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Arras por Foro de Espanha - Capítulo III: Um bulhão e uma agulha de alfaiate

O Sol, que havia mais de meia hora subira do Oriente, cingido da sua auréola da vermelhidão, no meio da atmosfera turva e acinzentada de um dia dos fins de Agosto, dava de chapa no rossio ou praça onde avultava o Mosteiro de S. Domingos, rodeado de hortas oriente, e pelo de Valverde, ao norte. Já muitos besteiros e peões armados de ascumas se derramavam ao longo da parede dos paços de Lançarote Pessanha fronteiros ao mosteiro, descendo uns por entre as vinhas de Almafala, outros do arrabalde da Pedreira ou bairro do Almirante, outros da banda da alcáçova, outros, enfim, desembocando das ruas estreitas e irregulares que iam dar à opulente e célebre Rua Nova. Homens e mulheres apinhavam-se, aos dez e aos doze, no meio da praça, e às bocas das ruas; falavam, meneavam-se, riam, chamavam-se uns aos outros. Às vezes, aquela mó de gente, cujo vulto engrossava de minuto para minuto, agitava-se como a superfície de um pego, passando o tufão. Incerta, vacilante, informe, sùbitamente se configurava, alinhava-se e, semelhante a triângulo enorme, a quadrela gigante desfechada de trom monstruoso, vibrava-se contra a vasta alpendrada do mosteiro, cujas portas ainda estavam fechadas. Aí hesitava, ondeava e retraía-se, como ressaltaria a folha cortadora de uma acha de armas quando não pudesse romper as portas chapeadas de forte castelo. Então aquela multidão tomava a forma de meia-luz, cujas pontas se encurvavam pelos lados de Valverde e da Mouraria e vinham topar uma com outra por baixo do bairro ladeirento da Pedreira, de onde, confundindo-se e irradiando-se de novo, se espalhavam pela vastidão do terreiro. O povo, que dorme às vezes por séculos, fora acometido de uma das suas raras insónias e vivia essa possante vida da praça pública, em que de ordinário é ridículo e feroz, mas em que não raro é sublime e terrível.

Era a manhã imediata à noite em que ocorreram os sucessos narrados antecedentemente. O povo preparava-se para uma luta moral com seu rei; mas não se descuidara de vir prestes para uma luta física, se D. Fernando quisesse apelas para esse último argumento. Era a primeira vez neste reinado que a arraia-miúda dava mostras da sua força e reivindicava o direito de dizer armada "não quero!" O elemento democrático erguia-se para influir activamente na monarquia; enxertava-se nela, como princípio político, a par da aristocracia, que com a manopla de ferro arrojava a plebe contra o trono, sem pensar que brevemente este, conhecendo assim a força popular, se valeria dela para esmagar aqueles que ora sopravam os ânimos para a revolta e davam nova existência ao vulgo.

A hora aprazada para a vinda de el-rei ainda não havia batido: mas o povo orgulhoso da importância que sùbitamente se lhe dera, embevecido na ideia de que obrigaria el-rei a quebrar os laços adulterinos que o uniam a Leonor Teles, não media o tempo pelo curso do Sol, mas sim pelo fervor da sua impaciência. Duas vezes se espalhava a voz de que D. Fernando chegara, e duas vezes o povo correra para o alpendre do mosteiro. As portas da igreja estavam, porém, fechadas, bem como a portaria e as estreitas e agudas frestas do mosteiro gótico que, formado apenas de um pavimento térreo e humilde, contrastava com a magnificência do templo, em cujas portadas profundas, sobre os colunelos pontiagudos que sustinham os fechos e chaves da abóbada, os animais monstruosos e híbridos, os centauros, os sátiros e os demónios, avultados na pedra dos capitéis por entre as folhagens de carvalho e de lódão, pareciam, com as visagens truanescas que nas faces mortas lhes imprimira o escultor, escarnecerem da cólera popular, que, lenta como os estos do oceano, começava a crescer e a trasbordar. Apenas, lá dentro, se ouviam de vez em quando as harmonias saudosas do órgão e do cantochão monótono dos frades, que ofereciam a Deus as preces matutinas. Era então que o povo escutava: e retraía-se arrastado pelas blasfêmias e pragas que saíam de mil bocas e que eram repelidas do santuário pelo sussuro dos cânticos que reboavam dentro da igreja, e que transudavam por todos os poros do gigante de pedra um murmúrio de paz, de resignação e de confiança em Deus.

