GAIA O POEMA DA TERRA.

TREVAS. Da escuridão a luz da tortura.
A dor do natimorto explode na alma de Deus.
-Onde eu, feito filha terei futuro? Nas chamas de meu passado?
A luz da vida no irmão sol que queima e consome o que lhe alimenta.
Deus. Sou vida. Vida - Sou eu. Vagar na escuridão das linhas do tempo,
enquanto esfria na minha pele o que queima em meu ventre.
TERRA – finalmente ser.
Ser? – Quem sou?
Sou parte da vida, ou a própria vida?
Criação, ou o próprio Deus?
Onde se escondem teus olhos pai?
Sou eu quem tu és?
Perdi-me no caos da criação. Nasci na dor criei-me solidão.
Irmão Marte esta morto, perdera o guerreiro para a sua prole?
Irmão Vênus sufoca-se, trocou a vida pelo norte de meus filhos.
Ah quão ingratos,
Não vêem sequer quantos se queimam, só para enfeitar teus céus.
Espaço, tempo, relação e cordas na abóbada do universo.
Infinitas graças ao mistério da criação.
O enigma do Deus onipresente e ausente.
Tudo e nada no caminhar dos seus filhos.
Quo vadis Domini? És caminho, és verdade ou serás vida?
Para onde vais senhor?
Porque vago neste universo, moribunda,
esperando a tua onipotência a curar-me destes germes humanos.
Porque eles Pai?
Porque não deixar no primitivismo quem não sabe usar a razão?
Veja a minha pele Pai. De bela a cancerígena,
tomando malignamente todo o meu ser.
Estou diante da morte,
preciso gritar minha desesperança,
ou cantar meu desgosto.

 

II

O verbo da criação já não está com Deus.

Poderes tomados nas nefastas mãos dos seus,
Rebela-se contra a vida, divinizando o momento.
Desdoura-se o criador diante da criatura.
Morre a razão sob a espada da loucura.
Dilacera-se a mãe terra em desgosto e tormento.


Sou vida – Grito – Entre lágrimas calíginas de dor.
Tu não escutas, não lembras, em estranho torpor,
Exaure minhas forças e feliz queima meu sangue.
Inebria-te de poder como se teu fosse o futuro.
Desdenha da vida sempre álgido, pavo e seguro.
Não importa a empatia desta dor que me tange.

Ouço o talar de tua sanha venturosa em meu ventre.
Já não espero que entendas, vem de mim o que sentes.
Destrua-me tua vida, ou reviva-me em ti tua sorte.
Entenda a angústia de quem grita silente no infinito.
Incômodo que mata quem se basta do meu grito.
Sou mãe presente e teu futuro, meu consolo mais forte.

Sou a quimera de Deus em um passado distante.
Hoje ceva de seus filhos, serva, esquálida e ofegante.
Arquétipo do Édem, vesânia divina de extrema utopia.
O pecado celeste floresce em Adão na prole escarra.
Cândida, Eva nutre a serpente que em seu ventre estava,
A esperar para cumprir o que Deus a Adão sentenciaria.

 

III

 

Previna-se de si, antes de pensar em domínio,
Homem versus homem proclamou o profeta.
Luta pela posse de quem lhe tem sob natural proteção.
Quando terás consciência do verme que morre sob o
Próprio excremento?
Morde as tetas da mãe pródiga cujo leite te mantém?
Eu sei Senhor, meu lamento não será ouvido por quem
Empunha a espada que me punge.
Mas o que me resta? Nasci para dar vida
E mesmo demonstrando minha ira,
Como mãe, continuo a amá-los.
Vi-os nascer do meu barro, crescer em minhas matas,
Multiplicar e extinguir vidas.
Apartes do mundo receberam a razão,
Dádiva maldita.
Decreto de Deus por minha morte.
Pensas ou duvidas?
Duvido que pensas.
Acham-se Deuses, talvez o sejam.
Semi-deuses proscritos,
Predestinados à autodestruição.
Cada chaga aberta em minha pele te suprime de vida.
Vejo teu futuro com dolorosa satisfação.
Ar sumindo no peito,
Boca seca como os campos flamados.
Tua pele curtida das chagas que hoje me impinges,
Teu corpo astênico consola-se em maldições a tua herança.
Tens o poder, és o poder, sofres o poder.

IV

 

Ontem sob raios o sol nutria-me de vida.
Salta para luz o símbolo da chance perdida,
De viver até o crepúsculo sob a paz do criador.
Vida tão cantada hoje é a marca do desprezo.
Ao te ver sair dos pântanos não previ o cotejo,
Que tu farias ao mal do qual és o próprio autor.

Hoje glutas tuas crias que se amontoam nos campos.
Amanhã teus excrementos te terão outros encantos,
Pois será o que de melhor verá tua vida faustosa.
Este é o vaticínio para quem já não percebe,
Sacrifícios de uma luta que este corpo não concebe
Suportar no progredir da cornucópia imperiosa.

Quatro milhões de anos e ainda me dói este parto.
O homem grassa no planeta como um câncer que de fato.
Corrói corpo e esperanças no Éden em que já viveu.
O legado da mãe terra que hoje satisfeito exploras,
È o ar sulfurizado que a teu peito toma agora.
Sombras da bela aurora de um mundo que já morreu.

Eternas são as súplicas ao Senhor oniausente.
Morte e vida se confundem nesse afã inconseqüente,
De domar a própria espécie sob a força do urânio.
Subjugada, inconforme e sem caminhos a seguir,
Neste rogo busco forças para que possa prosseguir,
Suportando, azafamada, explosões dentro de mim.

