Poesias Inéditas - Poemas dos Dois Exílios - Vendaval
Vendaval
Ó vento do norte, tão fundo e tão frio,
Não achas, soprando por tanta solidão,
Deserto, penhasco, coval mais vazio
Que o meu coração!
Indômita praia, que a raiva do oceano
Faz louco lugar, caverna sem fim,
Não são tão deixados do alegre e do humano
Como a alma que há em mim!
Mas dura planície, praia atra em fereza,
Só têm a tristeza que a gente lhes vê
E nisto que em mim é vácuo e tristeza
É o visto o que vê.
Ah, mágoa de ter consciência da vida!
Tu, vento do norte, teimoso, iracundo,
Que rasgas os robles - teu pulso divida
Minh'alma do mundo!
Ah, se, como levas as folhas e a areia,
A alma que tenho pudesses levar -
Fosse pr'onde fosse, pra longe da idéia
De eu ter que pensar!
Abismo da noite, da chuva, do vento,
Mar torvo do caos que parece volver -
Porque é que não entras no meu pensamento
Para ele morrer?
Horror de ser sempre com vida a consciência!
Horror de sentir a alma sempre a pensar!
Arranca-me, é vento; do chão da existência,
De ser um lugar!
E, pela alta noite que fazes mais'scura,
Pelo caos furioso que crias no mundo,
Dissolve em areia esta minha amargura,
Meu tédio profundo.
E contra as vidraças dos que há que têm lares,
Telhados daqueles que têm razão,
Atira, já pária desfeito dos ares,
O meu coração!
Meu coração triste, meu coração ermo,
Tornado a substância dispersa e negada
Do vento sem forma, da noite sem termo,
Do abismo e do nada!
Submited by
Poesia Consagrada :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 612 reads
other contents of FernandoPessoa
Tema | Título | Respuestas | Lecturas |
Último envío![]() |
Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Em toda a noite o sono não veio | 0 | 976 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Deixo ao cego e ao surdo | 0 | 783 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Depois que o som da terra, que é não tê-lo | 0 | 1.075 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Depois que todos foram | 0 | 1.142 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Desfaze a mala feita pra a partida ! | 0 | 672 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Desperto sempre antes que raie o dia | 0 | 1.166 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Deus não tem unidade | 0 | 1.124 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Deve chamar-se tristeza | 0 | 837 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Do fundo do fim do mundo | 0 | 1.009 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Dói-me no coração | 0 | 1.015 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Dói-me quem sou. E em meio da emoção | 0 | 1.960 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Do meio da rua | 0 | 880 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Dorme, criança, dorme | 0 | 952 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Dormir! Não Ter desejos nem 'speranças | 0 | 1.230 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Do seu longínquo reino cor-de-rosa | 0 | 1.090 | 11/19/2010 - 15:55 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Cheguei à janela | 0 | 1.050 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Chove. Que fiz eu da vida ? | 0 | 819 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Clareia cinzenta a noite de chuva | 0 | 1.262 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Começa, no ar da antemanhã | 0 | 776 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Como às vezes num dia azul e manso | 0 | 618 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Como é por dentro outra pessoa | 0 | 879 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Como nuvens pelo céu | 0 | 1.089 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Como um vento na floresta | 0 | 999 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - Criança, era outro... | 0 | 818 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese | |
Poesia Consagrada/General | Poesias Inéditas - De aqui a pouco acaba o dia | 0 | 999 | 11/19/2010 - 15:54 | Portuguese |
Add comment