Perdoa-me, querido órgão muscular oco
Kapoía: que bombeia as artérias, que rega este corpo,
Que bate e rebate, entre o sangue arterial e o sangue venoso,
Que bate e rebate, entre tênues do átrio e do ventrículo.
Virastes pó, num nó,
que desatinou o coração.
Ficastes só, num dó,
que arruinou a ilusão.
Não é preciso esperar,
Que um dia saiba ofertar,
Por outra vez se entregar,
Além de impressões,
Além de exclamações.
Sou a memória contida,
Sou a alma ferida,
Que não perde a batida,
De cada compasso,
De cada estilhaço,
Que desferiu-me,
Que desfaleceu-me.
Sou a glória perdida,
Sou a calma sentida,
Que não solta a lâmina,
De corte cortante,
De morte cessante,
Que decepou a razão,
Que estraçalhou a paixão.
Perdoa-me se só sei declamar!
Perdoa-me o receio de entregar!
Perdoa-me o sentido de dilacerar!
Perdoa-me se só sei me expressar!
O que sei é sorrir, agradecer,
O que sei é amar, enaltecer,
Por respirar, por enxergar,
Por viver, por apenas viver,
Mesmo que o pranto,
Sempre venha a mim se juntar.
MARTINS, S. M.
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