-nos,
tão belo que me deixa sem palavras.
Gosto muito também de te ler neste registo.
Um beijo, Ana e... força!!!
Vóny Ferreira
Re: Noite no campo de ti.
"Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer."
Em teu texto, uma imensa dor e uma sempre esperança, força que nos permite continuar!
Um beijo, amiga, no aguardo deste mágico remédio!
Lila.
Re: Noite no campo de ti.
Um capitulo sugestivo, numa prosa intimista e alucinante na forma e na acção.
Sempre fantástico te ler!
Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se