Era uma vez

Era uma vez um caminho verde riscado no chão pelos pés dos transeuntes.
Marcado pelo peso dos corpos, das vidas, dos anos, afundara-se como um ribeirinho.
E foi nesse sulco do tempo, que um homem e uma mulher, cada um de seu sentido oposto, chocaram.
Bateram de frente e ficaram irremediavelmente feridos no querer de cada um, um do outro.
Riram, brincaram, choraram juntos, abraçaram-se.
Um dia quiseram-se.
E um dia o homem quis que o caminho dela não fosse mais no sentido contrário do dele.
Quería caminhar em paralelo, lado a lado, como carris de linha de combóio.
Ela não quis.
Dizía que as linhas alinhadas fazíam perder a graça do serpentear do ribeirinho.
Que talvez, quiçá, deixaríam de brincar por andarem preocupados em andar alinhados...
Ele quis prendê-la.
Ajoelhou-se na sua frente e de um raminho de trevo que enrolara em forma de anel, quis colocá-lo no seu dedo.
Ela não riu, não brincou, não chorou nem quis abracá-lo.
Guardou a frescura do anel de raminho de trevo na palma da sua mão.
E um dia os caminhos deixaram de se chocar porque o homem havía sido levado para outro mar, outro ocenao, sem volta, sem onda de arriba.
Então ela achou que já nada faría falta e cortou o dedo.

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Domingo, Abril 27, 2008 - 15:14

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SantAna

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Comentarios

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Re: Era uma vez

Texto bem escrito em dom da palavra!

:-)

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Re: Era uma vez

Um escrito para obrigar a respeitar denovo todos os relatos começados por era uma vez...

once upon a time... eu li este lindo trabalho

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Re: Era uma vez

Querer "prender" por bem querer não é presunção de submissão; é procurar mostrar que somos os prisioneiros, por bem querer, sem preconceitos ou humilhação, do outro.
E, neste estado, sem conseguirmos fazer brilhar a estrela, a mensagem, acabamos por morrer lançados, da falésia do querer amarfanhado de espera, a outros mares... E fica um(a) viúvo(a) triste a chorar por aquele desenrolar, por aquela falta de tacto de dedo, de entendimento...
Senti-o assim.
Um beijo
"(º0º)"

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