O povo, porém, era como os homens robustos do génesis: era ímpio, porque era robusto.

O dia crescia, e crescia com ele a desconfiança. As notícias corriam encontradas: ora se dizia que el-rei cedia aos desejos dos seus vassalos e dos peões, e que viria anunciar ao povo a sua separação de Leonor Teles; ora, pelo contrário, se asseverava que ele era firme em sustentar a resolução contrária. Havia, até, quem asseverasse que na alcáçova e no terreiro de S. Martinho se começavam a ajuntar homens de armas e besteiros. A cólera popular crescia, porque a atiçava já o temor.

No meio de uma pilha de galeotes, carniceiros, pescadores, moleiros, lagareiros e alfagemas, dois homens altercavam violentamente. Eram Airas Gil e Frei Roy: objecto da disputa Fernão Vasques; arguente o petintal; defendente o beguino.

— Que não virá vos digo eu - gritava Airas Gil. - Disse-mo Garciordonez, o mercador de panos que mora ao cabo da Rua Nova, aos açougues, defronte das taracenas del-rei.

— Mentiu pela gorja, como um perro judeu - replicou Frei Roy. - Não era Fernão Vasques homem que faltasse a este auto, tendo-o a arraia-miúda elegido por seu propoedor.

— Medo ou dobras do paço podem tapar a boca aos mais ousados e fazê-los dormir até desoras - retrucou o petintal.

— Que fazem falar as dobras do paço, seu eu - tornou o beguino com riso sardónico, lembrando-se do que nessa noite passara -: medo sabeis vós que faz fugir; inveja sabemos nós todos que faz imaginar...

— Descaro e gargantoíce que faz mendigar - interrompeu Airas Gil, vermelho de cólera, cerrando os punhos e descaindo para o echacorvos como galé que vai aferrar outra em combate naval.

— Ecommunicabo vos - murmurou Frei Roy, fazendo-se prestes para resistir ao abalroar do petintal.

E o vulgacho que estava de roda ria e batia as palmas.

Nisto os gritos de alcácer!, alcácer!" reboaram para outro lado da praça: o povo correu para lá. Os dois campeadores voltaram-se: era o alfaiate.

Sem dizer palavra, o beguino olhou com gesto de profundo desprezo para Airas Gil e, tomando uma postura entre heróica e de inspirado, estendeu o braço e o índex para o lugar onde passava Fernão Vasques. Depois, partiu com a turbamulta que o rodeava, enquanto o petintal o seguia de longe lento e cabisbaixo.

O alfaiate, cercado de outros cabeças do tumulto da véspera, encaminhou-se para alpendrada de S. Domingos. Trazia vestida uma saia de valencina reforçada, calças de bifa, sapatos de pele de gamo, chapeirão de ingrês com fita de momperle e cinta de couro, tudo escuro, ao modo popular. Com passos firmes subiu os degraus do alpendre. Dali, em pé, com os braços cruzados, correu com os olhos a praça, onde entre o povo apinhado se fizera repentino silêncio. Depois tirando o chapeirão, cortejou a turbamulta para um e outro lado; os seus gestos e ademanes eram já os de um tribuno.

— Alcácer, alcácer pela arraia-miúda! Alcácer por el-rei Dom Fernando de Portugal, se desfizer nosso torto e sua vilta, senão!...

Esta exclamação de um alentado alfageme que estava pegado com a balaustrada do alpendre foi repetida em grita confusa por milhares de bocas.

