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APÓLOGOS XXI

21

Os dous cães

Tinha dous cães perdigueiros
Certo moço caçador,
Um excellente no faro,
Outro no feitio, e côr.

Aquelle pela esperteza
Do prompto, do agudo olfato
A rôla, a perdiz sumida
Desencantava no matto;

E apenas soando o tiro
Caía a caça no chão,
Com pasmosa ligeireza
Do dono a trazia á mão.

O segundo inerte, e molle,
Que o primeiro acompanhava,
Por costume, ou arremedo,
Não por genio farejava.

Te as aves muitas vezes
Ao venatorio ruido
D'entre os pés lhe rebentavam,
E não as tinha sentido.

Mas, sendo incapaz, ao socio
Excedia na ventura,
E o nescio domno prezava
Mais que o préstimo a figura.

Assim succede, leitores,
A um sem-sabor Narciso,
N'uma assembléa com outro'
De má cara, e bom juizo.

Diz um d'ali: «Este amigo
É de graça e prendas cheio:»
Respondem a isto as damas:
«Apre lá ! Que homem tão feio !»

Diz outro: «Aquelle peralta
Põe mil asneiras n'um dicto:»
Acodem logo as meninas:
«Que importa, se é tão bonito?»

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domingo, outubro 11, 2009 - 17:51

Poesia Consagrada :

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Bocage

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