Lembro-me
Lembro-me quando as árvores eram filósofos e os carros do lixo iam a cem á hora pela avenida.
Lembro-me dos semáforos serem agentes secretos, tristes e abandonados como os livros que ficam por ler
Lembro-me daquela perseguição, da bala atravessando a parede, a poeira dos pneus nos olhos e os ouvidos encostados ao peito do medo desejando não morrer.
Lembro-me da luz azul e da farmácia de serviço, de uma bíblia manchada de rum e de tabaco.
A dose de acido foi de mais, já não vejo Lisboa e todos os policias tem o andar dos pássaros.
Os miúdos na praia cheiram cola e a poesia só serve quando a solidão parece uma publicidade.
Por favor Deus sai da tua igreja, olha como estão os olhos de quem se anestesia.
Depois do amor aquele homem perdeu a vontade e só foi capaz de dar mais um nó na corda.
Lembro-me de correr como um comboio, qualquer aventura termina quando o mundo nos parece frágil como um trapézio.
Lembro-me de andar dias sem dormir, de algumas horas deitado contigo no chão. Talvez todas as respostas toquem um dia o coração dos homens.
A dose de acido foi de mais, já não vejo Lisboa, só uma nuvem ao longe nos meus olhos.
Lobo 010
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Comentarios
Re: Lembro-me
Uma nostalgia de recordações poéticas.
Sem dúvida! Um quadro com pinceladas contemporâneas inesquecíveis.
Gostei muito de ler. E igual a todos porque de vez em quando aparece um diferente... que é obra de arte.
Vitor.
Re: Lembro-me
Um poema para ler, reler e reter.
Abraço
Nuno