Filosofia sem Mistério - Dicionário Sintéticoio

ONTOLOGISMO e ONTOLOGIA – do grego “TO ON” = Ser, “LOGOS” = Teoria.
Ontologia é um termo introduzido na filosofia por RUDOLPH GOCLENIUS através de sua obra “LEXICON PHILOSOPHICUM” de 1613. Com ele o filósofo designava o estudo sobre a questão que para muitos é a mais importante da Metafísica: o estudo do Ser enquanto Ser; ou seja, o estudo do “Ser” despido de suas características pessoais, individuais. E, claro, o estudo daquilo que torna tal “Ser” compreensível.
A Ontologia é, portanto, o “Estudo GERAL do Ser”, ou em tosca comparação “o estudo da espécie ou da classe” ao qual o Ser Individual pertence. Ou o Estudo da ESSÊNCIA (que é Geral enquanto que o fenômeno é Individual, simples, particular) de aquele Ser; e, por extensão, da própria Realidade ou Real. Os “Seres” foram classificados como:

1. Ôntico – o Ser em particular, individual.

2. Ontológico – o Ser em geral (a espécie ou classe) ao qual está inserido.

Frequentemente o termo “Ontologia” é usado como sinônimo de “Metafísica” e isto acontece, segundo o Filósofo D’ALEMBERT (1717/1783, França), porque: “Os Seres, tanto espirituais quanto materiais, têm propriedades (ou características) Gerais como a ‘existência’, a ‘possibilidade’, a ‘duração’ etc. O exame (ou estudo) dessas Propriedades forma o ramo da filosofia que chamamos de ‘Ontologia’, ou ‘Ciência do Ser’, ou ‘Metafísica1 Geral”.

1 – Metafísica, porque os Seres Espirituais estão além e acima da Física, da Matéria; e, também, porque as raízes das características ou propriedades e, claro, as Essências dos Seres Materiais estão no terreno do “Sobrenatural”, “Metafísico”.
ONTOLOGISMO – de modo sintético ou resumido pode ser definido como: “Sistema Filosófico/Teológico de alguns eruditos católicos do século XIX que tem por base a “Evidência da Existência de Deus”; isto é, a existência do Divino é de tal modo visível e perceptível que NÃO se pode negar-lhe (sic)”.

De modo expandido, tem-se que o Ontologismo é a Doutrina segundo a qual o “trabalho (ou o estudo, a especulação) filosófico” não começa no Homem, mas em Deus. Não “sobe” do espírito (humano) ao ENTE (divino), mas “desce” do Ente ao espírito. A partir dessa afirmação, a tese central do Ontologismo é a de que o Homem possui uma “visão” ou uma Intuição imediata e direta do Ente (ou Deus).
Sobre essa Tese, e as que lhe foram derivadas, nunca houve um consenso geral, por isso veremos na seqüência algumas das divergências que ocorreram entre os dois Eruditos que mais se destacaram no estudo da questão.

a. ROSMINI (Padre, 1797/1855, Itália)
b. GIOBERTI (Padre, 1801/1852, Itália)

Para ROMINI, a Intuição supra referida é referente à noção que se tem de um “Ser em Geral”.

Para GIOBERTI, a Intuição é referente ao “Ente Supremo”, isto é, Deus.

Ambos, contudo, e mais alguns filósofos concordaram que a Tese Central referente à Intuição sobre o “Ser em Geral” ou sobre o “Ente Divino” provém do Pensamento de Santo Agostinho (354/430, atual Argélia) que sempre insistiu sobre a “Iluminação Direta” no intelecto humano por parte de Deus. Provindo, também, do Ocasionalismo* e de MALEBRANCHE (1638/1715, França) que afirmava que toda espécie de Conhecimento só acontece e é possível graças à Intuição que o Homem tem de Deus.
Na primeira metade do século XIX o Ontologismo influenciou, em graus variados, toda filosofia européia, inclusive aqueles que o repudiaram. Foi então que mais floresceu os conceitos do Ontologismo, vinculados à Revelação. Estabeleceu-se que a Intuição que o Homem possui sobre o Ente é considerada como a “Revelação” que o Ente (divino ou genérico) faz dele mesmo para se revelar (ou se mostrar) ao Homem. ROSMINI e GIOBERTI novamente discordaram:

a. ROSMINI – a Revelação é a noção geral do “SER” ou do “SER POSSÍVEL (que pode existir) considerado como a Forma, ou a Fôrma, ou o Formato original e fundamental da Mente Humana e de sua capacidade de adquirir Conhecimento. Tal “Revelação” seria, portanto, a condição indispensável (ou necessária) para a aquisição de Saber e seria a junção entre a Idéia do Ser (considerada como a Mente Humana) mais os dados coletados através das Experiências Empíricas (aquela que consiste na percepção dos dados ou características do objeto estudado, através do que foi captado pelos Sentidos; ie. audição, visão, tato, olfato, paladar). A ação de conhecer seria a chamada “percepção intelectiva”.

b. GIOBERTI – ao contrário, afirmava que na “Revelação” o “Ente Deus” se mostra ao Homem através de suas obras (a criação do Universo, o Homem, das coisas, dos animais etc.). Para Gioberti, o Homem seria o “existente” citado na célebre máxima: o Ente (divino) cria o Existente (humano).

Divergências à parte, Gioberti e Rosmini uniram-se a outros Pensadores contra a Filosofia Moderna que acusavam de Subjetivismo*, de Psicologismo* e de Niilismo*.

