Bruxas de Sacristia

Olhos laços,
baços,
espelhos quase sem alma
de tão inertes,
não haverá paixão que vos desperte?

Quereis a santidade
e usais ao pescoço vícios antigos
(tais como: a castidade, a verdade, ou o amor.)
Pobres loucas...
nos vossos seios
jazem crucifixos satânicos
que vos castram o prazer
e a semente de se dar sem receber.

Apregoam,
hipócritas,
vosso evangelho.
Cheio de deuses velhos,
diabos tristes e anjos mirrados
e lá vão fazendo (sem o saber)
vossos feitiços
de terço
e de avé-marias.
Vivem sem dar por isso,
longe do Verbo,
ou da sua ausência,
negando que existência
é apenas um compromisso
de nós para vós
e de vós para outros nós.

Recalcitrem o poema,
e da minha memória,
ergam, agora, fogos-fátuos
em autos-de-fé.
Tristeza por tristeza,
venha uma certeza atroz!
Ao invés de uma verdade
falsa,
tal qual o barro dos pés do tigre...
dessa besta que é
a vossa máscara,
que todos dias pintam,
repintam e reparam
num espelho
sem desejo algum.