Inércia

Mais uma daquelas noites, daquelas que pouco se dormem, que o sono custa a vir devido aos pensamentos velozes que percorrem sua cabeça em forma de tortura com suas memórias, tortura que doi, auto tortura que machuca ao ponto de os lábios secos e rachados pelos não trato de sí pronunciam sons solitários de possível, quem sabe se não é, de possível loucura, só resta a mesma promessa, a mesma promessa que ainda tem uma gota de orvalho de esperança, a mesma promessa que faz todas as noites e somente essa, essa promessa permite que acalme e sua mente sua alma e deixe o seu corpo dormir.
Mais uma manhã… quero dizer… uma madrugada… uma madrugada daquelas que após pouco dormir uma coisa qualquer o faz despertar e sua cabeça não lhe deixa dormir mais, olha para o tecto, lembra-se da promessa que ontem fez e sente-se fraco, impotente para a cumprir, tira do lado de um cinzeiro sujo que esta na sua mesinha de cabeceira seu tabaco de enrolar, sente a dor de cabeça da ressaca numa pontada que coincide com o primeiro movimento de seu corpo, enrola seu cigarro com honras de oração, na verdade é uma oração, uma confissão na verdade é, ao tentar lamber a mortalha sente a boca seca, sem saliva para isso, vai buscar agua, olha para o vinho, lembra-se da promessa, da promessa que faz todas as noites para conseguir dormir mas que quebra todos os dias, bebe um copo com agua, acompanhado de duas aspirinas para dor de cabeça, acaba de enrrolar o cigarro, olha para ele e com uma esperança desesperançada diz para si mesmo ou para o cigarro… tanto faz:
- Não sei o que possa fazer para conseguir, hoje, talvez hoje aconteça algo, talvez hoje… apenas hoje… apareça algo… alguém que me ajude a quebrar este ciclo, porquê não? Porquê não pode existir? Porquê é que Deus não resolve provar-me que existe apesar que se existisse já tinha feito algo, ou não, sei que mereço a merda de vida que tenho, mas… não aguento mais, pelo menos sozinho, Deus… eu sei que não acredito em ti, mas sei também que se existisses não merecia a tua ajuda, mas por favor ajuda-me, só por hoje, só hoje, dá-me pelo menos um dia para descansar, só um, e que seja hoje pois já não aguento mais.
Veste-se com peças de roupas umas mal lavadas, outras mal passadas e sai de casa sem sequer olhar para seu rosto no espelho… pois do seu próprio rosto, dos seus próprios olhos tem medo, medo do ver no que havia se tornado, por não ter força para aguentar seu fado.

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Martes, Mayo 20, 2008 - 09:52

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Texto bem escrito em dom da palavra!

:-)

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