Contemporaneamente o Ontologismo foi abraçado por P. CARABELLESE (1877/1948, Itália) que buscou conciliar o Pensamento de Rosmini com o de Kant (1724/1804, Alemanha) e propôs que a Consciência é o ponto de partida e a única base da Filosofia que trata do Conhecimento que o Individuo tem do “Ser”.
CARABELLESE, ao contrário de Rosmini e de Gioberti, afirmou que o “SER” é imanente (mal comparando: nasce, brota) à própria Consciência ou Mente. O SER “está” no Homem e NÃO lhe é externo; logo, para conhecer o “SER” ou a sua própria essência, o Homem tem que se auto-conhecer. Uma idéia, diga-se, que nada tem de original, pois já permeava o Hinduísmo milhares de anos antes.
Carabellese, mesmo dando ao “Ser” essa gênese humana – posto que ‘nasce’ do Intelecto ou da Consciência do Homem – chama-lhe, igual aos demais, de “Deus” e o considera a base de toda objetividade (ou concretização, ou individuação) das Coisas Particulares (ou individuais, ou singulares) que a Mente pode atingir; ou seja, é o fato do Ser ficar “à mostra” que permite ao Homem – então elevado à categoria de SER – distinguir as Coisas separada e concretamente.

Submited by

Miércoles, Abril 28, 2010 - 20:19

Prosas :

Sin votos aún

fabiovillela

Imagen de fabiovillela
Desconectado
Título: Moderador Poesia
Last seen: Hace 8 años 18 semanas
Integró: 05/07/2009
Posts:
Points: 6158

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of fabiovillela

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Prosas/Otros O "Coxinha", o "Mac-Calango", a Legalidade e a Legitimidade 0 3.382 10/28/2014 - 23:22 Portuguese
Prosas/Otros Rousseau e o Romantismo - Parte VIII - A Perseguição Política 0 2.624 10/25/2014 - 20:30 Portuguese
Poesia/General Asas, quem dera 0 1.713 10/24/2014 - 00:33 Portuguese
Prosas/Mistério Rousseau e o Romantismo - Parte VII - A Publicação de "Emílio", de "O Contrato Social", de "La Nouvelle Héloise" e outras 0 11.504 10/23/2014 - 13:56 Portuguese
Prosas/Otros Rousseau e o Romantismo - Parte VI - O rompimento com os Enciclopedistas 0 4.422 10/22/2014 - 13:29 Portuguese
Poesia/General Destino 0 2.260 10/16/2014 - 01:05 Portuguese
Prosas/Otros Rousseau e o Romantismo - Parte V- Os Enciclopedistas 0 4.133 10/15/2014 - 20:35 Portuguese
Prosas/Otros Rousseau e o Romantismo - Parte V - Notas Biográficas, continuação 0 3.085 10/14/2014 - 19:53 Portuguese
Prosas/Otros O FIM da FILOSOFIA e da SOCIOLOGIA no ENSINO MÉDIO 0 3.311 10/13/2014 - 19:23 Portuguese
Poesia/Amor O Voo da Vida 0 1.828 10/10/2014 - 14:22 Portuguese
Prosas/Otros Rousseau e o Romantismo - Parte III - Jean Jacques - Notas biográficas 0 4.850 10/09/2014 - 15:04 Portuguese
Prosas/Otros Rousseau e o Romantismo - Parte II - Jean Jacques Rousseau - Prefácio 0 1.549 10/08/2014 - 19:20 Portuguese
Prosas/Otros Rousseau e o Romantismo - Parte I - Preâmbulo 0 3.553 10/08/2014 - 00:16 Portuguese
Poesia/Amor Retornos 0 1.251 10/06/2014 - 15:17 Portuguese
Poesia/Tristeza A Mulher e as Fotos 0 2.074 10/03/2014 - 22:04 Portuguese
Prosas/Otros Voltaire e o Iluminismo francês - Parte X - Considerações Finais 0 7.732 10/02/2014 - 19:59 Portuguese
Poesia/Dedicada Luz e Sombra 0 2.983 10/01/2014 - 00:19 Portuguese
Prosas/Otros Voltaire e o Iluminismo francês - Parte IX - O Antagonismo entre Voltaire e Rousseau 0 2.676 09/29/2014 - 20:43 Portuguese
Poesia/Tristeza Canção de Sarajevo 0 1.605 09/28/2014 - 19:59 Portuguese
Prosas/Otros Voltaire e o Iluminismo francês - Parte VIII - O Tempo da Concessão e do Abrandamento 0 4.064 09/27/2014 - 00:27 Portuguese
Prosas/Otros Voltaire e o Iluminismo francês - Parte VII - O Tratado sobre a Tolerância 0 5.750 09/25/2014 - 14:41 Portuguese
Poesia/Tristeza Yumi do bordel 0 5.284 09/25/2014 - 13:17 Portuguese
Poesia/Tristeza Dragões 0 2.986 09/23/2014 - 20:17 Portuguese
Prosas/Otros Voltaire e o Iluminismo francês - Parte VII - Ecrasez L´infame 0 4.340 09/23/2014 - 20:02 Portuguese
Prosas/Otros Voltaire e o Iluminismo francês - Parte VI - Dicionário Filosófico (a Enciclopédia) 0 2.014 09/22/2014 - 14:18 Portuguese