De repente, do lado da Rua de Gileanes, sentiu-se um tropear de cavalgaduras, que parecia correrem à rédea solta. Todos os olhos se volveram para aquela banda: muitos rostos empalideceram.

Uma voz de terror girou pelo meio das turbas. "São homens de armas de el-rei!" Aquele oceano de cabeças humanas redemoinhou, a estas palavras, e começou a dividir-se como o mar Vermelho diante de Moisés. Num momento viu-se uma larga faixa esbranquiçada cortar aquela superfície móvel e escura: era ampla estrada que se abria por entre ela, desde a Rua de Gileanes até S. Domingos. As paredes dessa estrada adelgaçavam-se ràpidamente. Para as bandas da Mouraria e da Pedreira, os becos e encruzilhadas apinhavam-se de gente, e os reflexos dos ferros das ascumas populares, que erguidas cintilavam ao sol, começaram a descer e a sumir-se, como as luzinhas das bruxas em sítio brejoso aos primeiros assomos do alvorecer. Fernão Vasques olhou em redor de si: estava só. Descorou, mas ficou imóvel.

Entretanto, o tropear aproximava-se cada vez com mais alto ruído. Os besteiros do concelho postados ao longo dos Paços do Almirante eram, talvez, os únicos em quem o terror não fizera profunda impressão: alguns já haviam estendido sobre o braço da besta os virotes ervados e, revolvendo a polé, faziam encurvar o arco para o tiro. Os besteiros de garrucha tinham já o dente desta embebido na corda, prontos a desfechar ao primeiro refulgir dos montantes nus dos cavaleiros e escudeiros reais. Do resto do povo, os ousados eram os que recuavam; porque o maior número voltava as costas e internava-se pelas azinhagas dos hortos de Valverde e das vinhas de Almafala ou trepava pelas ruas escuras e mal-gradadas do bairro do Almirante.

Mas, no meio deste susto geral, aparecera um herói. Era Frei Roy. Ou fosse imprudente confiança no cargo oculto que lhe dera Dª Leonor, ou fosse robustez de ânimo, ou fosse, finalmente, a persuasão de que o hábito de beguino lhe serviria de broquel, longe de recuar ou titubear, correu para a quina da rua de onde rompia o ruído e, mirando pela aresta do ângulo um breve espaço, voltou-se para o povo e, curvando-se com as mãos nas ilhargas, desatou em estrondosas gargalhadas.

Tudo ficou pasmado; mas, vendo e ouvindo o rir descompassado do echacorvos, o povo começou a refluir para a praça. Aquelas risadas produziam mais ânimo e entusiasmo que os "quarenta séculos vos contemplam" de Napoleão na batalha das Pirâmides. Os amotinados recobraram num instante toda a anterior energia.

Esta cera tinha sido rapidíssima: todavia, ainda grande parte dos populares hesitava entre o ficar e o fugir, quando se reconheceu claramente a causa daquele temor que apertara por algum tempo todos os corações. Era a Corte que chegava.

Montados em mulas possantes, os oficiais da casa real, os ricos-homens, conselheiros e juízes do Desembargo vinham assistir ao auto solene em que da boca de el-rei a nação devia ouvir ou uma resolução conforme com os desejos tanto da arraia-miúda como dos senhores e cavaleiros, ou a confirmação de um casamento mal agourado por muitos nobres e por todos os burgueses, e condenado, de não duvidoso modo, por estes últimos. No meio das variadas cores dos trajos cortesões negrejavam as garnachas dos letrados e clérigos do paço, e entre o reduzir dos esplêndidos arreios das mulas alentadas e fogosas dos vassalos seculares, dos alcaides-mores e senhores viam-se rojar os gualdrapas dos mestres em leis e degredos, dos sabedores e letrados que constituíam o supremo tribunal da monarquia, a cúria ou desembargo de el-rei.

A numerosa cavalgada atravessou o terreiro por entre o povo apinhado. Em todos os rostos transluzia o receio acerca de qual seria o desfecho deste drama terrível e imenso, em que entravam representantes de todas as classes sociais.

