BARULHO DE MOBILETES
Era nos domingos de verão, toda a turma na praça, as meninas desfilavam,
A gente ouvia música, a gente jogava xadrez e o padre alemão nos olhava.
Um rap tocava, era mano racional que protestava, o skate descia a escada,
E uma bola de vôlei voava...voava...caia na fonte...era água...era luz a sorrir.
Camisão aberto, cabeça rapada, desprovido de qualquer maior preocupação,
Eu imaginava nunca crescer, eu me via sempre ali, na praça, na molecada,
Contando minhas histórias, jogando conversa fora, fugindo da mera moda,
Uma rebeldia sem causa, um jovem que eu fora outrora, no verso e na prosa!
Ainda ouço o barulho das mobiletes, saudade imensa do meu fusca vermelho:
E quando passo pela paineira de copa alta me arrepio ao fundo...então choro.
Sento sobre as suas raízes que fortemente venceram o concreto da calçada,
Eles estão ali sentados comigo: são os meus amigos que já se transcenderam,
Que num estalar de dedos foram-se embora, romperam o mar, a doce aurora!
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