Se não escrevo
O silêncio pesa sobre cada dedo meu,
obstruindo a janela por onde as palavras fluem,
como se um crescente vazio corroesse a esperança
de um nada ter, que tudo contém…
E se o silêncio pesa sobre as palavras
e corrói a esperança,
mina a confiança que me incentiva a sonhar.
Sem sonhos, nada mais tenho a escrever.
E se não escrevo, como poderei aumentar
a propulsão necessária para me elevar no espaço?
Lugar onde é possível sentir o teu abraço.
E se não escrevo, como poderei eu descrever
o calor que me faz aninhar e respirar ofegante?
Essa força única que me estremece e te faz confiante.
Se não escrevo, como posso esperar desenhar-me na tua boca?
Ávida sede que transforma o meu corpo num rio,
onde uma ponte de suspiros incentiva uma audaz travessia.
Se não escrevo, como me posso atrever
e dizer-te todos os meus desejos?
Resposta que espero contida nos teus beijos
Receios, conquistados, que me fazem estremecer.
Se não escrevo como posso manifestar uma fome tão voraz,
toda a urgência sentida, por uma vontade tão antiga,
que em todas as nossas vidas nos seduz?
Se não escrevo, poderei alguma vez ter-te por inteiro
sem máscaras e sem receios?
Despido de todas as farsas e de todos os freios,
vestindo-me da cor dos nossos devaneios.
Se não escrevo, como quem faz amor contigo
conseguirei fazer-te recordar?
É por esse fogo que escrevo, aquele que conheço
e que aguarda a hora que vai chegar…
Publicado no blog Broken Wings e no blog da Rede Sócio-Cultural dos Poetas e Escritores do Amor e da Paz
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