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A reumanização da Fera
O clássico da Disney, A Bela e A Fera, que foi a primeira animação indicada para o Oscar, chama a atenção pelos ótimos efeitos especiais, trilha sonora e por ter marcado, definitivamente, a lembrança de muitas crianças e adolescentes de então com a adaptação de um dos mais famosos contos de fadas. Quem, até hoje, não se encanta com a história do monstro que precisa do amor de uma mulher para voltar a ser humano? Para tanto, é necessário que ela seja capaz de enxergar além de sua aparência.
A história se passa em uma aldeia onde Bela, uma linda jovem, sente-se um tanto aprisionada e entediada com o cotidiano do lugar onde mora. Por gostar de ler, ela sonha com uma vida mais ampla, diferente do que um povoado pode oferecer. Embora seja muito bonita, ela não dá importância à aparência e, justamente por seu discernimento proporcionado pelo hábito da leitura, não dá atenção a Gaston, homem rude e extremamente vaidoso, desejado pelas outras moças da aldeia, que vive a assediá-la. Como pensa de forma diferente, é vista como estranha pelos outros moradores. Vemos bem que Bela é excluida pelo fato de viver com o seu pai, um inventor, em uma casa afastada do resto do povoado.
No começo do filme, seu pai vai viajar para exibir a invenção e, ao se perder, acaba num misterioso castelo onde objetos falam e é aprisionado pelo dono do lugar, um ser horrendo e ameaçador. Seu cavalo foge apavorado e volta para casa. Bela, ao ver que o cavalo voltou sozinho, vê que ocorreu algo errado e vai ao castelo onde seu pai é mantido prisioneiro. Descobre que o dono é uma fera assustadora mas, mesmo assim, pede para ficar no lugar dele.
Assim que vemos a Fera, percebemos que não é fera apenas em sua aparência, mas também nos modos e na maneira de andar e se expressar. Apesar de falar e raciocinar, a Fera anda sobre quatro patas, ruge mais do que fala e usa roupas um tanto rotas. Também trata a Bela de modo brutal no começo da história. Somente após se sentir tocada pela bondade da Bela, é que a Fera vai, paulatinamente, se reumanizando, voltando a falar com gentileza, comer de forma mais civilizada e ser mais altruista. Como vemos, a Fera tem que se reumanizar primeiro por dentro para, no final, ser capaz de se sacrificar, permitindo que a Bela saia do castelo e vá socorrer seu pai doente. Nesse momento, a Fera se tornou capaz de amar de verdade e de entender que a essência do amor é o sacrifício, passando a se importar mais com a Bela do que em quebrar o feitiço que o condenou a ficar com forma animalesca.Somente sendo capaz de amar de verdade, estará pronto para ser humano de novo.
Além da emocionante história, há ótimos momentos cômicos proporcionados pela criadagem do castelo, formada por um candelabro, um relógio, uma xícara e outros objetos falantes; a esperteza de Bela para se desviar do assédio de Gaston, que é um homem grosseiro, de mentalidade estreita, que não aceita que mulheres gostem de ler, acha-se o sonho de toda mulher e não aceita que Bela o rejeite, querendo casar com ela a todo custo, sendo capaz de planejar um ardil para isso: chantageá-la ameaçando trancar seu pai num asilo, visto que o pobre inventor voltou do castelo contando a história da Fera e foi tomado por louco. Como vemos, Gaston quer casar com Bela não por amor, sentimento de que um egoista como ele não é capaz. Ele a deseja por vaidade e não aceitar que lhe digam não.
Outro grande trunfo do filme são os números musicais, que atingem seu ponto máximo na antológica cena da dança no salão, onde a Bela e a Fera protagonizam uma linda performance. A cena da dança, cuja canção é Beauty and the Beast, cantada por Celine Dion, figura, certamente, entre as mais bonitas dos estúdios Disney, merecendo um lugar de destaque entre as melhores cenas que já assistimos.
Obviamente, não podemos esquecer dos momentos finais, que incluem a invasão ao castelo pelos moradores da aldeia, convencidos pelo sórdido Gaston de que a Fera é um monstro, a hábil defesa feita pelos criados e a luta entre Gaston e a Fera,que, no início, não se defende, triste por pensar que a Bela não voltará, reanimando-se ao ver que Bela voltou e passando a se defender, visto que, como seu amor voltou, para a Fera, a vida voltou a ter sentido.
Muito mais pode se dizer desse belo filme, que marcou época e ressuscitou a Disney de uma longa época de produções pouco marcantes, presenteando-nos com uma bela história cheia de amor, música, humor e emoção.
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