Vida

E correu à pelo, no lombo do cavalo pelos campos
e chorou desencantos de um pai bravio
observou as éguas no cio
e as águas do rio da vida, passarem
nunca acreditou que o homem pisou na lua
" enganação de americano
para fazer alguém entrar pelo cano"
ouviu auspícios no assovio do vento
soube sempre da chegada,antes do momento
viu mortos,subiu montes, inflamou frontes,
perdeu portos,foi bom, foi mau,foi normal
foi insano,ser humano foi seu pecado capital
vestiu negro no primeiro do ano
ascendeu muitas luzes no natal
lutou lutas com rebeldia,
armazenou comida como se fosse alegria
cortou carnes e sonhos na câmera fria
fez rebelião que nem napoleão
lutou com moinho de ventos
semeou no vento tormentos
lutou, correu, bateu recordes impossíveis
ganhou medalhas, invisíveis
contou anedotas,virou cambalhotas
engoliu colheres,afiou talheres,
fez invenção do nada
reputação, impoluta, respeitada
talhou a vida com dor e formão
foi pontual, até com o pão.
Pariu dores e feridas,
encheu a casa com vidas floridas
fez café com malabarismo
cuspiu bile em abismo
encerrou encantos,gritou brados,
lutou fados,formou filhos,
pulou trilhos e cantou estribilhos.

Envelheceu...

Curvou-se sem saber,mas quem sabia?
que um dia, um belo dia
a dignidade é uma noz de casca vazia
por entre as trêmulas mãos, escorreram-lhe os dias sãos

E cadê a prole? Naquela foto no console?
Uma filha o mundo matou,ele quase morreu
a filha mais velha casou, enriqueceu
a outra não casou, enlouqueceu
o outro? quem é mesmo o outro? Aquele que tanto amava?
esqueceu...
o outro chorou, chorou, não viveu...
Sobrou eu, a compaixão,
a carregá-lo pelo caixão das horas
esperando vidraças se romperem
as lembranças, antigas, em plástico, florescerem
e as novas, se esquecerem
da realidade.
Esperou com ansiedade a alegria
os bisnestos, os afetos, alguém que limpe seus dejetos
Onde foi a esposa de mãos frias?
(que pouco sorria)
Esperou o mundo quebrar a vidraça
não tem forças para erguer mais a taça
nem brindar a vida
pergunta sem ter resposta:
Decisão tomada sem proposta...
"Quem esta moça que me trata a ferida?
onde está o lenço, para limpar o ranho
porque não posso nem mais tomar banho?
a vida é imposta...
Nesta sela solitária o tempo não passa
olha mundo na fria vidraça, a missa na praça,
na esperança vazia
de um dia, um belo dia
se curar da doença
rezou um terço com crença
discursou uma vida pretensa
falou com morto, olhou torto
sentiu dores ferozes
lutou com galhardia contra algozes
impossíveis, intangíveis,
no fim fico mudo, calado
depois saiu da casinha
as vezes voltava, conversava com a vizinha,
chorou tal criança,esperou agosto
com muito gosto,que finalmente o levou,
tinha o brilho nos olhos
de quem já viveu
Fez discurso, deu entrevista, foi morador, orador e turista
reinventou o curso, o custo, equilibrista
O tempo comeu a visão, limitaram-lhe a vista.
Sentiu no rosto o vento da última primavera,
(o apelido Finado, nenhum amigo lhe espera)
E eu, sou apenas as rodas que lhe deram pés
para chorar com a alegria até o chão, o rés
o gosto no rosto da última primavera que lhe floria.
Se despediu com ar solene de quem escutava
enquanto a amada em ossos lhe esperava.
e a prole? cadê a prole? O que se passa?
Está escondida, cuidando da vida
no mundo além da vidraça...

Dedico este poema a um poeta de um gênio que muito aprecio cuja leitura do texto abaixo rememorou-me este ensaio sobre a velhice.
Grata Lápis, pela inspiração.
Meu muito obrigado pela emoção.

http://www.worldartfriends.com/modules/publisher/article.php?storyid=27036

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Jueves, Julio 1, 2010 - 14:45

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analyra

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Então agradeço aos dois! Obrigada pela partilha. beijo querida

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