a porta verde

todos os dias estava lá… linda
naquela porta. esperava… esperava-o
todos os dias na porta verde ele aparecia
nela o olhar nele o sorriso

era uma porta verde. não a conheci
era assim que todos lhe chamavam….
e eu miúdo “só podes brincar até à porta verde”…
que já não existia. que eu não vi…

naquela porta todos os dias,
ao fim da tarde, ela… o vestido, às flores
o olhar expectante… esperava… esperava
a rosa …esperava a flor…. ele… sorrindo
como sempre… na mão o coração
no peito a flor…

era uma porta verde. não a conheci
era assim que todos lhe chamavam….
a porta verde que não estava…
que não existia. que eu não vi…

todos os dias
ao longo dos anos… uma vida
ela, todos os dias
a mesma surpresa na face o mesmo rubor ….
“não precisavas…”

ele que sabia olhar os seus olhos
que sabia ler a sua alma
suavemente pousava os lábios
na sua face e, sorrindo
sem uma palavra…de mão dada…
a flor no meio, os dois…

uma porta verde que não conheci
era assim que todos lhe chamavam…àquele lugar
à porta que não existia.
que eu não vi…

um dia ele partiu…cedo demais de certeza…
ela ficou…nunca mais foi àquele lugar
à porta verde… nunca mais
aquele sorriso…o vestido, preto sempre…
nunca mais uma flor….

a porta verde… naquele lugar…
que não estava…que não existia.
a porta que não existia.
que eu não vi…

dela não me lembro
ele não o conheci
àquele lugar … que não existe
que não existia
em todos os recantos
em todos os encantos
a porta verde… procuro-a…

um dia… num recanto
num encanto encontrá-la-ei… na minha mão
uma flor nos meus lábios um beijo
nesse dia na porta verde… que não existe
que não existia, um sorriso …
que seja aquele sorriso…
sonho que será aquele sorriso….

um dia num recanto
num encanto terei
a minha porta verde que
não existe que não existia…lá
estarás tu estarei eu… como um dia
na outra porta verde
que não existe que não existia…