O anjo caído

Era um anjo de Deus
Que se perdera dos Céus
E terra a terra voava.
A seta que lhe acertava
Partira de arco traidor,
Porque as penas que levava
Não eram penas de amor.

O anjo caiu ferido,
E se viu aos pés rendido
Do tirano caçador.
De asa morta e sem 'splendor
O triste, peregrinando
Por estes vales de dor,
Andou gemendo e chorando.

Vi-o eu, o anjo dos Céus,
O abandonado de Deus,
Vi-o, nessa tropelia
Que o mundo chama alegria,
Vi-o a taça do prazer
Pôr ao lábio que tremia...
E só lágrimas beber.

Ninguém mais na Terra o via,
Era eu só que o conhecia...
Eu que já não posso amar!
Quem no havia de salvar?
Eu, que numa sepultura
Me fora vivo enterrar?
Loucura! ai, cega loucura!

Mas entre os anjos dos Céus
Faltava um anjo ao seu Deus;
E remi-lo e resgatá-lo
Daquela infâmia salvá-lo
Só força de amor podia.
Quem desse amor há-de amá-lo,
Se ninguém o conhecia?

Eu só. - E eu morto, eu descrido,
Eu tive o arrojo atrevido
De amar um anjo sem luz.
Cravei-a eu nessa cruz
Minha alma que renascia,
Que toda em sua alma pus.
E o meu ser se dividia,

Porque ela outra alma não tinha,
Outra alma senão a minha...
Tarde, ai!, tarde o conheci,
Porque eu o meu ser perdi,
E ele à vida não volveu...
Mas da morte que eu morri
Também o infeliz morreu.

Submited by

Sábado, Abril 11, 2009 - 18:17

Poesia Consagrada :

Sin votos aún

AlmeidaGarrett

Imagen de AlmeidaGarrett
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 14 años 22 semanas
Integró: 04/11/2009
Posts:
Points: 279

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of AlmeidaGarrett

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia Consagrada/General Ave, Maria 0 568 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Os exilados 0 571 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General No lumiar 0 412 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Preito 0 634 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General A um amigo 0 489 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/Cuento Viagens na Minha Terra - I 0 582 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Anjo és 0 532 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Víbora 0 545 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Barca Bela 0 565 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General A Coroa 0 1.037 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Sina 0 492 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Ai, Helena! 0 458 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General The rose — A sight 0 587 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General A Rosa — Um suspiro 0 694 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Retrato 0 576 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Lucinda 0 630 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General As duas rosas 0 617 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Voz e aroma 0 427 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Seus olhos 0 392 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Destino 0 418 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Gozo e dor 0 544 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Perfume da rosa 0 443 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Rosa sem espinhos 0 499 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Rosa pálida 0 476 11/19/2010 - 16:52 Portuguese
Poesia Consagrada/General Flor de ventura 0 484 11/19/2010 - 16:52 Portuguese