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medo
Simplesmente medo... medo da sombra, medo das próprias pégadas na sombra, medo de si mesmo...
(foto alheia (DR) manipulada digitalmente por mim)
E tu
que vens apesar deste luto pedir-me
em súplicas lascivas
poemas de beijos abraços e sexo
não vês a desgraça que paira a teu lado?
Não posso abraçar-te nem sequer desejar-te...
não te posso amar! Doem-me os braços
do peso da espingarda que usei para matar!
Não posso beijar-te que me arde a garganta de dor.
Não te posso ouvir murmúrios de amor…
não te posso escutar
que sinto a cabeça dorida e cansada
dos gemidos de agonia que ouvi
dos mortos que vi
nessas montanhas esventradas de profundas
e feias crateras de tantas granadas nelas estoirar.
Não posso abraçar-te, muito menos beijar-te...
dói-me tudo por dentro...
vou primeiro hibernar e dormir um longo sono
um sono eterno do qual jamais quero acordar.
Vou estabelecer monólogos de perdão com as paredes
da sepultura em que me quero deitar
e me quero perder…
E nessa sepultura rasa depois de me redimir
sonhar as cores dum horizonte de sonho
e pensar o doirado dos trigais.
Após esse longo sono redesenhar a vida
descobrir o tempo
e novos oásis na geometria dos cristais
dos teus olhos
e traçar as linhas firmes do teu querer…
pintar a lua de prata e o sol de mais luz
reinventar num céu azul diferente
o voo mágico dos pardais.
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