Por Ti Seguirei... (25º episódio)
(continuação de http://galgacourelas.blogs.sapo.pt/50873.html)
…
A voz não era estranha. Do capuz surgia o rosto de Gurri, iluminado pelo brilho do sorriso de quem tinha encontrado alguém muito caro.
O Vacceu dobrou-se para ficar próxima dos dois amigos e passou a explicar a sua presença ali: - “Caribu recompensa-me por me permitir encontrar-vos. Como sabes, o meu povo tem laços de sangue com os Arevácos. Pessoalmente, tenho alguns familiares neste lugar. Foi fácil entrar e circular à vontade. Já não foi tão simples introduzir cá dentro Alépio. Quanto a Zímio, também está bem. Aguarda escondido no exterior. O Ebrol deu-nos que fazer e esforçou-nos bastante, mas sobrevivemos todos. Vejo que Tongídio é que topou a sorte menor. Isso pode ser um problema. Há que o recompor para podermos escapar antes da chegada dos Romanos.”
Rubínia abandonou o estado hirto e relaxou. Sorriu mas logo ficou enevoada pela tristeza. Fez uma carícia no rosto do marido adormecido e fitou Gurri: -“É bom ver-te Gurri e saber que estais os 3 bem. E mais, saber que viestes em nossa demanda. Pelo menos sou feliz pelas amizades que granjeei. A saúde de Tongídio inspira grandes cuidados e não é ainda garantida a sua recuperação. A manhã deve dar-nos alguns sinais.
Sim, também sei que já não há grande tempo até que passemos para as mãos dos legionários. Começam a esgotar-se as minhas esperanças…”
- “Calma Rubínia, não está tudo perdido. Descobri que afinal os Arevácos não são assim massivamente a favor dos interesses romanos. Na verdade, há muitos que desconfiam desta aliança podre. Espera…” Gurri fez um sinal sonoro e mais duas silhuetas apareceram do negro da penumbra. Um era Alépio, que não escondia a alegria de ver os companheiros. Foi-se encostar ao moribundo, amparando-o e refrescando-lhe a testa. O outro era Irineu, Areváco, contudo rebelde e líder de uma crescente facção contra-poder.
-”Sou Irineu, venho de Numântia e conheço bem os dissimulados Romanos. São perniciosos e calculistas. À volta de Ardósia é o caos com a presença das legiões. Não respeitam nada. Estamos a preparar uma revolta para expulsá-los e, com eles, todos os Arevácos colaboracionistas.
Admiramos a vossa coragem na luta contra os invasores e as histórias que sobre vós circulam são verdadeiramente inspiradoras para nós. Julgo que será mesmo possível unir os povos da Ibéria e correr com estes malditos dos nossos territórios, de uma vez por todas! Ai! Estou a excitar-me e a falar muito alto… hehehhe…”
-“Irineu e os seus podem ajudar-nos na evasão. Há elementos da guarda da cidadela que lhe são fiéis. Não há mais nada a discutir que não seja como o vamos fazer. Quedar-nos aqui é convocar a morte”. Sentenciou Alépio.
-“Mas, Tongídio não está em condições…”
-“Peço-te que não percas a confiança, Rubínia. Veremos como o nosso portentoso “urso azul” estará amanhã. Nós entretanto, vamos planear tudo para que na próxima Lua já possamos estar longe daqui.” Assegurou Gurri.
Despediram-se e Alépio quase que teve de ser arrastado por Gurri. Este deixou a sua cobertura quente para conforto dos companheiros acorrentados.
No dia seguinte, não só o Sol como também as melhoras de Tongídio frutificaram o optimismo da mulher, acordada que foi por um beijo daquele. Era um milagre um tal restabelecimento. De facto, a pujança física e anímica do Celta, conjugados com o carinho e os tratos de Rubínia, operavam inacreditáveis resultados. Patenteava grandes dificuldades de movimentos e ainda esvaía um sangue amarelado da costura, porém recuperara a consciência e até a ansiedade de vida: -“Minha querida mulher, que fazemos neste lugar e assim acorrentados?! Ajuda-me a levantar que quero rachar a cabeça ao incauto que teve coragem de marcar a tua bela pele com estas correntes.”
-“Tongídio mantém-te quedo. Sou eu que to ordeno, agora! Estás demasiado fraco até para praguejar. Trebaruna e Endovélico abençoaram-te, felizmente. Não estragues o que está feito. Tenho também muito a te contar. Escuta.”
O caudilho resmungou por uns momentos, para depois ouvir atentamente o que a sua esposa lhe explicava acerca da situação e das perspectivas para uma possível fuga.
-“Esses 3 admiráveis também estão nas redondezas?! Então o inimigo não tem qualquer possibilidade de sucesso, hehehhee! Ui, ui, que me faz mal rir; acho que forcei uma sutura!”