Rastejavas sobre o ventre no prelúdio da evolução.
Carregava em teu gene, codificada, a maldição.
Do carrasco executor de uma terra combalida.
Ressoará na tua história de explorador infante,
A epopéia orgulhosa, tua lustra ignorante,
De quem corre para morte em nome da própria vida.

 

V

Explodes o bom senso na paz radioativa.

Chagas surgem nos filhos da insanidade.
Teus ideais justificam corpos amontoados.
Homens vaporizados não fazem revolução.

O 666 entrega o trono ao U235.
A besta atômica usa traje a rigor.
Frases feitas, bases perfeitas, poder do mal.
É a paz pelo medo nos domínios do capital.

Cinqüenta virgens e um tolo sob a sedução de Alá.
Oh liberdade, porque cheiras a morte?
Que glória o poder de teus arsenais,
Podes matar mais de mil vezes a mãe terra,
Quando uma é suficiente para teus filhos, nada mais.

Cento e quarenta mil erros na flor do sol nascente,
Mais mil bombas para não esquecer do que és capaz.
Cogumelo venenoso, simbolismo divino,
A prever o destino do rebelde sem causa,
O dono do berço de ouro quer se matar.
Jeová, testemunha injuriosa do que se justifica em Alá.

Filhos como é difícil amá-los,
Fincas tua poderosa arma mil metros sob meu bikini,
Estuprando tua própria mãe.
As prostitutas francesas perderam o encanto?
Porque não as procuram?
Orgulho de criança poder gritar: Eu tenho a força.
Ai minh’alma, meus filhos se desviaram,
Dou gritos tsunâmicos e eles não me escutam,
Estão viciados... em poder.

Ao tio Sam idade não deu sanidade
Para repensar os negócios da pátria amada,
Armada até os dentes,
Fincados no terceiro mundo
De um mundo só.

Sanguessugados sem protocolo ou cerimônia
De Kioto ao Rio com noventa e dois graus de febre,
No termômetro de ouro e mercúrio,
Extraído do Amazonas.

 

VI
Vejo crescer sob a lua,
O símbolo de teu poderio.
Carne exposta, chucha queimada,
Néscios filhos de Chernobyl.
Cresce no ar o cogumelo radiante
De dor e indignação.
Não pela terra arrasada,
Por toda uma história apagada,
Ou mesmo a herança maldita,
Gaseificada em vis gerações.
Mas por tomar os poderes,
Restritos da grande nação.

Virtude de conquistador,
O poder de se superar,
Cavastes buracos na terra,
Agora o fazes no ar.
Meu corpo nu no espaço,
Sem a proteção do ozônio,
É mais uma grande vitória,
Que juntas ao teu patrimônio.
Tuas ações sobre a terra,
Invejam ao próprio demônio.

Onde encontrar proteção,
Se tornas o planeta maldito.
O corpo entregue ao bridão,
De um sol agora inimigo.
Outrora tinhas o esplendor,
Do rei fonte de vidas.
O brilho, a beleza, o calor.
Que hoje só abre feridas.
Como entender o que fazes,
Com tudo que graça a vida.

Sol nascente perde o esplendor
Sob sulfúricas correntes.
O verde simbólico de vida,
Tem tons cinza deprimentes.
As brisas suavizam os campos
Agora trazem odores estranhos,
Cheiro de morte de vidas ceifadas
No denso caldo de óleo,
Praias negras, “penas” pesadas,
Para quem sangra petróleo.


 

Submited by

Sábado, Abril 2, 2011 - 22:40

Poesia :

Sin votos aún

Cunha

Imagen de Cunha
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 12 años 36 semanas
Integró: 01/16/2010
Posts:
Points: 33

Comentarios

Imagen de MarneDulinski

GAIA O POEMA DA TERRA.

LINDO, M   A   R   A   V   I   L   H   O   S   O, POEMA, GOSTEI DEMAIS!

CONFESSO, QUE TEREI DE LER NOVAMENTE, PARA VER COM MAIS DETALHES  A TUA PROSA POÉTICA, POETA. MUITO INTELIGENTE E MUITO OBJETIVA ,

COM REFERÊNCIA A DESTRUIÇÃO QUE ESTÃO FAZENDO COM NOSSA TERRA, NOSSA "MÃE TERRA"

TENHO AQUI NO WAF, POEMA "MÃE TERRA" QUE TRATA DO MESMO TEMA, NÃO COM TANTA RIQUEZA DE DETALHES COM O SEU, MAS É MAIS UM SOMATÓRIO PARA ESTE ALERTA!

Meus parabéns,

MarneDulinski

Imagen de Cunha

Obrigado amigo

Vindo de você, em cujas letra ja viajei e que mostram maturidade poética impar é mais que um elogio. Obrigado amigo pelo reconhecimento e incentivo. Um abraço.

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Cunha

Tema Título Respuestas Lecturas Último envíoordenar por icono Idioma
Poesia/General GAIA O POEMA DA TERRA. 2 692 04/06/2011 - 21:15 Portuguese
Poesia/Desilusión CHAGAS TERRENAS 1 416 04/03/2011 - 00:58 Portuguese
Poesia/General CHAMAS DO AMAZÔNIA 1 464 04/02/2011 - 23:21 Portuguese
Poesia/General TERRA ASTÊNICA 1 387 04/02/2011 - 23:16 Portuguese
Poesia/Meditación SENTIDOS 1 356 04/02/2011 - 23:11 Portuguese
Prosas/Comédia FOI PÊNALTY OU NÃO FOI? 0 628 04/02/2011 - 23:09 Portuguese
Ministério da Poesia/Meditación Terra Astênica 0 603 11/19/2010 - 19:20 Portuguese