Não me tirem o que não podem me dar.

Não quero, nada, mais nada,
tenho tudo que quero,
tenho tudo que posso.
Apenas quero paz.
Quero que deixem-me
nesta minha jaula
de letras e ansiedade
a me deliciar com meus versos.
Não preciso de inspiração,
nem de sentimento,
nem de tsunamis,
de tormentos ou calmarias
nem de sinceridades
muito menos hipocrisias
Não preciso de nada e de ninguém
preciso apenas de um alfabeto.
Meu requiém é eu que faço a cada dia
não preciso que exaltem minha beleza
(se é que há)
nem que chorem minha tristeza
nem que me prometam amor
não me outorguem dor
nem que me ofertem quimeras
nem que façam versos belos
não quero mais castelos ao ar
Não tirem-me o que não podem dar
não digam-me da vinda
nem do vinho da vinha
nem do sangue do sacrifício
nem da saúde frágil da sanidade
nem da última viagem
nem do avassalador vício
nem do início, nem do meio, nem do fim,
nem do rei, nem do querubim,
nem do sargento, nem do nojento, nem do soldado,
nem do anjo, nem do principado, nem de nada.
não me expliquem a estrada
muito menos me interessa a volta
nem a revolta ou a submissão
não me falem de estrelas
ao cáustico sol do meio dia
pois sou curiosa, sempre olharei
com minha natural esperançosa cegueira
esperando as respostas cauterizarem
minhas retinas de sensatez
pela luz estrelar de um momento fictício
Só peço um favor,
não me empurrem mais ao precipício
pois depois desta última queda
quebrei minhas asas:

Não sei mais voar.

Não me tirem o que não podem me dar

PAZ!

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Sábado, Junio 26, 2010 - 10:38

Poesia :

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analyra

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Comentarios

Imagen de apsferreira

Re: Não me tirem o que não podem me dar.

Um belíssimo poema, numa
reação, por nítida saturação
de uma situação sufocante.
:-)

Imagen de LilaMarques

Re: Não me tirem o que não podem me dar.

Ana,

Belo poema bem ao teu estilo, trazendo um momento em que tuas asas se recuperam, mas ainda doem. Ainda bem que temos esta maravilhosa "gaiola", única que eu conheço, que ao invés de nos prender, nos solta, faz-nos voar! Voe sempre, sempre! Nunca ninguém lhe cortará as asas...

Um beijo,
Lila.

Imagen de robsondesouza

Re: Não me tirem o que não podem me dar.

Ana,

Que bom participar desta vida pois, o mundo real é o mundo da desilusão.

Fantástico!

Abraços fraternos e saudosos, Robson!

Imagen de Lopez

Re: Não me tirem o que não podem me dar.

Me lembrou o "Blues da piedade", do Casuza.
Perfeito desde o título até a última gota de palavra.
Levo e deixo um beijo

Imagen de Anonymous

Re: Não me tirem o que não podem me dar.

A nossa amiga Lopez já disse o essencial, bem como os restantes amigos poetas.
Gostei de te ler.
Beijo
Vóny Ferreira

Imagen de deborabenvenuti

Re: Não me tirem o que não podem me dar.

Belíssimo poema. O mais importante de tudo é a paz. E se alguém não te pode dar,que não a tire de você,mas suas asas,ah,essas asas ninguém te pode tirar. Mesmo que estejam feridas,assim mesmo,sempre irás voar tão alto que nem a dor irás sentir e as letras do alfabeto irão sempre voar contigo,na imensidão desse teu coração tão repleto de sentimentos.Beijos,amiga!

Imagen de analyra

Re: Não me tirem o que não podem me dar.

Grata bom amigo, na verdade eu acho que nunca tive asas por isso me dependuro nos outros na esperança de quem sabe voltar ao meu castelo no alto de uma nuvem...
Muito grata sempre pela tuas leituras.
Tens sido um bom amigo.
Abraço grande.

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