A regra

É isso vou ficar aqui sentado,
A pensar sobre os caminhos que tracei,
A culpar-me das vezes que falhei
E a sofrer por gostar do que é errado.

Talvez esta culpa constante venha por bem,
Por vestir a vida do avesso,
Por terminar tudo antes do começo,
Por não me sentir gente e por ser ninguém.

Não, não vou ficar aqui muito tempo,
Não aguento o mistério das outras janelas,
Das jovens criaturas dentro delas
E quero tanto poder ver de dentro.

Não, não me resigno um segundo,
Odeio prender-me apenas ao meu ser,
Eu quero ver de todos os lados, eu quero viver
De todas as formas e absorver o mundo.

Talvez venha daí esta angústia que me bateu,
Por não me conformar com quem sou,
Por acabar o dia e o que restou
Foi a saudade da noite que não aconteceu.

Talvez seja por isso que não me adapto
A este mundo, mais do que nunca humanizado,
Os que morrem deixam apenas o pesado
Desconforto de saber que o fim é um facto.

E tanto se fala em liberdade.
Eu, imagino-a um cão amestrado,
A passear aprisionado,
À trela da humanidade.

Talvez por isso me sinta preso,
Entre as coisas que me parecem bem,
Entre a razão que me contem
E que me esmaga com o seu peso.

É isso vou ficar aqui sentado,
A pensar sobre os caminhos que tracei,
A culpar-me das vezes que falhei
E a sofrer por gostar do que é errado.

https://www.youtube.com/watch?v=hAIne0RPMk4&feature=youtu.be