Ensaio sobre o surgimento de um novo homem e uma nova ordem
Não se pode hoje, milénios volvidos sobre a “aparente” escravidão da mulher aos chamados desígnios homo dominantes, e algumas décadas após o início de uma luta justa pelos seus direitos e afirmação de igualdade; escrever e dizer a mulher contemporânea, sem fazermos uma análise mais ou menos aprofundada a um novo tipo de homem, silenciosamente urdido nesta “liberdade” conquistada.
Foi fundamentalmente no período neolítico que a divisão do trabalho por sexo começou. A mulher surge associada à fertilidade, à reprodução, competindo-lhe as tarefas de amamentação e criação dos filhos, embora com um pé no cultivo e domesticação dos animais.
É representada na arte como alguém de formas generosas e seios fartos.
Esta estrutura de base, com alterações pontuais no tempo e no espaço, seguiu até à Revolução Industrial, ao advento do capitalismo.
Era-lhe exigido nessa altura que trabalhasse nas fábricas, independentemente se tratava ou não dos filhos, até porque desde muito novas as crianças passavam também a ser peças da engrenagem gananciosa e opressora, sendo-lhes negada uma infância de cuidados.
As organizações de mulheres em busca da defesa dos seus direitos, aparecem já no século XIX e marcam o início do século XX.
Pela não descriminação, pela igualdade de salário, por direitos iguais e democráticos. Uma luta que atravessou o séc. XX, com forte expressão a partir da segunda metade.
Longe vão os soutiens queimados, o flower-power, a liberdade sexual…
Neste início de milénio, embora persistam as desigualdades, que em alguns pontos do globo são ainda de carácter medievo, uma nova ordem de valores está emergente, tenham ou não os actores tomado consciência dos papeis que são chamados a representar.
Seria pertinente invocar aqui neste ensaio uma história da moda e do corpo e sua fisiologia ao longo dos tempos para se perceber o quanto a anca feminina foi neste processo forçada a mingar da generosidade à quase opressão.
A mulher moderna, numa constante busca de afirmação, embrenhou-se numa luta que passou da esfera da consciência de classe, para a consciência individual, característica afinal dos novos tempos.
Na sua tenacidade, capacidade de trabalho e estudo, começou a marcar pontos e a substituir progressivamente o homem em posições dominantes que lhe estavam reservadas tradicionalmente.
A célula familiar transforma-se e adapta-se à nova realidade. Tarefas repartidas, um novo código de funções.
Ao homem - dito opressor, nesta caminhada, não sobrou alternativa que não fosse, iludido que estava do seu poder, da sua secular e “aparente” supremacia, ver-se “aculturado” sem o notar, conduzido sem o sentir, dominado sem o saber.
Sim, digo dominado. E não uso esta terminologia por qualquer resquício de “machismo” que possa em mim ter sobrevivido enquanto representante da espécie. Digo-o por comprovada teoria elaborada na praxis de quantos se sentem, apesar de tudo, arautos de um novo tempo.
A questão importante é: se somos homens que já sabemos cozinhar e nisso colocamos até mais gosto e empenho, se limpamos e aspiramos com competência, se compramos nos supermercados com mais atenção e menos custo, se somos dos filhos mais próximos e carinhosos. Então, a ordem de valores começa novamente a alterar-se e estamos no seu advento.
Longe vai o tempo em que o homem divorciado penava para conseguir dar conta das suas coisas e regressava a casa da mamã para as refeições e levantar a roupa passada.
Longe vai o tempo em que se vergava à necessidade de ter uma mulher a tratar de si.
A máxima de outrora pode hoje livremente ser alterada para: “…Atrás de uma grande mulher, está um homem que sabe cuidar de si…”
A luta não é hoje da mulher, nem sequer afinal do homem, é mais uma procura naqueles que já tomaram consciência da força deste know how, para alcançar um patamar de felicidade que não se guia por razões sexuais ou sexistas, mas por uma nova moral e ética cuja questão fundamental é: “ Sou intrinsecamente bom?”
Encontre cada um a resposta dentro de si. Enterrem-se definitivamente as grilhetas da história e saiba cada qual preencher o futuro de igualdade, e seja isso palavra nunca vã.
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