Entre os membros daquela lustrosa companhia distingui-a por seu porte altivo o conde de Barcelos, D. João Afonso Telo, tio de Dª Leonor, a quem nos diplomas dessa época se dá por excelência o nome de "fiel conselheiro". Quando os amores de el-rei com sua sobrinha começaram, ele fizera, sincera ou simuladamente, grandes diligências para desviar o monarca de levar avante os seus intentos. D. Fernando persistia, todavia, neles, e então o conde, juntamente com a infanta Dª Beatriz e com Dª Maria Teles, irmã de Dª Leonor, suscitara a ideia de a divorciar de João Lourenço da Cunha. O povo sabia isto e, posto que houvesse estendido a sua má vontade a todos os parentes de Leonor Teles, odiava principalmente o conde, como protector daqueles adúlteros amores. Foi, portanto, nele que se cravaram os olhos dos populares, que, tendo-se em poucas horas elevado até à altura do trono, ousavam, também, dar testemunho público do seu ódio contra o mais distinto membro da fidalguia.

— Velha raposa, em que te pese, não será a adúltera rainha da boa terra de Portugal! - gritava um carniceiro, voltando-se para uma velha que estava ao pé dele, mas olhando de través para o conde, que perpassava.

— Leal conselheiro de barreguices, por quanto vendeste a honra do compadre Lourenço? - perguntava um alfageme, fingindo falar com um vizinho, mas lançando também os olhos para D. João Afonso Telo.

— Que tendes vós com o lobo que empece ao lobo? - acudiu um lagareiro calvo e curvado debaixo do peso dos anos. - Deixai-os morder uns aos outros, que é sinal de Deys se amercear de nós.

— O que eles mereciam - interrompeu uma regateira - era serem atagantados com boas tiras de couro cru.

— E ela, tia Dordia? - acrescentou um ferreiro. - Conheceis vós a comborça? Às vezes a quisera eu: uma do alcaide no chumaço; outra do coitado nas costas dela!

— É costume, ergo direita a pena - notou um procurador, que gravemente contemplava aquele espectáculo e que até ali guardara silêncio.

Estas injúrias, que, como o fogo de um pelotão, se disparavam ao longo das extensas e fundas fileiras dos populares, iam ferir os ouvidos do conde de Barcelos, que, fingindo não lhes dar atenção, empalidecia e corava sucessivamente e mordia os beiços de cólera.

De quando em quando, o vociferar afrontoso da gentalha era afogado no ruído de risadas descompostas, mais insolentes cem vezes que as injúrias; porque no rir do vulgo há o que quer que seja tão cruel e insultuoso, que faz dar em terra o maior coração e o ânimo mais robusto.

Entre os parciais de Dª Leonor que vinham naquela comitiva viam-se, porém, muitos fidalgos e letrados que ou eram pessoalmente seus inimigos ou, pelo menos, desaprovavam alta e francamente a sua união com el-rei. Diogo Lopes Pacheco era o principal entre eles, e o povo, ao vê-lo passar, saudou-o com um murmúrio que foi como a recompensa do velho pelas desventuras da sua vida, desventuras que devera a um caso análogo, a morte de Dª Inês de Castro.

Quando os fidalgos, cavaleiros e letrados da casa e conselho de el-rei se apearam junto aos degraus do alpendre do mosteiro, o alfaiate, que viera misturar-se com o povo logo que desembocaram na praça, subiu após eles e esperou que se sentassem no extenso banco de castanho que corria ao longo da alpendrada. Depois voltou-se para a multidão apinhada em redor:

— Se el-rei ainda não é presente - disse em voz inteligível e firme - aí tendes para ouvir vossos agravamentos os senhores de seu conselho: porventura que eles poderão dar-vos resposta em nome de sua senhoria, e ele virá depois confirmar o seu dito.

— Senhor Fernão Vasques, sois o nossos propoedor: a vós toca falar - replicou um do povo.