Até à noite, repousaram e tomaram os alimentos que Bolota garantiu em fartura. Sem explicar e também para não colocar a amiga em problemas, Rubínia segurou as mãos de Bolota e disse-lhe: - “Espero encontra-me contigo novamente, algures”. O olhar disse o resto. A autóctone acenou afirmativamente a cabeça, em silêncio, e deixou escapar algumas lágrimas. Já o previa e tinha também uma oferta para a Celta de Poente: um amuleto da deusa do rio. Abraçaram-se.
Caía o crepúsculo e 5 soldados Arevácos aproximaram-se dos prisioneiros. Um adiantou-se e deu um puxão ruidoso na corrente de Tongídio: -“Levanta-te cão! Vamos dar um passeio ao Luar. Os da torre Norte vão tratar da tua mulherzita… Tal como está combinado”. E fez um piscar de olhos aos dois.
Rubínia percebeu e sossegou o marido, que se preparava para arrancar as varas do abrigo e atirar-se aos opressores, mesmo ainda muito combalido e quase sem conseguir andar.
(continua…)
Andarilhus
XVII : IX : MMX
Submited by
Prosas :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 2940 reads
other contents of Andarilhus
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Amor | Confidência | 1 | 1.285 | 09/14/2009 - 16:47 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | Anátema | 4 | 996 | 08/21/2009 - 15:44 | Portuguese | |
Poesia/Gótico | Mortes | 5 | 739 | 07/23/2009 - 02:27 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Túnica de Águas Doces | 2 | 593 | 06/27/2009 - 11:29 | Portuguese | |
Poesia/Tristeza | O novo génesis III: Os Salmos Apócrifos | 2 | 728 | 06/27/2009 - 06:40 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Rendilhados de luz e sombra | 2 | 733 | 06/20/2009 - 12:44 | Portuguese | |
Poesia/Gótico | O Novo Génesis II: A Floresta dos Encantamentos | 3 | 794 | 06/07/2009 - 05:13 | Portuguese | |
Prosas/Tristeza | …E tanto que tinha para te dizer… | 5 | 1.129 | 05/13/2009 - 22:00 | Portuguese | |
Prosas/Pensamientos | O Novo Génesis: I - Epístola do Amor (resgatado) | 2 | 911 | 05/06/2009 - 16:35 | Portuguese | |
Poesia/Aforismo | Enxoval | 6 | 974 | 05/04/2009 - 22:22 | Portuguese | |
Prosas/Romance | Por Ti Seguirei... (7º episódio) | 0 | 1.257 | 01/28/2009 - 12:07 | Portuguese | |
Prosas/Romance | Por Ti Seguirei... (6º episódio) | 0 | 976 | 01/23/2009 - 16:11 | Portuguese | |
Prosas/Romance | Por Ti Seguirei... (4º episódio) | 0 | 698 | 01/19/2009 - 11:52 | Portuguese | |
Prosas/Lembranças | Das certezas (Tomo V) | 1 | 1.261 | 11/05/2008 - 21:41 | Portuguese | |
Prosas/Romance | Por ti Seguirei... (3º episódio) | 1 | 988 | 10/22/2008 - 20:59 | Portuguese | |
Prosas/Otros | Não te Esvaeças! | 2 | 935 | 10/18/2008 - 16:10 | Portuguese | |
Prosas/Romance | Por Ti Seguirei... (1º episódio) | 1 | 1.182 | 08/13/2008 - 22:06 | Portuguese | |
Prosas/Otros | De Olhos Fechados... | 1 | 1.643 | 08/08/2008 - 22:21 | Portuguese | |
Prosas/Drama | Profissão... com Fé | 2 | 740 | 08/08/2008 - 21:38 | Portuguese | |
Prosas/Otros | A Terra Rasgada ao Meio | 2 | 1.008 | 08/02/2008 - 23:36 | Portuguese | |
Poesia/Gótico | Labores de Cristal | 2 | 1.092 | 06/18/2008 - 00:37 | Portuguese | |
Prosas/Fábula | Nas Asas de Ícaro | 1 | 1.562 | 06/13/2008 - 17:23 | Portuguese | |
Prosas/Otros | A Esfinge | 1 | 863 | 06/11/2008 - 23:33 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Ósculo Dei [O beijo de dEUS] | 3 | 1.023 | 06/07/2008 - 23:32 | Portuguese | |
Prosas/Otros | A Revolta dos Sonhos | 3 | 949 | 06/05/2008 - 19:46 | Portuguese |
- « primera
- ‹ anterior
- 1
- 2
- 3
- 4
- 5
- 6
- 7
- siguiente ›
- última »
Add comment