Noite no campo de ti.
Deitar-me-ei em teu solo por apenas mais um dia, pois me cravam as rosetas de tua pele seca, desidratada e febril. Não posso adormecer em teus sonhos e sentir-me refeita ao amanhecer, pois teus espinhos ficam-me incessantemente e mesmo quando não estão, as pústulas que ficaram das perfurações anteriores vertem o sal de minha alma criando crostas azedas em minha costas nuas. Sou um ser em chagas, cuja saliva esgota-se a cada arranhão de teu solo. Não consigo mais sobreviver nesta sépsis de pelos nús que revoltos grudam-se às lembranças do que um dia foi um chão de alabastro alvo e liso.
Hoje sou o resultado da lepra que carrego, juntando os pedaços que doei pelo caminho, mas como carne espúria, foram queimados na fogueira das vaidades. Então cauterizo-me com as incandescentes brasas dos desejos que queimam minhas mãos burras, que querem agarrá-las sem proteção. Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se, nem catre para esgotar-se até a hora da morte. Por isso permaneço sobre este capim selvagem em que me deito e finco-me com as rosetas de teu chão. Mas mesmo assim, é melhor que estar morta e apenas, apenas a lembrança longínqua de pele exposta ao confortável sol primaveril na enseada do teu mar, onde deitávamos e éramos perfeitos e intocáveis, me conforta, a lembrança de nossos frutos que nasceram fortes a guisa do chão árido de nossas almas, me fazem ainda querer respirar.
Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer.
Há de se saber o destino da vida? Muito menos o caminho da morte. Estamos à deriva deste vendaval que varre os campos sem piedade.
Submited by
Poesia :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1086 reads
Add comment
other contents of analyra
Tema | Título | Respuestas | Lecturas | Último envío | Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Comedia | Amiga Rosa | 13 | 1.558 | 01/07/2010 - 10:54 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Momentos que carregaremos pela eternidade | 6 | 724 | 01/03/2010 - 15:18 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Momentos que carregaremos pela eternidade | 7 | 982 | 01/03/2010 - 13:39 | Portuguese | |
Poesia/Comedia | Silicone | 7 | 1.253 | 01/03/2010 - 11:17 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Momento mágico | 8 | 906 | 01/01/2010 - 20:58 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Muda o ano | 6 | 1.017 | 01/01/2010 - 18:24 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Meu melhor presente. | 8 | 721 | 12/30/2009 - 10:07 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Poesia terapia | 9 | 846 | 12/29/2009 - 00:12 | Portuguese | |
Poesia/Intervención | Novo paradigma | 10 | 1.253 | 12/26/2009 - 12:11 | Portuguese | |
Poesia/Erótico | À beira, na ribeira... | 9 | 1.187 | 12/17/2009 - 00:19 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Cigarro!! | 13 | 984 | 12/16/2009 - 21:17 | Portuguese | |
Poesia/General | Vestida de letras dançando com o mundo. | 10 | 1.361 | 12/15/2009 - 10:02 | Portuguese | |
Poesia/Alegria | Éramos Cinco | 11 | 1.351 | 12/14/2009 - 21:49 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | O Rio para mim. | 7 | 660 | 12/14/2009 - 21:04 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | A musa em depressão | 8 | 1.316 | 12/14/2009 - 03:42 | Portuguese | |
Poesia/Erótico | Imperativo. | 5 | 1.278 | 12/14/2009 - 01:42 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Deixa-me explicar para quem quer saber | 8 | 1.153 | 12/13/2009 - 23:24 | Portuguese | |
Poesia/Comedia | Achei um amor... | 16 | 1.305 | 12/13/2009 - 23:22 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Reminiscência de ti | 10 | 524 | 12/08/2009 - 16:42 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Valsa da solidão | 10 | 893 | 12/08/2009 - 05:03 | Portuguese | |
Poesia/Meditación | Realidade | 5 | 1.205 | 12/07/2009 - 04:36 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | O bálsamo do fim, que não tarde, que venha a mim. | 4 | 992 | 12/06/2009 - 22:58 | Portuguese | |
Poesia/Pasión | Devaneios à luz da lua. | 6 | 924 | 12/05/2009 - 14:02 | Portuguese | |
Poesia/Amistad | Poetas de 1971 | 7 | 2.177 | 12/05/2009 - 00:53 | Portuguese | |
Prosas/Ficção Cientifica | A falta | 3 | 2.232 | 12/04/2009 - 20:36 | Portuguese |
Comentarios
Re: Noite no campo de ti.
Tão triste que chega a doer-nos,
tão belo que me deixa sem palavras.
Gosto muito também de te ler neste registo.
Um beijo, Ana e... força!!!
Vóny Ferreira
Re: Noite no campo de ti.
"Por isso ainda acredito em mais um dia e, mesmo agônica, deito-me à espera de um mágico remédio que cure minhas chagas ao amanhecer."
Em teu texto, uma imensa dor e uma sempre esperança, força que nos permite continuar!
Um beijo, amiga, no aguardo deste mágico remédio!
Lila.
Re: Noite no campo de ti.
Um capitulo sugestivo, numa prosa intimista e alucinante na forma e na acção.
Sempre fantástico te ler!
Essa sou eu, um coração envolto em uma epiderme em chagas, queimando em ardente febre que consome as horas e os desalinhos de um ser que não se pertence, sem chão para deitar-se