Deus dá o frio conforme o cobertor

O compositor paulista Adoniran Barbosa, falou que Deus dá o frio conforme o cobertor, eu não sei de onde ele tirou isso, eu só penso que ele acertou, e concordo com as suas palavras, porque na minha infância, aconteciam algumas coisas idênticas a que essa frase propõe, o lugarzinho onde eu nasci, havia mais ou menos, umas trinta famílias, e todas elas bem povoadas, em média cada casal tinha de oito a quatorze filhos, a que eu pertencia mesmo era formada por nove irmãos, e com essa quantidade de filhos que todas as famílias tinham, ficava um pouquinho difícil sobreviver, principalmente dado ao fato que os seus líderes eram homens simples, uns pescadores, outros lenhadores e fazedores de carvão, já que nessa época quase ninguém possuía fogão a gás, e assim com uma renda mínima ficava difícil demais levar a vida, dessa forma as próprias crianças, não só para ajudarem aos seus Pais, mas, para matarem a própria fome, corriam atrás do prejuízo, fazendo de tudo que se possa imaginar, ainda bem que nessa época não era difícil encontrar coisas para comer, pois na beira dos caminhos, havia centenas de pés de goiaba, pés de mococona, ananá na beira da maré próximo ao manguezal, nicuri em abundância, muitos jenipapeiros, cajueiros, pés de canudos, pitangueiras, acredito eu que tudo isso foi deixado pelos índios porque não haviam donos nessas terras, hoje eu vejo dizer que são terras da união, e assim tudo isso podíamos encontrar por lá , e! Ia-me esquecendo do dendê, que também pegávamos para fazer azeite para colocar nas moquecas de peixes, e assim o tempo foi passando, as coisas foram mudando, para muitos as coisas foram melhorando, o progresso do nosso lugar foi se apossando, veio uma fábrica de cimento e na nossa área se instalou, uma indústria naval também chegou, algumas pessoas da nossa comunidade começaram nelas trabalharem, e assim foram tendo em suas vidas mais facilidades, os filhos começaram a terem direito a experimentarem coisas que antes não haviam experimentado, passando a comer pão com manteiga, já tinha comida todo dia, também roupas novas nos dias de festas, e dessa forma, todos foram esquecendo, aquela vida de dureza, e ninguém mais ia procurar goiaba, nem nicuri, em fim , não procurava mais nada, por achar não precisar mais, dessa forma o tempo passou, só que ao passar, acho que levou com ele, todas aquelas coisas que existia por lá no nosso passado, a poucos dias eu passei por aquele caminho, onde tinha as goiabas, os nicuris, as ananás, as mococonas, as ingás, os pés de dendê e nada disso eu pude ver, de centenas de goiabeiras, restaram um pouco mais de dez pés, estando uma parte seco sem nada dá, os dendezeiros estavam enormes, difíceis de serem alcançados, e as outras coisas também já não existia mais, ao constatar toda aquela devastação em tantas espécies de árvores frutíferas, eu me interroguei – e se os meninos de hoje não tivessem o que comer em casa?, Como ia ser?-certamente ou morreriam de fome ou iam muito sofrerem, é como se a natureza soubesse da necessidade das pessoas daquele local naquela época, fazendo nascer ali toda aquela fartura de frutas, e agora sentindo que aquele povo, não está mais a precisar, mudou-se dali renascendo em outro lugar, que pena que elas não renasceram lá no Haiti, devido ao seu solo petrificado, depois de tudo isso que os meus olhos observaram, descobri que é certo de fato, Deus dá o frio conforme o cobertor.

Submited by

Martes, Febrero 2, 2010 - 08:17

Prosas :

Sin votos aún

gege

Imagen de gege
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 4 días 3 horas
Integró: 07/26/2009
Posts:
Points: 2886

Comentarios

Imagen de RobertoEstevesdaFonseca

Re: Deus dá o frio conforme o cobertor

Alô, gege.

Que belo texto!

Gostei muito!

Um abraço,
Roberto

Imagen de MarneDulinski

Re: Deus dá o frio conforme o cobertor

gege!

LINDÍSSIMO TEXTO, GOSTEI MUITO!
GRANDE HISTÓRIA, GRANDES VERDADES, UM PASSADO QUE NOS VEM NA MEMÓRIA, MESMO COM AS DIFICULDADES, FORAM CRIANÇAS FELIZES ME PARECE!

Meus parabéns,
Marne

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of gege

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/Fantasía Conversa entre avô e neto 3 1.934 12/05/2009 - 15:49 Portuguese
Poesia/Canción Só queremos cantar 3 535 12/05/2009 - 02:59 Portuguese
Poesia/Meditación Elementos opostos 2 1.208 12/05/2009 - 00:55 Portuguese
Poesia/Dedicada Velhinho danado 2 924 12/04/2009 - 21:58 Portuguese
Poesia/Canción Apenas uma musica 3 1.176 12/01/2009 - 23:16 Portuguese
Poesia/General Hoje em dia 3 800 12/01/2009 - 06:03 Portuguese
Poesia/Dedicada O dia em que o palhaço chorou e fez o povo chorar 5 1.363 11/30/2009 - 02:41 Portuguese
Poesia/General Arroz e feijão 4 805 11/29/2009 - 21:38 Portuguese
Poesia/Canción Forró do dida 5 627 11/29/2009 - 10:02 Portuguese
Poesia/Meditación O Natal de ontem e o de hoje 3 1.019 11/29/2009 - 00:44 Portuguese
Poesia/Canción Não ao marasmo 4 964 11/27/2009 - 17:40 Portuguese
Poesia/Canción A dança do fuco, fuco 4 857 11/27/2009 - 10:44 Portuguese
Poesia/Canción Aniversário de casamento 3 2.222 11/26/2009 - 20:44 Portuguese
Poesia/Canción Blá, blá, blá. 3 1.004 11/25/2009 - 16:26 Portuguese
Poesia/Canción Foi erro dos dois 2 958 11/25/2009 - 03:50 Portuguese
Poesia/Canción Não quero nem saber 2 971 11/25/2009 - 03:32 Portuguese
Poesia/Fantasía Se eu soubesse 3 1.046 11/24/2009 - 15:40 Portuguese
Poesia/Meditación Se nos soubéssemos 3 410 11/24/2009 - 10:01 Portuguese
Poesia/Canción Rap-tô indo 1 758 11/22/2009 - 12:41 Portuguese
Poesia/Meditación Morro tentando 3 701 11/21/2009 - 22:28 Portuguese
Poesia/Canción Coração de gente 1 1.126 11/20/2009 - 22:51 Portuguese
Poesia/General Dificil procura 3 928 11/20/2009 - 17:05 Portuguese
Poesia/Dedicada Inveja poética 2 834 11/19/2009 - 18:58 Portuguese
Poesia/Dedicada Encantamento 1 844 11/18/2009 - 11:10 Portuguese
Poesia/Meditación O louco 1 936 11/18/2009 - 11:05 Portuguese