— Assim o queremos! Assim o queremos! - bradou a turbamulta.

O alfaiate voltou-se então para os cortesãos, conselheiros e letrados do Desembargo de el-rei e disse:

— Senhores, a mim deram carrego estas gentes que aqui estão juntas de dizer algumas cousas a el-rei nosso senhor que entendem por sua honra e serviço; e porque é direito escrito que, sendo as partes principais presentes, o ofício de procurador deve cessar no que elas bem souberem dizer, vós outros que sois principais partes neste feito, e a que isto mais tange que a nós, devíeis dizer isto, e eu não: porém, não embargando que assim seja, eu direi aquilo de que me deram carrego, pois vós outros em elo não quereis pôr mão, mostrando que vos doeis pouco da honra e do serviço de el-rei...

— Cala-te, vilão! - bradou, erguendo-se, o conde de Barcelos, com voz afogada da cólera, que já não podia conter -, se não queres que seja eu quem te faça resfolgar sangue, em vez de injúrias, por essa boca sandia.

O velho Pacheco pôs-se também em pé, exclamando:

— Conde de Barcelos, lembrai-vos de que os burgueses têm por costume antigo o direito de dizerem aos reis seus agravamentos, de se queixarem e de os repreenderem. Nós somos menos que os reis.

Fernão Vasques tinha-se entretanto voltado para o povo apinhado ao redor do alpendre, com o rosto enfiado, mas era de indignação, e havia feito um sinal com a cabeça. No mesmo instante o povo abrira uma larga clareira, e quando os fidalgos e conselheiros, atentos para o conde e para Diogo Lopes, voltaram os olhos para o rossio, ao tropear da multidão, um semicírculo de mais de quinhentos besteiros e peões armados fazia uma grossa parede em frente dos populares.

Fernão Vasques encaminhou-se então para D. João Afonso Telo e, com a mão trémula de raiva, segurando-o por um braço, disse-lhe:

— Senhor conde, vós sois que doestais os honrados burgueses desta leal cidade em minha pessoas; porque eu nada fiz, senão repetir em voz alta o que cada um e todos me ordenaram repetisse. O que propus não é meu. Eis seus autores! Pelo que a mim toca, senhor conde, não receio vossas ameaças. Quando o nobre despe o gibão de ferro para vestir o de tela, não sei eu se este é mais forte que o do peão e se, também, a sua boca não pode golfar sangue, como a de um pobre vilão.

D. João forcejava por desasir-se do alfaiate, procurando levar a mão à cinta, onde tinha o punhal; mas Fernão Vasques era mais forçoso, e o conde já tinha entrado na idade em que costuma minguar a robustez do homem. Não pôde chegar com a mão ao cinto.

— Conde de Barcelos - prosseguiu o alfaiate, com um sorriso -, não recorrais a esse argumento; porque eu também estou habituado a lidar com ferros azerados, ainda que mais delgados e curtos que o vosso bulhão.

Estas últimas palavras, ditas em tom de escárnio, mal foram ouvidas: a grita na praça era já espantosa; ares, produziam aquele rouco e grande brado da fúria abismando-se por cavernas imensas.

Os fidalgos e letrados tinham rodeado os dois contendores: os parciais de Dé Leonor, o conde; os outros, cujo número era muito maior, o alfaiate. E tanto estes como aqueles trabalhavam em apaziguá-los, posto que todos os ânimos estivessem quase tão irritados como os dos dois contendores.

Finalmente, o conde cedeu. O aspecto da multidão, que se agitava furiosa, contribuiu, porventura, mais para isso que todas as razões e rogativas dos fidalgos e cavaleiros, atónitos com o espectáculos da ousadia popular: desta ousadia que, menoscabando as ameaças do primeiro entre os nobres, era mais incrível que a da véspera, a qual apenas se atrevera ao trono.

Que fazia, porém, o nosso beguino no meio destes prelúdios de uma eminente assuada? É o que o leitor verá no seguinte capítulo.

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sábado, abril 11, 2009 - 23:31

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