A chuva, o frio e as lembranças

Há três dias a chuva não cessa e o frio é intenso, é enorme. Mediante a isto nada resta a fazer a não ser ficar recolhido em meus aposentos lembrando os bons momentos que marcaram minha existência até agora. Enquanto lá fora o tempo insiste em maltratar as pessoas eu vou trabalhando minha mente recordando só coisas boas. Boa parte delas ao lado de Jussara, essa jóia rara que dorme a meu lado. Alheia a tudo seu sono é profundo como se habitasse em outro mundo nem parece que passamos horas a fio fazendo amor. Imóvel meus olhos percorrem seu corpo esguio sob o lençol manchado de prazer enquanto minha mente vagueia pelo espaço semeando recordações que me levarão ao passado. É assim caminhando passo a passo por esse terreno imaginário que vejo brotar de cada semente plantada lembranças inesquecíveis da minha infância com meus irmãos, todos ainda crianças como eu, do meu tempo de escola primária quando conheci Ivete meu primeiro grande amor e também minha primeira desilusão, pois alem de ela ser minha professora, era a esposa do nosso diretor e não caberia um futuro entre nós dois, do jogo de bola no campinho da vila onde eu sonhava ser um craque fazendo fila entre os adversários com a bola nos pés jogando no Palmeiras, meu time de coração vestindo a camisa dez , das revistas em quadrinhos das quais eu era fã, entre elas as de Mandrake o meu favorito, do meu primeiro emprego ainda menino na oficina mecânica de meu pai aonde eu deveria aprender eletricidade e mecânica de automóveis, mas quis o destino que eu aprendesse com o vizinho e me tornasse funileiro. Enfim de lembrança em lembrança deixei de ser criança, passei da adolescência e cheguei à juventude, um tempo primordial na vida de um homem, pois é quando ele escolhe o caminho entre o bem e o mal, é quando ele decide seu futuro continuando a caminhar sozinho ou constitui família se casando e gerando filhos entre o casal e comigo não foi diferente, seis meses de namoro já foram suficiente para contradizer uma cartomante cigana que se dizia doutora do destino e previu para mim uma noiva alta e loura já que me casei com Eliana, uma moça de estatura pequena e da pele morena. Dessa união primeira nasceu um filho, depois uma filha e nossa família prevaleceu firme e forte por vinte e três anos com algumas dificuldades normais, mas com muita alegria, até que um dia a família aumentou com a chegada de um novo bebe, porém não foi como das outras vezes, a gravidez foi de risco e a menina nasceu doente, depois de três meses de vida morreu de repente. E como tudo na vida um dia tem fim comigo também foi assim e minha sorte foi lançada, pois meus filhos seguiram adiante cada um em sua jornada, em sua trilha constituindo cada qual uma nova família e fiquei sozinho, pois a morte levou também minha amada, minha amante, minha esposa adorada. A dor dessa saudade corroeu meu coração e quase me mata, mas com o passar do tempo a gente aprende a guardar só as coisas boas e joga fora a parte chata, a que machuca. A realidade cura e cicatriza as feridas permitindo que a felicidade siga os nossos passos para sempre e mesmo que não a aproveitemos por inteiro podemos aproveitá-la aos pedaços e cabe a cada um de nós saber tirar proveito disso. Desperto dos meus pensamentos com um susto, pois o barulho aumenta com a força do vento que empurra a chuva sobre o telhado aumentando ainda mais o frio que se torna intenso. Porém não custo a me acalmar, enquanto penso no tamanho da sorte que tenho, pois apesar de tudo o que o destino me impôs, apesar da chuva do vento e do frio não estou a descoberto dormindo no molhado como muita gente que nem se quer tem um teto para lhe servir de abrigo, comendo sobras achadas no lixo, vivendo a vida como se fosse um bicho, como se tivesse vindo ao mundo só para cumprir um castigo. Olho para a mulher deitada ao meu lado, ela que hoje é minha cara metade e agradeço a Deus por coloca la em meu caminho pois eu não suportaria terminar meus dias sozinho vivendo só de lembranças, vivendo só de saudade.

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Lunes, Julio 19, 2010 - 01:26

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smcvinicius

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