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Amor por Anexins - Cena VII

CENA VII

INÊS, ISAÍAS

ISAÍAS (Entrando.) — Quem canta seus males espanta.

INÊS — Já de volta! O senhor foi a correr!

ISAÍAS — Nada! quem corre cansa. Encontrei outro armarinho mais perto.

INÊS (Tomando a fazenda.) — Muito obrigada. Quanto custou?

ISAÍAS — Um pau por um olho. Mil e duzentos o metro...

INÊS — Pois olhe: o outro vende mais barato.

ISAÍAS — O barato sai caro, e mais vale um gosto do que quatro vinténs.

INÊS — Regateou?

ISAÍAS — Regatear! Para quê? Mais tem Deus para dar do que o diabo para tomar.

INÊS — Já vejo que é tão pródigo de dinheiro como de anexins!

ISAÍAS — Da pataca do sovina o diabo tem três tostões e dez réis. Poupa do sim, sovina não. Eu cá sou assim! Nem tanto ao mar nem tanto à terra. Tenho um só defeito: quero casar-me. Cada louco com sua mania.

Canto

Hei sido um gato-sapato;
Preciso do casamento!
O maldito celibato
Não é viver, é tormento.

Quero honesta rapariga
Entre as belas procurar,
Muito embora o mundo diga:
Quem já andou não tem pra andar...

A existência de casado
Talvez venturas me traga,
Se diz verdade o ditado:
Amor com amor se paga.

Se eu for constante e fervente,
Ela tudo isso será;
Se eu amá-la eternamente,
Ela também me amará!

Eu escravo e a esposa escrava,
Viveremos sem desgosto;
Uma mão a outra lava
E ambas lavam o rosto!...

Faço-lhe pela milésima vez o meu pedido. Nem todos os dias há carne gorda. A senhora falou-me em um apaixonado. Por onde andará ele? Eu estou aqui, e mais vale um pássaro na mão do que dois a voar.

INÊS (À parte.) — Levemos a coisa com jeito. (Alto.) O senhor... (Com uma idéia.) Ah!

ISAÍAS — Oh!

INÊS — Já viu representar As pragas do Capitão?

ISAÍAS — Não, senhora. De pragas ando eu farto.

INÊS — Era um militar que praguejava muito. A senhora que ele amava deu-lhe a mão de esposa, mas depois de estabelecer-lhe a condição de não praguejar durante meia hora.

ISAÍAS — Falo em alhos, e a senhora responde com bugalhos!

INÊS — Já lá vamos aos alhos: aceito a sua proposta.

ISAÍAS (Impetuosamente.) — Aceita?

INÊS — Sim, senhor.

ISAÍAS (Incrédulo.) — Qual! Quando a esmola é muita, o pobre desconfia...

INÊS — Mas imponho também a minha condição...

ISAÍAS — Imponha: manda quem pode.

INÊS — Se conseguir levar meia hora sem...

ISAÍAS — Sem praguejar?...

INÊS — Não! Sem dizer um anexim! Se o conseguir, é sua a minha mão.

ISAÍAS — Deveras?

INÊS (Sentando-se.) — Deveras.

ISAÍAS — Mas eu posso estar calado?

INÊS — Como assim?! Era o que faltava! Há de falar pelos cotovelos!

ISAÍAS — Isso é um pouco difícil: o costume faz lei...

INÊS — Ai, que escapou-lhe um!

ISAÍAS — Pois o que quer? a continuação do cachimbo...

INÊS — Faz a boca torta, já duas vezes.

ISAÍAS — Nas três o diabo as fez.

INÊS — Ai, ai, ai! Vamos muito mal!

ISAÍAS — Mas não tínhamos ainda entrado em campo... Aqueles foram ditos de propósito. Agora sim! Agora é que são elas!

INÊS — Outro!

ISAÍAS — Protesto! “Agora é que são elas” nunca foi anexim. A César o que é de César!

INÊS — O senhor vai perder... Olhe: são duas horas. (Aponta para um relógio que deve estar sobre a mesa.) Aceita o desafio? (Pausa.) Bem. Quem cala consente... ISAÍAS — Ah! agora é a senhora quem os diz! Virou-se o feitiço contra o feiticeiro...

INÊS — Ai, ai!

ISAÍAS — Foi engano.

INÊS — Dos enganos comem os escrivães. (Pausa.) Então? Diga alguma coisa...

ISAÍAS — O que hei de dizer... senão... que gosto muito da senhora... e...

INÊS — Pois diga: vai tantas vezes o cântaro à fonte, que lá fica.

ISAÍAS — Não me provoque, senhora, não me provoque!

INÊS — Cada qual puxa a brasa para sua sardinha...

ISAÍAS (Agitado.) — Brasa! sardinha! Oh! que suplício!

INÊS — O que tem o senhor?

ISAÍAS — Nada... não tenho nada... é que esta proibição me incomoda... Este maldito costume... parece que não estou em mim...

INÊS — Sabe o que mais?

ISAÍAS — Vou saber.

INÊS — Diga o que quiser! Abra a torneira dos anexins, ditados, rifões, sentenças, adágios e provérbios... Fale, fale para aí!

ISAÍAS — E a condição?

INÊS — Caducou. (Dando-lhe a mão.) Aqui tem: sou sua.

ISAÍAS (Contente.) — Minha! (Em outro tom.) E os outros?

INÊS — Não existem, nunca existiram!

ISAÍAS — Pois estou acordado? Se estiver dormindo, deixa-me estar: não me acordes.

INÊS — Está bem acordado.

ISAÍAS — Estou?! (Pulando de contente.) Então viva Deus! Viva o prazer!... Trá lá lá rá lá! (Quer abraçá-la.)

INÊS (Gritando.) — Alto lá! Mais amor e menor confiança!

ISAÍAS — E que o rato nunca comeu mel, quando come... (Outro tom.) Pode-se dizer este ditadozinho?...

INÊS — Quantos quiser!

ISAÍAS (Concluindo.) —... se lambuza! (Tomando-lhe as mãos.) E tu? amas-me, meu bem?

INÊS — Sossegue: o amor virá depois. Seja bom marido e deixe o barco andar!

ISAÍAS — Apoiado. Roma não se fez num dia!

INÊS — E tenha sempre muita fé nos seus anexins.

ISAÍAS — É verdade: O que tem de ser tem muita força. O homem põe... e a mulher dispõe!...

INÊS — Basta! Despeça-se destes senhores, e vá tratar dos papéis...

ISAÍAS — Quem tem boca não manda... cantar. Mas, enfim... (Ao público.)

Copla final

Antes que daqui nos vamos,
Inês vos dirá quais são
Os votos que alimentamos
No fundo do coração.

INÊS — Os votos que neste instante
Fazemos nestes confins
(Deita a mão sobre o coração.)
É que nos ameis bastante
Embora por anexins.

AMBOS — Muitas palmas esperamos
De vós:
Metade para o autor, metade para nós.

(Cai o pano.)

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quinta-feira, abril 16, 2009 - 01:09

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ArturdeAzevedo

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