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Calos
Calos
Os calos dos pés não folgavam e suspiravam lamentos, por entre os furos dos sapatos surrados. A cada pisar o ar saia em uma desorganizada sincronia, entre os dedos que se esfregavam e diziam:
Vida vadia!
Vida vadia!
Vida vadia!
Há muito não sabia o significado da vida mansa, escolheu não seguir regras e ficou escravo de suas palavras. Açoitando seu corpo para sempre, ir em frente e nunca olhar para trás, como se trás fosse passado, fosse outra vida e não aquela coisa com planos que deram errados.
A cada passo no asfalto que queimava, sua mente pensava: Não há sol que sufoque para sempre e nem chuva que eu sempre lamente. Há muito tempo sem saber o que é sentir, não poderia imaginar se seus dedos ralados ou seus sentimentos dilacerados o impediam de ver e crer no homem que aparece no comercial da TV.
Mas não se sentia estranho, tão pouco diferente, entre tantas pessoas vazias o seu vazio preenchia algum espaço, um corpo frio. Em meio a tantos olhares sem sentido, ainda possuía sua liberdade falsamente vivida.
E a cada passo dado seus pés repetiam:
Vida vazia!
Vida vadia!
Virou rotina!
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