Rosa-dos-ventos

Rosa-dos-ventos, conta-me a verdade dos ventos e ensina-me a manter correntes bafejadoras de felicidade. Habilita-me de saber para manter o vento em deslocação propícia e revela-me os segredos para ser eficaz pedagogo e o bem transmita a outros.

A Norte preparam-se as hostes para a invasão das oficinas da criação. O exército moveu-se com o retumbar do trovão. O caos estendeu os seus jardins com dilúvios de mágoa, em sismos das falsas verdades e por vulcões de fúria acumulada. Tudo derribado, tudo apagado. Noite sem dia e dia sem Sol. Morte assistida…

E, do fogo, resistente ao vento gélido do Norte, maturou a flor da reconstrução.

A Nascente um novo Sol, vívido e quente. Sob os pés, semearam-se as mais belas paisagens, iluminadas pelo brilho de rios de águas de farto sorriso e aquecidas pelo agasalho de alegres florestas. Reanimou-se a fauna. Fauna prolífera e fantástica. Por cima, aquele céu, verde esperança e salpicado de estrelas coloridas e instigadoras dos sonhos! Aboliu-se paraíso e inferno.

Novo Mundo. O princípio concebido a gosto; a nova oportunidade. Foram-se os exércitos, vieram os artesãos e os artistas.

Arrancamos!

Porém, nada é estático e, infelizmente, mesmo as coisas boas não se firmam ou se fixam… Por mais que se esforce, o Homem jamais será sedentário! Forças misteriosas, íntimas e extrínsecas, atormentam-nO com novas jornadas.

Seguimos ao sabor dos ventos…

Pedi-te incontáveis vezes que olhasses para trás. O céu está lá e é nosso… Porquê desperdiçar semelhante dádiva?!

Vais sôfrega, no galgar atabalhoado da escada das novas circunstâncias, absorta no alcançar de tudo o que está para além de cada patamar. Todavia, não é prudente esquecer os degraus que deixas para trás e muito menos os amparos, de corpo e alma, que suportaram em ombros o início da subida. Não sabes tu que qualquer elevação carece de muito esforço de fundação? Não sabes tu que qualquer chão presente se ergue sobre os arcos do passado? Cuida de olhar atrás, para não mirares no espelho da realidade o teu reflexo de suspensão no vazio…

A Leste está a nascente de tudo o que vais deixando mirrar em migalhas de barro.

A Sul, caem os impérios e todas as suas magníficas obras, mundanas e divinas. Sobram estátuas ocas e mudas. Conheceram tempos áureos. Agora são apenas pedaços de mármore frio e informe. O fogo já não lhes inflama o milagre da vida. É um fogacho demasiado frágil e fraco para soprar a vontade na sonolência. O abandono do cultivo original enfeitiçou os campos de grande criatividade com nevoeiro de mortalha insípida. Pouco se produz: só o suficiente para respirar a tempos, mecanicamente.

Temos de sair destes lugares!

Perscruto os sons vindos do Ocidente. Talvez decida desbravar novos territórios a Oeste e encontrar outros espaços que recuperem a pátria que ficou a Nascente. Talvez consiga conceber uma nova terra natal, despojada dos vícios que nos seduzem com a monotonia e com a cegueira para a importância das coisas mais simples e directas.

Aparelho um tornado e abalo desembestado. É meu desígnio buscar a poção curativa. Não quero ver o sonho a romper-se irremediavelmente.

Olha para trás!

O céu é teu e ainda subsiste. Basta uma palavra tua, empenho, um cantinho entre as prioridades, um pontinho na escala de importância dos compromissos…

Tu até sabes qual a água que me mata a sede e qual o ar que me solta o respirar; Tu até sabes como atiçar o sangue nas minhas veias; Tu conheces as panaceias para os meus padecimentos…

Crispa-te e olha para atrás…

Rosa-dos-Ventos orienta-me e mostra-me como planar plácido sobre as borrascas dos dias dormentes e das noites despertas…

Andarilhus
XIX : II : MMVIII

Lírica: Last Rites: The Turning

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Martes, Mayo 6, 2008 - 21:58

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Re: Rosa-dos-ventos

Todos devemos aprender com a esta rosa-dos-ventos!!! Muito interessante! Abraço

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Re: Rosa-dos-ventos

Tu até sabes a nAVEGAÇÃO por águas revoltas e pelo nevoeiro, a bordo do teu navio fantasma...

Astralábio*

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